Para além do simbolismo da campanha Outubro Rosa, quando o foco é direcionado para a promoção do diagnóstico precoce e a prevenção da doença, é fundamental que continuemos a enfatizar, durante o ano todo, a importância do acompanhamento médico constante e do suporte emocional a toda paciente que enfrenta ou que já enfrentou a doença.

Em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, pacientes de câncer de mama atendidas no Hospital Estadual da Mulher Heloneida Studart viraram modelos por um dia. Além do acompanhamento feito por uma equipe multidisciplinar composta por médicos de diferentes especialidades, as mulheres que estão no programa participam de encontros periódicos. O último deles, realizado no início de julho, contou com uma surpresa: as pacientes receberam de presente um ensaio fotográfico.

Foi lindo, sabe? Todas ficaram encantadas. A gente se maquiou e veio pra cá para poder botar a roupa, fazer o ensaio e foi lindo. A gente amou, amou, amou! Ninguém quer ficar doente. Mulher, principalmente, com a autoestima, a vaidade. Pra gente isso é de extrema importância. Eu sou muito grata mesmo a esse projeto”, afirmou Quiucha Ferreira,  uma das pacientes contempladas pelo ensaio.

Ela relembrou que desde a descoberta do diagnóstico até o começo do tratamento, tudo aconteceu muito rápido. “Eu não tive dificuldade em nada. Os meus exames, por exemplo, em quinze dias já estavam prontos. Quando eu fui chamada pelo Sisreg (Sistema de Regulação do SUS) no hospital para começar a quimioterapia, eu já estava com os exames todos feitos.”

‘Modelos’ fazem tratamento no Hospital da Mulher

Todas as ‘modelos’ fotografadas participam do Programa Navegação de Pacientes com Câncer de Mama do Hospital Estadual da Mulher começou em 2019, com o objetivo de identificar e eliminar as barreiras que as pacientes possam encontrar no processo de tratamento, além de cumprir o prazo determinado pela lei para início do tratamento.

Navegação de Pacientes é um modelo de prestação de serviços centrado no paciente, com foco no cuidado contínuo, e que permite que ele se movimente em tempo adequado em um sistema de saúde complexo. Profissionais de diversas áreas podem ser treinados como navegadores de pacientes para intervir de forma ágil em qualquer barreira enfrentada ao longo das diversas etapas dos cuidados em saúde, melhorando assim os resultados do tratamento de mulheres com câncer de mama.

Maicon Rocha de Jesus, assistente social e navegador de pacientes com câncer de mama, explica que, com apenas um ano, o projeto conseguiu elevar de 22% para 81% o cumprimento da Lei. Ou seja, 81% das mulheres que passaram por aqui e que foram diagnosticadas com câncer de mama, conseguiram realizar o seu tratamento em até 60 dias, dentro do tempo estipulado pela legislação.

A partir do momento que começamos aqui no projeto, decidimos promover reuniões entre essas mulheres, focando principalmente na autoestima delas. São várias iniciativas e, por último, tivemos a ideia de fazer o ensaio fotográfico. Foi sensacional, um momento de alegria, de emoção, em que elas puderam ver a beleza que elas próprias têm, mesmo passando pelo tratamento”, afirma

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Afinal, como é a vida após o câncer de mama?

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A jornada de enfrentar essa doença desafiadora é, sem dúvida, árdua e repleta de desafios. No entanto, é importante lembrar que a superação do câncer de mama não é o fim, mas o começo de uma nova fase da vida. Há sim vida após o câncer de mama, e uma vida cheia de possibilidades, crescimento e renovação.

Kelly Pinheiro, diretora executiva da agência Mclair Comunicação, é um exemplo inspirador de alguém que enfrentou o câncer de mama e emergiu ainda mais forte. Durante esse período desafiador, Kelly não apenas venceu a doença, mas transformou essa experiência em uma oportunidade para compartilhar sua jornada, inspirando outras mulheres a enfrentar o câncer com coragem e determinação.

Tive o apoio de familiares, amigos e profissionais extremamente atenciosos. Sei que com o suporte adequado e a determinação, é possível não apenas sobreviver ao câncer de mama, mas também construir uma vida plena e significativa após a doença. Hoje, utilizo tudo o que me fortaleceu para ajudar outras mulheres a encontrarem sua própria força”, compartilha Kelly.

Para especialistas, é crucial direcionar nossa atenção não apenas ao diagnóstico e tratamento, mas também ao período pós-tratamento, e compreender como as mulheres enfrentam a vida após a superação do câncer de mama.

Mesmo após vencer a doença, as mulheres enfrentam uma batalha contínua. Por isso, é de suma importância abordar a vida pós-câncer de mama, pois essa discussão abrange aspectos físicos, emocionais e sociais que frequentemente são negligenciados.

Como as mulheres enfrentam a vida a superação do câncer de mama

Para Giovanna Gabriele, médica mastologista do corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês, coordenadora de equipe dos hospitais Nove de Julho e São Camilo Pompeia, em São Paulo (SP), é essencial oferecer apoio às pacientes com câncer após o tratamento, uma vez que é muito comum que essas mulheres percam o prazer de viver, devido às sequelas agudas e crônicas que as acompanharão ao longo da vida, como os impactos das alterações na imagem corporal, sintomas da menopausa (quando induzida), fadiga, depressão, baixa libido, estresse e ansiedade.

Ela pode levar uma vida maravilhosa, contanto que tenha uma rede de apoio e pessoas dispostas a contribuir para sua recuperação pós-tratamento. Algumas coisas não serão mais como antes, por isso é necessário ter uma mentalidade positiva e acompanhamento médico e psicológico apropriados. É por isso que muitas vezes ela se questiona: ‘será que tudo continua igual?’ e depois, ‘será que sou menos mulher?” comenta ela, que é membro da Comissão de Genética e Alto Risco da Sociedade Brasileira de Mastologia – regional São Paulo.

Segundo ela, o tratamento do câncer de mama não se encerra com a cirurgia ou a última sessão de quimioterapia. É crucial estabelecer um acompanhamento contínuo pós-tratamento para assegurar uma melhor qualidade de vida para a paciente. Muitas vezes, os profissionais de saúde negligenciam a visão holística da mulher, esquecendo que ela possui uma vida, família, filhos ou desejo de tê-los e um trabalho. Após o tratamento, é certo que ela terá dúvidas, inclusive sobre sua própria identidade naquele momento”, enfatiza a especialista.

Câncer de mama em números

Você sabia que o câncer de mama afeta uma em cada quatro mulheres diagnosticadas com câncer em todo o mundo? E que uma em cada oito mulheres pode receber esse diagnóstico ao longo de suas vidas? De acordo com estimativas do Global Cancer Observatory (Globocan), elaboradas pela International Agency for Research on Cancer (Iarc), um em cada cinco indivíduos enfrentará o câncer em algum momento de suas vidas.

Os dez principais tipos de câncer representam mais de 60% do total de casos novos. Entre as mulheres, o câncer de mama é o mais comum, com 2,3 milhões de casos novos (24,5%), seguido pelo câncer de cólon e reto, com 865 mil casos (9,4%); câncer de pulmão, com 771 mil casos (8,4%); câncer de colo do útero, com 604 mil casos (6,5%); e câncer de pele não melanoma, com 475 mil casos novos (5,2%) em todo o mundo.

Com Assessorias

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