De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 830 mulheres morrem todos os dias no mundo por conta de complicações na gravidez e no parto. Entre as principais causas estão pré-eclâmpsia, hemorragia e sepse. Entretanto, recentemente a lista cresceu com a entrada do cuidado com a saúde mental das mulheres na gestação e no puerpério.

Segundo a OMS, nos países em desenvolvimento, uma em cada cinco mulheres terá um problema de saúde mental durante a gravidez e/ou no primeiro ano após o parto. A saúde mental materna comprometida pode aumentar o risco de complicações obstétricas como, por exemplo, pré-eclâmpsia, hemorragia, parto prematuro, natimorto, além de suicídio.

Nos Estados Unidos, por exemplo, o número de mortes por saúde mental subiu significativamente e já ultrapassa outras causas. Ainda segundo pesquisas internacionais recentes, 18% das mulheres apresentam sintomas de ansiedade no primeiro trimestre da gestação, passando para 19% no segundo trimestre e chegando a 24% no terceiro trimestre.

Pesquisa realizada no ano de 2020 pelo Instituto Fiocruz (2021), tendo como tema a saúde mental perinatal, aponta que no mundo cerca de 10% das mulheres grávidas e 13% das puérperas sofrem de algum problema de saúde mental, destacando-se a depressão. Já nos países com maior desigualdade de renda, tem-se altas taxas de mortalidade materna e infantil, essas taxas são ainda maiores – 15,6% durante a gravidez e 20% após o nascimento da criança.

Filhos de mães que morrem no parto vivem menos

Diante disso, o cuidado com a saúde mental das pacientes obstétricas se tornou ainda mais importante. O tema se tornou preocupação mundial pelo fato de que, na maioria das vezes, pode ser evitável e, também, por todas as repercussões que traz para aquela família que vive uma situação como essa quanto para a sociedade.

“Sabe-se que os nascidos de mães que morreram no parto vivem menos. Por isso, é tão importante a discussão, conscientização e ações em prol da redução da morte materna”, salienta a médica Para Mônica Maria Siaulys, diretora Médica do Grupo Santa Joana.

A mudança de comportamento da sociedade também tem sido ponto de atenção. Nota-se o aumento crescente das gestações tardias e fertilizações em vitro (FIV), além de outras comorbidades e suas sequelas, elevando, principalmente, os casos de pré-eclâmpsia e hemorragia, que são as principais causas de morte materna no Brasil.

Estresse pós-traumático após a histerectomia

Uma das condições que pode afetar a saúde mental em pacientes obstétricas é o acretismo placentário, condição clínica na qual a placenta se adere à parede uterina. Em alguns casos, torna-se impossível seu descolamento após o parto, podendo evoluir para uma hemorragia de difícil controle e potencialmente danosa à vida, onde decisões terão que ser tomadas em segundos para mudar o desfecho cirúrgico.

Como nesse grupo específico de pacientes a realização de histerectomia (cirurgia para remoção permanente do útero) pode ser frequente, discute-se muito a necessidade de apoio do grupo da saúde mental. Segundo dados da literatura, as pacientes que são submetidas à histerectomia em idade fértil são mais vulneráveis a desenvolver transtorno do estresse pós-traumático (TEPT).

“O cenário mundial mostra a importância de termos protocolos e equipe multidisciplinar altamente especializada e atenta para identificar, acolher e tratar qualquer sinal que indique a necessidade de suporte. Ainda temos inúmeros desafios nessa área, mas estamos caminhando para trazer melhorias constantes no cuidado e apoio às mulheres durante esse período”, salienta.

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Perda gestacional e impacto na saúde mental

A saúde mental das gestantes também foi tema de debate na 28ª Jornada Internacional de Anestesia Obstétrica, promovida em março pelo  Hospital e Maternidade Santa Joana, em São Paulo. O foco foi na perda gestacional e toda a linha de cuidado necessária para as pacientes que passam por esse processo.

O wokshop mostrou que cada vivência e experiência de gestação são únicas. Afinal, cada mulher tem uma experiência de perda diferente e não existe maneira certa ou errada de viver esse momento.

Destinado a médicos anestesistas, o encontro contou com workshops sobre Pré-Eclâmpsia, Hemorragia, Diversidade e Inclusão, além de apresentação de diversos casos clínicos e sessão de perguntas e respostas com os convidados internacionais.

Para alertar e conscientizar sobre o tema durante o período gestacional e pósparto, bem como os meios de diagnosticar os riscos precocemente, em 28 de maio é celebrado o Dia Nacional de Redução da Morte Materna.

  1. Com Assessorias
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