Psicóloga alerta: prevenção de burnout precisa sair do faz de conta nas empresas
O Setembro Amarelo também abre espaço para discutir saúde mental no trabalho e chega em 2025 com um alerta contundente para empresas e gestores públicos: o Brasil vive uma crise sem precedentes na saúde mental dos trabalhadores.
Dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) mostram que os afastamentos por transtornos mentais cresceram 135% em dois anos, saltando de 199.338 casos em 2022 para 278.754 em 2023 e 468.481 em 2024.
O aumento pressiona tanto as contas da Previdência Social, com mais gastos em auxílios e aposentadorias, quanto a produtividade das empresas, que enfrentam absenteísmo, rotatividade e licenças prolongadas.
Outro dado preocupante é o aumento no consumo de medicamentos psiquiátricos. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), as vendas de ansiolíticos, antidepressivos e estabilizadores de humor cresceram até 87% no período pós-pandemia, reforçando a gravidade do cenário.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, globalmente, 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos por ano devido a ansiedade e depressão, gerando um prejuízo próximo de 1 trilhão de dólares.
Pesquisas reforçam essa relação entre clima emocional e desempenho. Um estudo da Harvard Business Review mostra que colaboradores que trabalham em ambientes emocionalmente positivos são 31% mais produtivos, registram 37% mais vendas e são três vezes mais criativos.
Afastamentos por saúde mental sobem 135% em dois anos
Para especialistas, além do impacto econômico, o quadro revela a necessidade urgente de mudança cultural no ambiente corporativo. Aline Graffiette (foto), psicóloga e CEO da Mental One, afirma que muitas empresas ainda tratam o tema de forma superficial.
O que eu tenho visto é que as empresas estão brincando de faz de conta. Só que, a partir de maio do próximo ano, com a implementação da nova NR01, isso pode gerar ações trabalhistas gigantescas”, ressalta.
Para a especialista, não basta apenas responsabilizar o trabalho pelo estresse. “Um casamento em crise estressa, problemas financeiros estressam, doenças na família estressam. Mas é no ambiente de trabalho que passamos a maior parte do nosso dia, por isso o impacto é tão grande”, explica.
Aline reforça que a solução passa por líderes atentos e programas reais de prevenção. “É um prejuízo perder um colaborador afastado por depressão ou, no pior dos casos, por suicídio. Além da dor humana, há impacto direto na sustentabilidade das empresas. Investir em saúde mental não é custo, é responsabilidade e prevenção.”
Para Izabela Holanda, diretora-executiva da IH Consultoria e Desenvolvimento Humano e especialista em Psicologia da Felicidade, “quando os colaboradores percebem que estão em um ambiente saudável, com líderes preparados e apoio institucional, os índices de engajamento, produtividade e retenção de talentos aumentam”. A satisfação no trabalho não é apenas um fator de bem-estar, mas um motor essencial para o sucesso das organizações”, explica.
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A Norma Regulamentadora 1 (NR1) voltou ao centro das discussões corporativas ao tornar obrigatória a contratação de serviços especializados para monitoramento dos riscos psicossociais dos colaboradores. Essa mudança representa um avanço significativo na valorização da saúde mental dentro do ambiente de trabalho, exigindo que as empresas adotem medidas concretas para o bem-estar dos funcionários.
Segundo Aline Graffiette, essa obrigatoriedade pode transformar a forma como as empresas encaram a saúde mental, mas alerta para a necessidade de um compromisso real com o cuidado dos colaboradores. “As questões subjetivas estão ganhando um caráter mais objetivo, tornando-se uma exigência legal. No entanto, o grande desafio é garantir que as empresas adotem práticas de cuidado genuínas, e não apenas cumpram protocolos burocráticos”, destaca a psicóloga.
O mercado tem observado a popularização de serviços de psicoterapia online baseados em inteligência artificial, que oferecem atendimentos rápidos e pouco personalizados. Para Aline, esse modelo pode ser contraproducente. “O que estamos vendo são empresas contratando plataformas onde o colaborador interage por 20 minutos com uma IA. Em vez de gerar um ganho, isso pode gerar uma perda, pois o funcionário se sente ainda mais desvalorizado pela empresa”, explica.
Com a entrada da geração Z no mercado de trabalho, a demanda por um ambiente corporativo que priorize a qualidade de vida e o bem-estar psicológico se tornou ainda mais evidente.
Essa nova geração quer muito mais do que apenas um emprego. Eles buscam cuidado, equilíbrio e propósito. A NR1 chega para reforçar essa necessidade e pressionar as empresas a implementarem estratégias eficazes para lidar com as pressões e prazos sem comprometer a saúde mental dos colaboradores”, complementa.
A regulamentação, além de contribuir para a redução do absenteísmo, também pode impactar positivamente os resultados das empresas. Um colaborador bem assistido tende a ser mais produtivo, adaptável e engajado. Nesse cenário, é essencial que as organizações escolham prestadores de serviço qualificados para realizar o rastreamento e o mapeamento de riscos psicossociais de forma estratégica e humanizada.
Com a NR1 em vigor, a responsabilidade das empresas vai além do cumprimento de normas; trata-se de um compromisso real com o bem-estar dos colaboradores, promovendo ambientes de trabalho mais saudáveis e produtivos.
O que os especialistas em RH recomendam
A legislação brasileira também avança nessa pauta. A atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR–1) torna obrigatória a gestão de riscos psicossociais, incluindo sobrecarga de trabalho, metas abusivas e assédio, com previsão de fiscalização e multas.
Para enfrentar esse cenário, especialistas recomendam:
- Capacitar gestores para identificar sinais de sofrimento mental e agir preventivamente;
- Investir em programas de bem-estar com suporte psicológico e iniciativas de qualidade de vida;
- Valorizar e reconhecer colaboradores, reforçando engajamento e senso de pertencimento;
- Adotar rotinas flexíveis que favoreçam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional;
- Fortalecer a cultura organizacional, com canais de escuta, prevenção ao assédio e diálogo constante.
“O Setembro Amarelo precisa ser um marco de transformação, e não apenas uma campanha anual. Empresas que investem em saúde mental conquistam mais competitividade e ajudam a construir uma sociedade mais saudável”, conclui Izabela Holanda.
Com Assessorias