O aumento de casos de infecções pelo vírus influenza no último trimestre deste ano tem atraído atenção para uma velha conhecida da Humanidade: a gripe. Diante do aumento do número de ocorrências de Influenza, cresceu 569% em dezembro a venda de medicamentos relacionados ao tratamento da gripe nas farmácias do Rio de Janeiro.
O dado é um recorte realizado pelo Consulta Remédios, um marketplace de farmácias, e reflete o cenário da evolução da variante H3N2, que a Secretaria de Estado da Saúde do Rio já classifica como epidemia e contabiliza mais de 23 mil casos e 56 mortes até o último dia 27. A comparação foi feita entre os dias 5  a 17 de dezembro e o mesmo período nos dois meses anteriores.
Outro dado que chama a atenção no levantamento realizado pelo Consulta Remédios é o crescimento de 170% no número de usuários que visitaram páginas de produtos utilizados para o tratamento da gripe.
“Percebemos que as buscas por remédios relacionados aos sintomas da gripe tiveram uma disparada a partir do dia 5 de dezembro. Fizemos uma análise das vendas desses medicamentos no período, no Rio de Janeiro, e descobrimos esse pico. Completamente anormal e fora de época, como os casos da doença no estado”, diz a farmacêutica Francielle Mathias, do Consulta Remédios.
A gripe, como é chamada popularmente, tem gerado surtos regionais pelo país impulsionada pela introdução de uma nova cepa do subtipo A(H3N2), batizada de Darwin. O surto de gripe chegou em algumas cidades do país. Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Rondônia e São Paulo já registram aumento no número de casos de gripe, especialmente pela Darwin.

Para Francielle Mathias, do Consulta Remédios, a tendência deve ser de crescimento nas buscas por antigripais também em outras regiões do país. “Acreditamos que em breve poderemos perceber picos de crescimento em outros estados. Esse aumento provavelmente será de quem apresenta sintomas, claro, mas não podemos desconsiderar que as pessoas possam buscar preventivamente informações sobre medicamentos, antes de contrair a doença.”

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Aumento da taxa de positividade para Influenza

A rede de laboratórios Dasa observou um aumento da taxa de positividade para o diagnóstico de Influenza, nos últimos três meses, em todas as mais de 900 unidades da rede espalhadas pelo Brasil. De 1,7% de positividade na primeira semana de outubro de 2021 para 24,9% na última semana de dezembro de 2021.

Comparando o quarto trimestre de 2020 com 2021, foi observado um crescimento de quase 12 vezes na demanda de exames e de 17,6 pontos percentuais na taxa de positividade. Em Niterói (RJ), entre 15 e 21 de dezembro,  houve um aumento de 16 pontos percentuais na taxa de positividade de casos de influenza nos exames realizados em seus laboratórios e no Complexo Hospitalar de Niterói (CHN).

Na Emergência do CHN, o volume dos atendimentos relacionados com quadro gripal foi de 152 casos suspeitos diários entre adultos e de 95 entre crianças em média no período de 15 a 27 de dezembro.

Em São Paulo, o aumento de testes positivos para Influenza passou de 7% em novembro para 19% em dezembro. No Rio de Janeiro, a comparação entre os mesmos meses foi de 13% para 24% entre os testes positivos.

Em geral, o aumento de procura por exames para diagnóstico de Influenza acontece no primeiro trimestre do ano. Em 2021, esse aumento foi observado no 4º trimestre, com taxa de positividade superior aos índices encontrados no primeiro trimestre de 2020.

Em São Paulo, a taxa foi de 11,3% no último trimestre de 2021 versus 7,3% no primeiro trimestre de 2020. Comparando o 4º trimestre de 2020 com 2021, foi observado um crescimento de 83% na demanda desse tipo de diagnóstico. No Rio de Janeiro, a taxa foi de 18,7% no último trimestre de 2021 versus 4,7% no primeiro trimestre de 2020.

Especialista da Fiocruz explica a nova cepa da influenza

(Imagem: National Institutes of Health)

O vírus da Influenza está mais forte este ano, após passar por uma mutação na Austrália. A primeira identificação da nova cepa no Brasil foi realizada pelo Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) em amostras provenientes da cidade do Rio de Janeiro.

Atualmente, são conhecidos três tipos de vírus influenza: A, B e C. Os dois primeiros são mais propícios a provocar epidemias sazonais em diversas localidades do mundo, enquanto o último costuma provocar alguns casos mais leves. O tipo A da influenza é classificado em subtipos, como o A(H1N1) e o A(H3N2).

Já o tipo B é dividido em duas linhagens: Victoria e Yamagata. Embora possuam diferenças genéticas, todos os tipos podem provocar sintomas parecidos, como febre alta, tosse, garganta inflamada, dores de cabeça, no corpo e nas articulações, calafrios e fadigas.

A cepa Darwin (recém-descoberta na Austrália) faz parte do tipo A (H3N2). Nos últimos meses, ela contribuiu para um aumento de casos de gripe em um período atípico no Brasil – que, assim como os países do hemisfério sul, possui uma circulação maior do vírus influenza no inverno (entre julho e setembro).

Baixa adesão à vacinação este ano provocou surto

O grande número de pessoas infectadas com o vírus da gripe é resultado da combinação de uma circulação reduzida do vírus Influenza em 2020 com a baixa adesão à campanha de vacinação desse ano contra a gripe. Mesmo nos grupos prioritários, a campanha não atingiu o objetivo esperado. Para diminuir os impactos da circulação do vírus, o imunizante precisa chegar ao menos a 70% da população.

“Distanciamento social, evitar aglomerações, uso de máscaras, higiene constante das mãos e etiqueta respiratória. São medidas que vimos que ao longo do ano passado e que provavelmente fizeram com que várias viroses respiratórias desaparecessem de circulação. E, com certeza, mitigaram a transmissão do coronavírus”, afirmou o virologista Fernando Motta, pesquisador do IOC/Fiocruz.

A imunização contra a gripe pode ser iniciada a partir dos 6 meses de vida, e o importante é que a vacinação esteja em dia, pois não há mais a necessidade de aguardar 14 dias entre as doses dos imunizantes contra a Covid-19 e a gripe, já que as duas vacinas podem ser aplicadas no mesmo dia. A única recomendação é para que os pacientes que testaram positivo para a Covid-19 aguardem o prazo de 20 dias para se imunizarem contra a Influenza, segundo os especialistas.

“É fundamental que toda a população se vacine contra a gripe (influenza). A vacinação contra a gripe é ainda mais importante na pandemia, pois reduz a circulação da Influenza, o que evita a epidemia e o aumento nos atendimentos em emergências, para que os profissionais de saúde possam se dedicar aos possíveis casos de Covid-19”, reafirma Alex Sander Ribeiro gerente do Complexo de Emergências do CHN.

Como prevenir e tratar os sintomas

Especialistas lembram que a forma de transmissão da gripe é a mesma da Covid-19. Por isso os especialistas alertam que é fundamental continuar com todos os cuidados de prevenção recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS): usar máscaras, higienizar as mãos, evitar aglomerações e seguir as instruções de vacinação.

Segundo Alex Sander Ribeiro, as infecções provocadas pela Influenza e Covid-19 têm alguns sintomas semelhantes, como febre, dor de cabeça, dor de garganta, dores no corpo e musculares e calafrios. Mas é sempre importante se atentar, pois a Covid-19 causa muita dificuldade para respirar, e caso os sintomas se agravem, é importante buscar uma unidade hospitalar para verificar e realizar a testagem adequada.

Aorientação para quem estiver com os sintomas é repouso, boa alimentação, utilizar medicações analgésicas, como por exemplo, vitamina C em doses altas (pode usar 1 ou 2 gramas por dia), fazer uso de medicações sintomáticas, como por exemplo, em caso de febre e dor, pode usar Dipirona (muito conhecido como novalgina ou tylenol), e procurar orientação médica.

O médico Paulo Gallo, diretor do Vida-Centro de Fertilidade, diz que a grande maioria das pessoas apresenta os sintomas de 5 a 7 dias. “Nos casos em que persistirem os sintomas ou ocasionarem algum problema respiratório, devem consultar o médico e avaliar a necessidade de uma internação com o acompanhamento adequado”, ressalta.

Risco maior de Influenza entre as grávidas

Ainda de acordo com Dr Gallo, nas gestantes, a Influenza, pode acarretar em um quadro mais grave, com comprometimento pulmonar maior. Por isso, além de tratar os sintomas, é importante conversar com médico, obstetra que estiver acompanhando o pré-natal.

“A gravidez naturalmente, por aumento do volume do útero, acaba empurrando as estruturas abdominais para cima, dificultando o movimento do diafragma, e tudo isso pode fazer com que os quadros respiratórios sejam mais graves”, explica.

Durante o período da gestação, existe uma mudança no perfil imunológico da mulher. O perfil imunológico fica menos agressivo, a mulher produz menos anticorpos agressores, isso talvez, tem relação com a necessidade de implantação de evolução da gestação, já que o embrião tem parte de material genético que é estranho para o corpo da mãe.
“Essa alteração que ocorre no sistema imunológico, acaba fazendo com que a mulher fique mais suscetível a alguns processos infecciosos, principalmente virais. De um modo geral, a gestação é um fator de risco para alguns tipos de doenças virais, entre elas, o vírus da influenza”, ressalta.

Não há contraindicação para vacina da gripe em gestantes

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Gripe h3n2 (Reprodução de Internet)
Segundo o dr Paulo Gallo, a vacina da gripe pode ser utilizada em qualquer período da gravidez, não tem nenhuma contraindicação, podendo ser usada a qualquer momento, inclusive tendo em vista que a gestante é considerada do grupo de risco e grupo prioritário para a Influenza.
As principais reações e efeitos colaterais da vacina tanto nas gestantes, como em qualquer pessoa, é o risco de aparecer sintomas, como se fossem da própria influenza, como um pouco de febre, moleza, dores no corpo, mas geralmente são autolimitadas e o risco de complicação é mínima.
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