O problema é antigo e de amplo conhecimento das autoridades, mas ganhou notoriedade após o vídeo do youtuber Felca, publicado em 6 de agosto, denunciando a sexualização precoce de menores em conteúdos associados ao influenciador Hytalo Santos, preso junto com seu marido, Israel Nata Vicente. O vídeo atingiu milhões de visualizações em poucos dias e impulsionou decisões judiciais que suspenderam perfis do influenciador, desmonetizaram seus conteúdos e determinaram o bloqueio de seus canais nas redes sociais.

Apesar da gravidade das denúncias e do impacto social que causaram – levando a Câmara dos Deputados a aprovar esta semana um projeto de lei que tramitava desde 2022 na casa, para  proteger crianças e adolescentes na internet, muita gente – sobretudo parlamentares do PL (o Partido Liberal de Jair Bolsonaro) – teve a coragem de sair em defesa de eventuais criminosos, alegando tratar-se de ‘liberdade de expressão’ na internet – numa clara defesa das plataformas digitais que lucram com esses conteúdos.

Para o advogado Francisco Gomes Junior, especialista em golpes digitais e presidente da ADDP (Associação de Defesa de Dados Pessoais e Consumidor), não é aceitável que plataformas se escondam atrás da noção de “liberdade de expressão” quando se trata de crimes. “Que liberdade de expressão você pode ter numa pedofilia, num crime? Isso não é liberdade de expressão”, enfatiza.

Ao defender uma atuação parlamentar, Gomes Junior destaca que é preciso exigir a abertura dos algoritmos das redes sociais, incluindo o chamado “algoritmo P”, para revelar como funcionam os mecanismos de recomendação e distribuição de conteúdo. “Esse é o primeiro passo para saber o que a rede social está privilegiando. Quando não há regras, o que existe é a balbúrdia, e isso muitas vezes significa lucro para as plataformas”, destaca.

Em relação à prisão do influenciador Hytalo Santos e seu marido, Israel Nata Vicente, investigados por crimes graves como exploração sexual infantil, adultização de menores, tráfico de pessoas e produção de conteúdo com crianças e adolescentes, o advogado frisou que embora seja uma medida necessária para aprofundar as investigações, o influenciador não pode ser visto como o único agente num suposto esquema de exploração.

Não podemos ter no Hytalo Santos o bode expiatório, como se ele sozinho tivesse criado todo um esquema. Obviamente ele não faz isso sozinho”, afirmou. Segundo o especialista, é urgente compreender “para quem o algoritmo distribuía esse conteúdo” e “quais redes de pedofilia consumiam esse material”.

Influenciadora de 17 anos defende Hytalo: ‘era como um pai’

O influenciador e dançarino Hytalo Santos é considerado um fenômeno nas redes sociais, como TikTok e Instagram. Hytalo nasceu em Cajazeiras (PB) e ganhou notoriedade nas mídias sociais ao publicar vídeos dançando, além de mostrar a rotina do seu dia a dia nos stories. Com mais de 16,6 milhões de seguidores só no Instagram, ele é dono de uma fortuna milionária, e segundo a sua própria biografia: “Tenho vários filhos e minha família não é perfeita.”

Dentre alguns integrantes da família de Hytalo Santos está a também paraibana Kamylinha Santos, de 17 anos, que chegou a engravidar na casa mantida pelo influenciador, mas perdeu o bebê. Na ocasião do aborto que teria sido espontâneo, Hytalo precisou comprovar com documentos que a gravidez foi real e não era marketing. “Estão felizes agora?”, provovou.

A influenciadora paraibana envolvida no caso publicou um vídeo na segunda-feira (18), no qual Kamylinha se emociona ao falar da relação dela com o também influenciador e defendeu o paraibano das acusações de tráfico de pessoas e exploração de menores.

Na publicação, feita no perfil da mãe, a adolescente afirma enxergar Hytalo como uma figura paterna. No relato, que foi retirado do ar pouco tempo após a publicação, a adolescente conta ter sido vítima de violência física e psicológica por parte do pai biológico e alega ter encontrado um “refúgio” ao conhecer Hytalo Santos.

Tive um genitor agressivo na minha infância, que batia na minha mãe e batia em mim. Ele [Hytalo Santos] foi o meu refúgio, me apresentou Deus e me mostrou que eu tinha um amor de pai. Eu não seria nada sem ele. Conheci amor, carinho e tive a presença real de um pai”, disse a influenciadora paraibana.

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Influenciador bancava cirurgias plásticas para ‘filhas’

Hytalo e Israel – conhecido como DJ Euro – foram presos na manhã de sexta-feira (15), em uma casa em Carapicuíba, na Grande São Paulo. A prisão aconteceu enquanto estavam na residência que possui piscina, churrasqueira e ampla área de convivência, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo e pelo Ministério Público da Paraíba.

A ação foi cumprida pela Polícia Civil de São Paulo, em conjunto com o Ministério Público da Paraíba, o Ministério Público do Trabalho, e as polícias civis da Paraíba, sob mandado expedido pela 2ª Vara da Comarca de Bayeux, na Paraíba, pelo juiz Antônio Rudimacy Firmino de Sousa.

Antes de ser preso, Hytalo Santos costumava ajudar e dar presentes caros, como carros, celulares, Iphones, e até mesmo casas. Em vídeos nas redes sociais, ele mostrava momentos ao lado dos “filhos”, que são jovens que costuma ajudar, seja com situações relacionadas à saúde, educação, alimentação, e outras necessidades básicas. Segundo informações do portal do litoral PB, ao todo, já foram mais de 10 filhos adotados.

Duas de suas filhas – Danynha e Kamylinha – iriam se submeter a cirurgias plásticas em São Paulo – uma  para retirada de costelas e outra de lipoaspiração – como presentes de aniversário da maioridade. Danynha completou 18 anos há cerca de seis meses. Dany e Kamyla já haviam colocado próteses de silicone nos seios assim que foram emancipadas, aos 16 anos.

‘P. Diddy brasileiro’: festas regadas a drogas e sexo

O influenciador preparava duas festas de aniversário: a dele, que nasceu dia 8 de agosto, e a de Kamylinha, que completa 18 anos em 9 de setembro. A comemoração de Hytalo seria em São Paulo, para onde ele foi com o marido, Euro; com Kamylinha e o namorado Andynho (que seria irmão de Hytalo) e Danynha, que estava na casa de Carapicuíba quando a polícia decretou a prisão do paraibano e seu marido.

As festas de Hytalo Santos, com a presença de muitos dos seus ‘filhos’, teriam drogas, bebidas e preservativos espalhados pelo chão, segundo relato de ex-funcionário de condomínio. Ao elogiar Felca pela denúncia, a ex-BBB Gizelly comentou, no videocast LinkVip, fez uma comparação que já havia rendido processo judicial: a associação de Hytalo ao rapper norte-americano P. Diddyinvestigado nos Estados Unidos por casos de exploração sexual.

“O vídeo do Felca foi sensacional, foi maravilhoso, alertou várias pessoas que não sabiam da existência desse P. Diddy que é o Hytalo Santos”. A fala remeteu a um episódio de maio, quando o influenciador moveu uma ação contra a criadora de conteúdo Izabelly Vidal por tê-lo chamado de “P. Diddy brasileiro” e acusá-lo de envolvimento em exploração sexual de menores.

Com Assessorias e G1 e Terra

 

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