Criado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Dia Mundial da Luta contra as Hepatites Virais acontece em 28 de julho. No Brasil, a campanha “Julho Amarelo” foi instituída em 2019 e possui o objetivo de chamar a atenção e reforçar as ações de vigilância, prevenção e controle das hepatites virais, um grave problema de saúde pública no Brasil e no mundo.

Não à toa, a Organização Mundial da Saúde (OMS) instaurou como meta a redução de novas infecções em até 90% dos casos até 2030. O combate à doença, no entanto, requer conscientização e educação em saúde, já que alguns tipos ainda são pouco conhecidos pela população. Esse é o caso da hepatite delta ou D, um dos mais perigosos, mas pouco abordado em discussões sobre as hepatites virais.

Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) apontam que o Brasil registrou mais de 700 mil casos confirmados de hepatites virais, no período de 2000 a 2021. Destes, a maioria são referentes à hepatite C (38,9%), seguidos pelas hepatites B (36,8%) e A (23,4%), enquanto os quadros de hepatite delta não passam de 1%.

“Apesar de menos frequente, o vírus Delta costuma ser mais perigoso, já que ele ocasiona casos de hepatite crônica mais intensos e que, frequentemente, podem evoluir para cirrose e câncer de fígado, por isso, é fundamental que as pessoas tenham conhecimento de sua existência, podendo se prevenir corretamente”, destaca João Renato Rebello Pinho, coordenador-médico do Setor de Pesquisa e Desenvolvimento do Laboratório Clínico do Einstein.

hepatite D, também chamada de delta, está associada com a presença do vírus B da hepatite para causar a infecção e inflamação das células do fígado. Existem duas formas de infecção, sendo elas coinfecção simultânea com o tipo B e superinfecção do HDV em um indivíduo com infecção crônica pelo vírus B.

“Por estarem associados com a presença do vírus da hepatite B e potencialmente aumentarem o risco de desenvolvimentos de câncer, é fundamental que a população esteja atenta à prevenção, que envolve tanto a busca por imunizantes contra hepatite B quanto o uso de preservativos em relações sexuais, já que a transmissão desse vírus ocorre tradicionalmente por via sexual”, ressalta Pinho.

No Brasil, os casos se concentram na região Norte do país, com um acumulado de 73,7% das ocorrências, também segundo o levantamento do Sinan.

Mapeamento clínico-epidemiológico e molecular das hepatites

A fim de caracterizar melhor os casos de hepatites agudas atendidos em diferentes estados brasileiros e gerar informações relevantes para as políticas públicas de saúde, o Einstein está em fase de finalização de um estudo conduzido por meio do Proadi-SUS, em parceria com o Ministério da Saúde. A pesquisa, que vem coletando amostras de casos de hepatites virais em todas as regiões do País, será o maior trabalho já feito na área no Brasil.

“Este projeto é muito importante, pois vamos conseguir determinar a etiologia das hepatites agudas em nosso país, envolvendo serviços de todas as regiões e fornecendo dados relevantes para o controle da doença, em um momento no qual a Organização Mundial da Saúde tem como planejamento conseguir a eliminação da hepatite como problema de saúde pública até 2030”, conclui.

Ausência de sintomas na fase inicial é principal desafio

A Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) esteve presente na 18ª Cúpula Global de Hepatite (GHS 2023) realizada em abril, em Paris, França. Na conferência, os especialistas falaram sobre o avanço no diagnóstico e o desenvolvimento de pesquisas para o controle e eliminação da hepatite, que provoca a inflamação do fígado.

O coordenador médico do Laboratório Clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, João Renato Rebello Pinho, membro da SBPC/ML, participou como representante do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS). Segundo ele, o projeto pioneiro vai avaliar as causas das hepatites agudas em todo Brasil, com a colaboração de 20 estados brasileiros.

Para o patologista clínico, o principal problema da infecção é a característica assintomática inicial.

“A ausência dos sintomas e sinais precoces da doença não contribuem para um bom diagnóstico. Reforço a importância da comunidade médica solicitar a sorologia nos exames de rotina e falar sobre a imunização para prevenção das hepatites A e B”, esclarece o médico.

Quando o quadro clínico é claro com icterícia ou mesmo em casos assintomáticos, uma análise laboratorial detalhada permite a identificação da forma de hepatite e guiar a melhor abordagem no tratamento.

Hepatites podem ser causadas ainda por outros vírus ou bactérias, ou até mesmo pelo uso excessivo de medicamentos ou ingestão de bebidas alcoólicas.

Além disso, a caracterização dos genótipos dos 5 vírus hepatotrópicos convencionais (A, B, C, D, E) neste projeto permitirá conhecer sua dispersão na população brasileira.

A vacinação da hepatite A, dose única, deve ser aplicada aos 15 meses e para hepatite B, ao nascer, mas o esquema vacinal deve ser completado na adolescência e fase adulta, de acordo com a situação vacinal. Todas previstas no Calendário Nacional de Vacinação e disponíveis na rede pública.

Hepatite também é a maior causa de câncer de fígado

Tipo C tem maior taxa de mortalidade, comparável à do HIV ou da tuberculose
Dados recentes do Ministério da Saúde registraram mais 718 mil casos de hepatites virais entre 2000 e 2021, totalizando cerca de 34 mil por ano no Brasil. Além disso, a Sociedade Brasileira de Patologias (SBP) vem chamando a atenção para o aumento nos casos de câncer no fígado em decorrência da identificação tardia das hepatites virais no organismo.

A infecção afeta o fígado e é caracterizada por cinco tipos: A, B, C, D e E, com o tipo C possuindo taxa de mortalidade comparável à do HIV ou da tuberculose, conforme o Ministério da Saúde. A presença das doenças causadas pelos vírus A, B e C estão em todo o Brasil, mas o alerta se dá às últimas duas variáveis, que frequentemente se tornam crônicas.

De acordo com Juliana Oliveira da Silva, infectologista do Hcor, a inflamação do fígado, chamada de hepatite, pode ocorrer por diversas causas, mas as mais frequentes são as infecções por vírus.

“Adicionalmente, o abuso do consumo de álcool ou outras substâncias tóxicas, doenças autoimunes, metabólicas ou genéticas e até mesmo por alguns remédios são outras possíveis causas dessa inflamação”, afirma a especialista.

Segundo dados do Ministério da Saúde, a principal via de contágio da hepatite A é a fecal-oral, por meio do contato inter-humano ou por meio da ingestão de água e alimentos contaminados.

Já a transmissão da hepatite B pode ocorrer por contato com sangue ou via sexual, sendo esta considerada uma doença sexualmente transmissível. Por isso, é sempre importante reforçar o uso de preservativo nas relações.
O contágio pela hepatite C é caracterizado principalmente por contato com sangue, que pode ocorrer entre usuários de drogas injetáveis, por exemplo. Além disso, é essencial ter cuidado com procedimentos que utilizem materiais não descartáveis e possam ser contaminados.

Sintomas e tratamento

O conhecimento da existência da doença é o grande desafio segundo os especialistas. Ela pode apresentar sintomas como dor abdominal, vômitos, enjoo, cansaço, além de mal-estar associados a coloração amarelada da pele e olhos, urina escura e fezes claras, mas, na maioria das vezes, as infecções são silenciosas.

“A hepatite é uma doença que nem sempre apresenta sintomas, acarretando em consequências graves como, por exemplo, no comprometimento do fígado, sendo a principal causa de fibrose ou cirrose, que pode levar até mesmo ao câncer”destaca a Dra. Juliana.

É recomendado que todas as pessoas com mais de 45 anos de idade realizem os testes por exame de sangue e se positivos, sigam com o acompanhamento e tratamento com medicamentos para as hepatites B e C, oferecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). As melhores estratégias de prevenção da hepatite A incluem a adequação do saneamento básico, tratamento da água, medidas educacionais de higiene e a vacinação.

Atualmente, a vacina para prevenção da hepatite A está indicada para a faixa etária pediátrica e adultos seguindo as recomendações da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e padronização do Programa Nacional de Imunizações (PNI).

A especialista explica ainda que a prevenção da hepatite B inclui o controle efetivo de bancos de sangue por meio da triagem sorológica, a vacinação contra hepatite B, conforme recomendações da SBIm e PNI, e o uso de imunoglobulina humana Anti-Vírus da hepatite B também disponível no SUS.

Outras recomendações estão ligadas ao cuidado com a utilização de equipamentos de proteção individual por profissionais da área da saúde, o não compartilhamento de alicates de unha, lâminas de barbear, escovas de dente, equipamentos para uso de drogas, além do uso de preservativos nas relações sexuais. Especialmente para a prevenção da hepatite C, não existe vacina, mas outras formas de prevenção.

“Podemos citar a triagem em bancos de sangue e centrais de doação de sêmen para garantir a distribuição de material biológico não infectado; triagem de doadores de órgãos sólidos, como coração, fígado, pulmão e rim; e a triagem de doadores de córnea ou pele. Vale reforçar também a importância do cumprimento das práticas de controle de infecção em hospitais, laboratórios, consultórios odontológicos, serviços de hemodiálise e o tratamento dos indivíduos infectados, quando indicado”, conclui a Dra. Juliana.

Sobre as hepatites virais

hepatite é a inflamação do fígado, e pode provocar consequências graves, como cirrose, câncer e morte. Existem diferentes tipos de hepatite viral: A, B, C, D e E, e cada um é provocado por um agente infeccioso diferente.

A transmissão das hepatites A e E ocorre via fecal-oral, ou seja, quando a infecção é adquirida por meio da ingestão de água ou alimentos contaminados com vírus que são eliminados nas fezes das pessoas doentes e até por relação sexual com contato anal-oral.

Já as hepatites B, C e D são transmitidas por meio de relação sexual, compartilhamento de instrumentos cortantes contaminados, como agulhas e seringas, instrumentos cirúrgicos, entre outros, e mais raramente por transfusões de sangue quando a triagem de doadores não é realizada adequadamente.

O diagnóstico é basicamente sorológico, realizado por meio de técnicas que pesquisam anticorpos contra os vírus (IgG e IgM) no sangue do paciente. Em algumas situações podem ser necessários testes moleculares (PCR) que pesquisam no sangue o material genético do vírus.

Já o tratamento é variável, conforme o tipo. A hepatite A, por exemplo, habitualmente desaparece sem deixar sequelas, já as hepatites B graves e C geralmente são tratadas com medicamentos antivirais específicos que combatem cada um dos vírus. Para as hepatites A e B, já existem vacinas eficazes no combate à doença.

Com Assessorias

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