Evidências coletadas pelo Conselho Global sobre Desigualdade, Aids e Pandemias – criado em 2023 pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) – apontam que desigualdades dentro e entre países aumentam a interrupção e a perda de vidas nas pandemias atuais e recentes, desde a Aids até a Covid-19, Mpox e Ebola. A falta de respostas efetivas para essas desigualdades deixa comunidades vulneráveis e expostas a futuras emergências de saúde.
A dependência de países do Sul Global em relação à produção de medicamentos no Norte Global também compromete as respostas a pandemias, deixando-os consistentemente em desvantagem para receber vacinas e medicamentos vitais, apesar de abrigarem em seus territórios grande parte da carga de doenças no mundo.
Ao construir capacidade de produção em todas as regiões, podemos aprender com os erros do passado, garantindo que medicamentos para doenças negligenciadas e socialmente determinadas sejam produzidos em todo o mundo, e que haja capacidade disponível para responder rapidamente a futuras emergências de saúde”, disse Nísia Trindade, ministra da Saúde do Brasil e membro do Conselho Global sobre Desigualdade, Aids e Pandemias.
Joseph E. Stiglitz, economista vencedor do Prêmio Nobel e copresidente do Conselho Global, explicou que reformas tanto nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento e nos acordos e instituições internacionais, além de investimentos que ampliem a produção de insumos médicos e reduzam preços, “são essenciais para abordar lacunas de mercado e acelerar o acesso a medicamentos para as pessoas que mais precisam.”
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Para o professor de Epidemiologia Sir Michael Marmot, diretor do Instituto de Equidade em Saúde da University College London, copresidente do Conselho Global e ex-presidente da Comissão sobre os Determinantes Sociais da Saúde, as evidências são explícitas: determinantes sociais aumentam a intensidade das pandemias.
Quanto maior a desigualdade na sociedade, pior é a pandemia. Mas também sabemos que podemos intervir contra esses fatores com educação, medidas de proteção social e tornando as sociedades mais justas. Reinvestir no bem público e defender os direitos humanos tornarão as sociedades menos vulneráveis a pandemias.”
Monica Geingos, ex-primeira-dama da Namíbia e também copresidente do Conselho Global, afirmou que paara acabar efetivamente a pandemia de AIDS e nos preparar para futuras emergências de saúde, é preciso enfrentar a complexa rede de desigualdades que agravam esses desafios.
Desigualdade envolve mais que disparidades de renda; inclui também desigualdades sociais, políticas e de saúde que se interseccionam de maneiras significativas. O cenário geopolítico complica ainda mais essas dinâmicas, pois nações caracterizadas por desigualdades são desproporcionalmente impactadas pelas respostas às pandemias”, disse.
Segundo ela, essa desigualdade sistêmica é frequentemente reforçada por estruturas internacionais que perpetuam e aprofundam as disparidades existentes, ressaltando a necessidade urgente de abordagens abrangentes e equitativas para saúde e governança.”
As duas iniciativas — responder à desigualdade como um fator que impulsiona pandemias e promover a produção regional de insumos de saúde — oferecem uma oportunidade única para que as lideranças do G20 tomem ações transformadoras em prol da equidade em saúde e da segurança global em saúde, concordou o time de especialistas.
Igualdade social no centro da agenda do G20
Winnie Byanyima, diretora executiva do Unaids e coordenadora do Conselho de Desigualdade, comentou que o presidente Lula colocou a igualdade no centro da agenda do G20 do Brasil. “Ele está certo. As desigualdades precisam ser abordadas urgentemente, e a produção de medicamentos e vacinas expandida em todo o mundo, ou a próxima pandemia nos atingirá ainda mais forte”, ressaltou.
Para a representante do Unaids, as lideranças do G20 aqui no Rio de Janeiro têm a oportunidade de transformar a maneira como o mundo responde a emergências e pandemias, respondendo as desigualdades que os impulsionam. “Contamos com as lideranças do G20 para aproveitar este momento para salvar vidas e proteger a saúde de todas as pessoas”, disse.
O Brasil propõe o estabelecimento de uma Aliança Global para a Produção Local e Regional e Inovação e Acesso Equitativo, reunindo uma rede de atores-chave, incluindo países, academia, setor privado e organizações internacionais, para pesquisa, desenvolvimento e produção de vacinas, medicamentos, diagnósticos e suprimentos estratégicos para combater doenças com fortes determinantes sociais e que afetam principalmente populações vulneráveis.
Homenagens foram prestadas ao Ministério da Saúde do Brasil por sua liderança na promoção dessas questões críticas no G20, incluindo a proposta da nova Aliança Global para a Produção Local e Regional e Inovação e a inclusão dos determinantes sociais das pandemias no trabalho da força-tarefa conjunta de Saúde e Finanças do G20.
Joe Phaahla, vice-ministro da Saúde da África do Sul, confirmou o compromisso assumido pelo Brasil: “Ao assumirmos a presidência do G20 em 2025, a África do Sul continuará a liderar a agenda de cobertura universal de saúde por meio de equidade, solidariedade e inovação.”
Para mais informações sobre o Grupo de Trabalho em Saúde do G20, consulte o site do G20.
Sobre o Unaids
O UNAIDS une os esforços de 11 organizações da ONU — ACNUR, Unicef, PMA, PNUD, UNFPA, UNODC, ONU Mulheres, OIT, Unesco, OMS e o Banco Mundial — e trabalha em estreita colaboração com parcerias globais e nacionais para acabar com a epidemia de AIDS até 2030 como parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O lidera e inspira o mundo a alcançar a visão compartilhada de zero novas infecções por HIV, zero discriminação e zero mortes relacionadas à Aids. Saiba mais em unaids.org.