A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 10% da população mundial tenha algum tipo de deficiência. Ou seja, são cerca 7,8 milhões de pessoas que vivem com algum impedimento de longo prazo, ocasionado por natureza física, mental, intelectual e/ou sensorial, que impede sua participação plena e efetiva na sociedade, em igualdade de condições.

É por esta razão que a comunidade médica e educadores do Brasil se mobilizam todos os anos, no Dia Nacional da Acessibilidade (5 de dezembro). O objetivo é conscientizar a sociedade sobre a desigualdade de oportunidades e outros problemas enfrentados por esses cidadãos, além de celebrar as conquistas realizadas ao longo dos anos.

O ator e professor de Libras Fábio de Sá nasceu surdo. Ele lembra que, na época de criança, acessibilidade era uma palavra desconhecida.

As pessoas escreviam para se comunicar com a gente. Quando entrei na escola de surdos, em 1992, tive contato com a língua de sinais pela primeira vez, mesmo assim não existia material didático específico para Libras”, conta. “A gente saía e éramos invisíveis, porque nada era adaptado ou pensado para uma criança surda ou com qualquer outra deficiência”, recorda Fábio.

Para ele, as coisas só começaram a mudar quando a internet ganhou força com as redes sociais. “As redes trouxeram o debate, nos deram voz. Agora programas de TV são adaptados, as crianças de hoje terão voz no futuro porque estão vivendo num mundo onde a inclusão é uma realidade, mesmo que ainda não seja a ideal”, frisa o ator que também é consultor, tradutor e intérprete de Libras dos vídeos da campanha Defenda-se.

Criada pelo Centro Marista de Defesa da Infância (CMDI), a iniciativa promove a autodefesa de crianças contra a violência sexual por meio de uma série de vídeos educativos, com linguagem acessível para meninas e meninos de 4 a 12 anos. Os conteúdos apresentam situações que contribuem no reconhecimento de estratégias que dificultam a ação dos agressores.

Para o vídeo mais recente, lançado em maio deste ano, crianças surdas foram convidadas para serem intérpretes dos personagens na versão em Libras, com a coordenação de Fábio. Além disso, uma das personagens da animação, Laura, se comunica pela Língua Internacional de Sinais.

Queremos pensar essa inclusão com sensibilidade, para que as crianças com deficiência também tenham acesso aos vídeos e se sintam representadas. Com a consultoria, a tradução do conteúdo para Libras considerou o vocabulário de crianças surdas”, comenta o analista do Centro Marista de Defesa da Infância, Rafael Teixeira.

Os vídeos, que podem ser acessados gratuitamente no site da campanha (defenda-se.com), já foram vistos por milhares de crianças nas salas de cinemas e de aula.

Da sala de aula para os hospitais

Outra área em que a inclusão se mostra fundamental é a saúde. Nos hospitais São Marcelino Champagnat e Universitário Cajuru, que também fazem parte do Grupo Marista, o tema chegou às equipes assistenciais. O coordenador da farmácia do Hospital Universitário Cajuru, Maikon Jorge Baceto, teve a ideia de implementar uma campainha no hospital que, além do som, tivesse uma sinalização visual para atender às pessoas com deficiência auditiva.

Foi só depois de sentir na pele, ao longo de trocas e conversas, que consegui reconhecer as reais necessidades de acessibilidade que fazem parte do dia a dia das pessoas com deficiência. Não só passei a compreender melhor, mas também encontrei maneiras de fazer a diferença na prática”, conta ele.

Entendendo que a deficiência é apenas uma parte da condição e identidade de uma pessoa, o programa de Diversidade e Inclusão do Grupo Marista busca fornecer informações e engajar colaboradores para serem agentes de transformação social.  Entre as ações, são realizadas rodas de conversa com representantes de cada pilar, eventos de liderança e treinamentos para os colaboradores.

É um trabalho de formiguinha, mas que tem trazido benefícios para empresa, colaboradores, pacientes e sociedade como um todo, pois a diversidade permite pensar de forma inovadora, com pessoas diferentes e olhares diferentes”, explica a coordenadora de Atração e Inclusão do Grupo Marista, Tania Mior Botemberger.

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Acessibilidade auditiva: um desafio extra à inclusão de pessoas com deficiência

Das barreiras ainda a serem superadas, a chamada “acessibilidade auditiva” é assunto que se destaca cada vez mais nas discussões temáticas relacionadas à data. Afinal, da mesma forma que os deficientes físicos e deficientes visuais, os auditivos também demandam ações inclusivas que lhes assegurem mais autonomia e liberdade.

A comunicação é, com certeza, o maior obstáculo que os deficientes auditivos têm para interagir com a sociedade de maneira efetiva. Há várias barreiras que os impedem disso e, geralmente, sequer percebemos”, observa a fonoaudióloga Christiane Nicodemo, do Hospital Paulista, especializado em saúde de ouvido, nariz e garganta.

Embora a legislação federal já preveja uma série de obrigatoriedades, por meio da Lei Brasileira de Inclusão (LBI), a especialista destaca que há muitos aspectos ainda a ser observados. Nesse contexto, ela destaca como exemplos as portarias eletrônicas (cada vez mais presentes em edifícios residenciais) e as baias de atendimento individual (muito comuns em consultórios, laboratórios, cinemas etc.), além dos tradicionais autofalantes de supermercados, alarmes sonoros e a própria campainha de nossas casas.

Por serem instrumentos que dependem da audição, isso inviabiliza a comunicação com qualquer pessoa que tenha surdez. Muitas vezes, nem mesmo a presença de intérpretes de libras permite uma comunicação efetiva, já que muitos surdos não são alfabetizados na linguagem de sinais.

Da mesma forma, há pessoas surdas que não são alfabetizadas em português e só utilizam as libras. Portanto, são situações que precisam ser repensadas, de forma ampla, abrangendo toda sua comunidade e respeitando cultura e individualidade de cada um”, pondera a especialista.

Sinalizantes e oralizados

Otorrinolaringologista e foniatra do Hospital Paulista,  Gilberto Ferlin explica que as pessoas surdas ou com deficiência auditiva que se comunicam através da Língua de Sinais são conhecidas como “sinalizantes”. Já as pessoas que são alfabetizadas no português sabem fazer leitura labial e preferem vocalizar, essas conhecidas como “oralizadas”.

Existe uma grande diversidade nesse universo que, aqui no Brasil, é formado por cerca de 2,3 milhões de pessoas. Por isso, é importante levar esse aspecto em consideração ao pensar em recursos de acessibilidade. Precisamos pensar cada vez mais em tornar os espaços que fazemos parte mais acessíveis para todas as pessoas. Isso vai desde o nosso grupo de amigos ao ambiente corporativo e familiar.”

Com Assessorias

 

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