Você sabia que pessoas com doenças raras têm direito a atendimento médico prioritário, apoio psicossocial, gratuidade nos transportes, prioridade na matrícula em escolas públicas e privadas e inserção no mercado de trabalho? Pois esta é uma nova realidade no Estado do Rio de Janeiro, desde que entrou em vigor, no início de abril, o Estatuto da Pessoa com Doença Crônica Complexa e Rara, o primeiro do Brasil.

Para tornar essa lei estadual mais conhecida da população, a Frente Parlamentar das Pessoas com Doenças Raras da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) iniciou uma campanha de conscientização sobre os direitos desses pacientes, além dos deveres de órgãos públicas e de toda a sociedade civil para permitir que eles tenham uma melhor qualidade de vida.

O objetivo da campanha é informar e esclarecer pacientes, familiares, profissionais de saúde, empresas, órgãos públicos, escolas e toda a sociedade civil. Para marcar o início da campanha, foram distribuídos mais de 200 exemplares da Lei 10.315/24 que criou o Estatuto, durante seu lançamento oficial no Palácio Guanabara, nesta quinta-feira (23).

A cerimônia reuniu pessoas com doenças raras e seus familiares, representantes de associações de pacientes, sociedades médicas, laboratórios farmacêuticos, além de autoridades e agentes públicos de órgãos oficiais do estado.

‘Agora o Estado olha para nós e nos dá voz’

Letícia Santiago com o deputado Munir Neto (Foto: Divulgação)

Presente na solenidade, a estudante de Medicina Letícia Santiago, de 21 anos, presidente da Associação Brasileira das Ligas Acadêmicas de Genética Médica e Doenças Raras, disse que o Estatuto dá visibilidade também a pessoas com doenças raras invisíveis. Como a doença de Addison, com a qual ela foi diagnosticada aos 8 anos. Esse tipo de insuficiência adrenal autoimune causa várias consequências e pode levar à morte se não for tratado a tempo durante a ‘crise adrenal’.

“O dia de hoje ficará sempre lembrado como uma grande vitória a todos os raros do Estado do Rio. Isso porque o estatuto nos garante direitos que não tínhamos garantidos antes, porque estávamos em um limbo sem os direitos de alguém com uma doença rara, mas sem a saúde de alguém saudável. Agora o Estado olha para nós e nos dá voz! Agora teremos dignidade!”, disse.

Outras pessoas que têm doenças raras não visíveis também prestigiaram o evento, como a cientista social Maika Los, que tem esclerose múltipla;  a jornalista Patrícia Serrão, que tem a síndrome de Ehlers-Danlos (conhecida como a ‘doença do homem elástico’); a estudante Bianca Nunes, que tem lúpus eritematoso sistêmico (LES), e a advogada Anna Clara Guizi, que tem cavernoma cerebral – uma doença rara que pode causar vários episódios de acidente vascular cerebral (AVC).

Aos 50 médico descobriu doença rara; menina de 6 ainda não tem diagnóstico

Maria Cecília, de 6 anos, com a mãe Tatiane e o deputado Munir Neto (Fotos: Divulgação)
A cerimônia contou ainda com a presença de Maria Cecília Farias Brito, de 6 anos, que tem uma doença autoimune inflamatória rara, ainda não diagnosticada; Manuela Jordão Fernandes, estudante de Psicologia de 29 anos, que nasceu com a síndrome de  Rothmund-Thomson, uma doença ultrarrara com apenas 400 casos registrados em todo o mundo; e Adriane Branchi Forte, líder comunitária que tem AME – atrofia muscular espinhal tipo 2.
O médico pediatra Welton Correia Alves, de 70 anos, também prestigiou o lançamento do Estatuto. Com sintomas desde a juventude na faculdade de Medicina, ele só foi diagnosticado com a doença de Pompe já com mais de 50 anos. E fundou, em 2019, a ABraPompe (Associação Brasileira de Doença de Pompe), para lutar pelos direitos das pessoas com essa condição neuromuscular rara, degenerativa e hereditária.
Também marcaram presença na cerimônia a advogada Kênia Maria Rio, que nasceu com acondroplasia e é presidente da Associação Nanismo Brasil (Annabra); a presidente da Aliança Cavernoma Brasil, Selva Chaves, e a vice-presidente da Associação Brasileira Addisoniana (Abadisson), Adriana Santiago – mãe de Letícia Santiago, que tem a doença de Addison.
O médico pediatra Welton Correia Alves, de 70 anos, que tem a doença de Pompe, participou do evento (Fotos: Divulgação)

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Estatuto dos Raros

‘Órgãos de controle devem cobrar cumprimento da lei’

O governador Cláudio Castro destacou o caráter amplo do Estatuto e a importância do seu cumprimento. “É uma lei completa, que inclui desde diagnóstico e tratamento até acesso ao mercado de trabalho. Não é só um pedaço de papel. Precisa de foco, investimento, determinação e vontade de dar uma vida melhor às pessoas com doenças raras. Alerj, Defensoria, Ministério Público e demais órgãos de controle devem cobrar seu cumprimento”, disse.

deputado Munir Neto (PSD), coordenador da Frente Parlamentar e autor do ‘Estatuto dos Raros’, destacou que a nova lei garante atendimento médico prioritário, apoio psicossocial, gratuidade nos transportes, prioridade na matrícula em escolas públicas e privadas e inserção no mercado de trabalho às mais de 1 milhão de pessoas com doenças raras no Estado do Rio de Janeiro.

“O Estatuto tem a força de uma constituição e dá vez e voz aos raros. É uma lei que reúne todos os direitos dos raros e seus familiares e obrigações legais para com eles. E torna visível uma realidade: a de que os raros são pessoas de direitos e cheias de potencialidades. É um marco e um enorme passo para uma mudança de cenário na vida dos raros porque garante uma qualidade de vida melhor”, disse.

Cristina Penna, coordenadora de Doenças Raras na Secretaria de Estado de Saúde (SES), informou que a pasta está fazendo um mapeamento do número de pessoas com doenças raras diagnosticadas no Estado do Rio para criar um banco de dados. Segundo ela, 80 dos 92 municípios já responderam. “Queremos saber quem são e onde estão os raros. A partir dessas informações, vamos poder reorganizar a rede de cuidados a esses pacientes”.

Saiba mais sobre as doenças raras

Pessoas que vivem com doenças raras enfrentam grandes dificuldades na jornada desde o diagnóstico até o tratamento, mas também para suas famílias, muitas em situação de vulnerabilidade social, que dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS). 

Há mais de 7 mil enfermidades classificadas como raras, que afetam até 65 pessoas em cada 100 mil pessoas, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).  

Em todo o mundo, são 350 milhões de pessoas, superando a população dos Estados Unidos, terceiro país mais populoso do planeta.

Na América Latina, são 42 milhões de pessoas e no Brasil estima-se que 13 milhões tenham essas patologias.

80% das doenças raras são de origem genética. Outros 20% são de causas ambientais, infecciosas, imunológicas, entre outras.

Por falta de diagnóstico, três em cada 10 pessoas que nascem com essas enfermidades morrem antes de completar 5 anos de idade.

Outra dificuldade é o acesso a tratamentos: alguns medicamentos custam, em média, 25 vezes mais do que outros comuns.

Saiba mais no especial ‘vidas raras’

Sobre a Frente e outras leis

De caráter suprapartidário, a Frente Parlamentar em Atenção às Doenças Raras no Estado do Rio,  instalada em novembro de 2023 na Alerj, reúne representantes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, de universidades, institutos de pesquisa, associações da sociedade civil, familiares, pacientes e também da iniciativa privada.

Além da Lei 10.315/24 que criou o Estatuto, mais três leis de autoria do deputado Munir Neto, beneficiando pessoas com doenças raras, foram sancionadas integralmente pelo governador e publicadas em Diário Oficial no dia 10 de abril.

As novas leis asseguram prioridade aos raros em todas as fases de tramitação dos processos administrativos nas quais são partes em âmbito estadual (Lei 10.316/24); em todos os atendimentos realizados por órgãos públicos (Lei 10.317/24) e nas unidades de saúde públicas ou privadas do estado  (Lei 10.323/24).

Como se informar

Para ampliar o conhecimento sobre os direitos dos pacientes, cartazes informativos sobre o Estatuto dos Raros deverão ser afixados nas unidades de saúde pública e privada, como prevê outro projeto de lei de autoria do deputado Munir Neto que tramita na Alerj.

No instagram @frentedoencasrarasrj é possível saber mais sobre doenças raras, conhecer relatos de pacientes e familiares e entender seus direitos, além de acompanhar a agenda de atividades do colegiado.

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