Os médicos também informaram que os exames serão refeitos em dez dias, para nova avaliação. A recomendação é de que, nesse período, ele não faça exercícios físicos. Segundo a equipe, o presidente já recebeu, inclusive, visitas de ministros, o que confirma a boa condição de seu quadro de saúde. A previsão é de que Lula passe as festas do final do ano na capital federal.
O caso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 79 anos, que sofreu uma queda há cerca de um mês e sofreu uma hemorragia cerebral, acendem o alerta para o acompanhamento principalmente de idosos após um trauma que envolve pancadas na cabeça.
Dias após quedas, idosos ainda têm chance de hematomas cerebrais
De acordo com o neurocirurgião e neurorradiologista intervencionista João de Deus da Costa Alves Jr., que integra o corpo clínico do Hospital Sepaco, de São Paulo, considera-se a probabilidade de reaparecer uma hemorragia em até 30% dos casos, o que ressalta a importância do acompanhamento médico.
Até mesmo sem sintomas específicos logo após uma queda, pessoas idosas e que ingerem álcool ou que precisam usar medicamentos que afinam o sangue, como anticoagulantes, devem ser avaliadas por especialistas.
Dias ou até semanas desde o trauma, um hematoma de pequeno volume pode se tornar uma bolsa ou cápsula que comprime o tecido neural, já sendo definido como um hematoma subdural crônico. A partir daí, podem ser observados sintomas como dor de cabeça, confusão mental, apatia, convulsão e paralisia de um membro”, alerta.
Como estancar o risco de novas hemorragias
Por isso, segundo ele, é importante que pacientes que sofreram trauma de crânio sejam avaliados em pronto-socorro com posterior seguimento clínico e radiológico, pelo risco potencial de complicações tardias.
Com o diagnóstico, obtido por meio de tomografia de crânio, tratamentos cirúrgicos para a drenagem do hematoma podem ser necessários, com implante temporário de drenos. Porém, ainda há chances de surgir nova hemorragia no mesmo local, e a embolização da artéria meníngea média, procedimento pelo qual o presidente Lula passou, é indicado para mitigar esse risco.
A embolização é um tratamento complementar, com elevado índice de sucesso e morbidade baixa quando executado por médico neurointervencionista e em unidade com recurso tecnológico adequado. É feito em ambiente de hemodinâmica e tem finalidade de interromper o fluxo da artéria que vasculariza a cápsula do hematoma. Por meio de um catéter e com auxílio de raio-X, são injetadas partículas, cola biológica ou líquido embolizante para ocluir a artéria. Pode haver necessidade de anestesia local e sedação ou anestesia geral”, explica o médico.
Entenda o que aconteceu com Lula
Na terça-feira (10/12), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi submetido a uma cirurgia de emergência para drenagem de um hematoma subdural na cabeça. O procedimento, foi necessário após um exame detectar uma hemorragia intracraniana, ocasionada em razão de uma queda em outubro. Dois dias depois da cirurgia, ele fez um procedimento endovascular, para evitar novos sangramentos.
No último domingo (15), o presidente recebeu alta do Hospital Sírio-Libanês e foi para sua casa no Alto de Pinheiros, em São Paulo, onde vinha recebendo visitas. Na manhã de segunda-feira (16), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se reuniu com o presidente em São Paulo. O presidente recebeu, nesta terça-feira (17), a visita do cantor Chico Buarque. Nas redes sociais, Lula postou uma foto com o artista.
Nada melhor que receber amigos em casa. Hoje, eu e Janjinha tivemos uma visita muito especial. Recebemos Chico Buarque e Carol Proner, em São Paulo. É sempre uma alegria poder ter vocês por perto. Um samba pra alegrar o dia”, disse na mensagem.
Especialista em medicina legal esclarece como o hematoma foi tratado
Em 19 de outubro, o presidente caiu no banheiro do Palácio da Alvorada e bateu com a cabeça. Embora não tenha causado sintomas graves na época, o episódio resultou em um trauma que foi monitorado pela equipe médica, que inicialmente, não demandou nenhuma intervenção cirúrgica imediata.
De acordo com a médica Caroline Daitx, especialista em medicina legal e perícia médica, a hemorragia intracraniana ocorre quando há o extravasamento de sangue para fora dos vasos sanguíneos na cavidade craniana.
Essa condição pode surgir devido a traumas, hipertensão arterial, aneurismas, ou mesmo alterações relacionadas à aterosclerose, entre outras causas. Dependendo do compartimento afetado — como o extradural, subdural ou subaracnóideo — a abordagem médica pode variar significativamente”, explica.
O hematoma subdural, como no caso do presidente, ocorre entre as camadas meníngeas dura-máter e aracnóide. Quando esse tipo de hemorragia causa pressão no tecido cerebral, procedimentos cirúrgicos podem ser necessários para aliviar os sintomas e prevenir complicações graves.
Embora inicialmente tenha sido descrita como uma craniotomia, a intervenção realizada no presidente Lula pode ser melhor caracterizada como uma trepanação, conforme esclarece Daitx.
A trepanação é a abertura de um pequeno orifício na abóbada craniana para descompressão e drenagem de hematomas. Esse procedimento é menos invasivo do que uma craniotomia completa, sendo indicado para casos em que a hemorragia é limitada ao espaço subdural e pode ser resolvida com uma abordagem mais simples”, detalha.
O impacto da hemorragia intracraniana
A hemorragia intracraniana pode apresentar sintomas variados, como dores de cabeça intensas, confusão mental, e alterações neurológicas. Quando diagnosticada precocemente, o tratamento é geralmente eficaz, com altos índices de recuperação total. No entanto, o prognóstico depende de fatores como a extensão da hemorragia, as condições de saúde preexistentes e a rapidez no atendimento médico.
Procedimentos como a trepanação são cruciais para prevenir danos permanentes e aliviar a pressão intracraniana, protegendo as funções cerebrais. O caso do presidente reflete a importância de diagnósticos rápidos e cuidados especializados”, destaca a médica.
Com Assessorias e Agência Brasil