Passaram-se exatamente 365 dias desde que o temido coronavírus fez sua primeira vítima no Brasil – um homem que viajara à Itália. Às vésperas de completar um ano de pandemia, o país ultrapassou a triste marca de 250 mil mortes por Covid-19. E a perspectiva daqui para frente não é nada otimista, na análise de epidemiologistas, infectologistas e demais profissionais de saúde que avaliam a pior crise sanitária dos últimos 100 anos.

Na quinta-feira (25/2), o país registrou o recorde de novas mortes causadas pela doença nas últimas 24 horas: 1.582. O número total de casos de infecção pelo coronavírus já passa de 10 milhões e a pandemia avança, agravada pelas novas variantes que se alastram por diversas regiões do Brasil e pela epidemia de negacionismo lançada pelo (des)presidente Jair Bolsonaro desde o começo da crise sanitária e que viraliza a cada dia.

Enquanto isso, o novo Boletim Observatório Covid-19 da Fiocruz acendeu novo alerta vermelho. De acordo com dados apurados em 22 de fevereiro, as taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos revelam o pior cenário por conta da dispersão no país. São 12 estados e o Distrito Federal na zona de alerta crítica (≥80%) e 17 capitais (que concentram recursos de saúde e também populações) com taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos de pelo menos 80%. 

A edição apresenta dados estratégicos que confirmam a formação de um patamar de intensa transmissão da Covid-19 no país, demonstrados por diversos indicadores da epidemia. A análise é referente às semanas epidemiológicas 5, 6 e 7 de 2021, que abrangem o período de 31 de janeiro a 20 de fevereiro.

O Brasil apresentou uma média de 46 mil casos, valor mais elevado que o verificado em meados do ano passado, e média de 1.020 óbitos por dia ao longo das primeiras semanas de fevereiro. Nenhum estado apresentou tendência de queda no número de casos e óbitos”, destaca o documento. As incidências de Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG) no país permanecem em nível muito alto em todos os estados. 

Com base nesses dados, os pesquisadores colocam também em pauta o chamado “novo normal”, destacando os já conhecidos desafios, como a sobrecarga do sistema de saúde e de seus profissionais, e a necessidade de adoção de medidas não-farmacológicas para reduzir a velocidade da propagação. Novos desafios, com o lento processo de vacinação e o surgimento das novas variantes do vírus e as incertezas que elas ainda trazem, ampliam ainda mais a necessidade de romper, ou desacelerar, a rede de transmissão do vírus por meio de medidas preventivas não-farmacológicas.

A gravidade deste cenário não pode ser naturalizada e nem tratada como um novo normal. Mais do que nunca urge combinar medidas amplas e envolvendo todos os setores da sociedade e integradas nos diferentes níveis de governo”, afirmam os pesquisadores no documento (veja aqui na íntegra). 

Ministério da Saúde ignora mortes e ‘comemora’ número de recuperados

Enquanto isso, o Ministério da Saúde, em seu imaginário país das maravilhas, divulga para a imprensa no final da tarde de sexta-feira que o “Brasil registra 9.355.974 milhões de pessoas recuperadas, número superior à quantidade de casos ativos (846.821), ou seja, pessoas que estão em acompanhamento médico”.

Ainda segundo a pasta, que não faz qualquer correlação com o resto do mundo – como se o país vivesse isolado -, “o registro de pessoas curadas já representa a grande maioria do total de casos acumulados (89,5%). As informações foram atualizadas às 17h30 desta sexta-feira (26/02) e enviadas pelas secretarias estaduais e municipais de Saúde.

No rodapé do “release oficial”, a realidade escancarada. “Neste momento, o Brasil registra 10.455.630 milhões de casos confirmados da doença, sendo 65.169 registrados nos sistemas nacionais nas últimas 24h. Em relação aos óbitos, o Brasil tem 252.835 mortes por coronavírus. Nas últimas 24h, foram registrados 1.337 óbitos nos sistemas oficiais, sendo que 910 óbitos ocorreram nos últimos três dias. Outros 2.869 permanecem em investigação”.

Já à noite, a pasta divulgou que o novo Boletim Epidemiológico sobre a Covid-19, curiosamente, apresentou queda no número de óbitos e aumento nos novos casos da doença entre os dias 14 e 20 de fevereiro de 2021 (Semana Epidemiológica 7) em comparação com a semana anterior. O documento mostra que o cenário epidemiológico da Covid-19 é heterogêneo entre as diferentes regiões do país. Leia mais.

O Ministério da Saúde informou ainda que prepara a entrega de mais um lote de vacinas contra a Covid-19 aos estados e Distrito Federal. A pasta espera receber do Instituto Butantan mais 2,7 milhões de doses da Coronavac até este domingo (28/02). Somente a partir da definição do quantitativo total de doses e previsão de entrega é que o Programa Nacional de Imunizações (PNI) iniciará o planejamento e a logística do esquema de distribuição, a ser “realizado de forma proporcional e igualitária às 27 Unidades da Federação”. Leia mais.

InfoGripe: situação da SRAG no país se mantém heterogênea

Realizado pela Fiocruz, o Boletim InfoGripe mostra que oito dos 27 estados brasileiros apresentam sinal de crescimento e seis tendência de queda de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e de Covid-19. Referente à Semana Epidemiológica 7 (período de 14 a 20 de fevereiro), a análise mostra que, apesar dos sinais de queda, todas as regiões se encontram na zona de risco.

O pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe, ressalta que o cenário indica oscilação em torno de um platô. Embora haja tendência de queda em alguns estados,  o crescimento em outros mantém a curva do país em situação de oscilação. Além disso, alerta Gomes, a ocorrência de casos e de óbitos continua em níveis muito altos.

Segundo a análise, de 2020 até a presente atualização, há um total de 794.500 casos reportados. Destes, 92.685 casos são referentes ao ano epidemiológico 2021, sendo 51.553 (55,6%) com resultado laboratorial positivo para algum vírus respiratório, 15.046 (16,2%) negativos, e ao menos 16.675 (18,0%) aguardando resultado laboratorial. Dentre os positivos, 0,6% eram de vírus sincicial respiratório (VSR); e 95,4% de Sars-CoV-2 (Covid-19), sendo 0,0% para Influenza A e B.

Tendência de crescimento de longo prazo nos estados

Ceará, Santa Catarina e Tocantins apresentam sinal forte (probabilidade maior que 95%) de crescimento na tendência de longo prazo. Bahia, Espírito Santo, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Sul mostram sinal moderado (probabilidade maior que 75%) de crescimento na tendência de longo prazo (seis meses).

Ceará e Paraíba acumulam cerca de seis semanas consecutivas com sinal de crescimento, enquanto Tocantins apresenta cinco semanas consecutivas com tendência de crescimento.

“Alagoas, Goiás, Maranhão e Rondônia, embora estejam com sinal de estabilidade na tendência de longo prazo para a Semana Epidemiológica 7, vêm de longo período de crescimento”, observa o pesquisador.

Nos estados de Santa Catarina e Tocantins, todas as macrorregiões de saúde encontram-se em situação de crescimento na tendência de longo prazo. No Ceará, quatro das cinco macrorregiões apresentam sinal forte de crescimento.

Com Agência Fiocruz e Ministério da Saúde

Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!
Shares:

Related Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *