Todo dia, em média, 265 brasileiros são internados no Sistema Único de Saúde (SUS) por complicações graves relacionadas ao câncer de intestino – cientificamente chamado de câncer colorretal, ou câncer de intestino/cólon e câncer de reto. No ano passado, esse número atingiu o maior patamar da década, e dados preliminares sobre óbitos pela doença indicam que, em 2021 — último dado disponível –, a tendência também é de recorde histórico.
É o que mostra um levantamento realizado pelas Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (Sobed), Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) e Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG). Diagnosticado em celebridades como Preta Gil, Simony e Pelé, o câncer colorretal, conhecido popularmente como câncer de intestino, com viés de alta de óbitos prematuros, é o tema das campanhas de saúde do Março Azul, promovido pelas três entidades médicas para conscientização e prevenção da doença.
Segundo os médicos, os registros de internação trazem números alarmantes: foram 768.663 hospitalizações só no SUS para o tratamento dessa doença entre 2013 e 2022, com impacto financeiro e prejuízos imensuráveis para milhares de famílias brasileiras. Já os dados de mortalidade decorrentes desse tipo de neoplasia indicam que, somente em 2021, foram registrados 19.924 óbitos por câncer do cólon, da junção retossigmoide e do reto.
Aumento de internações em 21 estados na pandemia
A partir das bases oficiais de informação, as entidades médicas conseguiram identificar o impacto da doença no atendimento hospitalar. Apesar da pandemia de Covid-19, que, em muitos casos, baixou o número de internações decorrentes de outras doenças, no ano passado houve aumento nas hospitalizações para tratamento de câncer de intestino em 21 estados brasileiros. O maior aumento proporcional aconteceu em Mato Grosso, onde a quantidade de internações passou de 917, em 2020, para 1.385, em 2022 — salto de 51%.
Ao longo da série histórica, em valores absolutos São Paulo aparece como o estado com mais registros: foram 178.355 hospitalizações. Na segunda posição, figura o Paraná, com 108.296 ocorrências. Logo após, Minas Gerais com 105.441 internações de pacientes para tratamento de câncer de intestino. Na quarta e quinta posição, estão respectivamente: Rio Grande do Sul (78.140 casos) e Santa Catarina (48.995).
Segunda posição em incidência na população brasileira
Estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca) mostram que o número de óbitos por câncer de intestino, entre pessoas de 30 a 69 anos, pode aumentar 10% até 2030. O órgão projeta em 45.630 o número de novos casos no Brasil para o triênio de 2023 a 2025. Se vierem a se confirmar tais projeções, a doença alcançará um contingente superior a 136 mil pessoas. Segundo o Inca, o risco estimado é de 21,10 casos por 100 mil habitantes: sendo 21.970 casos entre os homens e 23.660 casos entre as mulheres.
Os números foram divulgados pela SOBED, SBCP e FBG, que uniram esforços para alertar os brasileiros para a importância do diagnóstico e do tratamento precoces para esta doença. Apesar de pouco discutida, a doença — que atinge o reto e intestino — já ocupa lugar de destaque entre as neoplasias mais letais para homens e mulheres no Brasil.
Março Azul: campanha nacional alerta para doença
O alerta dos médicosvem embalado pela campanha nacional de conscientização e prevenção ao câncer de intestino, também chamada de Março Azul. Em 2023, com o slogan “Saúde é prevenção. Cuide de você, evite o câncer de intestino”, os especialistas chamam a atenção dos brasileiros sobre a necessidade de conjugar prevenção, diagnóstico e tratamento precoces deste tipo de neoplasia.
Segundo o coordenador da campanha, Marcelo Averbach, o Brasil precisa investir em ações de prevenção e, assim, evitar que pacientes precisem ser internados.
“Existem métodos diagnósticos de menor complexidade e que podem ser oferecidos de forma sistematizada pelo SUS para rastrear pacientes mais propensos a desenvolver esse tipo de câncer. Quando alterações no reto e intestino são diagnosticadas em estágios iniciais, há possibilidade de intervir precocemente e prevenir uma evolução desfavorável, na maioria dos casos”, explica.
Por apresentar poucos sinais em estágios iniciais, o câncer de intestino deve ser rastreado periodicamente em homens e mulheres, a partir dos 45 anos de idade. Essa investigação acontece, basicamente, por meio da realização de dois exames, que podem ser decisivos para salvar a vida do paciente: a pesquisa de sangue oculto nas fezes e a colonoscopia.
‘Diagnóstico não é sentença de morte’, diz médico
A boa notícia é que o diagnóstico precoce é fundamental e amplia em até 95% as chances de cura. “O diagnóstico de câncer colorretal não é sentença de morte! No entanto, é um problema de saúde que, se não for bem tratado, pode ter consequências sérias para o bem-estar do paciente”, alerta o médico Marcelo Averbach.
Para ele, além de serviços que ofereçam acesso ao atendimento qualificado no diagnóstico e no tratamento, é preciso investir em estratégias de prevenção. “Quanto mais cedo forem descobertos, maiores são as possibilidades de intervenção e cura”.
Segundo o presidente da SBCP, o coloproctologista Antônio Lacerda Filho, a partir dos 45 anos é importante procurar um médico para avaliar a saúde do intestino.
“Cerca de 90% dos casos de câncer de intestino têm origem a partir de um pólipo, tipo de lesão na mucosa do intestino que pode se transformar em câncer. Em uma colonoscopia esses pólipos podem ser retirados prevenindo, assim, a doença”, afirma. “Se você tem pai, mãe ou irmãos que tiveram a doença, é importante a avaliação antes mesmo dos 45 anos”.
“Pessoas com doenças inflamatórias intestinais, como retocolite ulcerativa e doença de Crohn, têm o risco aumentado para o câncer de intestino“, complementa o gastroenterologista Sergio Pessoa, presidente da FBG. “Uma parcela dos pacientes pode não apresentar qualquer tipo de sintomatologia nas fases iniciais da doença, por isso a importância dos exames diagnósticos”.
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