Estudos recentes realizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que 13 milhões de crianças, com idade entre cinco e quinze anos, apresentam erros refrativos, como a miopia, que podem afetar o comportamento em sala de aula e o rendimento escolar.
Dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) revelam que cerca de 20% das crianças em idade escolar apresentam problemas de visão. Dentre as alterações visuais mais comuns nessa faixa etária estão miopia, hipermetropia e astigmatismo.
Atenção aos sinais de problemas visuais
A médica oftalmologista Andrea Greco, especialista em Estrabismo e Oftalmopediatria, e consultora da Rodenstock Brasil, destaca que a miopia é ainda mais preocupante em crianças com histórico familiar. “Crianças com pais míopes têm maior risco de desenvolver a condição, e a progressão pode ser rápida. Estudos mostram que ter um dos pais míopes triplica o risco de desenvolvimento da miopia, enquanto ter ambos os pais aumenta o risco em sete vezes. Por isso, controlar a miopia na infância é essencial para preservar a saúde ocular a longo prazo e evitar complicações futuras”, explica.
A oftalmologista ressalta que sinais como dificuldade para enxergar a lousa, dores de cabeça frequentes, cansaço ocular e irritação nos olhos podem indicar problemas de visão. “No entanto, muitas crianças não percebem ou não conseguem expressar essas dificuldades em sua rotina diária. É por isso que o papel dos pais e dos exames oftalmológicos regulares são tão importantes”, reforça Greco.
Dificuldades no desempenho escolar podem ser sinais de problemas de visão
Fernando Ramalho, especialista em cirurgia refrativa no Oftalmos – Hospital de Olhos, da Vision One, em Santa Catarina, alerta que o mau desempenho escolar pode ser um indicativo de problemas de visão.
É muito comum que os pais associem o baixo rendimento escolar de seus filhos a mau comportamento. No entanto, é essencial estar atento a problemas de visão que podem interferir diretamente nesse desempenho. Os mais comuns são miopia, estrabismo, astigmatismo e hipermetropia”, explica o especialista.
De acordo com Ramalho, as crianças e adolescentes podem não perceber ou relatar dificuldades para enxergar, já que muitas vezes consideram a visão prejudicada como algo normal. “Por isso, é recomendável que os pais ou responsáveis levem os filhos para consultas regulares com o oftalmologista, especialmente antes do início do ano letivo. Essa atitude preventiva pode fazer toda a diferença no aprendizado e no bem-estar da criança”, reforça.
Além disso, sintomas como dores de cabeça frequentes, cansaço ao ler ou escrever, dificuldade para copiar conteúdos do quadro e até a necessidade de aproximar objetos para enxergar melhor são sinais de alerta que não devem ser ignorados.
O check-up oftalmológico é simples, rápido e pode diagnosticar condições que, se tratadas precocemente, evitam prejuízos no desempenho escolar e no desenvolvimento geral dos jovens. “Quanto mais cedo o problema for detectado, mais eficaz será o tratamento. Investir na saúde ocular é investir no futuro das crianças”, conclui o especialista.
Fazer da consulta ao oftalmologista parte do planejamento de volta às aulas pode garantir que os estudantes tenham um ano letivo mais produtivo e saudável.
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Atenção para as dificuldades de aprendizagem
O oftalmologista Álvaro Dantas alerta que problemas no aprendizado ou desinteresse em determinadas atividades escolares podem ser sinais de complicações oculares.
Alterações visuais são bastante comuns na infância e podem impactar diretamente no aprendizado. Se a criança enxerga mal, ela absorve mal o conhecimento que é passado e isso pode trazer repercussões importantes.”
Segundo Dantas, o estrabismo, popularmente conhecido como olho desviado, também figura como um quadro comum na infância e mais fácil de perceber. “É um sinal de alerta muito importante porque pode haver um problema sério em um dos olhos que precisa de tratamento imediato para evitar outra doença que estamos sempre muito atentos: a ambliopia ou olho preguiçoso.”
Se a criança tem uma deficiência em um dos olhos e isso não é detectado a tempo, a falta de tratamento faz com que aquele olho não desenvolva sua capacidade visual e isso só tem solução até os 8 anos de idade. Se não for feito nessa época, essa criança pode se tornar um adulto com uma deficiência eterna em um dos olhos. Por causa de diagnóstico e tratamento a tempo.”
O oftalmologista destaca que a visão desempenha papel fundamental no processo de aprendizagem e que, quando a criança tem dificuldade para enxergar, pode perder informações importantes em sala de aula, ficar desmotivada ou mesmo apresentar falta de concentração. “Isso pode levar a uma queda no rendimento escolar e, em alguns casos, ser confundido com alguns transtornos de aprendizado ou déficit de atenção”.
Essas crianças também podem ficar estigmatizadas e podem ser vítimas de bullying. É algo que pode acontecer. Tudo isso provocado por uma deficiência visual. O estrabismo e a ambliopia podem afetar a coordenação visual e ela pode ter muita dificuldade nas práticas esportivas. Por isso, identificar e tratar precocemente esses problemas é essencial para garantir um aprendizado pleno e sem dificuldades desnecessárias.”
O médico lembra que, muitas vezes, a própria criança não é capaz de perceber que tem um problema de visão, já que nunca enxergou as coisas de outra forma. “Para ela, aquela percepção visual é o normal”.
Fique atento aos sinais
Quais são os sinais que evidenciam uma condição suspeita na visão? Que tipos de doenças podem acometer crianças? Existem óculos especiais para crianças? Oftalmologista explica tudo sobre questões oftalmológicas infantis. Para Dr Álvaro, é fundamental que pais e professores fiquem atentos aos seguintes sinais:
– se aproximar muito de livros, cadernos e telas;
– dificuldade para enxergar o quadro ou copiar conteúdos corretamente;
– se queixar frequentemente de dor de cabeça ou cansaço ocular;
– lacrimejamento excessivo ou sensibilidade à luz;
– desinteresse por atividades que exigem esforço visual, como leitura e desenho;
– e tendência a piscar excessivamente ou esfregar os olhos com frequência.
Ao notar qualquer um desses sinais, a orientação é levar a criança o quanto antes ao oftalmologista para uma avaliação. O ideal, segundo o médico, é que toda criança passe por um exame oftalmológico completo ainda no primeiro ano de vida, quando é possível diagnosticar problemas congênitos, como catarata, glaucoma e até mesmo o retinoblastoma, câncer que atinge a região dos olhos.
O diagnóstico tardio pode levar à perda de um olho e, até mesmo, à morte. É um tipo de câncer que, dependendo da fase diagnóstica, pode ter alta letalidade. A partir da idade escolar, o recomendado é manter o acompanhamento anual ou conforme a orientação do oftalmologista, especialmente se houver qualquer histórico de problemas de visão na família.”
Na adolescência, segundo Dantas, a rotina de consultas anuais podem ser mantida, mas há também a possibilidade de consultas a cada dois anos, a depender da saúde ocular do jovem. “Em casos de miopia progressiva que, hoje em dia, está cada vez mais comum – a gente vive uma epidemia de miopia –, esse acompanhamento pode ser mais precoce para evitar vários problemas futuros”.
A miopia, sem dúvida alguma, é um dos problemas que a gente mais tem preocupação porque tem solução e tem tratamento eficiente. Só se consegue um diagnóstico preciso indo ao oftalmologista. A miopia progressiva pode ser controlada com medidas adequadas pra evitar o aumento exagerado do grau. Hoje, temos várias orientações, óculos especiais e alguns colírios que podem interferir na evolução da miopia”, explicou.
“Crianças que enxergam bem têm melhor desenvolvimento acadêmico e social. Isso evita frustrações e dificuldades no aprendizado. Por isso, o acompanhamento oftalmológico regular é um investimento na saúde e no futuro nas crianças. É graças a um bom atendimento nessa fase da vida que a gente vai ter adultos enxergando bem e sem graves problemas.”
Efeitos da luz azul: fato ou boato?![](data:image/svg+xml,%3Csvg%20xmlns='http://www.w3.org/2000/svg'%20viewBox='0%200%200%200'%3E%3C/svg%3E)
Nos últimos anos, a saúde ocular infantil tem sido um tema prioritário para especialistas em todo o mundo. Evidências mostram que as mudanças no estilo de vida moderno, como o uso excessivo de telas e a redução de atividades ao ar livre, têm aumentado significativamente os casos de miopia entre crianças.
Um levantamento publicado no British Journal of Ophthalmology revelou que a incidência global de miopia triplicou entre 1990 e 2023. Até 2050, mais de 10 milhões de crianças podem ser afetadas. Quando não controlada, pode evoluir para graus elevados e aumentar os riscos de doenças graves, como glaucoma, catarata precoce e descolamento de retina, dentre outras. Por isso, é imprescindível realizar exames oftalmológicos regulares para identificar previamente alguma deficiência.
Não há evidências científicas de que a luz proveniente das telas dos computadores seja prejudicial aos olhos. A Academia Americana de Oftalmologia não recomenda nenhum óculos especial para uso no computador”, explica a médica Claudia de Paula Faria, oftalmologista especialista em estrabismo do Hospital Albert Einstein, ao comentar sobre o surgimento de óculos que afirmam filtrar a luz azul de computadores, smartphones e tablets.
Lentes podem retardar a progressão da miopia
Após o diagnóstico dado pelo médico oftalmologista, o tratamento deve ser personalizado para cada criança. As lentes oftálmicas para óculos são consideradas ferramentas comuns para correção da visão das crianças, contudo, graças aos avanços tecnológicos dos últimos anos, a indústria óptica tem oferecido além da correção, opções que atuam para controlar e retardar a progressão da miopia.
Algumas dicas práticas podem ajudar para proteger a visão das crianças na volta às aulas:
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Agende uma consulta ao oftalmologista: Avaliações anuais são indispensáveis para monitorar a saúde ocular e diagnosticar problemas precocemente.
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Incentive brincadeiras ao ar livre: A exposição à luz natural é essencial para a saúde ocular e ajuda a reduzir o risco de miopia.
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Estabeleça limites para o uso de telas: Use a regra dos 20-20-20 (a cada 20 minutos de tela, descanse os olhos por 20 segundos olhando para um objeto a 20 pés – cerca de 6 metros).
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Escolha lentes adequadas: Invista em lentes de qualidade, que corrigem a visão ao mesmo tempo em que ajudam a controlar a progressão da miopia.
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Fique atento aos sinais: Observe queixas de dificuldade para enxergar, dores de cabeça ou mudanças no desempenho escolar.
Com Assessorias