Em entrevista à Folha de S. Paulo, publicada neste domingo (27), Xuxa Meneghel relembrou um episódio de abuso sexual que sofreu na infância. A apresentadora disse ter desejo de fazer regressão através da hipnose para reconhecer o abusador. “Eu não sei quem era [o abusador], o que aconteceu, como aconteceu. Queria muito descobrir, fazer hipnose, regressão. Não vai adiantar nada, seria só pra saber” contou. Mas será mesmo que a hipnose poderia ajudar casos como esse?
A psicóloga Miriam Farias, especialista em hipnose clínica, garante ser possível regredir até o útero materno. “É possível investigar traumas de infância desde o útero da mãe”. Miriam ainda explica que a terapia com hipnose é focal e em relação as terapias convencionais é considerado uma terapia breve. “O tratamento ajuda na solução de quadros complexos, como traumas de relacionamentos abusivos, agressão física, sexual, ou emocional”, ressalta.
A especialista em hipnose conta como vivem as pessoas com transtorno de estresse pós- traumático (TEPT). “Ocorrem flashes com a presença de pensamentos invasivos e lembranças persistentes, muitos sonhos e até pesadelos sobre o fato ocorrido levando o paciente a reviver a experiência traumática. O indivíduo muitas vezes acorda assustado. Na verdade ele fica preso à experiência traumática como se tudo fosse acontecer novamente a qualquer momento. Isso tudo causa muito sofrimento físico, mental e principalmente emocional, podendo gerar sequelas para o resto da vida de uma pessoa que sofreu abusos físicos ou emocionais”, avalia a especialista.
Miriam Farias desmistifica a aplicação da hipnose clínica:
1 – É possível regredir através da hipnose clínica para descobrir à origem de traumas como os abusos sofrido pela apresentadora Xuxa Meneghel ?
A regressão é uma técnica muito utilizada dentro da hipnose e o objetivo principal é investigar, saber o que houve. Quando a pessoa sofre um abuso, ela passa por um sofrimento tão grande que não quer nem falar sobre o assunto, somente em falar já causa desconforto e mal- estar. Como na hipnose a pessoa fica em um estado de relaxamento profundo, as defesas do inconsciente diminuem, então aflora o conteúdo que está lá dentro guardado e quando surgem às emoções atreladas ao fato traumático é tratado e o sofrimento diminui significativamente, em alguns casos até totalmente. Os pacientes que são mais suscetíveis a hipnose, respondem melhor e mais rápido ao tratamento.
2 – Quais são os benefícios da hipnose para a pessoa que sofreu o abuso e convive com o trauma?
Na primeira sessão é realizado um teste de suscetibilidade para verificar se a pessoa responde bem a hipnose. Com aqueles mais suscetíveis, é possível ficar livre de todo sofrimento provocado pelo abuso. Os benefícios são de origem emocional, as emoções que surgem na hora da regressão, são tratadas, e a pessoa se sente melhor consigo mesma, com o seu corpo, e livre do sofrimento psicológico.
3 – Mesmo que o caso tenha acontecido na primeira infância, e na vida adulta a pessoa que passou pelo trauma não tenha a clareza das memórias, é possível reviver a situação e superar o sofrimento que se prolongou durante toda a vida?
A pessoa que passou por abuso, no tratamento com hipnose, quando vem alguma lembrança geralmente é rica em detalhes e fatos. A emoção é atemporal, uma vivencia da infância pode causar danos por toda vida. Na hipnose, através da regressão, é possível reviver o fato, com ajuda do psicólogo que faz hipnose será ressignificado o sofrimento da infância, é vivenciado um novo sentido para a experiência traumática e, no presente, a pessoa fica livre e liberta de todo sofrimento do passado. A memória não é apagada, mas a intensidade das emoções relacionadas ao fato diminuem e a pessoa tende a não pensar ou sofrer pelo ocorrido.
Confira na íntegra o desabafo da apresentadora:
“[A pedofilia] é uma praga, uma doença. Isso não vai acabar. A primeira vez que aconteceu comigo eu era muito, muito nova. Devia ter entre quatro e cinco anos. E eu acordei falando que alguém tinha feito xixi na minha boca. E a minha mãe, todo mundo: “ Você sonhou, imagina!”.
“Eu não sei quem era [o abusador], o que aconteceu, como aconteceu. Queria muito descobrir, fazer hipnose, regressão. Não vai adiantar nada, seria só pra saber”. Me vem uma coisa de cheiro, a pessoa tinha cheiro de bebida. E me lembro de alguma coisa com barba. O resto eu não me lembro.
Quando eu era pequena, eu imaginava que a culpada era sempre eu. Porque eu acabava chamando essas coisas pra perto de mim. E hoje eu tenho alguns costumes. Tomo dois, três banhos por dia. Tenho coisas truncadas aí, mal resolvidas.
As pessoas não querem ouvir as crianças [vítimas de abuso]. Elas não têm voz. Já é difícil e, quando falam, perguntam: “Tem certeza disso? Realmente aconteceu? O que você fez pra isso acontecer?”.
Mais informações: http://miriamhipnose.com/