De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de mama é a segunda doença mais incidente nas mulheres no Brasil, atrás apenas do câncer de pele não melanoma, sendo também o principal tipo cancerígeno relacionado à mortalidade feminina. Este ano, a estimativa é que o Brasil registre 73.610 novos casos da doença. A campanha Outubro Rosa alerta para a importância da prevenção e diagnóstico precoce, que podem acelerar as chances de cura na grande maioria dos casos.

O que poucos sabem é que uma alimentação saudável ao longo da vida pode, claro, reduzir as chances de surgimento de diversas doenças, dentre elas, o câncer de mama. Segundo o Inca, a alimentação inapropriada causa em torno de 20% dos casos de câncer no Brasil. Um estilo de vida saudável está ligado à prevenção de câncer, e isso inclui uma dieta adequada.

A nutricionista e responsável pelo programa de nutrição da Bio Ritmo, Fúlvia Hazarabedian, afirma que os vilões já conhecidos — sedentarismo, tabagismo, consumo de álcool e dieta ruim — levam ao desenvolvimento do câncer, inclusive o de mama: “Estudos cada vez mais demonstram a influência dos alimentos no desenvolver da doença por influenciar no ambiente do organismo”.

A nutricionista Adriana Zanardo, consultora da Jasmine Alimentos, afirma que as escolhas alimentares têm grande impacto tanto na prevenção ao câncer de mama quanto no avanço do tratamento. Ela traz dicas fundamentais tanto para quem busca a prevenção quanto para quem está em fase de tratamento do câncer de mama.

Os melhores alimentos para a saúde da mulher

A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem como recomendação o consumo máximo de 300g/semana de carne vermelha, sendo preciso ponderar a ingestão de carnes processadas em geral como salgadas, curadas, fermentadas e defumadas. O excesso de gordura saturada, principalmente presente em frituras, empanados e produtos ultraprocessados, também é igualmente prejudicial à saúde, além do excesso de açúcar.

Sabendo disso, é necessário adquirir uma alimentação saudável, com boa quantidade e variedade de alimentos de origem vegetal, como frutas, verduras, legumes e cereais integrais, além de leguminosas e oleaginosas.  “Todas essas opções contêm compostos bioativos com propriedades importantíssimas para a prevenção e o tratamento do câncer de mama, bem como de outras patologias”, esclarece Adriana Zanardo.

Segundo ela, cada alimento apresenta suas próprias características, vitaminas e propriedades específicas que contribuem para a chamada ação antioxidante, benéfica ao funcionamento das defesas naturais do corpo, impactando diretamente as células cancerígenas e prejudicando sua proliferação e sobrevivência.

Além dos cereais integrais e sementes, vale a pena incluir nas refeições vegetais crucíferos como brócolis, repolho e couve-flor, frutas vermelhas como morango, amora e framboesa, e frutas cítricas como abacaxi, acerola e maracujá. Segundo a nutricionista, é de extrema importância levar informação nutricional ao maior número possível de mulheres.

“Os clicosinolatos estão presentes nos vegetais, popularmente conhecidos como crucíferos, sendo eles brócolis, couve manteiga, couve de Bruxelas, repolho, couve-flor, mostarda, rúcula, nabo, rabanete e agrião”, detalha a especialista.

Grãos e sementes: gergelim branco e linhaça ajudam

Outro composto apontado pela nutricionista é a quercetina, que possui propriedades antioxidantes, presente em diversos alimentos como alface, aipo, batata, cebola, maçã, tomate, laranja e berinjela. Enquanto isso, as dlavonóis, que desempenham diversas atividades biológicas imprescindíveis, são encontradas nas frutas cítricas, especiarias, alcaparra, rúcula, repolho, couve, agrião, salsa, cacau e alfarroba. 

“Não podemos deixar de fora a forte presença das proantocianidinas, amplamente conhecidas por desempenharem atividade antioxidante, presentes no chá preto, chá verde e uvas, além das Isoflavonas e lignanas, que podem ser encontradas nos grãos e sementes. Vale destacar que o consumo desses itens pode retardar a formação de tumores, interferindo nas vias relacionadas ao estrogênio, hormônio com participação relevante no quadro”, complementa Adriana.

As lignanas podem ser encontradas no gergelim branco, que é um alimento rico em nutrientes, fonte de fósforo e magnésio, e contém ácidos graxos insaturados fundamentais para uma dieta equilibrada. A linhaça é a fonte mais rica de precursores de Lignana. A linhaça dourada é um antioxidante natural com diversos minerais, rica em fibras solúveis e insolúveis que auxiliam o funcionamento do intestino.

5 alimentos ideais para prevenir o câncer de mama

Para além de refeições equilibradas, há alimentos que podem auxiliar na prevenção do câncer de mama. A seguir, a nutricionista Fúlvia Hazarabedian indica cinco deles para que as mulheres incluam no seu dia a dia:

1. Chá Verde

A epigalocatequina-3-galato (EGCG), polifenol abundante no chá verde, previne o desenvolvimento de novos vasos, estimula o sistema imunitário, possui propriedades anti-inflamatórias e efeitos antioxidantes;

2. Cúrcuma

Essa raiz apresenta um forte antioxidante químico chamado curcumina que tem propriedades anti-inflamatórias e anticancerígenas impedindo o crescimento das células doentes, prevenindo e retardando o crescimento do câncer de mama. Ao ser consumida com azeite, pimenta preta, gengibre, cominho e/ou chá verde, sua absorção é potencializada.

3. Tomate

O licopeno, presente no tomate em abundância e responsável por lhe conferir a cor vermelha, é um potencial agente anti-câncer. Ele também pode ser encontrado no mamão, na melancia e na goiaba. O licopeno combate os radicais livres e quanto mais maduro, maior a quantidade do pigmento no alimento.

4. Romã

Apresenta alto poder antioxidante por conta de suas antocianinas e taninos hidrossolúveis. É rico em vitamina C, vitamina E e coenzima Q10. Também reforça o sistema imunitário, impede a proliferação das células anormais e possui efeito anti-inflamatório.

5. Semente de linhaça

São ótimas fontes de ômega 3 e seu consumo diário reduz inflamações crônicas, além de prevenir e combater tumores pela sua ação antioxidante. Apresenta efeito protetor e regulador dos níveis hormonais observado nas lignanas (substâncias fenólicas presentes no alimento), aumenta a imunidade, regula o trânsito intestinal e reduz a taxa de açúcar no sangue.

Como fazer novas escolhas alimentares?

Agora que você já sabe quais são os alimentos ricos do ponto de vista nutricional e quais são prejudiciais à saúde, é hora de fazer novas escolhas que possam garantir a vitalidade, energia e o bem-estar a longo prazo.

“A alimentação é apenas um dos fatores que pode ser ajustado visando a prevenção. O processo possui um papel fundamental, pois interfere no controle do peso, mas, infelizmente, não é garantia de impedimento do desenvolvimento da doença”, ressalta a nutricionista Adriana Zanardo.

Já para mulheres que têm filhos, a dica é amamentar o maior tempo possível – no mínimo, até os 6 meses de vida da criança, com preferência para até os 2 anos. Isso porque o aleitamento reduz a exposição da mãe a hormônios que aumentam o risco de desenvolvimento da doença, além de eliminar as células mamárias com mutações.

“Se for possível, não utilizar contraceptivos orais também é uma medida eficaz, além de manter o acompanhamento médico em dia com consultas e exames”, recomenda.

Alimentos também ajudam no tratamento

A consultora nutricional Adriana Zanardo explica que muitos alimentos podem contribuir para amenizar os sintomas incômodos e melhorar a qualidade de vida da paciente. Confira!

Incluir frutas cítricas e geladas para pacientes com náuseas decorrentes da quimioterapia;

Excluir frutas cítricas e alimentos ácidos para mulheres que estão com feridas na boca e em outras partes do trato gastrintestinal devido aos efeitos da quimioterapia;

– A constipação pode vir à tona devido ao efeito de alguns medicamentos, por isso, recomenda-se incluir na dieta alimentos fontes de fibras, como folhas, aveia, linhaça, chia e quinoa;

– Ponderar a quantidade de proteína para que a paciente tenha uma boa cicatrização no pós-cirúrgico;

– Consumir boas fontes de carboidratos para gerar mais energia nos casos de fadiga, como aqueles presentes em frutas, cereais integrais, raízes e tubérculos;

– Respeitar a seletividade alimentar do paciente;

– Avaliar o uso de suplementos para complementar as necessidades nutricionais.

A nutricionista também orienta a praticar atividade física, caso tenha liberação médica, para manter o peso saudável e contribuir para disposição. Os pacientes em tratamento também devem incluir a exposição ao sol na rotina, para ajudar a manter bons níveis de vitamina D.

Evite o álcool e abandone o estilo de vida sedentário

Vale considerar, ainda, o histórico familiar de câncer de ovário e mama, principalmente em mãe, irmã ou filha antes dos 50 anos, além de tabagismo e do consumo de álcool. Por isso, um ponto essencial, segundo Adriana, é evitar o consumo de bebida alcóolica, pois pode aumentar a probabilidade do surgimento do câncer de mama. De acordo com os estudos científicos, doses mais altas de álcool que chegam no tecido mamário são transformadas em uma substância chamada acetaldeído.

“Essa substância vai se acumulando e aumenta a chance de interferir negativamente no sistema de defesa da célula, na produção de DNA e também no sistema de reparo, fazendo com que as mamas fiquem mais suscetíveis a não conseguir se defender de agressores, além de aumentar a chance de mutações genéticas e prejudicar a identificação de células danificadas que precisam ser eliminadas”, explica.

O estilo de vida sedentário, bastante comum nos dias atuais, é um dos principais fatores de risco, que leva ao sobrepeso. O excesso de peso cria um ambiente mais inflamatório, que pode prejudicar o sistema de defesa, deixando o corpo mais suscetível ao desenvolvimento de patologias, inclusive o câncer de mama, conforme explica Adriana. A OMS recomenda, pelo menos, 150 a 300 minutos de atividade física moderada a intensa por semana, “Essa proteção vale para todas as suas fases de vida”. 

“Manter uma boa composição corporal, ou seja, um peso saudável, assim como massa magra e percentual de gordura adequado, principalmente após a menopausa, é fundamental, já que um dos componentes da mama é o tecido adiposo (gordura). Quando ocorre o aumento do peso, ocorre também o aumento da gordura mamária, impactando nas estruturas das células que se conectam com o estrogênio e aumentando o risco de desenvolvimento do câncer”, pontua a especialista.

O poder de prevenção das atividades físicas

O câncer de mama é a neoplasia mais incidente no sexo feminino. Cerca de uma entre oito mulheres enfrentarão essa doença em algum momento da vida. “O risco existe para todas as mulheres. Esse câncer está diretamente relacionado ao estímulo hormonal que a gente têm nas mamas ao longo da nossa vida, e isso não conseguimos mudar”, diz Maria Carolina Soliani, ginecologista e mastologista.

No entanto, o câncer de mama pode ser prevenido e ter grandes chances de cura quando seguimos algumas regras. “Existem fatores que conseguimos interferir e que impactam significativamente na redução desse risco. Um estilo de vida, com nutrição adequada, atividade física regular e exames anuais são a chave para uma boa prevenção, e por isso temos que escolher essa forma saudável de viver”, comenta a médica.

Poder de prevenção

Desde da década de 90, muitos estudos demonstraram a importância da atividade física na prevenção de alguns tipos de câncer. Em relação ao câncer de mama, já é possível quantificar uma redução da doença de 20% a 40% em pacientes que praticam alguma atividade física. Além disso, o sedentarismo aumenta em 104% o risco de evolução da doença e, por isso, é muito importante praticar exercícios e ter uma vida mais ativa.

“Durante o exercício, liberamos ocitocinas, que tem um papel imune e de redução de inflamação e isso tem um papel direto na relação do desenvolvimento e progressão do câncer de mama”, ressalta a mastologista.

Tratamento

Tanto ao longo do tratamento quanto depois, é ideal manter a frequência das atividades físicas entre três a cinco dias na semana, para uma melhora expressiva. Existem outros estudos que mostram que um bom estilo de vida ajuda a diminuir o crescimento tumoral, incidindo num controle local da doença.

“É importante frisar que é preciso fazer todos os tratamentos complementares e oncológicos, não é só a atividade física que vai melhorar. Mas ela, junto com uma alimentação balanceada, com alimentos menos inflamatórios, é um adjuvante excelente”, explica.

Diagnóstico

Outro importante fator que pode ajudar muito no tratamento do câncer de mama é o diagnóstico precoce. Estudosmostram que pacientes que descobrem a doença precocemente têm chance de cura de 95%. Para isso, é necessário fazer os exames de rotina pelo menos uma vez ao ano. Além disso, a Dra explica que também é preciso conhecer as próprias mamas.

“Após a menstruação é um momento ideal para tocar nas suas mamas e ver se tem algo diferente e procurar sempre o médico para tirar dúvidas. Quando conseguimos descobrir precocemente a gente consegue de fato entregar cura para os pacientes e isso salva vidas”, finaliza a ginecologista.

Com informações da Jasmine Alimentos e Bioritmo

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