Por André Lima*

Segundo a Associação Brasileira do Sono (ABS), um estudo feito junto por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp) revela que 65,5% dos brasileiros sofrem de problemas relacionados ao sono. Estresse, ansiedade, depressão, insegurança, entre outros problemas, ajudam a população a ter um sono ruim.

Existem dois tipos de insônia: aquela esporádica, quando a pessoa tem crises de insônia em alguns momentos, ou a que acontece de tempos em tempos. Neste caso, a falta de sono dura alguns dias, dependendo do momento de vida que a pessoa está atravessando, sendo mais comum quando está passando por algum momento de estresse. Existe também a insônia crônica, quando o indivíduo realmente não consegue dormir por mais de três semanas.

É importante avaliar se os episódios de falta de sono estão sendo muito frequentes. Se a pessoa acorda cansada, se não está tendo um sono reparador e se apresenta sonolência durante o dia, são sinais de que os problemas começaram a se agravar.

Falta de sono pode interferir no raciocínio e na memória

O sono é importantíssimo para o bom funcionamento do organismo. Um fator muito importante para a saúde do cérebro é a qualidade do sono. Para todas as fases da vida é necessário que se tenha um sono reparador, dormir em torno de 8h por dia.

O sono é ainda um reparador de energias. Ele ajuda a levar mais energia para os neurônios, promovendo as sinapses. Quando acontece a diminuição das sinapses (as ligações entre os neurônios), acontece a perda de memória, que é uma limitação na comunicação entre os neurônios. A falta de sinapse faz com que eles fiquem sem energia e comecem a morrer.

Ter um sono completo com todas as fases ajuda a memória. A fase REM aumenta a atividade cerebral, o que é essencial para a codificação de informações úteis. Portanto, dormir bem também ajuda a fixarmos o aprendizado em todas as faixas etárias. Uma noite mal dormida reflete no raciocínio e na dificuldade de se lembrar de coisas simples.

Quem acorda constantemente durante a noite, normalmente está apresentando algum problema relacionado a apneia do sono, que  ocorre quando a respiração é obstruída. A pessoa para de respirar durante alguns segundos por diversas vezes à noite. A apneia aumenta risco de doenças cardíacas, infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC).

Sono nos idosos, mulheres e bebês

Muitos acreditam que o idoso dorme menos. Mas isto não é verdade. Em média o idoso deve dormir entre sete ou oito horas por dia. Mas o idoso que dorme entre cinco/seis horas e tem a fase do sono profundo, também fica bem. Mas se o sono for agitado, levantar muitas vezes para ir ao banheiro, por exemplo, o sono não será reparador. 

Mulheres costumam ter mais problemas com o sono no período da gravidez, pelo desconforto no final da gestação, e no período da menopausa, por conta de problemas hormonais.

Já nos bebês, é preciso investigar a causa do problema quando eles não conseguem dormir. Crianças pequenas podem ter algum problema físico que a impeça de respirar de forma adequada, algum desconforto digestivo que provoque dores abdominais ou até problemas neurológicos.

Normalmente, em uma criança saudável, é importante investigar também como está sendo a rotina dessa criança. Se ficar acordado até muito tarde, se dorme muito durante o dia. Qual o tipo de alimentação. É preciso que se estabeleça uma rotina e que as horas próximas ao horário de dormir, seja de tranquilidade e relaxamento.

Mudança de hábitos pode ajudar em boa noite de sono

Se todos os exames médicos foram feitos e não foram detectados problemas de saúde, as pessoas devem ficar atentas às suas rotinas. Evitar  comidas pesadas próximo a hora de deitar,  a ingestão de muito café ou refrigerante, bebidas alcoólicas e evitar o fumo, são algumas medidas que ajudam a ter uma boa noite de sono.

Devemos ter uma regularidade no horário para dormir e acordar. Antes de dormir, evitar assistir à TV, principalmente programas violentos ou que geram ansiedade. Mexer no celular ou no computador antes de deitar piora a qualidade do sono. Esses aparelhos emitem luz amarela que diminui a quantidade de melatonina, hormônio responsável por regular o horário de dormir.

É importante procurar um neurologista assim que o problema comece a afetar o dia a dia da pessoa. Muitos profissionais possuem especialização na área do sono. Feita uma avaliação e descobrindo a causa do problema, a pessoa pode iniciar um tratamento multidisciplinar para combater a insônia, dependendo da origem.

Existe medicação específica, mas existe também uma mudança de hábitos e rotina que podem trazer resultados. A pessoa que sofre de insônia deve descobrir o que está causando este sintoma.

*André Lima é neurologista, Diretor da clínica Neurovida e membro da Academia Brasileira de Neurologia

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