Com o crescente interesse e as diversas opções de medicamentos injetáveis para o tratamento da obesidade e diabetes tipo 2, muitas dúvidas surgem sobre suas composições, eficácia e indicações. Quais as principais diferenças entre as canetas para emagrecer e para o controle do diabetes tipo 2? Quais as reações esperadas? Quando esses medicamentos estão contraindicados?

A médica endocrinologista  Lorena Lima Amato detalha as características de cada medicação, suas semelhanças e diferenças, além de alertar para a importância da prescrição médica individualizada.

Há diferença entre Olire e as outras canetas emagrecedoras, além do valor?

Dra. Lorena Amato – A princípio, não há diferença. O Olire, que tem o composto a liraglutida, é uma medicação assim como o antigo Victoza e o Saxenda, que foram os primeiros análogos de GLP-1 que chegaram para o tratamento do diabetes. No caso do Victoza e Saxenda para o tratamento da obesidade, ambos são liraglutida, o mesmo princípio ativo que o Olire.

Já se conhece possíveis reações do Olire?

Dra. Lorena Amato – O que se espera é que os efeitos colaterais sejam os mesmos já previamente relatados com a liraglutida, afinal a molécula é a mesma, na mesma concentração, somente produzido por outro laboratório. Náuseas, eventualmente diarreia ou constipação, vômitos, sensação de azia e de alimento parado no estômago são os efeitos colaterais.

Podemos dizer que existe uma caneta emagrecedora para perda de peso mais eficiente que a outra?

Dra. Lorena Amato – Temos medicamentos mais potentes que outros. Por exemplo, a liraglutida, presente no Olire, de aplicação diária, é o menos potente de todos. Temos a semaglutida, de aplicação semanal, com um pouco mais de potência e a tirzepatida, que é o composto presente no Mounjaro.

O Lirux está indicado para o tratamento do diabetes tipo 2. Qual a diferença entre esse medicamento e as demais canetas como Ozempic, Wegovy e Mounjaro?

Dra. Lorena Amato – O Lirux usa a liraglutida, medicação de aplicação diária, é um análogo de GLP-1. O medicamento presente no Ozempic e no Wegovy é a semaglutida, também um análogo de GLP-1, de aplicação semanal e maior potência que a liraglutida. Já o Mounjaro é a tirazepatida, uma molécula dual, ou seja, ela não é só um análogo de GLP-1, ela é um análogo de GLP-1 e um agonista do GIP, que é um outro peptídeo intestinal que também favorece a perda de peso e o controle do diabetes.

As quatro canetas podem ser usadas para os tratamentos de obesidade e diabetes tipo 2 ou alguma dessas é restrita a um tratamento apenas?

Dra. Lorena Amato – O Olire e o Lirux são ambos liraglutida. A questão é que o Olire, em bula, está vinculado ao tratamento da obesidade com doses mais altas, e o Lirux vinculado ao tratamento do diabetes. Ou seja, o Lirux para o diabetes e o Olire para a obesidade, apesar de ambos serem a liraglutida na mesma concentração, 6mg por ml. É a mesma coisa que acontece com o Ozempic e o Wegovy, ambos são semaglutida, mas o Ozempic é para diabetes e o Wegovy é para obesidade. E a tirzepatida do Mounjaro é um medicamento para diabetes em bula. O medicamento em bula, com o mesmo princípio ativo do Mounjaro (tirzepatida), para o tratamento da obesidade, tem o nome de Zepbound e ainda não está disponível no Brasil.

A prescrição desses medicamentos deve ser feita de acordo com o perfil/anamnese do paciente? Por quê?

Dra. Lorena Amato – Com certeza, um paciente que tem muita azia, mal-estar, diarreia, doença inflamatória intestinal, intestino preso e ainda não foi investigado, eventualmente não pode usar a medicação. Primeiramente é preciso ter um diagnóstico da queixa para poder prosseguir com o uso dessas canetas/medicamentos para prosseguir com o uso.

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Ozempic, Wegovy e Mounjaro: qual é a melhor opção?

Com uso crescente para perda de peso, remédios originalmente indicados para diabetes exigem prescrição e acompanhamento médico, alerta endocrinologista

A popularização de medicamentos Ozempic, Wegovy e Mounjaro — e mais recentemente, o lançamento do Olire —, reacendeu o debate sobre o uso dessas substâncias originalmente desenvolvidas para o tratamento de diabetes tipo 2.  Inicialmente voltados ao controle glicêmico, esses fármacos ganharam visibilidade por promoverem perda de peso em um curto prazo, o que levou a um aumento da demanda, inclusive fora das indicações aprovadas em bula.

O que vemos é a banalização do uso. É importante lembrar que são medicamentos potentes, com indicação precisa e risco quando utilizados sem acompanhamento”, afirma Marcio Krakauer, endocrinologista e diretor médico da startup de educação em medicina – G7Med.

Ele defende que o termo popular “canetas emagrecedoras” distorce o papel clínico dos medicamentos. “Reduz a complexidade do tratamento a uma promessa estética, o que não condiz com a realidade de doenças crônicas como obesidade e diabetes.”

Semaglutida, tirzepatida e liraglutida: como se diferenciam?

A semaglutida é o princípio ativo comum ao Ozempic e ao Wegovy. A diferença entre os dois está na dosagem e na indicação: o Ozempic é aprovado para diabetes tipo 2, com dose semanal de até 1 mg; já o Wegovy, com doses até 2,4 mg por semana, é indicado para pessoas com sobrepeso e comorbidades ou com obesidade.

O Mounjaro, por sua vez, é composto por tirzepatida, uma molécula com ação dupla — atua nos receptores dos hormônios GLP-1 e GIP — e tem demonstrado maior eficácia na perda de peso. O recém-lançado Olire tem como base a liraglutida, a mesma do Saxenda. Com aplicação diária, é considerada menos potente do que as demais.

Indicações, eficácia e limitações

Segundo Krakauer, todas as medicações têm indicações semelhantes: pacientes com obesidade clínica, comorbidades metabólicas, resistência à insulina ou diabetes tipo 2. Mas a prescrição precisa ser individualizada, levando em conta eficácia, efeitos colaterais, disponibilidade, custo e tolerância individual.

A título de comparação:

  • Mounjaro (tirzepatida): até 22% de perda de peso
  • Wegovy (semaglutida): cerca de 15%
  • Olire (liraglutida): entre 8% e 9%

Todas as opções podem ser eficazes, mas a resposta é individual. Algumas pessoas apresentam efeitos adversos e podem não tolerar determinadas substâncias”, explica o médico.

Entre os efeitos mais comuns estão náusea, diarreia, constipação, dores abdominais e, em alguns casos, astenia e perda de prazer nas atividades diárias. Segundo o especialista, nesses casos o tratamento deve ser suspenso.

Uso contínuo e abordagem multidisciplinar

Por serem indicados no tratamento de doenças crônicas, como obesidade e diabetes tipo 2, esses medicamentos não têm tempo limite de uso. “Trabalhamos com o conceito de dose máxima tolerada (DMT). A suspensão abrupta, especialmente sem orientação, pode levar à recuperação de peso ou à descompensação do diabetes em mais de 90% dos casos”, diz o endocrinologista.

Com Assessorias

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