“Entre minha mãe e minha carreira, já está decidido, eu escolho a minha família”. Assim, ele resolveu sair de uma grande empresa de comunicação onde trabalhou por 20 anos, à frente de importantes projetos na área comercial e na criação de diversos eventos do calendário do Rio, para se dedicar a cuidar da mãe, Thereza Piñon, que sofria com o Mal de Alzheimer.
Foi, segundo o publicitário Lino Pinõn, de 52 anos, o melhor tempo de sua vida. E toda sua abnegação lhe rendeu um grande aprendizado. “Eu pude conviver de perto com a doença, o que possibilitou um vasto conhecimento sobre o assunto”, conta. Durante sete anos, ele se dedicou ao exercício das descobertas. Até que em 2013 decidiu criar o perfil do Twitter com o objetivo de encontrar e divulgar acontecimentos e avanços da ciência e da medicina a caminho da descoberta da cura da doença.
Agora, o microblog, que já conta com quase 200 mil seguidores, vai virar aplicativo para poder multiplicar mais e mais informações a quem precisa, especialmente familiares e cuidadores de pessoas com a doença. Para viabilizar o app, que será totalmente gratuito, Lino acaba de lançar a campanha de crowdfunding (financiamento coletivo) Não esqueça do App.
Aproveitando o espírito das Olimpíadas, e como forma de associar saúde, envelhecimento e qualidade de vida, a campanha tem como voluntário o ex-jogador de vôlei e medalhista olímpico brasileiro Marcus Vinicius Freire, atual superintendente executivo de esportes do Comitê Olímpico Brasileiro para a Rio 2016. Os doadores vão receber medalhas de ouro, prata e bronze, com a inscrição “Vou lembrar de você para sempre”. A campanha Não Esqueça o App vai até dia 7 de setembro.
“O foco do AppAlzheimerebook é ser um serviço de utilidade pública para famílias, cuidadores, médicos e instituições ligadas ao tema, além de ser um diário do portador de Alzheimer, independentemente da fase da doença que vive. Uma proposta para amenizar a rigidez da doença e o impacto sobre as pessoas que sofrem por estarem afetadas por seus entes queridos”, destaca o idealizador.
Mais sobre o perfil no Twitter
A decisão de criar um perfil no Twitter sobre o Alzheimer, garante Lino, não tinha o objetivo de institucionalizar um doente. Mas sim, com a determinação de usar toda sua experiência em benefício de outras pessoas. A partir daquele momento dedicou-se integralmente ao seu objetivo: o de alguma forma melhorar o convívio das pessoas com Alzheimer.
Para o microblog, ele buscou por informações disponíveis de Associações de Alzheimer, das reuniões com médicos, dos centros universitários, dos laboratórios e da indústria. Além da atenção às experiências bem-sucedidas, e de todos os cuidados especiais em sua casa, ele fortaleceu a compaixão por outras famílias afetadas pela doença. E decidiu continuar este trabalho, mesmo após o falecimento de sua mãe, aos 83 anos, em 2014.
“Como a missão que continua pela semente que nasce, e a planta que esta viva. Ao regar todos os dias percebo que o que realmente importa é o amor que se tem ao próximo”, afirma Lino. Ele explica que o nome Alzheimerebook representa a fusão do nome da doença com ebook – um livro eletrônico aberto a todas as lutas, vitórias e derrotas.
“A paixão é o legado de cada um que convive com a doença. O drama encoraja o conteúdo e se faz trajetória. A ficção e a realidade por vezes pactuam momentos de glória. A esperança existe porquanto persegue a última página. O ebook terminará quando o final feliz fechar a história”, afirma Lino.
O desenvolvimento e a viabilidade do app são da Fluxo Consultoria, empresa júnior de engenharia da Escola Politécnica e da Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sob a orientação do professor Fabrício Firmino de Faria e a gerência de Adriane Campelo Ramos da Silva.
Mais sobre o Alzheimer
Na sociedade da informação e do conhecimento que vivemos neste século 21, o Mal de Alzheimer, curiosamente, cresce a cada dia. Degenerativa e atualmente incurável, a doença acomete aproximadamente entre 50 a 60% da população idosa mundial e é a causa mais comum de perda de memória.
Com o aumento da expectativa de vida, o número de brasileiros acima de 65 anos deve praticamente quadruplicar até 2060, passando de 14,9 milhões, em 2013, para 58,4 milhões, 30% da população brasileira. Se o percentual de pessoas com Alzheimer se mantiver no mesmo ritmo, serão cerca de 6 milhões de brasileiros com a doença, um número quase equivalente à população da cidade do Rio de Janeiro.
“Perder a lucidez é algo triste, mas ao mesmo tempo é uma fórmula dolorosa de redescobrir o presente como um momento único, completamente lúdico e momentâneo. A doença possui tratamento, mas é muito importante que as pessoas cuidem da qualidade de vida, que por sua vez tem como requisito básico a informação. O livro fechará quando descobrirem a cura, mas é importante fazermos a nossa parte agora cuidando de nós mesmos”, afirma Lino.