O Dia Mundial Sem Carro é um evento global que ocorre anualmente em 22 de setembro, com o objetivo de conscientizar as pessoas sobre os impactos negativos do uso excessivo de veículos motorizados. A iniciativa surgiu na França, em 1997, e desde então tem se espalhado para diversas cidades ao redor do mundo.
A data busca incentivar o uso de meios alternativos de transporte, o que estimula a mobilidade urbana e a redução da emissão de poluentes na atmosfera. Neste dia, pessoas de diversas cidades do mundo são convidadas a evitar o uso de veículos individuais motorizados – que são o foco da ação – e apostar em opções mais sustentáveis, como as bicicletas e patinetes elétricos – que viraram febre em cidades como o Rio de Janeiro.
Em todo o mundo, o setor de transporte é responsável por quase um quarto das emissões globais de gases de efeito estufa, de acordo com o relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Especificamente, as emissões dos veículos são uma fonte expressiva de partículas finas e óxidos de nitrogênio, as principais causas da poluição do ar urbano.
Uma pesquisa do Programa de Geografia Física da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) mostrou que aumentar áreas verdes pode ajudar na qualidade do ar, principalmente por diminuir a emissão de poluentes, com menos veículos nas ruas.
Cidades sustentáveis e acessíveis não dependem de carros para funcionar. Elas oferecem estruturas para a livre escolha, cada um vai como quer, sendo prioridade os modos ativos combinados ao transporte coletivo”, diz Renata Falzoni, jornalista, arquiteta e cicloativista, trocou o carro pela bicicleta há mais de 40 anos e é uma das defensoras da mobilidade ativa. Ela faz parte da Coalizão Nacional Supra Partidária pela Bicicleta.
Alternativas para melhorar a mobilidade urbana
Duas opções interessantes de transporte nas cidades são as bicicletas e patinetes elétricos, que fazem parte de um conceito amplo: a micromobilidade. O termo, criado em 2017 pelo especialista em tecnologia romeno Horace Dediu, aponta os veículos elétricos levíssimos como alternativas vantajosas, seja do ponto de vista ambiental ou da saúde.
Uma pesquisa realizada pela Tembici, responsável pela operação da bike Rio, mostrou que as bicicletas compartilhadas desempenham um papel importante no bem-estar e na percepção de saudabilidade do carioca; 67% dos entrevistados se sentem muito saudáveis atualmente.
A pesquisa revela que, para 92%, a saúde e bem-estar são os principais motivos para pedalar e que 63% utilizam as bikes compartilhadas para poder praticar os exercícios físicos. A população tem optado pela bicicleta nos trajetos do dia a dia, inclusive, 93% pretendem andar mais de bicicleta em 2024 e 31% querem garantir mais saúde e bem-estar.
O crescimento da micromobilidade por meio do uso de bikes contribui para uma sociedade mais saudável e com melhor qualidade de vida, além de gerar ganhos fundamentais para o meio ambiente. As viagens com as bikes compartilhadas do Rio de Janeiro, durante 2023, economizaram potencialmente 302 toneladas de CO2, o equivalente ao oxigênio limpo produzido por mais de 2.118 árvores – enquanto os deslocamentos representam um total de 145 voltas na Terra”, afirma Gabriel Reginato, diretor da Tembici.
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Deslocamento mais rápido e sem engarrafamentos
Outro grande benefício do uso desses modais é a possibilidade de se locomover de forma mais ágil, evitando engarrafamentos, aponta o engenheiro e especialista do centro de pesquisa, tecnologia e inovação Lactec, Carlos Gabriel Bianchin. “Principalmente quando consideramos os centros urbanos, o adensamento de veículos torna o deslocamento um verdadeiro transtorno. Tais soluções permitem o deslocamento rápido e seguro em vias apropriadas para estes modais”.
Além de não emitir poluição sonora, os veículos eletrificados ainda contribuem para reduzir a emissão de gases poluentes na atmosfera. A seu favor, ainda contam o pequeno porte, o baixo peso e a versatilidade. “Estes veículos também beneficiam novos modelos de negócio e trazem mais qualidade no deslocamento de pequenas distâncias em grandes cidades”, explica o especialista.
Como desafio para incentivar o uso de modais de transporte mais sustentáveis, está a regulamentação e a construção de vias apropriadas. “O investimento em infraestrutura adequada é fundamental, já que se tratam de modais menores e individuais, não sendo possível disputar espaço com carros em vias urbanas”, afirma Bianchin. Com isso, aumenta a segurança para o setor, para os usuários e também para o seu entorno.
É importante lembrar que o Dia Mundial Sem Carro não se trata apenas de um evento de um dia, mas sim de uma oportunidade para refletir sobre nossos hábitos de transporte e buscar maneiras mais sustentáveis de nos locomovermos no dia a dia”, comenta Gabriel Arcon, da E-Moving – startup de soluções em mobilidade.
5 razões para deixar de usar carro e aderir a novos meios de transporte
Para conscientizar cada vez mais as pessoas, Arcon lista 5 razões para deixar de usar carro e aderir a novos meios de transporte.
1. Benefícios para a saúde
Optar por caminhar ou andar de bicicleta como meio de transporte pode melhorar a saúde física e mental, ajudando a combater o sedentarismo e reduzir o estresse, além de ajudar a evitar várias doenças, segundo médicos, cientistas e ciclistas, que relataram em pesquisas ou testaram na prática os efeitos do hábito.
Segundo a pesquisa da Universidade de Yale (EUA), acompanhou 1,2 milhão de pessoas com mais de 18 anos, entre 2011 e 2015, que utilizavam e-bikes. Um mês depois do início da pesquisa, os participantes que andaram de bicicleta elétrica passaram 43,2% dos dias com a saúde mental mais estável do que os que não praticaram nenhuma atividade física associada.
Essa mudança é como dar um passo em direção à saúde e ao bem-estar. Cada pedalada, caminhada ou viagem de transporte público é um investimento em sua própria saúde, contribuindo para um corpo mais ativo, uma mente mais equilibrada”, comenta o CEO.
2. Redução da emissão de carbono
Em todo o mundo, o setor de transporte é responsável por quase um quarto das emissões globais de gases de efeito estufa relacionadas à energia. Especificamente, as emissões dos veículos são uma fonte significativa de partículas finas e óxidos de nitrogênio, as principais causas da poluição do ar urbano.
Essa escolha não é apenas saudável para os indivíduos, mas também uma ação significativa para controlar a poluição do mundo, mantendo o ambiente mais limpo e reduzindo os poluentes que afetam o bem-estar de nosso planeta”, ressalta Arcon.
3. Melhor relação custo benefício
O custo de se manter um carro não se resume apenas ao combustível. Itens básicos são prestações, seguro, manutenção, IPVA, licenciamento, lavagens e até mesmo possíveis multas. Além de que os automóveis perdem valor ao longo do tempo devido à depreciação. Usar menos ou optar por transportes alternativos pode ajudar a prolongar a vida útil do veículo e reduzir as perdas financeiras associadas à depreciação.
A opção de utilizar menos carros pode proporcionar economia substancial a longo prazo, liberando recursos financeiros que podem ser direcionados para outras necessidades ou investimentos, melhorando sua saúde financeira”, acrescenta o CEO.
4. Melhoria do trânsito nas cidades
A diminuição do número de veículos nas ruas ajuda a reduzir o congestionamento, tornando os trajetos mais rápidos e eficientes. “A redução do número de automóveis nas estradas resulta em um tráfego mais fluido e menos estressante, o que tem um efeito positivo tanto na mobilidade urbana quanto na qualidade de vida da comunidade”, comenta Arcon.
A relação entre estes dois fatores já foi comprovada: em cidades onde o tempo de deslocamento é pequeno e o período gasto no congestionamento é mínimo as pessoas vivem melhor”, acrescenta.
5. Aumento na qualidade de vida
Menos carros nas ruas levam a ambientes urbanos mais agradáveis, com menos poluição sonora e do ar, além de mais espaços públicos para as pessoas, tornando as cidades ambientes mais agradáveis e sustentáveis para se viver.
Essa substituição é uma fórmula eficaz para uma cidade mais saudável e feliz. Menos tráfego, ar mais limpo, espaços públicos acolhedores e uma população mais ativa promovem uma melhora significativa na qualidade de vida urbana”, finaliza o executivo.
Palavra de Especialista
Negar o valor da micromobilidade elétrica é um erro
Por Renata Falzoni*
Cidades sustentáveis e acessíveis não dependem de carros para funcionar. Elas oferecem estruturas para a livre escolha, cada um vai como quer, sendo prioridade os modos ativos combinados ao transporte coletivo.
Nessa jornada disruptiva da lógica do século 20, que priorizou veículos motorizados individuais e detonou as cidades mundo afora, o maior desafio é: Como desestimular o uso do automóvel?
Por mais que a população faça a sua parte, demande ciclovias, calçadas e transporte coletivo de qualidade, é enorme a lacuna entre a vontade politica e as melhores soluções para uma cidade.
O que entre aspas “ajuda” é a tecnologia que atropela essa lerdeza insustentável do poder executivo. Recentemente uma profusão de veículos elétricos surgiram no mercado, todos eles eficientes, mas hoje disputam o espaço daqueles que se movem a pé ou de bicicleta.
Esses artefatos de fato tiram motoristas de carros, mas locomovem-se em uma velocidade que conflita com a escala humana, então fica a pergunta: Qual a solução?
O primeiro passo já foi dado na resolução 996 de 15 de junho de 2023 do Contran, que normatiza estes veículos e em resumo descreve:
Bikes elétricas, tem que pedalar para o motor ajudar, vão até 32km/h, até mil watts de potência, acelerador de assistência até 6km/h, ficam equiparadas às bikes convencionais e podem usar ciclovias.
Equipamento individual autopropelido, com acelerador, vão até 32km/h, até mil watts de potência, medida entre os eixos até 130cm e podem usar ciclovias. Aqui estão patinetes, monociclos elétricos, skate elétricos e “bicicletas elétricas” com acelerador.
Ciclomotores (passageiro montado) e motonetas (passageiro sentado), com acelerador, velocidade até 50km/h, potência máxima de 4mil watts e o entre eixo maior que 130cm. Estes veículos precisam placas e requerem categoria A na CNH, ou autorização ACC e não podem rodar na ciclovia.
Agora falta o segundo passo que é a regulamentação municipal. Repito, estes veículos tiram carros das ruas, mas a disputa por espaço acirrou. Por omissão de prefeituras como aqui em São Paulo, todos que não carros ou motos, refugiam-se em ciclovias, até os pedestres.
Conclusão, o ambiente que deveria ser de proteção aos que vão de bicicleta, está ainda mais inseguro, numa disputa desigual, com veículos velozes e pesados, pilotados por cidadãos que saíram de automóveis, mas trouxeram consigo o acelerador e a mentalidade de intimidar a pessoa ao lado, usando seu carro como arma.
Educação é importante, mas não é tudo. Falta a normatização e fiscalização de uso nas ciclovias pelas prefeituras, velocidade máxima permitida ser bem menor que 32 km/h, mais a necessária inclusão destes veículos nas ruas da cidade.
O correto, até pelo artigo 9 da resolução do Contram, é adaptar as avenidas da cidade para que a velocidade máxima na pista da direita não exceda 40 km/h e com isso retomar um trabalho de acalmamento de trânsito que, no caso de São Paulo, foi abandonado por uma opção política.
Com isso motonetas e ciclomotores poderiam circular pelas ruas da cidade e ajudar no processo de educação cidadã pelo compartilhamento de vias.
Reduzir a velocidade máxima nas ruas além de salvar vidas, melhora a fluidez dos veículos, pois aumenta a velocidade média do sistema. Assim, mais e mais motoristas seriam atraídos a deixar seus carros em casa e moverem-se de forma mais eficiente pela cidade. O que falta além de visão e vontade política? Inteligência de nossos gestores.
Renata Falzoni é jornalista, arquiteta e cicloativista. Trocou o carro pela bicicleta há mais de 40 anos e é uma das defensoras da mobilidade ativa. Faz parte da Coalizão Nacional Supra Partidária pela Bicicleta
Como as e-bikes podem revolucionar o transporte nas grandes cidades
*Gabriel Arcon, CEO da E-Moving
Nas últimas décadas, as grandes cidades têm enfrentado desafios significativos no transporte urbano – como congestionamentos, poluição do ar e problemas de mobilidade, que têm se tornado cada vez mais comuns. Em resposta a essas questões, surge uma revolução ainda silenciosa, mas poderosa: a micromobilidade. As bicicletas elétricas, ou e-bikes, têm ganhado destaque como alternativa viável e sustentável para a locomoção.
Segundo a Associação de Brasileira do Setor de Bikes (Aliança Bike), o mercado de bicicletas elétricas alcançou mais de 44,8 mil unidades vendidas em 2022, alta de 9,64% em comparação com 2021. Conforme a Aliança Bike, o volume das vendas no ano passado foi de R$ 304,9 milhões. As projeções para 2023 são de crescimento seguem positivas, com estimativa de 53,4 mil veículos vendidos, aumento de 27%.
A mudança na arquitetura urbana das grandes cidades com a presença das e-bikes ficou mais perceptível. E infraestruturas de transporte estão sendo ajustadas para acomodar essa nova forma de mobilidade, um exemplo disso são ciclovias que estão sendo expandidas e redesenhadas para atender às necessidades das e-bikes, garantindo segurança dos ciclistas e encorajando o uso desses veículos, de acordo com Prefeitura de São Paulo serão 1.000 km de extensão da rede até o final de 2024.
Além disso, as bicicletas elétricas contribuem para reduzir o volume de estacionamentos para carros e motos, ampliando diversos outros espaços nas cidades. Essa transformação na paisagem urbana fica mais harmoniosa e atrativa para a população, bem como também reduz o congestionamento e, consequentemente, a poluição atmosférica, tornando as ruas mais sustentáveis e agradáveis de circular.
Impacto na vida das pessoas
A crescente aquisição das e-bikes vem transformando a maneira como as pessoas se locomovem no dia a dia, pois oferecem uma opção de transporte ágil, eficiente e ecologicamente responsável. Com a ajuda da assistência elétrica, as e-bikes se tornam acessíveis e atrativas, mesmo para aqueles que não são entusiastas do ciclismo, já estão optando por deixar seus carros em casa e escolher a bicicleta elétrica como meio de transporte para o trabalho, a escola ou atividades de lazer
O impacto dessa mudança no dia a dia das pessoas é profundo. As bicicletas elétricas oferecem uma locomoção ágil e eficiente por grandes cidades como São Paulo – onde há predominância de planaltos, trazendo, ainda, economia de tempo e dinheiro. Além disso, esses veículos eletrificados estimulam um estilo de vida mais ativo, promovendo saúde e bem-estar para as pessoas
A revolução da micromobilidade não condiz apenas na transformação visual das cidades ou na mudança de comportamento das pessoas, mas também tem um impacto social positivo e de grande relevância. As bikes elétricas possuem potencial de democratizar o transporte, tornando-o acessível para um público mais amplo, incluindo aqueles que não podem dirigir ou não possuem automóveis
Além disso, as e-bikes podem contribuir para reduzir a desigualdade no acesso ao transporte público. Em vários municípios, especialmente em áreas menos privilegiadas, o sistema de locomoção pública é considerado insuficiente ou inadequado. E as e-bikes surgem como uma alternativa eficiente, permitindo que as pessoas se desloquem de maneira prática, independentemente de onde moram
Concluindo, as bicicletas elétricas desempenham um papel crucial na revolução da micro mobilidade, visando a transformação do transporte nas grandes cidades. Seu impacto na arquitetura urbana, no cotidiano das pessoas e na sociedade como um todo é visível e benéfico. À medida que as cidades continuam a se adaptar e a investir em infraestruturas para bicicletas elétricas, podemos esperar que essa tendência se fortaleça, e que as cidades se tornem mais sustentáveis, acessíveis e habitáveis para todos os seus habitantes. A revolução da mobilidade urbana está apenas começando, e as e-bikes estão liderando essa ‘virada de chave’.
* Gabriel Arcon é CEO e Co-Founder da E-Moving Mobilidade Urbana
Com Assessorias