Abuso sexual pode deixar marcas dolorosas para o resto da vida

Ansiedade, depressão e pânico são transtornos em adolescentes vítimas. Conheça nova técnica de terapia que promete resultados mais rápidos

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O filme Segredos de um Escândalo traz à tona um assunto muito delicado e, portanto, pouco discutido pela sociedade, principalmente quando se trata de crianças e adolescentes. Muitas vezes de forma silenciosa, o abuso sexual infantil acaba sendo revelado apenas na vida adulta, facilmente explicado pela maior segurança que a vítima sente ao tratar sobre o tema.

De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil registra um índice alarmante deste crime: um em cada cinco brasileiros foi vítima de abuso sexual na infância ou na adolescência, sendo a maioria das vítimas do sexo feminino. Além disso, muitos casos de abusos não são denunciados, o que dificulta a dimensão do problema.

Recentemente divulgado pelo MS, um boletim epidemiológico alerta sobre as notificações de violência sexual contra crianças e adolescentes no Brasil, entre 2015 até 2021. Durante os sete anos de análise, houve um crescimento excepcional nas notificações de violência sexual  contra crianças e adolescentes, totalizando 202.948 casos, dos quais 41,2% foram cometidos contra crianças e 58,8% contra adolescentes.

Não são apenas números. Essas violências e abusos imprimem nas vítimas sérias marcas emocionais que serão levadas consigo ao longo da vida. Ansiedade, depressão, síndrome do pânico, comportamentos autodestrutivos ou sexualização precoce são alguns dos transtornos que podem surgir em adolescentes vítimas de abuso sexual.

O transtorno de estresse pós-traumático  (TEPT), por exemplo, que causa sofrimento intenso e afeta várias áreas da rotina, como relacionamentos e trabalho, é desenvolvido por cerca de 57% dessas vítimas.

“Cada pessoa vai reprocessar  as consequências da violência de forma singular. Porém, toda e qualquer violência deixa marcas no psicológico e acaba influenciando por toda uma vida, dificultando quase sempre a rotina da vítima no seu dia a dia”, explica o psicólogo Jair Soares, presidente do IBFT – Instituto Brasileiro de Formação de Terapeutas.

‘Fui violentada sexualmente pelo meu padrasto aos 7 anos’

Para evitar essas consequências, o especialista ressalta que se faz necessário o rompimento com o ciclo de silêncio imposto pela violência, incluindo o tratamento terapêutico. Como a Terapia de Reprocessamento Generativo (TRG), técnica que ele próprio criou e tem ajudado pacientes como Rute Petrolina. Ela é uma das tantas vítimas de abuso na infância e, segundo o terapeuta, conseguiu vencer seus traumas e sentimentos de dor, mágoa e insegurança.

“O meu maior impacto ocorreu na infância aos 7 anos, quando fui violentada sexualmente pelo meu padrasto, e com isso cresci com traumas físicos e emocionais, eu não conseguia ter contato com nenhum homem, pois eu acreditava que todos fossem muito maus e extremamente perigosos”, conta. “Eu não conseguia sequer ficar em um ambiente que tivesse eu e um outro homem, era terrível pra mim, e mesmo depois de casada eu não conseguia ter intimidade com meu esposo, e tudo isso influenciou também na minha vida sexual”, relata.

Rute conta que passou anos da sua vida buscando ajuda psicológica e não obteve resultados. “Cheguei a pensar que não ia ter jeito, e que eu teria que aprender a conviver com essas dores pro resto da minha vida”, diz ela. Hoje, Rute consegue falar sobre o que aconteceu sem sentir absolutamente nada.

“A minha visão mudou, e meu relacionamento com meu esposo, com meus filhos, com as pessoas no geral teve um avanço excepcional, e o mais interessante é que não precisei fazer terapia por anos, foi em um resultado de 6 meses”, finaliza Rute.

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Nem Freud explica: psicólogo critica ‘cura pela fala’

O psicólogo tem causado polêmica entre outros colegas de profissão por não recomendar o tratamento convencional, onde a pessoa senta de frente ao  profissional e é orientada somente a falar, desabafar e nada mais.

“O método conhecido como ‘cura pela fala’, que diz aliviar os sintomas de ansiedade e depressão, porém, amplamente utilizado pela ‘psicologia convencional’, conta com diversos relatos de pessoas que não obtiveram resultados efetivos com esta técnica”, critica.

Segundo Jair, isso causa uma grande frustração na maioria dos pacientes e dificulta a recuperação – não somente com relação a abusos, mas também com relação a outros problemas emocionais, como relacionamentos tóxicos, luto, traumas e perdas, por exemplo.

A “cura pela fala” é um método convencional amplamente utilizado na Psicologia, influenciado pelas ideias de Sigmound Freud. O médico e pesquisador austríaco, criador da Psicanálise, acreditava que os problemas emocionais eram trazidos para a consciência do paciente por meio da fala.

Freud defendia que a terapia da fala ajudava o paciente a se tornar mais consciente de seus próprios pensamentos e sentimentos, permitindo uma abordagem mais eficaz e saudável dos problemas.

Como funciona a TRG – Terapia de Reprocessamento Generativo?

Professor e psicólogo, Jair diz que existe uma expansão de psicólogos e muitos deles não observam resultados em certos pacientes. Ele percebeu a frustração dos pacientes e dos próprios profissionais diante das limitações da terapia convencional. A partir daí, estudou para desenvolver uma metodologia que ajudasse o cliente a resolver os seus problemas emocionais de forma breve e mais efetiva.

Ele criou Terapia de Reprocessamento Generativo (TRG), baseada em sua própria experiência como portador de transtorno de ansiedade generalizada e depressão. A metodologia completamente diferente, segundo ele, atualmente é praticada por mais de 30 mil terapeutas em todo o Brasil. A TRG busca proporcionar resultados mais breves e efetivos no tratamento dos problemas emocionais. “É um método inovador, diferente das demais terapias. É focado justamente em obter resultados”, explica.

Além disso, ao ser submetido a esta metodologia, o indivíduo não precisará, em momento algum, falar ou descrever absolutamente nenhum detalhe ao terapeuta, o que elimina o constrangimento e a vergonha inerente a situações como essa.

Jair explica que a metodologia TRG trabalha o psiquismo com o objetivo de permitir que o paciente se livre, de forma eficaz, de todos os impedimentos impostos por seus registros emocionais disfuncionais, tais como medos, fobias, depressão, ansiedade e traumas.

Ainda de acordo com o psicólogo, através de técnicas específicas e de resultados praticamente imediatos, a terapia permite que a pessoa processe memórias traumáticas e consiga se desvencilhar das limitações causadas por essas lembranças.

‘Quem tem dor, tem pressa’

O objetivo do terapeuta que trabalha com a TRG é ajudar o paciente a reprocessar e resolver, no menor espaço de tempo possível, os seus problemas emocionais. É uma metodologia de terapia breve, possuindo, normalmente, uma quantidade menor de sessões comparada ao tratamento convencional que pode levar de três até cinco anos.

Além disso, segundo ele, a TRG não é focada no autoconhecimento, mas sim nos resultados que possam, de forma breve, transformar a vida de cada cliente que procura por uma solução. O paciente é orientado, de forma objetiva e pragmática, para obter os resultados desejados.

Segundo ele, a TRG é conhecida como uma terapia de resultados por ser justamente focada em dar ao indivíduo ferramentas para que ele possa obter os resultados que precisa. A ênfase é dada à urgência de aliviar o sofrimento emocional do paciente, utilizando métodos terapêuticos eficazes. “Eu costumo dizer que quem tem dor, tem pressa!”, conclui o especialista.

Sucesso no tratamento de jovem que viu a mãe ser assassinada

Por meio dessa abordagem, vários casos foram tratados com sucesso. O reprocessamento realizado durante as sessões, explica Jair Soares, permite que o paciente reviva a cena traumática sem sentir o mesmo impacto emocional, resultando na superação dos sintomas e na melhoria da qualidade de vida:

“Atendi um rapaz que aos 7 anos presenciou seu pai assassinar sua mãe a facadas. A partir daí ele desenvolveu o que chamamos de transtorno de ansiedade e pânico, convivendo com essas dores emocionais durante 25 anos e à base de medicações. Durante as sessões, trabalhei com ele o reprocessamento, ao ponto dele conseguir enxergar a cena, lembrá-la e não sentir mais nada. O impacto de antes não existia mais e, em seguida, ele pôde se livrar de todos os sintomas derivados do trauma que sofreu, levando uma vida livre de remédios e sem crises emocionais”, conta Jair Soares.

A psicóloga Cecília Silva também ressalta os benefícios da TRG. Além de resolver as suas feridas emocionais, ela passou a aplicar a metodologia com os próprios clientes, alcançando resultados melhores.

“O impacto que eu tive com a Terapia de Processamento Generativo, a TRG, foi no meu reprocessamento, consegui achar a raiz do problema que começou na infância e que me levou a ter crises de ansiedade fortíssimas quase todos dias por muitos anos. Por ter a formação de psicóloga desde 1997, fiz diversas terapias e essas crises não iam embora, me deixando frustrada. Posso falar, por experiência, que a TRG mudou minha história. Hoje estou livre desses sintomas e trabalho esse método com os meus clientes”, finaliza Cecília.

O Paradoxo na Psicologia: a queixa dos clientes sobre a ineficácia dos resultados

terapia convencional é um processo contínuo de autoexploração, crescimento e mudança, que pode se estender por vários anos, visando auxiliar o paciente no desenvolvimento de habilidades para lidar com suas emoções, pensamentos e comportamentos.

O objetivo é promover uma perspectiva mais saudável e satisfatória da vida, embora a ideia de “cura” não seja um elemento central nesse tipo de abordagem. Os pacientes muitas vezes apreciam a terapia como uma oportunidade de desabafar, revivendo emoções e fatos.

No entanto, alguns pacientes também expressam frustração por não alcançarem resultados rápidos em relação aos seus transtornos e problemas emocionais. Existem relatos de pacientes que não conseguem obter o resultado esperado mesmo após alguns meses realizando tratamento psicológico. É o caso de Caroline Silva, que admite a sua insatisfação com a terapia convencional.

“Já faz meses que vou ao psicólogo, mas não estou vendo nem sequer uma mudança na minha vida. Não sei mais o que fazer. Meu sofrimento emocional é muito grande. Estou triste e tenho dificuldade em me aproximar das pessoas, em me relacionar. Parece ser tudo tão difícil, tão fora do meu alcance que não sei mais o que fazer da minha vida.”

Outra queixa comum entre aqueles que buscam ajuda profissional é a falta de esperança de um término da terapia, que muitas vezes se estende por anos sem uma resolução permanente dos transtornos emocionais.

Por outro lado, os psicólogos também enfrentam desafios, incluindo a insatisfação profissional devido a ferramentas limitadas e a sensação de impotência em ajudar de forma mais efetiva os pacientes que chegam ao consultório com problemas emocionais graves. Soares explica que existe uma expansão de psicólogos e muitos deles não observam resultados em certos pacientes:

Foi pensando nisso que ele estudou para desenvolver uma metodologia que ajudasse o cliente a resolver os seus problemas emocionais de forma breve e mais efetiva

Cada vez mais pessoas buscam terapia

O aumento na procura por terapia durante e após a pandemia tem sido observado de forma alarmante. De acordo com o Instituto IPSOS, cerca de 53% das pessoas entrevistadas no país afirmaram ter enfrentado algum comprometimento psicológico desde o surgimento da Covid-19.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que uma proporção significativa de pessoas com transtornos mentais não recebe tratamento adequado, tanto em países de alta renda (entre 35% e 50%), quanto em países de baixa e média renda (entre 76% e 85%). A OMS também aponta que uma pessoa comete suicídio a cada 45 minuto no Brasil, sendo que em 90% dos casos há associação com algum distúrbio mental.

Mas Jair Soares reconhece que essa nova abordagem tem gerado algum desconforto em profissionais da área da psicologia e enfrenta resistências.

“Nós, enquanto psicólogos, fomos treinados durante toda a nossa vida acadêmica para utilizar apenas métodos passivos, métodos de ‘escuta’, que na maioria dos casos não é o suficiente para que o paciente se livre da depressão por exemplo, de traumas do passado. Muitos enfrentam problemas que começam desde a infância ou adolescência e que aquela pessoa carrega há anos e não consegue se livrar disso, ao ponto de levar esses traumas para a vida adulta. Só falar, ou desabafar para o profissional, pode até amenizar os sintomas, porém não livrará a pessoa do problema permanentemente.”

 

 

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