Em uma iniciativa inédita, os três maiores bancos privados do Brasil – Bradesco, Itaú e Santander – anunciaram nesta quarta-feira (25) que resolveram unir esforços para apoiar as autoridades de saúde no combate à propagação da Covid-19. As instituições assumiram a responsabilidade de importar e doar 5 milhões de testes rápidos de detecção da doença, além de equipamentos médicos, como tomógrafos e respiradores, “observando as orientações do Ministério da Saúde e a disponibilidade no mercado”.
De acordo com a nota, a doação tem como objetivo apoiar os esforços de profissionais de saúde neste momento desafiador na luta contra a disseminação do novo coronavírus, quando, de acordo com especialistas, a testagem em massa da parcela da população com suspeita de contágio será decisiva para a superação da crise. Da mesma forma, os tomógrafos permitem identificar a gravidade dos casos e os respiradores salvam as vidas dos doentes com complicações pulmonares.
A decisão de iniciar a ação conjunta foi tomada nesta quarta-feira (25) pelos presidentes dos três bancos – Octavio de Lazari Jr., do Bradesco, Candido Bracher, do Itaú, e Sérgio Rial, do Santander Brasil –, que conversaram sobre a melhor maneira de contribuir para mitigar os efeitos da pandemia.
A primeira medida prática foi a formação de uma força-tarefa, composta por profissionais de cada uma das instituições, que definiu, sob orientação do Ministério da Saúde, a logística mais eficiente para a importação dos kits de testagem e dos equipamentos.
Em todo o país, serão quase 30 milhões de testes
Na quarta-feira (24), o Ministério da Saúde anunciou que está ampliando para 22,9 milhões o número de testes que serão distribuídos para diagnosticar o Covid-19. Neste momento, o ministério definiu a aplicação dos testes em profissionais de serviços de saúde e de saúde e de segurança, além da verificação dos casos graves e óbitos.
O volume de testes adquiridos é referente a compras diretas, doações e parcerias público-privadas. A iniciativa busca adequar à recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de testar para isolar os casos da doença. Até o momento, 32,5 mil testes já foram distribuídos na rede pública de saúde em todo o país.
Serão entregues à pasta dois tipos diferentes de testes: aqueles que detectam o vírus na amostra (RT-PCR) e outros que verificam a resposta do organismo ao vírus (teste rápido de sorologia, quando são verificados os anticorpos, na resposta imunológica do corpo ao microorganismo invasor).
Um novo protocolo está sendo definido para testar os casos mais leves nos postos de saúde ou unidades volantes. A ideia é utilizar a estratégia para cidades com mais de 500 mil habitantes e pode ser uma ferramenta, por exemplo, para conter surtos, isolando os pacientes infectados pelo Covid-19.
Nos próximos três meses, ainda, o Ministério da Saúde irá ampliar a Rede Sentinela de Vigilância de Síndrome Gripal, que monitora a doença no país. A expectativa é que o número de estabelecimentos que fazem a coleta de amostras para vigilância aumente de 168 para 500 unidades em todos os estados. As ações visam garantir resposta adequada à emergência.
Para o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, com a ampliação da testagem, o Brasil terá a oportunidade de identificar cada vez mais casos de coronavírus e, com isso, adotar medidas para isolamento e consequente diminuição da transmissão. “Testando mais pessoas, o Brasil será o país que provavelmente terá o maior número de casos confirmados de coronavírus porque será o que vai chegar mais próximo do número real de infectados”, disse o secretário de Vigilância em Saúde.
Ele ainda reforçou o esforço do governo brasileiro para aquisição de testes para diagnóstico de coronavírus em um cenário de pandemia.
É um esforço hercúlio. Estamos passando por uma pandemia, possivelmente a pior do século. O processo dos testes está em construção. Estamos buscando toda a disponibilidade de testes no mercado internacional. No território nacional, estamos usando toda a capacidade instalada, negociando com a Embrapa, com o Ministério da Agricultura, com a Polícia Federal para que emprestem suas máquinas e, assim, a gente possa rodar o maior número de testes”, destacou o secretário.
R$ 600 milhões para os estados
O Ministério da Saúde anunciou, nesta quarta-feira (25/03), a liberação de mais R$ 600 milhões para estados e municípios reforçarem o plano de contingência para o enfrentamento da Covid-19. A orientação é que cada estado discuta e defina junto aos seus municípios quais valores serão destinados para cada um. O recurso poderá ser utilizado em ações de assistência, inclusive, para abertura de novos leitos ou custeio de leitos já existentes nos estados e municípios.
“Nós vamos repassar R$ 600 milhões aos municípios de acordo com a pactuação local. Cada estado vai fazer hoje a sua divisão, de como vai fazer a alocação dos recursos e informar amanhã ao Ministério da Saúde, dentro das orientações que nós demos, quais são os municípios onde terão atendimento de maior complexidade. A partir disso, a gente repassa o recurso para que os municípios utilizem da melhor forma possível no que houver necessidade”, explicou o ministro.
Ele destacou a importância do uso racional do sistema de saúde e das ações de prevenção nesse momento. “É importantíssimo que façamos bom uso do sistema de saúde, por isso é preciso prevenir aquelas doenças que concorrem com leitos de CTI. A vacina contra a influenza é um instrumento para isso, principalmente para os idosos, já que os vírus das influenzas, como H1N1, levam tanto quanto ou até mais pessoas para os serviços de CTI no Brasil”.
A distribuição do recurso é proporcional ao número de habitantes de cada estado, que precisa definir os locais que terão atendimento de maior complexidade e, com isso, maior necessidade de reforço orçamentário. São, no mínimo, R$ 2 e, no máximo, R$ 5 por habitante. Na semana passada, o Ministério da Saúde já havia destinado R$ 432 milhões para auxiliar os estados e municípios no enfrentamento da pandemia.
Outros R$ 400 milhões já haviam sido enviados a todos os estados do país neste mês para serem utilizados conforme a necessidade do enfrentamento à doença. A distribuição também foi proporcional ao número de habitantes de cada estado, sendo R$ 2 per capita.
SOBRE OS TESTES
Para identificar o coronavírus são utilizados dois métodos diferentes de testes e ambos são rápidos. Contudo, um deles (RT-PCR em tempo real) necessita que o exame seja realizado em laboratório com uso de equipamentos. O segundo, é um teste rápido sorológico para detecção de anticorpos (IgM/IgG) e pode ser feito até mesmo nos postos de saúde ou unidades volantes.
1 – RT-PCR (biologia molecular) – o teste identifica o vírus no período em que está agindo no organismo. Desse tipo, foram comprados ou doados 14,9 milhões de testes, sendo 3 milhões adquiridos por meio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); 1,3 milhão comprado de empresas privadas; 600 mil de doação da Petrobrás; e 10 milhões, que ainda estão em negociação e deverão ser adquiridos no mercado nacional e internacional.
O uso desses testes é feito para diagnosticar casos graves internados. Além disso é utilizado na Rede Sentinela, ou seja, para acompanhar a evolução da doença no Brasil, como os sintomas dos casos mais graves associados ao vírus. Assim, para a vigilância, os testes são feitos em casos graves e amostragem de casos leves, como Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
2 – Testes rápidos (sorologia) – o teste verifica a resposta do sistema imunológico ao vírus. Desse tipo, foram doados pela Vale do Rio Doce (5 milhões) e outros 3 milhões de testes foram comprados por meio da Fiocruz. Eles serão utilizados entre os profissionais de saúde e segurança para garantir a segurança e proteção deles.
TIPO | OBJETIVO | FORNECEDOR E PREVISÃO DE ENTREGA | TOTAL |
RT-PCR em tempo real (biologia molecular) | Diagnosticar casos graves internados e casos leves em unidades sentinela para monitoramento da epidemia | Fiocruz: entrega nos próximos três meses | 1 milhão de testes (32.576 já entregues) |
Fiocruz: entrega até 30/03 | 2 milhões | ||
Petrobrás (doação): entrega até 30/03 | 600 mil | ||
Empresas privadas: entrega no início de abril (440 mil) e o restante escalonado | 1,3 milhão | ||
Compra pública* | 10 milhões | ||
SUB-TOTAL RT-PCR | 14,9 milhões | ||
Teste rápido (sorologia) | Garantir a segurança e proteção dos profissionais de serviços de saúde e segurança | Fiocruz: entrega até 30/03 | 3 milhões |
Vale do Rio Doce (doação): sem data definida | 5 milhões | ||
TOTAL: | 22,9 milhões |
*Compra de testes por meio de recursos públicos no mercado nacional e internacional, com a realização dos testes em grande escala, por meio de parceria público-privada (em negociação)
Distribuição de testes RT-PCR em tempo real por Estado
UF | TOTAL |
RJ | 1.152 |
SP | 3.584 |
PA | 1.080 |
RS | 2.160 |
SC | 1.680 |
GO | 1.440 |
PR | 2.448 |
AM | 1.392 |
BA | 1.536 |
CE | 1.200 |
ES | 1.320 |
MS | 1.200 |
PA | 480 |
PE | 1.416 |
MG | 2.376 |
RR | 480 |
DF | 2.328 |
RJ | 1.944 |
SE | 528 |
AL | 408 |
RN | 312 |
PI | 312 |
MT | 288 |
RO | 264 |
TO | 264 |
MA | 72 |
AP | 552 |
PB | 288 |
AC | 72 |
TOTAL | 32.576 |