Por Ligia Muylaert*

Há um ano surgiram rumores de uma virose que começou na China. Ninguém ligou muito até que começaram a morrer chineses em progressão geométrica e a se espalhar pela Europa, depois, Américas. Teorias da conspiração, discursos leigos, politização do vírus e a epidemia adquiriu o status de pandemia.

Toda a população só se preocupou mesmo quando as mortes chegaram cada vez mais na nossa vizinhança e os milhões de doentes passaram a ter um rosto, um nome e um endereço. Devastação que dura até agora, num país arrasado, nau sem rumo, economicamente falido, dilapidado pela corrupção e pela cultura da propina, com uma população enfraquecida pela fome e a miséria, pela desigualdade social.

O novo governo assumiu e não soube o que fazer, como administrar as deficiências em saúde, educação.. De repente, fomos acolhidos por um sistema de saúde, o SUS, que, mesmo deficiente, salvou milhões de vidas. O pessoal da saúde, muitas vezes, foi vítima de um inimigo desleal que ia sendo pesquisado, conhecido, estudado concomitantemente à luta travada.

Quarentena, lockdown, fake news, estatísticas falhas do número de doentes e óbitos. A população pirou, entrou em pânico, desorientada por atitudes de um chefe de governo ignorante que minimizava o caos e propagava factoides.

O medo fez com que o povo também ficasse surdo à ciência, consumindo, até sem prescrição, um famoso esquema pseudoterapêutico: antibiótico, anti-helmíntico e antimalárico (este também usado para doenças autoimunes). Enquanto isso, as simples medidas preventivas eram a única providência séria: uso de máscaras, lavagem das mãos, uso de álcool em gel.

Até alguns médicos, atrás do front de batalha, passaram a atropelar a ética e se aproveitar para ganhar algum trocado. Vitaminas também passaram a ser vendidas e consumidas erradamente. Tudo superfaturado. Foi decretada a paranoia absoluta.

Aumentaram as farmácias, o desemprego, a  miséria, a corrida atrás de testes inexistentes, a exploração financeira. Criou-se a ‘bolsa-miséria’, também atacada por ladrões que se aproveitaram da situação. Aumentaram os pedintes, a população de rua, aumentou a morte.

Entra ministro, sai ministro (de todas as pastas), ninguém propõe nem faz nada. Estamos na segunda onda da doença e aparecem mutações do vírus. E na saúde, o terceiro ministro, um general, está finalmente prometendo a vacina para o dia D, na hora H. Que hora será essa? A hora do desespero absoluto. Até agora mais de 200 mil mortos no Brasil.

*Ligia Muylaert é médica, jornalista, mestre em Planejamento Regional pela Ucam e diretora do Sindicato dos Médicos de Campos dos Goytacazes (RJ). Foi vice-presidente da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia e representante da seccional Norte e Noroeste do Cremerj. Professora da Faculdade de Medicina de Campos (FMC), onde foi chefe do Departamento de Clínica Médica.

Shares:

Posts Relacionados

1 Comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *