Estudo conduzido pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) revela que nas redes sociais as mentiras se espalham dez vezes mais rapidamente que a verdade. Segundo a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), atualmente a desinformação representa o principal risco global para o enfrentamento de crises, nas quais se incluem as mudanças climáticas e também a saúde das populações.
Na saúde pública, o impacto das fake news pode ser catastrófico, sobretudo quando se refere a doenças graves como o câncer. Ainda pior é quando as fake news partem de profissionais de saúde, inclusive médicos. No dia 1º de novembro de 2024, o Tribunal de Justiça do Pará (TJPA) determinou que a médica paraense Lana Tiani Almeida da Silva apagasse conteúdo enganoso nas redes sociais, atendendo um pedido do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR).
Em um vídeo postado nas redes sociais, Lana Almeida, inscrita no Conselho de Medicina do Pará, negava a existência do câncer de mama e pedia para as pessoas esquecerem a mamografia. Logo que foi divulgado, o Conselho Federal de Medicina (CFM) determinou que a médica apagasse o vídeo mentiroso
A liminar (decisão provisória) condena a fala da médica de que a mamografia pode piorar o quadro de inflamação nas mamas, o que pode acarretar em medo na população que precisa realizar o exame”, diz o Ministério da Saúde em nota (veja mais detalhes ao fim do texto).
Em alerta divulgado esta semana, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) voltou a alertar que “a desinformação, propagada principalmente por fake news que circulam nas redes sociais, têm desencorajado a realização dos exames preventivos e, consequentemente, ampliado o número de óbitos pela doença que é a principal causa de morte por câncer entre as mulheres brasileiras”.
Muitas mulheres têm deixado de realizar a mamografia por receios infundados, seja por medo da dor, da radiação ou infelizmente por causa de fake news que circulam nas plataformas das redes sociais”, afirma a mastologista Annamaria Massahud Rodrigues dos Santos, secretária-adjunta da SBM.
Conheça as fake news mais comuns sobre o câncer de mama
De acordo com Annamaria Massahud, uma fake news comumente divulgada diz respeito à radiação emitida pelo exame de mamografia. “Vale esclarecer que a radiação mamográfica é muito baixa e segura. Para efeito de comparação, é semelhante à radiação natural que recebemos ao viver de um a dois meses em uma cidade grande”, diz.
Sobre o desconforto durante o exame, relatado por algumas mulheres e amplificado pelas redes sociais, a mastologista afirma que esta é uma condição suportável que pode ser minimizada com as técnicas adequadas, inclusive com o uso de medicação antes da realização do exame.
Outro mito particularmente perigoso, que a representante da SBM considera importante ser desmentido, é sobre a fake news de que “biópsias espalham câncer”. A especialista ressalta que a informação não tem qualquer respaldo científico.
A biópsia é um procedimento de diagnóstico seguro e necessário para a descoberta da doença e o tratamento adequado. E não interfere negativamente na evolução da doença. Ao contrário, é fundamental para definir o melhor caminho do tratamento para cada paciente.”
A SBM reforça que “a detecção precoce do câncer de mama por meio da mamografia e as estratégias para o tratamento individualizado, orientadas a partir da biópsia, ampliam significativamente as chances de cura”.
A ciência não é estática. Evolui, se refina e se transforma à medida que novas tecnologias e conhecimentos surgem. E hoje sabemos com clareza que a mamografia é uma ferramenta absolutamente essencial no enfrentamento do câncer de mama”, destaca a secretária-adjunta da SBM. “Divulgar informações corretas, baseadas em ciência, é uma forma de transformar o medo em prevenção, e a dúvida, em cuidado”, conclui Annamaria Massahud.
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Combate à desinformação no centro do debate do Outubro Rosa
No Outubro Rosa 2024, o combate à desinformação “como forma de salvar vidas” também esteve no centro da campanha da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM).
Vivemos em tempos desafiadores no combate à desinformação, especialmente em relação ao câncer de mama. Infelizmente, notícias falsas estão se disseminando rapidamente, como a alegação absurda de que o câncer de mama não existe ou que a mamografia causa câncer — o que é uma mentira perigosa”, adverte Tufi Hassan, mastologista e presidente da SBM.
Ele lembra que o câncer de mama é uma realidade que afeta milhares de mulheres, e, até 2025, são esperados 74 mil novos casos em brasileiras. E enfatiza que o diagnóstico precoce é essencial para aumentar as chances de cura e garantir melhor qualidade de vida para as pacientes.
A Sociedade Brasileira de Mastologia enfatiza que a mamografia, diferentemente das fake news, é cientificamente comprovada como o método mais seguro para a detecção precoce do câncer de mama para a maior faixa da população. A entidade recomenda que mulheres a partir dos 40 anos realizem mamografias anuais, uma medida essencial para garantir a saúde e o bem-estar das brasileiras”, diz a nota.
É falso que câncer de mama não existe
O Ministério da Saúde afirma que o câncer de mama ocupa a primeira posição em mortalidade por câncer entre as mulheres no Brasil, com taxa de mortalidade ajustada por idade, pela população mundial, para 2021, de 11,71/100 mil (18.139 óbitos). A doença é uma das mais estudadas e documentadas pela ciência médica, com ampla evidência clínica e epidemiológica.
O câncer de mama é uma condição na qual células anormais da mama crescem descontroladamente e podem formar tumores, com potencial para se espalhar para outras partes do corpo se não for tratado”, alerta a pasta.
A doença é a que mais atinge mulheres no Brasil, sendo as regiões Sul e Sudeste as que apresentam maiores taxas de incidência e mortalidade. Diante desses dados, a detecção precoce e a prevenção primária desempenham um papel crucial na redução dos números da doença. O acesso à informação, exames de rotina e cuidados com a saúde são essenciais para que a população feminina esteja preparada para identificar os sinais e buscar tratamento adequado o quanto antes.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), estima-se que 73.610 novos casos de câncer de mama sejam registrados até 2025, com uma taxa de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres, e que a doença cause 18 mil mortes. Embora rara, a doença também pode acometer homens, representando cerca de 1% dos casos.
Sinais e sintomas
O sintoma mais comum do câncer de mama é o caroço (nódulo) no seio, que pode ser acompanhado ou não de dor. Ele está presente em mais de 90% dos casos da doença. De acordo com o Inca, nem todo o caroço é câncer de mama, por isso, é importante consultar um profissional de saúde para análise. Outros principais sintomas são:
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- Pele da mama avermelhada, retraída ou com aspecto de casca de laranja;
- Pequenos nódulos embaixo do braço ou no pescoço;
- Alterações no bico do peito (mamilo);
- Saída espontânea de líquido de um dos mamilos.
As alterações suspeitas de câncer de mama devem ser sempre investigadas para esclarecimento do diagnóstico. Em mulheres mais jovens, qualquer caroço persistente por mais de um ciclo menstrual deve ser investigado por um profissional. No caso das mulheres com mais de 50 anos, todo caroço na mama deve ser investigado.
Cuide-se
Segundo o Ministério da Saúde, a mamografia de rastreamento é indicada para mulheres de 50 a 69 anos de idade, uma vez a cada dois anos. O exame de rotina é feito periodicamente em mulheres sem queixa específica, com o objetivo de detectar precocemente alguma alteração que possa indicar a possibilidade de alguma doença. O câncer de mama apresenta significativo sucesso de tratamento e cura quando diagnosticado precocemente.
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferta atenção integral à prevenção e ao tratamento do câncer de mama, além de orientar a população sobre mudanças habituais das mamas em diferentes momentos do ciclo de vida e principais sinais suspeitos da doença. Nos últimos seis anos, o SUS realizou mais de 20 milhões de exames de mamografia de rastreamento em mulheres entre 50 e 69 anos de idade.
Como funciona a mamografia
A mamografia é a principal forma de prevenção de mortes pela doença. O diagnóstico precoce, obtido pela mamografia, permite a descoberta do câncer em estágios menores, onde as chances de cura são maiores e os tratamentos, menos agressivos. A mamografia é um tipo de Raio-X realizado em um aparelho chamado mamógrafo, que comprime a mama e gera imagens de alta qualidade capazes de revelar a existência de sinais precoces do câncer.
A compressão da mama é necessária para que o tecido da glândula mamária seja adequadamente espalhado e eventuais nódulos e microcalcificações revelem-se e o exame seja efetivo.
O eventual desconforto que pode acontecer é totalmente suportável e não deve ser uma barreira para que as mulheres deixem de fazer o exame, pois ele é fundamental para a obtenção de um diagnóstico ainda em fase inicial da doença.
Conforme já mencionado, o Ministério da Saúde recomenda o exame para mulheres a partir dos 50 anos, independente da presença de sintomas. Quando se detecta alterações pré-malignas e tumores mamários muito pequenos, o que é possível a partir da mamografia, as chances de cura do câncer de mama aumentam de forma significativa.
Entenda o caso dos médicos que espalharam fake news em pleno Outubro Rosa
A decisão da juíza da 9ª Vara Cível e Empresarial de Belém, Lailce Ana Cardoso, além de determinar a retirada dos conteúdos do ar de forma urgente, impede que Lana publique novas desinformações, sob a pena de multa diária de R$ 1.500 em caso de descumprimento.
Lana e outro médico foram denunciados no dia 29 de outubro a conselhos de medicina por declarações sobre câncer de mama que são consideradas falsas pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca). As afirmações foram divulgadas durante o Outubro Rosa mês de conscientização e alerta sobre a importância da prevenção desse tipo de câncer..
O outro médico é Lucas Ferreira Mattos, que tem registros em São Paulo e Minas Gerais, e possui mais de 1,2 milhão de seguidores no Instagram. Em um dos vídeos, Lucas responde uma pergunta sobre uma pessoa que diz ter dois cistos nos seios e quer saber o que fazer para “acabar com eles”.
Na resposta, ele diz que a mamografia gera uma radiação que aumenta a incidência de câncer de mama e afirma ter “100% de certeza que o seu nódulo benigno é deficiência de iodo”. O médico faz a afirmação sem fazer nenhum exame na paciente.
O vídeo em questão foi encaminhado ao Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp). A partir das postagens, os médicos passaram a ser investigados por dizerem que ‘câncer de mama não existe’ ou que “mamografia causaria a doença”. O Cremesp ainda investiga o caso.
Assim que as postagens ganharam repercussão, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) afirmou em nota que o conteúdo das postagens era totalmente falso, assim como Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e a Sociedade Brasileira de Mastologia que alertaram sobre a disseminação de informações falsas.
. Outros médicos também criticaram a falta de ética dos colegas, como o cardiologista Mozar Suzigan – confira o vídeo aqui:
Não acredite em tudo que lê e ouve
De acordo com o Ministério da Saúde, o compartilhamento de desinformações como esta é muito perigoso e pode colocar a saúde das pessoas em risco, por estimular a negligência de exames preventivos importantes, como mamografias, e atrasar diagnósticos que podem salvar vidas.
É fundamental buscar outras fontes para verificar o conteúdo e seguir orientações baseadas em evidências científicas fornecidas por profissionais de saúde qualificados e organizações reconhecidas, como o Ministério da Saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e as associações de câncer.
Desinformação pode matar! Não compartilhe este tipo de narrativa e ajude no combate a Fake News na área da saúde.
1. O câncer de mama é a segunda maior causa de morte de mulheres no Brasil depois das doenças cardiovasculares com infarto e avc.
2. O câncer de mama é o tipo de câncer mais comum nas mulheres no mundo e no Brasil, depois do câncer de pele não melanoma.
3. Cerca de 1 em cada 4 mulheres com câncer no brasil estão com câncer de mama.
4. Cerca de 1 em cada 8 mulheres vão desenvolver o câncer de mama durante a vida.
5. Cerca de 25% das mulheres com câncer de mama no Brasil desenvolvem a doença entre 40 e 50 anos.
6. Devido ao diagnóstico precoce e pelos avanços no tratamento a taxa de mortalidade do câncer de mama caiu mais de 40% nos últimos anos.
Com informações da SBM e do Ministério da Saúde