Mônica Marinho, de 32 anos, sofre há 15 anos com um problema que afeta muitas mulheres brasileiras em idade reprodutiva, que sonham em ser mães: a endometriose profunda. O sofrimento é ainda maior quando se fala em tratamento na rede pública: faltam médicos especialistas, exames e, principalmente, tratamento adequado. Apesar de ter indicação para uma cirurgia, ela não consegue ser operada na rede pública de saúde do Rio de Janeiro. Confira o relato do drama vivido por Mônica ao Blog Vida & Ação:

“Há 15 anos convivi com cólicas insuportáveis todos os meses, dores fortes, daquelas que te deixam sem forças até para falar.  Morando em uma cidade pequena, mais precisamente em Saquarema, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, não tinha muitas opções de médicos. A saúde na cidade é precária e conseguir uma consulta com ginecologista era uma vitória. Receber o resultado de um exame preventivo, por exemplo, levava (sem exagero) seis meses. Outros exames era praticamente impossível conseguir através do SUS.

Os anos foram passando e eu seguia mensalmente com dores e mais dores e precisava ouvir das pessoas que cólicas eram normais. Até que um dia tive uma hemorragia no trabalho, o que me deixou em uma situação constrangedora, principalmente porque, na época, eu trabalhava em um ambiente masculino. Assistindo meu desespero, sem saber o que tinha, uma tia que tinha plano de saúde conversou com seu ginecologista, explicou minha situação e o mesmo topou me atender sem cobrar nada.

Na primeira consulta, ele apenas conversou comigo e a sua assistente fez o exame preventivo. Ele também me receitou um anticoncepcional e me pediu um exame chamado ultrassonografia transvaginal. Fiz tudo como recomendado. O resultado do exame deu que eu tinha um cisto no ovário, o que explicava, a princípio, o motivo da minha hemorragia. O médico optou em mudar meu anticoncepcional por um outro medicamento que também fosse capaz de combater o cisto.

Fiquei aproximadamente dois anos tomando esse remédio que, aliás, me fazia muito mal, mas optei por usar mesmo assim. As cólicas seguiam firmes mensalmente. Quando já não aguentava mais olhar o remédio, fui até o médico e pedi que mudasse. Ele então me pediu novo exame e constatou que meu cisto havia sumido, porém, agora eu tinha um mioma. Mais uma explicação para as minhas cólicas insuportáveis. Questionei se poderíamos retirar o mioma. Ele alegou que não, pois o mesmo era muito pequeno e que iríamos apenas monitorar.

E assim cinco anos se passaram, as cólicas insuportáveis vinham mensalmente e aí, para piorar minha vida, comecei a ter prisão de ventre. Meu sofrimento só aumentava. Meu ciclo menstrual durava cinco dias, mas eu começava a sentir dores dois dias antes de menstruar, por conta da prisão de ventre. Sentia dores durante o período menstrual e mais dois dias depois do fim da menstruação, até que eu conseguisse ir ao banheiro.

Esse sofrimento durou mais uns três anos. Sempre que eu ia me consultar, o ginecologista alegava que sentir cólicas era normal e que a prisão de ventre era por eu não me alimentar bem. Eu gastei muito dinheiro com remédios para dor e com o anticoncepcional que não era barato. Experimentei todos os remédios que prometem alívio para cólicas e prisão de ventre que você pode encontrar em uma farmácia. Mas nada dava jeito. Às vezes funcionava em um curto período, depois de dois ou três meses de uso, aquele remédio já não funcionava mais.

Procurei a opinião de outros médicos fora de Saquarema, mas nenhum conseguiu me ajudar ,exceto uma ginecologista que me deu de amostra grátis um anti-inflamatório para que eu tomasse em caso de dor. E finalmente consegui algo para acabar com meu sofrimento. O remédio era caro. No primeiro ano de uso, uma caixa com 10 comprimidos durava três meses. No segundo ano de uso, acho que meu organismo começou a se acostumar com o remédio. Uma caixa só durava dois meses. Até que cheguei ao ponto de usar uma caixa em apenas uma menstruação. Como era um remédio caro, não tinha como comprar sempre , então tinha meses que tinha que sofrer com as dores.

Na minha cabeça o problema com as cólicas eu já sabia como controlar , mas a prisão de ventre, não tinha jeito. Até que um dia cheguei a ficar 15 dias sem ir ao banheiro. Fui parar no hospital e tive que fazer uma colonoscopia de emergência. Felizmente não foi encontrado nada. A médica que me atendeu alegou que meu intestino era preguiçoso mesmo.

Já conformada com minha situação , me mudei para o Rio de Janeiro. Morava sozinha e, em um dia de domingo, assistindo TV , vi um ginecologista chamado Dr. José Bento explicando sobre uma doença pouco conhecida, chamada endometriose. Comecei a prestar a atenção no que ele dizia e a cada sintoma relatado por ele , eu tinha certeza de que ele estava falando de mim. Voltei ao meu ginecologista e o questionei sobre endometriose. Ele então me respondeu que meu problema não era esse. Me deu umas cinco caixas de amostras grátis de remédios para prisão de ventre e me mandou ir pra casa me alimentar melhor.

Segui a vida naquela rotina mensal, mergulhada em remédios para dor, gastando até o que não tinha para não sofrer tanto. Até que um dia não tive forças para ir trabalhar. A dor era muito intensa, e eu havia passado a noite em claro, rolando na cama de dor. No dia seguinte, ao chegar no trabalho ,minha chefe na época me deu o endereço da ginecologista dela. Após mais de 10 anos de luta e dores fortes, finalmente conheci a Dra. Adriana Kano, uma ginecologista excepcional que descobriu meu problema na primeira consulta, antes mesmo de me examinar.

Através de meus relatos ela já havia diagnosticado meu problema, seguiu com a consulta e no exame de toque confirmou a endometriose. Me pediu vários exames , inclusive uma ressonância magnética. De acordo com ela, o exame era apenas para mostrar o meu grau de endometriose. Ela me explicou tudo sobre a doença e suas consequências. Confesso que saí do consultório arrasada . Fiquei tantos anos tratando algo que não existia e agora corria o risco de não poder ser mãe, fiquei realmente abalada.

Fiz todos os exames e voltei ao consultório. O resultado não poderia ser pior: meu grau de endometriose era o mais avançado. Tenho endometriose profunda e a causa da minha prisão de ventre é também por conta da endometriose. A primeira recomendação foi parar com o ciclo menstrual e entrar na fila para uma cirurgia. Mesmo tendo plano de saúde, a endometriose profunda não é uma cirurgia simples e, de acordo com minha ginecologista, eu preciso ser operada por um especialista e preciso também de um cirurgião geral na sala de cirurgia, caso eu venha ter algum problema com meu intestino.

Me inscrevi para operar pelo Hospital Estadual Pedro Ernesto, que, de acordo com a minha ginecologista, é o hospital referência em endometriose no estado. Após um ano na fila, fui chamada para consulta, achei que finalmente fosse resolver meu problema, mas ao invés do Pedro Ernesto, fui remanejada para o Hospital Moncorvo Filho. Passei pela triagem com uma residente, contei toda minha trajetória, remarcaram minha consulta para o mês seguinte. Levei todos os exames – como parei de menstruar, faço duas vezes por ano ressonância magnética para acompanhar a endometriose.

Fui atendida por outra residente, que olhou todos os meus exames e concluiu que meu caso era de cirurgia, visto a gravidade dos resultados. O médico professor, então, chegou na sala onde eu estava sendo consultada, olhou meus exames, fez exame de toque, concordou que meu caso era de cirurgia, mas, para minha surpresa, ele me recomendou suspender o uso do remédio contínuo, voltar a menstruar e tentar engravidar, como se ficar grávida fosse uma coisa simples.

Eu fiquei sem ação. Não esperava jamais aquela resposta. Peguei meus exames e fui embora sem rumo. Chorei muito em casa porque, infelizmente, não tenho condições de bancar uma cirurgia particular, que custa em média 20 mil reais.  No mês seguinte, voltei na minha médica e optamos em continuar com o tratamento contínuo. Ela mudou minha medicação, agora uso um remédio específico para endometriose, mas o problema é o preço. Esse medicamento custa R$ 115 cada caixa.

Felizmente, minha médica é maravilhosa e me dá caixas de amostras grátis em todas as consultas e assim eu venho vivendo . Na última consulta eu voltei a sentir dores no exame de toque, o que deixou minha ginecologista preocupada e a mim mais ainda. Farei os exames novamente para ver se a endometriose está estagnada ou se voltou a avançar. Ainda não tive uma solução para meu problema. Espero que pelo menos a doença esteja estagnada”.

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