No último sábado (29/3), uma criança de quatro anos foi agredida durante uma festa infantil no Jabaquara, zona sul de São Paulo. Segundo os pais da vítima, que é diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA), as agressões verbais e físicas teriam partido de um homem, que é pai de outra criança. O evento aconteceu em um condomínio residencial e foi organizado pelos responsáveis de alunos de uma escola da região, para celebrar a Páscoa.
Em seu relato, Ana Borges, que é mãe da vítima, disse que após ser repreendido pelo pai, o agressor proferiu palavrões, chamou a criança de “louca” e teria afirmado que “não tinha obrigação de saber” e “não se importava” se ela era autista. A justificativa dele no momento, de acordo com ela, é de que o menino teria batido em sua filha.
O Transtorno do Espectro Autista é classificado em três níveis de suporte, conforme o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição). Os níveis ajudam a indicar a intensidade da ajuda necessária para que a pessoa autista possa lidar com desafios diários e são apenas uma referência, pois podem variar ao longo da vida, conforme o desenvolvimento, as intervenções e o suporte recebido.
A criança em questão, conforme a própria mãe declarou, é Nível 3, o que significa que tem severos déficits na comunicação e interação social, inclusive sendo não verbal. “É inadmissível que uma pessoa dessas agrida uma criança que não sabe se defender, não sabe nem falar”, declarou a genitora.
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Preconceito e desinformação
O caso chama atenção no chamado de Abril Azul, mês dedicado à conscientização sobre o autismo e promoção de ações mais inclusivas. Para o especialista em acessibilidade e inclusão Valmir de Souza, o comportamento vai além do preconceito e reforça a ignorância ainda presente na sociedade quando se trata do TEA.
Um adulto agredir uma criança, por si só, já é algo bastante grave. No caso de uma criança autista, independentemente do grau de suporte, é ainda mais preocupante pois situações como essa podem, por exemplo, desencadear uma crise de convulsão na criança com consequências ainda mais severas”, alerta.
Para o fundador da empresa de consultoria e soluções para acessibilidade Biomob, esse é mais um caso que mostra que a forma como a sociedade lida com as chamadas “deficiências invisíveis” é um dos principais desafios para aqueles que lutam pela inclusão.
O autismo é, talvez, a condição que melhor ilustra o conceito de ‘deficiência invisível’ ou ‘oculta’, pois envolve características que, normalmente, não são percebidas de imediato por outras pessoas, incluindo adultos. Esse caso lamentável só reforça a necessidade de políticas públicas mais assertivas de conscientização e visibilidade sobre o Transtorno do Espectro Autista, para além das campanhas pontuais que são realizadas em abril. É urgente que essa causa seja pautada de forma constante e que ouça, de fato, os principais interessados”, afirma De Souza.
Afinal, o que é autismo?
O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação, o comportamento e a interação social. O termo Transtorno do Espectro Autista (TEA) engloba diferentes condições, como o autismo clássico, a Síndrome de Asperger e o Transtorno Global do Desenvolvimento sem outra especificação.
O que se chama de autismo nada mais é do que um tipo de comportamento que se caracteriza, em maior ou menor grau, por três aspectos fundamentais: são crianças que parecem não tomar consciência da presença do outro como pessoa; apresentam muita dificuldade de comunicação – não é que não falem, mas não conseguem estabelecer um canal de comunicação eficiente –; e, além disso, têm um padrão de comportamento muito restrito e repetitivo”, diz José Salomão Schwartzman, professor doutor e médico neuropediatra.
Pesquisas científicas demonstram que o autismo tem uma forte base genética, com uma herdabilidade estimada de mais de 90%. Mas essa não é a única causa do transtorno. Pode haver interação de fatores genéticos e ambientais. Crianças prematuras também possuem maiores chances de apresentarem sintomas de TEA.
O diagnóstico precoce do autismo é fundamental para garantir o acesso a intervenções adequadas. Especialistas recomendam que pais, pediatras e escolas estejam atentos aos sinais de alerta. O tratamento do autismo é multidisciplinar e envolve neurologistas, psiquiatras infantis, pediatras, psicólogos e fonoaudiólogos.
Com Assessorias