Ainda não há dados sobre o número de voluntários da causa no Brasil, mas essa equipe é fundamental na atenção integral às crianças e adolescentes com câncer e seus familiares. São 8.460 pacientes de 1 a 19 anos diagnosticados com câncer no país todos os anos, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), e boa parte deles são de famílias que necessitam desse apoio.
Neste Dia Nacional do Voluntariado, comemorado em 28 de agosto, a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope) presta homenagem em forma de agradecimento a esse trabalho, hoje totalmente incorporado e essencial à causa do câncer infantil.
Segundo a Sobope, em hospitais especializados ou organizações não governamentais (ONGs) de atendimento a pacientes e familiares, os voluntários auxiliam de diversas formas, na captação de recursos, no acolhimento, na realização de atividades lúdicas, recreativas e educativas, entre outras ações.
Perfil do voluntário na causa do câncer infantil
Para exercer o voluntariado, é necessário ter um perfil para trabalhar com crianças e adolescentes em tratamento do câncer. O psicólogo Nicholas Martins Areco, chefe da unidade de psicologia em oncologia pediátrica do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, explica que cada instituição tem uma dinâmica.
“A pessoa que se sente sensibilizada pode procurar o serviço ou instituição mais próxima. Em geral, ela passa por uma entrevista em que é feita uma triagem para saber, por exemplo, se ela tem tempo para se dedicar ou se está emocionalmente apta naquele momento da vida dela.”, explica.
Segundo ele, o voluntário possui funções importantes ao dedicar seu tempo para os pacientes e familiares que, diante da dor decorrente do diagnóstico, do tratamento ou mesmo da morte, necessitam de uma rede de apoio.
Após a entrevista, o novo voluntário recebe um treinamento no qual tem a oportunidade de desenvolver habilidades fundamentais, como a escuta ativa, o acolhimento e a comunicação interpessoal e valores, como o respeito. “Para lidar com crianças e adolescentes, é preciso aprender a ser dinâmico e ser aberto às diferentes visões de mundo das famílias, sem deixar de estar sintonizado com o discurso técnico e científico”, coloca Areco, e complementa: “O treinamento não é uma profissionalização”.
Geralmente, são as mulheres que mais se dispõem a auxiliar, também há estudantes e pessoas que já tiveram casos de câncer na família. Há, ainda, pessoas que participam de campanhas específicas. Todas têm 18 anos ou mais.
“Mas se a pessoa não tem um perfil para atuar com crianças e adolescentes com câncer, pode ser de grande valia no cuidado com pessoas com outras doenças e com outros públicos, como os idosos”, conclui Areco. Ele também é doutor em psicologia e já trabalhou por três anos diretamente com voluntários na área de oncologia em uma instituição social.
Instituições de apoio a pacientes oncológicos
Inúmeras instituições espalhadas pelo Brasil prestam suporte aos pacientes oncológicos pediátricos e suas famílias. Muitas delas contam com o voluntariado para seu funcionamento. A atuação dessas instituições é imprescindível no tratamento do câncer infantojuvenil, pois complementa o trabalho da equipe multidisciplinar de saúde.
Segundo a psicóloga Arli Pedrosa, membro há vinte anos do Comitê Multidisciplinar da Sobope, “existem atividades que precisam contar com voluntários, que chegam até onde os braços dos profissionais de saúde não alcançam e assumem um compromisso com as crianças e as famílias. Portanto, realizam uma atividade que é socialmente responsável”.
Como exemplo desta atuação, Arli cita a ONG Núcleo de Apoio à Criança com Câncer (NACC), de Recife (PE), na qual trabalha há 36 anos, atualmente como diretora. A instituição conta com cerca de 1.800 voluntários cadastrados que auxiliam no acolhimento dos pacientes e das famílias que vêm para a capital pernambucana de cidades do Estado e de toda a região Nordeste e Norte do país. “Até 80% dessas pessoas não são de Recife e a instituição oferece local para repousarem, alimentação, transporte e serviços de saúde”, explica ela.
A Sobope agradece imensamente a todas as pessoas que doam recursos, afeto, alívio, conforto, entretenimento, alegria e amor aos nossos pequenos e aos seus familiares, e deseja que essas horas compartilhadas sejam convertidas nas realizações pessoais almejadas por cada um. Ressaltamos que, além dos profissionais de saúde que trabalham com crianças e jovens em tratamento do câncer, os voluntários são bem vindos e têm direito a voz no Comitê Multidisciplinar da Sobope”, diz a entidade.
“Como oncologista pediátrica e cidadã, a porta-voz da Sobope, Flávia Delgado Martins, diz reconhecer o valor inestimável do trabalho executado por todos os voluntários, não apenas aqueles envolvidos com o tratamento oncológico infanto juvenil. “Ao oferecermos o melhor de nós mesmos a quem precisa, sem a expectativa de retorno financeiro, somos presenteados com o contentamento genuíno de quem reconhece no outro seu semelhante, o que proporciona a sensação de pertencimento à causa comum do Bem Maior. Gratidão!”, finaliza.