No início de 2023, Celeste Teixeira de Oliveira, de 56 anos, percebeu manchas estranhas nas pernas e foi diagnosticada com hanseníase. Há 10 meses ela faz tratamento no Centro de Especialidades de Magé, na Baixada Fluminense, cidade onde mora. Gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ela recebe dose mensal de medicação, supervisionada por equipe médica, além de receber a visita de agente comunitário de saúde uma vez por semana em domicílio.

Celeste mostra que é possível alcançar o controle e a cura da doença, que no passado foi vista com grande preconceito. Ela é uma das 850 pessoas que estão atualmente em tratamento para a doença no Estado do Rio de Janeiro. Segundo dados do Ministério da Saúde de 2022, o estado ocupa a 13ª colocação em taxa de detecção de novos casos de hanseníase no Brasil.

“Estou há 10 meses em tratamento da hanseníase. Os primeiros sinais apareceram nas pernas. Eram placas avermelhadas com caroços, que provocavam queimação. Depois, elas se espalharam por todo o corpo. Com a medicação, os sintomas diminuíram. Vou seguir com o tratamento, pois quero me curar logo”, explicou.

Exames clínicos e testes rápidos descartam contaminação

Nesta terça-feira (9), Celeste recebeu a visita domiciliar de equipes de saúde do estado e do município, logo após o lançamento da campanha Janeiro Roxo em um quilombo da cidade onde mora (veja mais abaixo). Foram feitos exames clínicos e testes rápidos em contatos (parentes) assintomáticos na Praia de Mauá. Todos tiveram resultados negativos.

Associada à pobreza e ao acesso precário à moradia, alimentação, cuidados de saúde e educação, a hanseníase ainda é uma preocupação no país. Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil é o segundo país com mais casos no mundo e o Estado do Rio de Janeiro ocupa a 13ª colocação em taxa de detecção de novos casos de hanseníase no país.

Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ) tem enfrentado a doença levando capacitação aos profissionais de saúde nos municípios. Em dezembro de 2023, a pasta promoveu o treinamento de três equipes de Atenção Primária à Saúde (APS) de Magé, que atuam nos três quilombos da cidade.

Quilombo abre campanha nacional Janeiro Roxo

Pela primeira vez no Brasil, um quilombo abriu a campanha nacional Janeiro Roxo, que este ano tem o tema “Hanseníase não tenha preconceito, identifique, trate e cure”.  O evento aconteceu na terça-feira (9/1), na comunidade do Bongaba (Ilé Asé Ògun Alàkòrò), em Magé, e reuniu gestores de saúde municipais, estaduais e federais.

Além de palestra e apresentação teatral com o Grupo Morhan (Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase), foi prestado atendimento à população, com exame físico para rastreamento da doença. Para marcar o “Janeiro Roxo”, a SES-RJ preparou um conjunto de ações programadas para 53 quilombos do estado.

Além das ações realizadas durante a campanha estadual de enfrentamento da hanseníase, a pasta informou que realiza capacitação da ouvidoria da Secretaria para criar canal de escuta qualificada para combate ao estigma em relação à doença e implantação de teste rápido para hanseníase em todos os municípios do estado.

Outras atividades de conscientização e combate à hanseníase estão previstas para este mês, em alusão à Campanha Mundial de Prevenção à Hanseníase. Haverá ações na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Colubandê, em São Gonçalo, no Hospital Estadual Prefeito João Baptista Caffaro, em Itaboraí; no Hospital Estadual Alberto Torres, em São Gonçalo; no Hospital Estadual Roberto Chabo, em Araruama; Hospital Regional Zilda Arns, em Volta Redonda e Hospital Estadual Ricardo Cruz, em Nova Iguaçu.

 

Território de resistência e participação popular

Criado em 1696, o Quilombo Ilé Asé Ògun Alàkòrò foi escolhido por ser um importante território de resistência e participação popular. Pai Paulo José de Ogun, liderança do quilombo, disse que o território é um local de resistência, reparação, veracidade e história ancestral. No quilombo são ensinados gratuitamente jongo, maracatu, capoeira e curso de pré-vestibular para jovens carentes.

O assessor Especial do Ministério da Saúde, Valcler Rangel Fernandes, ressaltou o compromisso da pasta em criar estruturas para que a União olhe para as periferias. Segundo ele, a construção deve ser coletiva para o enfrentamento da hanseníase e os quilombos são locais de grande potência.

Egon Daxbacher, médico do Instituto Estadual de Diabetes Luiz Capriglione (Iede), consultor e dermatologista do Ministério da Saúde, conduziu uma aula magna que teve como ponto central a mobilização social. Ele destacou a participação de todos os entes da federação no enfrentamento à doença, além de dar voz e vez às comunidades.

Locais de difícil acesso podem esconder doença

O gerente de hanseníase da SES-RJ, André Luiz da Silva, ressaltou o pioneirismo de um quilombo em abrir a campanha de conscientização e combate à hanseníase. “Isso tem relevância, pois eles têm tradição de engajamento, participação e saberes tradicionais. É uma troca de experiências, que permite uma adesão maior ao tratamento. São locais que apresentam dificuldade de acesso e precisam do poder público para que a doença não fique escondida”, relatou.

A secretária de Estado de Saúde, Claudia Mello, não participou do evento e foi representada por Mário Sérgio Ribeiro, subsecretário de Vigilância e Atenção Primária à Saúde (Subvaps). Segundo ele, o evento dá visibilidade a uma doença que é negligenciada pela sociedade.

“O estado, como membro da federação, precisa se aproximar dessas questões. Para isso, é fundamental ir aos territórios e procurar os casos, conscientizar seus membros e tratar a doença. Esse tipo de ação tem força para disseminar a informação e possui grande apelo social”, disse.

O evento também teve a participação da secretária municipal de Magé, Larissa Storte, e foi organizado em parceria com a Associação das Comunidades Quilombolas do Estado do Rio de Janeiro (ACQUILERJ).

Com informações da SES-RJ

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