Desafios na internet como o “Janeiro Seco”, que visa iniciar o ano sem a ingestão de álcool, são válidos para melhorar a saúde, mas especialistas reforçam que não há dose segura de bebida alcoólica para consumo e por isso, esse compromisso de evitar o álcool precisa ser constante.

É importante lembrar que a ingestão elevada de álcool está diretamente ligada ao desenvolvimento de diversas doenças, inclusive o tão temido câncer. Os tipos de câncer mais associados a esse hábito são o de cabeça e pescoço, colo retal, fígado e mama.

Beber álcool não significa que você definitivamente terá câncer, mas o risco é maior quanto mais álcool você bebe”, diz  o oncologista Ramon Andrade de Mello, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, pós-Doutor clínico no Royal Marsden NHS Foundation Trust (Inglaterra) e pesquisador honorário da Universidade de Oxford (Inglaterra). 

Segundo o oncologista, as pessoas podem falar sobre algumas bebidas alcoólicas serem melhores ou piores do que outras, mas a verdade é que não há dose segura nem mesmo do vinho tinto, que foi considerado “saudável” durante muito tempo.

Todos os tipos de álcool aumentam o risco de câncer – já que é o próprio álcool que causa danos, mesmo em pequenas quantidades. Portanto, quanto mais você reduzir o consumo de álcool, mais poderá reduzir o risco de câncer. Beber menos também traz muitos outros benefícios à saúde, como reduzir o risco de acidentes, de pressão alta e de doenças do fígado”, completa o médico.

O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia afirma que o álcool é uma substância que pode lesionar células do organismo, bem como também causar lesão do DNA levando a replicação celular desordenada. “Além de ser uma substância inflamatória, também pode causar estresse oxidativo nas células, o que também pode ser uma causa do desenvolvimento de câncer”, comenta o Dr. Ramon.

Outro mecanismo pelo qual o álcool é associado ao câncer diz respeito a alterações nos hormônios. “O álcool pode aumentar os níveis de alguns hormônios em nossos corpos, como estrogênio e insulina. Os hormônios são mensageiros químicos, e níveis mais altos de estrogênio e insulina podem fazer com que as células se dividam com mais frequência. Isso aumenta a chance de que o câncer se desenvolva”, diz o Dr. Ramon.

Os danos não têm relação direta com a ressaca, segundo o médico, então mesmo que alguns truques funcionem para minimizar os efeitos diretos e visíveis do álcool, eles não revertem os danos causados pelo consumo de álcool.

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Maior risco de câncer de boca e garganta

O médico argumenta que o risco é ainda maior quando o alcoolismo também está vinculado ao tabagismo. “Pessoas que fumam e também bebem álcool têm maior risco de câncer de boca e garganta superior. Tabaco e álcool quando usados juntos aumentam o risco de câncer ainda mais. Isso ocorre porque o tabaco e o álcool têm um efeito combinado que causa maiores danos às células”, explica o especialista.

álcool pode causar alterações nas células da boca e da garganta, facilitando a absorção de substâncias químicas cancerígenas presentes na fumaça do tabaco. Além disso, o álcool pode alterar a forma como os produtos químicos tóxicos da fumaça do tabaco são decompostos no corpo, tornando-os ainda mais prejudiciais”, comenta o médico.

Por fim, o Dr. Ramon reforça que vencer um vício nem sempre é fácil, por isso a ajuda profissional é sempre indicada. “Consultar um médico ou terapeuta especializado em dependência de álcool pode ajudar a criar um plano de desintoxicação e recuperação. Oriento também evitar situações de tentação, identificando e evitando ambientes e situações associadas ao consumo de álcool”.

Uma boa estratégia também é encontrar substitutos saudáveis, como praticar exercícios físicos, participar de hobbies, ou socializar em ambientes não relacionados ao álcool. Ter uma alimentação balanceada e dormir o suficiente também é fundamental. Além disso, é fundamental beber bastante água e outras bebidas não alcoólicas. Em alguns casos, participar de grupos de apoio e considerar o uso de medicamentos são ações que também podem ajudar”, finaliza o Dr. Ramon.

5 atitudes para adotar em 2025 e se proteger do câncer

Estilo de vida pode ajudar a evitar a doença, então bons hábitos devem fazer parte da rotina

Dr. Ramon Andrade De Mello

Com relação ao estilo de vida, há muito o que se pode fazer para evitar o câncer, um grupo de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado das células. Embora muitas pessoas culpem a genética pelo câncer, Ramon Andrade de Mello afirma que os genes não são determinantes.

No câncer, surgem alterações no DNA das células, que passam a receber instruções erradas para desenvolver as suas atividades. Essas alterações podem ocorrer em virtude de maus hábitos de vida, além do que é herdado. Os fatores ambientais têm grande importância no desenvolvimento da doença”, explica o oncologista.

Além de reduzir o consumo de álcool, o oncologista cita outras atitudes que ajudam a evitar a doença:

Melhorar a dieta – Segundo o médico, as chamadas doenças metabólicas (obesidade, diabetes, hipertensão, colesterol alto e triglicerídeos altos) são consideradas um fator-chave no início e na progressão de muitos tipos de câncer e podem ser influenciadas pela dieta. “A obesidade, um componente da síndrome metabólica, está associada a altos níveis de inflamação que danificam tecidos saudáveis e contribuem para o surgimento de pelo menos 13 tipos de câncer.

Por exemplo, estudos mostram que mulheres obesas têm um risco três vezes maior de câncer endometrial e um risco 2,5 vezes maior de câncer renal em comparação com suas contrapartes metabolicamente saudáveis e de peso normal. O excesso de gordura corporal, especialmente ao redor da região central, impulsiona o aumento da inflamação, do açúcar no sangue e da produção do fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1), todos os quais estão ligados a certos tipos de câncer”, diz Dr. Ramon.

“Os mecanismos podem ser diferentes para diferentes tipos de câncer, mas a disfunção metabólica é o denominador comum”, explica. Evitar o sobrepeso, aumentar o consumo de vegetais e frutas, ricos em polifenóis e substâncias antioxidantes, e fibras, que melhoram a saúde intestinal, além de praticar atividade física, são atitudes que ajudam a evitar o câncer, segundo o médico.

Cuidar da saúde mental – Embora não haja evidência científica claramente comprovada, o médico explica que alguns trabalhos da literatura falam que o estresse pode estar associado ao desenvolvimento do câncer e como o indivíduo responde aos medicamentos.

É sempre importante ter um equilíbrio da saúde mental para uma melhor qualidade de vida. Os fatores emocionais podem estar associados ao desenvolvimento do câncer de forma indireta, provavelmente associada a comportamentos e hábitos que não são saudáveis e podendo estar relacionado ao aumento da suscetibilidade dessa doença”, explica. “Além disso, o fator emocional é uma variável importantíssima no tratamento, principalmente quando aliada à percepção de familiares e amigos próximos”, diz o médico.

Apagar o cigarro – O tabagismo é um dos principais responsáveis pelo câncer de pulmão. “O cigarro possui mais de 50 elementos carcinogênicos, ou seja, que podem ajudar no desenvolvimento do câncer. Além disso, a nicotina é responsável pelo ‘vício’ no cigarro. Por isso, o risco do câncer de pulmão. Mas o cigarro pode estar associado ao risco adicional de câncer de bexiga, câncer de cavidade oral, câncer de colo de útero entre outros.

As substâncias “cancerígenas” presentes no cigarro quando expostas em excesso aumentam as chances de desenvolvimento de tumores malignos. O vape ou cigarro eletrônico também aumenta esse risco. “O vape tem risco de suscetibilidade adicional de câncer similar ao cigarro, ou até mesmo maior do que o cigarro por conta dos produtos químicos presentes no vapor inalado”, conta o oncologista de São Paulo.

Atentar-se ao ar que respira – “Atualmente, sabemos que o ar que respiramos, principalmente nas grandes cidades, apresenta diversos poluentes, que são substâncias que podem estar relacionadas ao aumento da suscetibilidade de desenvolver o câncer, especialmente o de pulmão. Substâncias nocivas da atmosfera oriundas das fábricas, carros, aviões podem danificar as células dos nossos organismos e gerar um tumor maligno”, diz.

Pensando em poluição, normalmente, ela está relacionada ao câncer de pulmão (poluentes da atmosfera), câncer de estômago (fumaça de carvão de churrasco) e câncer de sangue (poluentes vindos das radiações ionizantes)”, diz. A melhor maneira de se proteger, segundo o oncologista, é evitar locais com grande quantidade de poluentes e usar máscaras.

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