No Brasil estima-se que haja uma média de 400 mil casos de trombose por ano. Pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) apontou que 39% dos médicos entrevistados atenderam ao menos um paciente infectado pela Covid-19 que desenvolveu trombose. Pessoas com Covid-19 internadas em Centros e Unidades de Terapia Intensiva (CTI e UTI) apresentam um risco muito elevado de desenvolver qualquer complicação tromboembólica.

Apesar da doença ser recente, estudos atuais mostram que pacientes com coronavírus internados em CTI apresentam risco de desenvolvimento de trombose de aproximadamente 30% e aqueles que não tem a taxa fica entre 3% e 10%, ou seja, pacientes com Covid tem entre três e dez vezes mais chances de desenvolver trombose quando comparado aos pacientes internados fora do CTI ou seja no quarto”, afirma o cirurgião vascular e endovascular Fábio Augusto Cypreste Oliveira.

Cerca de 470 angiologistas e cirurgiões vasculares, associados da entidade, participaram da iniciativa. O objetivo do levantamento foi identificar o percentual de médicos que atenderam pacientes infectados pelo novo coronavírus e a sua implicação na formação de trombose.

Segundo Dr Fábio, a Covid-19 é uma doença que predispõe o paciente a desenvolver trombose venosa e arterial, que consiste na formação de coágulos (trombos) no interior dos vasos sanguíneos. O problema acomete as veias e as artérias, impedindo a circulação do sangue no local e causando uma inflamação na região. 

A infecção por esse novo coronavírus provoca distúrbios no processo de coagulação e hemostasia, além de um processo inflamatório grave que, associado aos fatores pessoais e patológicos de cada paciente, podem resultar em tromboembolismo venoso (trombose venosa e embolia pulmonar), infarto, AVC, coagulação intravascular disseminada e morte cardiovascular”, explica o médico, que atende na clínica AngioGyn, no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia.

Trombose pode surgir meses após infecção pela Covid-19

A cirurgiã vascular Aline Lamaita, membro da SBACV, alerta que a ligação não se restringe apenas ao período de atividade da Covid-19, pois cirurgiões vasculares e angiologistas têm observado um aumento na incidência de casos de trombose até mesmo meses após o fim da infecção pelo coronavírus.

Segundo a especialista, o aumento da predisposição de trombose parece ser mais uma das sequelas causadas pela Covid-19, que também incluem perda e diminuição do paladar e olfato e cansaço. “E esse efeito a longo prazo da Covid-19 independe da gravidade da doença, pois, em consultório, observamos a incidência de trombose tanto em pacientes que apresentaram graves sintomas quanto naqueles que foram assintomáticos”, alerta a médica.

A predisposição à trombose é ainda maior em pacientes que, além de terem sido infectados pelo Coronavírus, apresentam outros fatores de risco envolvidos no aparecimento da condição, como obesidade, tabagismo, uso de hormônios e pílulas anticoncepcionais, portadores de câncer, gestantes, idosos, deficientes físicos e portadores de varizes”, alerta.

Por isso, mesmo após o tratamento e cura da Covid-19, é importante não descuidar da saúde e continuar atento aos sinais dados pelo organismo, consultado o médico imediatamente caso note os sintomas de trombose. “Isso porque, se não tratado, o coágulo causador da trombose pode se desprender da parede da veia e correr pela circulação até chegar ao pulmão, causando uma embolia pulmonar que pode resultar até mesmo em morte súbita”, destaca a cirurgiã vascular.

Segundo ela, o mais importante para evitar complicações após a infecção pela Covid-19 é continuar com consultas médicas regulares, já que o profissional especializado poderá realizar avaliações e, se for o caso, diagnosticar um quadro de trombose precocemente.

Principais fatores de risco entre pacientes internados

Fábio salienta que pacientes internados em UTI podem desenvolver a trombose venosa por vários fatores. “Existem três principais, que denominamos Tríade de Virchow, que é a combinação da lesão na parede dos vasos, estado de hipercoagulação e redução na velocidade do fluxo sanguíneo (estase). Os pacientes internados em UTI, em sua grande maioria, apresentam muitos desses fatores predisponentes”, salienta.

Outros fatores de risco para o desenvolvimento da trombose venosa incluem o tabagismo, a obesidade e a presença de alterações genéticas (trombofilias) que estimulam a formação de coágulos. O somatório desses fatores associados a características pessoais e as patologias que motivaram a sua internação em UTI se somam de forma negativa para a formação dos trombos”, completa. 

Fábio Cypreste revela que já existem protocolos de prevenção e tratamento da trombose venosa profunda (TVP) em pacientes com coronavírus. “Essas diretrizes estão presentes na prática clínica há muitos anos, com excelentes resultados, e as mesmas orientações são direcionadas aos pacientes com Covid-19.

Atualmente, com o maior conhecimento sobre a doença e sua relação com os eventos trombóticos, ajustes foram realizados. No último semestre de 2020, guias destinados especificamente ao diagnóstico, prevenção e tratamento das complicações tromboembólicas da Covid foram publicados. Eles são ajustados de acordo com as realidades e características locais”, ressalta.

Medidas preventivas durante a internação

O médico reforça quais as principais medidas preventivas disponíveis na atualidade durante a internação.

O uso de botas de compressão pneumáticas, meias elásticas compressivas, medicações anticoagulantes, fisioterapia, dentre outras, de acordo com a estratificação de risco trombótico do paciente. Além disso, exames de rotina como a ecografia vascular com Doppler são realizados para o diagnóstico precoce e o tratamento imediato da TVP, minimizando assim os riscos de complicações graves e fatais”, destaca o cirurgião.

Fábio Cypreste destaca que a participação da família é de fundamental importância em todo processo de internação daqueles que estão com o novo coronavírus. “Muitos pacientes internados em UTI podem estar sedados e entubados, dificultando a coleta de sua história patológica pregressa. Sendo assim, informações sobre doenças pré-existentes e medicações em uso, histórico prévio de procedimentos cirúrgicos, histórico familiar ou pessoal de trombose, bem como informações da história social do paciente, tais como o tabagismo e o sedentarismo, auxiliam na tomada de decisão da equipe de saúde”.

A trombose venosa e dos membros inferiores é a forma mais frequente da doença, causando dor, inchaço e calor local. “A complicação mais temida dessa doença circulatória é a embolia pulmonar, quando o coágulo se desprende da veia e atinge a circulação do pulmão, podendo levar à morte”, explica.

Já na trombose arterial, o suprimento sanguíneo rico em oxigênio é interrompido e o território nutrido por essa artéria entra em isquemia e, caso não ocorra a restauração da circulação de forma rápida, esse tecido entra em processo de morte”, detalha Dr Fábio.

Para o cirurgião vascular e endovascular, manter uma rotina saudável e ter um acompanhamento médico é a melhor forma de evitar complicações. “As doenças cardiovasculares, ou seja, as doenças circulatórias periféricas e cardíacas, representam a principal causa de óbito por doença crônica em todo mundo e, sendo assim, sua prevenção é o melhor caminho. Hábitos alimentares saudáveis, atividade física regular, acompanhamento médico regular e evitar o tabagismo são as principais atitudes para termos uma vida saudável, longa e com qualidade”, afirma o especialista.

Como identificar sinais e prevenir a trombose

Dra Aline lembra que o surgimento da trombose é uma das graves complicações relacionadas a casos de Covid-19. Ela explica que a trombose ocorre quando um coágulo sanguíneo se desenvolve no interior das veias das pernas devido à circulação inadequada, impedindo assim a passagem do sangue.

Isso acontece porque o agente patógeno causador da Covid-19 desencadeia um processo incomum de coagulação, favorecendo a formação de coágulos nas veias e, consequentemente, aumentando a incidência de quadros de trombose. Além disso, o coronavírus favorece o surgimento de trombose nos pequenos vasos, causando uma inflamação na parede das artérias e dos vasos”, explica.

De acordo com a especialista, os sinais da trombose incluem dor na perna, principalmente na panturrilha, associada a inchaço persistente, calor, sensibilidade e vermelhidão. “Mudança de cor na região e dificuldade de locomoção também podem indicar a presença de um coágulo sanguíneo nas pernas”, completa.

Além de prestar atenção aos sintomas da condição, é importante também investir em cuidados que auxiliam na prevenção da trombose. “Para evitar casos de trombose é recomendado que você pare de fumar, consuma bastante água, adote uma alimentação balanceada, realize exercícios físicos regularmente e evite passar muito tempo na mesma posição, seja no horário de trabalho ou em longas viagens, levantando-se de hora em hora para se movimentar um pouco”, aconselha a médica.

Em alguns casos, o uso de meias elásticas também pode ser indicado, já que essas meias comprimem os vasos sanguíneos, melhorando o retorno venoso e, consequentemente, prevenindo problemas vasculares como varizes e trombose”, explica a médica.

Geralmente, o tratamento da doença inclui o uso de medicamentos anticoagulantes que vão ajudar na redução da viscosidade do sangue e na dissolução do coágulo, impedindo assim que esse cresça e avance para outras regiões e evitando a ocorrência de novos quadros de trombose”, afirma Dra Aline Lamaita.

Trombose e principais sintomas

A trombose é uma doença vascular que consiste na formação de trombos – também conhecidos como coágulos – no interior dos vasos sanguíneos, que dificultam ou bloqueiam a circulação local e o retorno do sangue para o coração. Apesar da possibilidade de ocorrer em todas as partes do corpo, acontece majoritariamente nos membros inferiores. Quanto mais alta a região da obstrução, mais grave é a doença”, afirma o cirurgião vascular Bruno Naves, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Vascular (SBACV).

Os sintomas incluem dor no local, inchaço, vermelhidão, rigidez na musculatura e aumento das veias mais superficiais e aparentes. O principal fator que leva à formação de coágulos sanguíneos é a falta de movimentação do corpo por muitas horas. Entretanto, tratamentos hormonais, como o uso de anticoncepcionais, bem como o tabagismo, histórico de câncer, período pós-operatório, os meses finais de uma gestação, assim como os primeiros dias após o parto, podem ser condições muito propícias para o desenvolvimento dessa enfermidade.

Com Assessorias

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