Pneumonia bilateral, infecção microbiana, pelo menos quatro crises de falta de ar e um episódio de broncoaspiração, que pode predispor a infecções pulmonares. A saúde do Papa Francisco, de 88 anos, gerou preocupação ao redor do mundo. Ele recebeu alta neste domingo (23), após passar 38 dias internado na Itália. Ele deixou neste domingo (23/03) o hospital Gemelli, em Roma e voltou para sua residência, na Casa de Santa Marta, no Vaticano, após receber alta médica.
O líder mundial da Igreja Católica chegou a desenvolver um quadro de insuficiência renal leve, uma condição que pode ser preocupante, especialmente em pacientes com a saúde já debilitada. O caso recente acendeu o sinal vermelho para os riscos de complicações respiratórias em pessoas acima dos 60 anos. Embora o religioso já lide com problemas pulmonares desde os 20 anos, os especialistas afirmam que a idade representa, sim, um fator de risco para o agravamento das doenças do aparelho respiratório.

No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou em 2024 um crescimento de 189% nas hospitalizações de idosos por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) por influenza, em relação a 2023. A sazonalidade está associada ao começo do outono e à mudança do clima em vários lugares do país, época em que as baixas temperaturas podem contribuir para que o vírus acabe circulando com mais intensidade, o que aumenta a necessidade de proteção e o risco de hospitalização.

A partir dos 40 anos, o risco de ataque cardíaco aumenta em dez vezes e o de AVC oito vezes nos primeiros três dias após uma infecção por influenza e idosos permanecem com risco elevado para AVC até dois meses depois de se contaminar pelo vírus, o que reflete nas admissões em UTI, que cresceram 187% e em 157% mais óbitos.

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A perda da imunidade sofrida pelo corpo ao longo do tempo é uma das causas do maior risco de agravamento no quadro respiratório de pessoas acima dos 60 anos, como explica o pneumologista da Hapvida, Renato Calil. .
Ao envelhecer, a nossa capacidade imune diminui e ficamos mais propensos a infecções respiratórias, causadas principalmente por bactérias e vírus. Ou seja: se o sistema imunológico enfraquece, a missão de combater bactérias e vírus fica mais difícil”.

A perda de elasticidade e flexibilidade do corpo ao longo do tempo, segundo o médico, também é um dos fatores para a fragilidade dos idosos. Isso gera acúmulo de secreção no organismo, o que pode ser outra fonte de infecção respiratória. “A capacidade pulmonar diminui com a idade. Ganhamos capacidade pulmonar até os 20, 25 anos e, depois, passamos o restante da vida toda perdendo”, reforça o especialista.

Quem tem hipertensão e diabetes também precisa redobrar o alerta. “Essas duas condições, além da idade, agravam os quadros respiratórios porque são duas doenças que já impactam o sistema imunológico, que é a defesa do nosso organismo, e também comprometem o sistema cardiovascular”, afirma Renato.

Ou seja: pessoas idosas estão de fato mais suscetíveis a problemas respiratórios e devem redobrar os cuidados, inclusive com estratégias de prevenção, como a vacinação anual contra a gripe. Pessoas com mais de 60 anos, que têm doenças preexistentes importantes, têm a doença pulmonar obstrutiva crônica e a doença do cigarro, devem se vacinar também para evitar a pneumonia. “Evitar fumar, não ter contato com pessoas em ambientes fechados e com problemas respiratórios também são medidas valiosas”, finaliza o médico.

Internações prolongadas afetam qualidade de vida

O caso do Papa Francisco alerta ainda para internações prolongadas em idosos, especialmente naqueles com condições de saúde preexistentes, representam um desafio significativo para a manutenção da qualidade de vida e da independência.  Os riscos vão além da doença que motivou a hospitalização, podendo impactar profundamente a funcionalidade e a saúde global do paciente. 

“Pelos relatos, ele já apresentava dificuldades de locomoção antes da hospitalização. Após a internação, notamos que ele ficou mais cansado, o que sugere uma perda adicional de funcionalidade”, comenta ogeriatra Felipe Vecchio, membro da da Sociedade Brasileira de Geriatria e diretor de Operações da BSL Saúde que administra os  residenciais Cora Premium.

Um dos principais riscos destacados pelo especialista é a perda de funcionalidade, ou seja, a capacidade do idoso de realizar atividades cotidianas de forma independente. “O idoso já tem uma tendência natural à perda de massa muscular, e a internação, muitas vezes, acentua esse quadro. O paciente fica mais acamado, o que acelera a perda muscular e aumenta a dependência de cuidadores”, explica Vecchio.

Fisioterapia intra-hospitalar não substitui rotina de atividades

A fisioterapia intra-hospitalar é uma das estratégias para minimizar esse problema, mas o médico ressalta que ela não substitui a rotina diária de atividades. “A fisioterapia ajuda a prevenir complicações do imobilismo, como trombose, mas não é o ideal. O idoso precisa de estímulos constantes para manter sua autonomia”, complementa.

Outro ponto crítico é a exposição a infecções, principalmente por bactérias resistentes, comuns em ambientes hospitalares. “Infecções pulmonares, como pneumonias por broncoaspiração, são frequentes em idosos com dificuldades de deglutição ou alterações cognitivas. Além disso, o uso de dispositivos como sondas e acessos venosos pode aumentar o risco de infecções de pele e até da corrente sanguínea”, alerta o geriatra.

Vecchio também chama a atenção para infecções urinárias, comuns em pacientes que necessitam de fraldas, e para lesões por pressão, que podem surgir devido ao tempo prolongado na cama. “Tudo isso exige monitoramento constante e medidas preventivas”, reforça.

A internação também pode afetar a saúde mental do idoso. A mudança de ambiente e rotina pode levar a quadros de desorientação e confusão mental, conhecidos como delirium. “O idoso pode ficar mais agitado, confuso ou até mesmo sonolento. Isso impacta não apenas a recuperação, mas também a capacidade de tomar decisões”, diz Vecchio.

Estratégias para minimizar os riscos

Para reduzir os efeitos negativos das internações prolongadas, o especialista destaca a importância de uma abordagem multidisciplinar. “A nutrição adequada é fundamental. Dependendo do caso, pode ser necessário o uso de sondas ou até nutrição parenteral, mas sempre com cuidado para evitar desconforto e agitação no paciente”, explica.

Além disso, a fisioterapia motora e respiratória deve ser iniciada o mais cedo possível, assim como a mobilização do paciente, sempre que clinicamente viável. “O objetivo é preservar ao máximo a funcionalidade e a independência do idoso”, afirma Vecchio.

Ele completa dizendo que as  internações prolongadas em idosos exigem cuidados específicos para evitar complicações que podem ser tão graves quanto a doença original. “É essencial que as equipes médicas e familiares estejam atentas aos riscos e trabalhem juntas para preservar a funcionalidade, a saúde mental e a qualidade de vida do paciente”, finaliza Felipe Vecchio.

Com Assessorias e Agência Brasil

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