Exercício físico é a chave para uma vida mais saudável, certo? Então, por qual motivo o mundo do esporte é abalado por tantos casos de morte súbita envolvendo jovens atletas? Embora o exercício físico seja amplamente recomendado para a manutenção de uma boa saúde, essa paradoxal realidade chama atenção para a necessidade de maior vigilância quanto às arritmias cardíacas, condição muitas vezes silenciosa que pode ser fatal.
Em agosto de 2024, o futebol uruguaio foi abalado pela trágica morte do zagueiro uruguaio Juan Izquierdo após sofrer uma arritmia cardíaca durante uma partida contra o São Paulo. Izquierdo estava em campo pelo Nacional, quando colapsou subitamente. O jogador chegou a ser internado no Hospital Albert Einstein, mas não resistiu às complicações decorrentes devido a uma arritmia cardíaca não diagnosticada anteriormente, que também afetou gravemente seu cérebro.
Casos como o de Izquierdo não são isolados. Em julho de 2024, o atleta chinês de badminton, Zhang Zhijie, de apenas 17 anos, desmaiou e morreu na quadra durante um torneio internacional na Indonésia, vítima de uma parada cardíaca súbita.
No segundo dia de 2023, o jogador Damar Hamlin, do Buffalo Bills, sofreu uma parada cardíaca após um choque com o wider receiver Tee Higgins, dos Bengals. O atleta recebeu uma massagem cardíaca em campo e aplicação de um choque elétrico (desfibrilação), após o impacto que é conhecido como commotio cordis, que levou à morte súbita cardíaca.
Em 2021, o episódio com o jogador dinamarquês Christian Eriksen, que sofreu uma parada cardíaca em pleno jogo da Eurocopa, ainda está fresco na memória de muitos. No Brasil, o caso do ex-jogador Serginho, do São Caetano, que morreu em 2004 aos 30 anos de idade durante uma partida, é outro exemplo trágico de como esse problema pode acometer atletas em plena atividade.
Coração de atletas sobre mais sobrecarga
O caso de Juan Izquierdo destaca a importância de um diagnóstico precoce e adequado de condições cardíacas, especialmente em atletas, que podem estar sob maior risco de arritmias perigosas devido ao estresse físico intenso. Exames como o eletrocardiograma (ECG) e o Holter são fundamentais para o rastreamento dessas condições, mas não garantem a detecção de todos os casos.
Esses e outros episódios levantam questões sobre a saúde dos atletas, que, apesar de levarem um estilo de vida saudável e estarem em excelente forma física, não estão imunes a problemas cardíacos fatais. “A prática de atividades físicas intensas pode, em alguns casos, desencadear arritmias em indivíduos predispostos, mesmo que sejam atletas de alta performance”, alerta Julianny Freitas Rafael, cardiologista especialista em arritmias.
A arritmia cardíaca, condição que causou a morte de Izquierdo, é uma alteração no ritmo dos batimentos cardíacos, que pode levar a sérias complicações, incluindo a morte súbita. Esse tipo de morte é definida como a parada cardíaca inesperada que ocorre em uma pessoa aparentemente saudável, geralmente dentro de uma hora após o início dos sintomas.
A morte súbita é mais comum do que se imagina, e embora muitas vezes esteja associada a doenças cardíacas preexistentes, em muitos casos, como o de Izquierdo, a condição subjacente não é diagnosticada a tempo. Estatísticas indicam que a morte súbita cardíaca é responsável por até 20% das mortes em jovens atletas, e arritmias como a fibrilação ventricular são frequentemente a causa subjacente.
Infelizmente, esses problemas cardíacos muitas vezes permanecem ocultos, pois os atletas, devido à sua excelente condição física, podem não apresentar sintomas que levem a um diagnóstico precoce.
O coração de um atleta pode sofrer sobrecarga devido ao esforço físico intenso e constante, e se houver uma predisposição genética ou uma condição cardíaca não diagnosticada, isso pode resultar em arritmias graves. Infelizmente, esses casos muitas vezes passam despercebidos até que seja tarde demais.”
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Como prevenir?
Em um ritmo normal, o coração de uma pessoa em repouso bate de 50 a 90 vezes por minuto (bpm). Quando há um descompasso, seja ele fazendo com que as batidas fiquem mais lentas, mais aceleradas ou irregulares, é caracterizada a arritmia cardíaca. Entretanto, todas as pessoas vão apresentar arritmia em alguma fase da vida, caso não tenham cuidados preventivos.
O diagnóstico precoce de arritmias e outras condições cardíacas em atletas é essencial para prevenir tragédias. Testes como o eletrocardiograma (ECG) e o ecocardiograma, podem detectar anormalidades no ritmo cardíaco, permitindo intervenções que podem salvar vidas.
O diagnóstico precoce é de extrema importância, especialmente em atletas jovens que são expostos a intensas cargas de exercício físico. Exames regulares podem detectar arritmias antes que elas se manifestem de forma fatal”, acrescenta a Dra. Julianny.
Além destes, exames mais detalhados podem ser indicados, como o Holter de 24 horas, que monitora a atividade elétrica do coração durante um dia inteiro, identificando possíveis irregularidades. De acordo com a cardiologista, “o tratamento varia conforme a gravidade da arritmia e pode incluir medicação, mudanças no estilo de vida, ou até mesmo a implantação de dispositivos como marcapassos”.
É fundamental que atletas, treinadores e equipes médicas estejam atentos aos sinais e sintomas que podem preceder uma arritmia, como palpitações, tonturas, desmaios e cansaço extremo, mesmo em atividades de baixa intensidade.
A conscientização e o acompanhamento médico regular podem salvar vidas, especialmente em um cenário onde a prevenção ainda é o melhor remédio. O coração de um atleta pode ser forte, mas não é invulnerável”, finaliza a Dra. Julianny.
Descompasso no ritmo do coração é sinal de alerta em qualquer idade
De acordo com a Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac), a arritmia cardíaca é uma disfunção que faz o coração bater mais acelerado ou mais lento do que o normal, ou ainda oscile em diferentes ritmos levando a sintomas de batedeira, cansaço, indisposição, tontura, desmaios e até a morte súbita.
É de fundamental importância que a população saiba com agir diante uma parada cardíaca, realizando um atendimento rápido e evitando maiores sequelas na vítima. Nossa missão é alertar a população sobre a importância de realizar exames preventivos e também aprender a socorrer uma vítima que esteja sofrendo uma parada cardíaca”, ressalta Ricardo Alkmim Teixeira, presidente da Sobrac.
Arritmia cardíaca pode ser benigna ou maligna – entenda
A condição é caracterizada pela alteração do ritmo normal do coração, é dividida em tipos benignos ou malignos – como a síndrome de Brugada, uma alteração genética que aumenta a predisposição do paciente à morte súbita – e pode se apresentar de duas formas: quando a frequência cardíaca está aumentada (taquiarritmia) ou baixa (bradiarritmia).
De acordo com a entidade, o impacto súbito no tórax desencadeia imediatamente uma taquicardia ventricular/ fibrilação com colapso instantâneo, apesar de não causar danos nas costelas, esterno e no próprio coração. Esse choque pode gerar alterações no fluxo elétrico do coração, iniciando um quadro de arritmia cardíaca maligna e a morte súbita.
Porém, um rápido atendimento com ressuscitação e desfibrilação pode reverter um quadro de commotio cordis. A existência de um desfibrilador acessível em locais públicos ou privados de grande circulação, como praças, parques, praias, shoppings centers, estádios de futebol, academias de ginástica e instituições de ensino, entre outros é fortemente recomendada.
O índice de sucesso na recuperação de uma parada cardiorrespiratória (PCR) depende diretamente do tempo transcorrido entre a sua ocorrência, o início das massagens cardíacas externas e a desfibrilação. As chances de sobrevivência da vítima diminuem cerca de 10% a cada minuto de atraso neste atendimento.
No canal do Youtube da Sobrac, é possível encontrar vídeos explicativos sobre as arritmias cardíacas, prevenção e como socorrer uma vítima –http://bit.ly/sobracyoutube.
Com Assessorias