A cobertura vacinal contra a gripe no Brasil atingiu um dos patamares mais baixos dos últimos anos, com apenas 31,93% do público prioritário imunizado até o dia 26 de maio, segundo dados do Ministério da Saúde. Dos 46,9 milhões de brasileiros estimados, apenas 26,7 milhões foram imunizados até aquele momento, maioria gestantes, crianças, idosos e profissionais da saúde.
O cenário preocupa infectologistas, diante do avanço das internações por vírus respiratórios, especialmente Influenza A e Vírus Sincicial Respiratório (VSR), em crianças e idosos — os grupos mais vulneráveis.
De acordo com o boletim InfoGripe da Fiocruz, referente à semana epidemiológica 20, o crescimento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) foi identificado em 20 das 27 unidades federativas. A Influenza A já responde por quase 70% dos óbitos confirmados por SRAG nas últimas quatro semanas, enquanto o VSR segue afetando de forma agressiva o público infantil.
O impacto já é evidente no sistema de saúde. Além do aumento das internações, houve elevação na ocupação de leitos pediátricos de enfermaria e UTI em estados como Rio Grande do Sul, Amazonas, Pernambuco e Bahia.
Estamos observando uma alta carga pediátrica, justamente entre os grupos que poderiam estar protegidos com uma vacina gratuita e segura”, destaca o médico infectologista Klinger Soares Faíco Filho, professor adjunto da Escola Paulista de Medicina da Unifesp.
Segundo ele, a percepção equivocada de que a gripe é uma doença leve ou inevitável, segundo o especialista, contribui para o descaso com a imunização. “É uma doença imunoprevenível com impacto direto na mortalidade hospitalar. Precisamos reforçar isso com clareza. Sete em cada dez pessoas prioritárias estão sem proteção — isso é inaceitável”, alerta Dr. Klinger.
‘Não é só mais uma gripe. É uma epidemia previsível alimentada pela inércia’
Infectologista aponta falha grave na adesão à imunização
Apresentador do InfectoCast, ele afirma que a baixa cobertura vacinal reflete uma falha sistêmica. “A população não está deixando de se vacinar por falta de acesso. O que estamos vendo é uma erosão silenciosa da cultura vacinal, agravada por campanhas fracas, ausência de busca ativa e desinformação”, afirma.
A Fiocruz também destaca a persistência da Covid-19 como segunda causa de morte por SRAG entre idosos, mesmo com número absoluto de casos em baixa, representando 8,1% dos óbitos recentes. Isso reforça a importância da integração entre vigilância epidemiológica e ações preventivas coordenadas com a atenção básica.
“Não é só mais uma gripe. É uma epidemia previsível alimentada pela inércia”, resume Dr. Klinger. A gripe, vale lembrar, é especialmente perigosa para idosos, crianças pequenas e pessoas com comorbidades. Estudos já demonstraram aumento de até 10 vezes no risco de infarto e AVC nos dias que sucedem a infecção.
‘Vacinar depois que o surto começa é apagar incêndio com copo d’água’
Outro ponto crítico apontado por especialistas é a dependência de estratégias reativas de vacinação. “Vacinar depois que o surto começa é apagar incêndio com copo d’água. A vacina da gripe leva cerca de duas semanas para gerar resposta imune. Se a cobertura está baixa agora, o impacto em hospitalizações já é praticamente inevitável”, explica o médico.
Segundo ele, o modelo brasileiro atual ainda depende fortemente de campanhas centralizadas, com ênfase em vacinação reativa diante de surtos já estabelecidos. Isso contraria as melhores práticas de saúde pública, que recomendam intervenção preemptiva baseada em dados de vigilância epidemiológica, como os oferecidos pela Fiocruz.
Entre as medidas recomendadas estão a reformulação das campanhas de comunicação com foco em risco, ampliação dos horários de vacinação, uso mais eficiente dos dados de vigilância e busca ativa por não vacinados nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Estratégia de Saúde da Família (ESF).
Estamos pagando com internações e óbitos o preço da negligência vacinal. É preciso voltar a tratar a vacinação como prioridade estratégica — e não como um evento protocolar do calendário”, finaliza o infectologista.
O papel da imunização na saúde pública
O Dia da Imunização, celebrado nesta segunda-feira, dia 9 de junho, é um lembrete importante sobre o papel fundamental das vacinas na prevenção de doenças e na saúde pública. Graças à imunização, enfermidades graves como poliomielite, influenza, covid, sarampo e rubéola foram controladas e, em alguns lugares até erradicadas.
Mais do que um direito, se vacinar é uma responsabilidade coletiva. Ao manter a carteira de vacinação em dia, protegemos não apenas a nós mesmos, mas também quem está ao nosso redor, especialmente crianças, idosos e pessoas com a saúde mais frágil.
No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado em 1973, é um dos mais completos do mundo, oferecendo vacinas gratuitas para todas as faixas etárias. Ainda assim, os índices de cobertura vacinal têm oscilado nos últimos anos, o que reacendeu o alerta para a importância da conscientização.
Com Assessorias