Qual a influência dos pais nos hábitos alimentares das crianças?

Crise alimentar provoca anemia, enquanto obesidade infantil cresce. Como introduzir alimentos saudáveis? Unicef leva educação alimentar às escolas

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Nos últimos cinco anos houve um agravamento na crise alimentar no Brasil. Dados preocupantes foram divulgados também pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS/OMS), sobre a prevalência de anemia em crianças e adolescentes brasileiros. Na faixa etária de 5 a 9 anos, o percentual é de 12,9%, enquanto os adolescentes entre 12 e 17 anos alcança 21%.

Um levantamento divulgado no ano passado pelo Ministério da Saúde revelou que 20% das crianças brasileiras com menos de cinco anos foram identificadas com anemia, por falta de ferro e 17% apresentaram índices insuficientes de vitamina A.

Mas ao mesmo tempo em que 33 milhões de brasileiros não têm o que comer todos os dias ou estão em insegurança alimentar, uma em cada três crianças de 5 a 9 anos possui excesso de peso, 17,1% dos adolescentes estão com sobrepeso e 8,4% são obesos.

A epidemia de obesidade é global. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), atualmente cerca de 13% dos adultos são obesos, três vezes mais do que em 1975. São 1 bilhão de pessoas obesas no mundo, e desse total, 39 milhões são crianças. Já o mais recente relatório da ONU ‘Atlas Mundial da Obesidade’ aponta que, até 2035, um terço das crianças e adolescentes poderão desenvolver obesidade.

Com base nesses dados, é possível afirmar que a obesidade é uma questão de saúde pública, uma vez que pode acarretar no desenvolvimento de doenças crônicas como hipertensão, diabetes, colesterol alto, problemas cardiovasculares e até mesmo câncer. A combinação de hábitos alimentares não saudáveis com o sedentarismo faz com que crianças e adolescentes desenvolvam esses problemas de saúde cada vez mais cedo.

A economia também está envolvida na questão, já que com o poder de compra menor, os alimentos ultraprocessados – como macarrão instantâneo, sucos de caixinha, salsichas e outros alimentos de baixo valor nutricional – se tornaram itens mais consumidos por serem mais baratos.

Por isso, é necessário investir na formação de hábitos saudáveis e adequados, aumento do consumo de alimentos in natura ou minimamente processados e redução de ultraprocessados, alimentos com alto teor de açúcares, gorduras e sal, contribuindo para a redução de risco para obesidade e DCNT (doenças crônicas não-transmissíveis).

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Qual o período ideal para a introdução alimentar?

Na avaliação de pesquisadores e especialistas, um dos principais motivos dos dois diagnósticos entre o público infantil é a influência direta dos familiares. É na fase da introdução alimentar que é construído o paladar do indivíduo, e quando isso não acontece de modo correto, os resultados variam da obesidade até algumas doenças. Uma alimentação equilibrada desde o período de gestação pode ser uma alternativa eficiente no combate à obesidade, um problema de saúde pública mundial.

A coordenadora dos cursos de pós-graduação na área de nutrição do Senac EAD, Suzana Camacho Lima, explica que o aleitamento materno deve ser feito entre 0 e 2 anos, contudo a inclusão de complementos pode ser realizada de modo gradual.

“É importante que a relação da criança com o alimento comece desde cedo e com equilíbrio, já que muitas questões de seletividade são decorrentes do desconhecimento sobre a comida. O que não se deve é chantagear a criança com promessas de doces ou refrigerantes, pois, dessa maneira ela vai associar alimentação como algo ruim e angustiante”.

Desinteresse por alimentos começa a partir de 2 anos

Suzana lembra que durante o bacharelado em Nutrição existe uma disciplina chamada gastronomia hospitalar, na qual é reforçada a abordagem pediátrica. “O termo gastronomia não tem nada a ver com gourmetização, mas sim, para identificar a fase na qual a criança passa a ter desinteresse pelos alimentos, a partir dos dois anos. Nessa etapa estão mais interessadas em explorar o ambiente do que comer e é preciso adotar estratégias”, argumenta.

De acordo com a nutricionista, é importante esclarecer os pais que os alimentos saudáveis não devem ser “escondidos” em outros preparos. “É muito melhor utilizar métodos lúdicos e divertidos como modelagem em frutas ou decoração no prato. Um tipo de isca, para despertar a curiosidade da criança provar e aceitar novos alimentos”, esclarece.

Como existem diferentes realidades e cenários, Suzana sugere aos pais que trabalham o dia inteiro e chegam em casa para o jantar, algumas sugestões para a criança se acostumar com frutas e verduras.

“Uma opção rápida é comprar vegetais higienizados no supermercado e quando chegar em casa, convidá-la para abrir o pacote ou levar a vasilha para mesa. Isso funciona com as frutas também, pois os pequenos acabam elencando a opção que mais gostam”, conclui.

Ela conta que na pós-graduação em Nutrição Materno-Infantil, nutricionistas são preparados para acompanhar a introdução alimentar da criança, até o período da adolescência. A abordagem atende as mais diversas situações clínicas, entre elas: suplementação na gestação e infância, vegetarianismo, veganismo, seletividade alimentar, alergias, intolerâncias, nutrição no autismo, síndrome de down, entre outros.

“Procuramos atender o maior número de cenários possíveis, já que é uma demanda que vem crescendo nas escolas e os nutricionistas têm dificuldade de lidar com a alimentação desse público. Muitas vezes, um caso de seletividade, pode ser o modo incorreto de ofertá-lo para a criança. Além disso, apresentamos informações relevantes sobre a dieta para crianças autistas e com síndrome de down”, explica.

Programa do Unicef leva bons hábitos alimentares às escolas

Crianças recebem alimentação em escola na Bolívia. (Foto: PMA/Boris Heger)

A educação surge como um importante impulsionador para a mudança de hábitos alimentares entre as crianças na América Latina, incluindo o Brasil, e o Programa de Saúde e Nutrição do Unicef tem alcançado bons resultados. As ações atuam na promoção de ambientes saudáveis nas escolas por meio da capacitação de gestores e professores e conscientização de crianças e jovens e adolescentes para que eles sejam promotores de hábitos saudáveis entre seus pares, familiares e comunidade.

Por meio de atividades de comunicação para mudanças sociocomportamentais (Social Behavior Change Communication – SBCC), mais de 9 mil crianças e adolescentes foram diretamente impactados, além de centenas de educadores, com capacitações para terem hábitos alimentares saudáveis e sustentáveis, engajarem as comunidades em prol da causa e disseminarem materiais que auxiliem o Poder Público a incluir a pauta no currículo escolar.

Em João Pessoa (PB) e Fortaleza (CE), por exemplo, grupos de adolescentes participaram de workshops promovidos pelo Unicef para discutir hábitos alimentares nas escolas e sua correlação com temas como mudanças climáticas e questões étnico-raciais. A partir disso, foi desenvolvido um jogo RPG (Role-Playing Game) sobre o tema, que pode ser adaptado a diferentes regiões e culturas. O jogo está em fase de refinamento e de articulação com governos locais para que possam ser utilizados nas instituições de ensino.

Cada professor também pode ser promotor de hábitos saudáveis

A BNP Paribas Cardif é uma das empresas que apoia o projeto e contribui para que o Unicef possa ampliar  discussões sobre obesidade infantil para mais espaços. Entre as próximas ações previstas, está a criação de estratégias para adaptar o currículo escolar e incluir competências para promover o consumo de alimentos saudáveis e a importância disso para a saúde, além de expandir a capacitação dos gestores escolares e professores sobre o assunto.

“Nós abordamos a questão para que cada um dos profissionais se torne também promotor de hábitos saudáveis e entenda claramente os impactos da obesidade e do sobrepeso. O que queremos é unir esforços para ampliar a conscientização sobre a importância de uma alimentação equilibrada e mais saudável entre o nosso time, seus familiares e a sociedade, de maneira mais geral”, afirma Fernanda Campos, diretora executiva de Recursos Humanos e ESG da BNP Paribas Cardif Brasil.

Por meio da parceria com o Unicef, a empresa também realiza ações internas, como webinars e conteúdos de comunicação, para incentivar seus colaboradores a apoiarem a causa.

“Temos observado que a parceria traz uma reação em cadeia. Além de contribuir para a realização de atividades com o nosso público-alvo, que são crianças e adolescentes em escolas, também tem um impacto positivo por meio do engajamento da empresa, envolvendo colaboradores e parceiros, ampliando nosso alcance. Isso faz com que a conscientização sobre os problemas da obesidade chegue a novos públicos, novas famílias”, pontua Stephanie Amaral.

Em janeiro de 2021, o BNP Paribas Cardif lançou uma estratégia internacional para ajudar a mitigar complicações e riscos ligados ao sobrepeso e obesidade, após sua convicção de que é importante tomar medidas urgentes. Para isso, a seguradora desenvolveu um programa de impacto social baseado em quatro grandes pilares:

  • Prevenção e Educação: mediante apoio a associações dedicadas à prevenção do excesso de peso e da obesidade, que trabalham na melhoria dos hábitos alimentares das crianças e suas famílias;
  • Pesquisas Médicas e Científicas: para oferecer suporte a estudos e orientações médicas para atividades educativas e incentivar estudos que expandam os conhecimentos na área de nutrição e prevenção da obesidade;
  • Tecnologia: por meio do desenvolvimento de ferramentas tecnológicas focadas em nutrição saudável e acessível aos colaboradores, parceiros e clientes da companhia;
  • Parcerias: para ampliar o programa de prevenção da obesidade por meio das plataformas de distribuição dos parceiros de negócios para também disseminar benefícios concretos de saúde para seus clientes e funcionários.

Para Fernanda, a iniciativa vem de encontro ao objetivo da empresa de promover bem-estar para a população.

“Os seguros exercem uma importante função social de amparar as pessoas em situações de necessidade. Mas não basta atuar apenas quando um problema ocorre, é também necessário um trabalho de prevenção e esse é o objetivo da parceria com Unicef: minimizar os riscos de surgimento de doenças causadas pela obesidade entre crianças e jovens. É um trabalho que, no longo prazo, tende a trazer mais qualidade de vida, começando nos ambientes escolares e abrangendo as comunidades no entorno”, diz.

Com Assessorias

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