No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou em 2024 um crescimento de 189% nas hospitalizações de idosos por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) por influenza, em relação a 2023. A sazonalidade está associada ao começo do outono e à mudança do clima em vários lugares do país, época em que as baixas temperaturas podem contribuir para que o vírus acabe circulando com mais intensidade, o que aumenta a necessidade de proteção e o risco de hospitalização.
A partir dos 40 anos, o risco de ataque cardíaco aumenta em dez vezes e o de AVC oito vezes nos primeiros três dias após uma infecção por influenza e idosos permanecem com risco elevado para AVC até dois meses depois de se contaminar pelo vírus, o que reflete nas admissões em UTI, que cresceram 187% e em 157% mais óbitos.
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Ao envelhecer, a nossa capacidade imune diminui e ficamos mais propensos a infecções respiratórias, causadas principalmente por bactérias e vírus. Ou seja: se o sistema imunológico enfraquece, a missão de combater bactérias e vírus fica mais difícil”.
A perda de elasticidade e flexibilidade do corpo ao longo do tempo, segundo o médico, também é um dos fatores para a fragilidade dos idosos. Isso gera acúmulo de secreção no organismo, o que pode ser outra fonte de infecção respiratória. “A capacidade pulmonar diminui com a idade. Ganhamos capacidade pulmonar até os 20, 25 anos e, depois, passamos o restante da vida toda perdendo”, reforça o especialista.
Quem tem hipertensão e diabetes também precisa redobrar o alerta. “Essas duas condições, além da idade, agravam os quadros respiratórios porque são duas doenças que já impactam o sistema imunológico, que é a defesa do nosso organismo, e também comprometem o sistema cardiovascular”, afirma Renato.
Ou seja: pessoas idosas estão de fato mais suscetíveis a problemas respiratórios e devem redobrar os cuidados, inclusive com estratégias de prevenção, como a vacinação anual contra a gripe. Pessoas com mais de 60 anos, que têm doenças preexistentes importantes, têm a doença pulmonar obstrutiva crônica e a doença do cigarro, devem se vacinar também para evitar a pneumonia. “Evitar fumar, não ter contato com pessoas em ambientes fechados e com problemas respiratórios também são medidas valiosas”, finaliza o médico.
Internações prolongadas afetam qualidade de vida
“Pelos relatos, ele já apresentava dificuldades de locomoção antes da hospitalização. Após a internação, notamos que ele ficou mais cansado, o que sugere uma perda adicional de funcionalidade”, comenta ogeriatra Felipe Vecchio, membro da da Sociedade Brasileira de Geriatria e diretor de Operações da BSL Saúde que administra os residenciais Cora Premium.
Um dos principais riscos destacados pelo especialista é a perda de funcionalidade, ou seja, a capacidade do idoso de realizar atividades cotidianas de forma independente. “O idoso já tem uma tendência natural à perda de massa muscular, e a internação, muitas vezes, acentua esse quadro. O paciente fica mais acamado, o que acelera a perda muscular e aumenta a dependência de cuidadores”, explica Vecchio.
Fisioterapia intra-hospitalar não substitui rotina de atividades
A fisioterapia intra-hospitalar é uma das estratégias para minimizar esse problema, mas o médico ressalta que ela não substitui a rotina diária de atividades. “A fisioterapia ajuda a prevenir complicações do imobilismo, como trombose, mas não é o ideal. O idoso precisa de estímulos constantes para manter sua autonomia”, complementa.
Outro ponto crítico é a exposição a infecções, principalmente por bactérias resistentes, comuns em ambientes hospitalares. “Infecções pulmonares, como pneumonias por broncoaspiração, são frequentes em idosos com dificuldades de deglutição ou alterações cognitivas. Além disso, o uso de dispositivos como sondas e acessos venosos pode aumentar o risco de infecções de pele e até da corrente sanguínea”, alerta o geriatra.
Vecchio também chama a atenção para infecções urinárias, comuns em pacientes que necessitam de fraldas, e para lesões por pressão, que podem surgir devido ao tempo prolongado na cama. “Tudo isso exige monitoramento constante e medidas preventivas”, reforça.
A internação também pode afetar a saúde mental do idoso. A mudança de ambiente e rotina pode levar a quadros de desorientação e confusão mental, conhecidos como delirium. “O idoso pode ficar mais agitado, confuso ou até mesmo sonolento. Isso impacta não apenas a recuperação, mas também a capacidade de tomar decisões”, diz Vecchio.
Estratégias para minimizar os riscos
Para reduzir os efeitos negativos das internações prolongadas, o especialista destaca a importância de uma abordagem multidisciplinar. “A nutrição adequada é fundamental. Dependendo do caso, pode ser necessário o uso de sondas ou até nutrição parenteral, mas sempre com cuidado para evitar desconforto e agitação no paciente”, explica.
Além disso, a fisioterapia motora e respiratória deve ser iniciada o mais cedo possível, assim como a mobilização do paciente, sempre que clinicamente viável. “O objetivo é preservar ao máximo a funcionalidade e a independência do idoso”, afirma Vecchio.
Ele completa dizendo que as internações prolongadas em idosos exigem cuidados específicos para evitar complicações que podem ser tão graves quanto a doença original. “É essencial que as equipes médicas e familiares estejam atentas aos riscos e trabalhem juntas para preservar a funcionalidade, a saúde mental e a qualidade de vida do paciente”, finaliza Felipe Vecchio.
Com Assessorias e Agência Brasil