Já imaginou fazer uma cirurgia plástica em uma parte específica do corpo e sair do centro cirúrgico com algo diferente ou até mesmo com outro procedimento estético realizado sem o seu consentimento?  Infelizmente, essa situação pode acontecer mesmo com a assinatura de um termo de consentimento pelo paciente.

A influenciadora Amanda Souza, de 25 anos, viveu essa experiência traumática ao ter PMMA aplicado em seu nariz sem sua autorização, enquanto realizava uma rinoplastia sob efeito de sedativos. Em maio de 2023, ela usou seu perfil no Instagram para denunciar o cirurgião plástico Thiago Marra Netto, responsável pela rinoplastia a que foi submetida no dia 17 de dezembro de 2022.

Sob risco de risco de infecção generalizada, Amanda acusou o médico de ter ficado com a ponta do nariz esbranquiçada, de não ter tido um suporte adequado e de ter aplicado PMMA em seu nariz sem seu consentimento, ocasionando uma infecção e suposto risco de vida. Thiago, por sua vez, alega que o procedimento ocorreu bem e que a influenciadora teria que provar as denúncias.

Infelizmente, Amanda não foi a única vítima. Pelo menos 55 pessoas já teriam passado pela mesma situação com o cirurgião. “A pessoa ter a coragem de se aproveitar de alguém apagado, sedado, anestesiado e aplicar algo que não era de aceitação e consentimento do paciente.” afirma a influenciadora.

O que é metacril?
O metacril, também conhecido como PMMA (polimetilmetacrilato), é um polímero plástico utilizado para preenchimentos em algumas partes do corpo e rosto. É importante ressaltar que, ao ser aplicada no corpo, a substância se dilui entre os tecidos. Ou seja, uma vez injetada ficará para sempre no organismo e, em alguns casos, provoca reações e deixa sequelas irreparáveis, como nódulos e infecções.

Cirurgião plástico esclarece sobre riscos do PMMA
O cirurgião plástico Hugo da Clínica Libria, aborda alguns pontos importantes sobre o PMMA, ou, silicone industrial, o silicone de grau médico e os riscos envolvidos no uso incorreto de substâncias em procedimentos estéticos e cirúrgicos.
O que é o silicone industrial?
PMMA é uma abreviação para polimetilmetacrilato, que é uma substância sintética de polímero termoplástico que é comumente referida como “silicone industrial”. No entanto, é importante notar que o PMMA não é tecnicamente um silicone, mas sim um tipo de plástico acrílico utilizado em procedimentos estéticos e cirúrgicos.
O PMMA, ou polimetilmetacrilato, é uma substância plástica na forma de microesferas que normalmente é indicada para corrigir pequenas deformidades ou a perda da gordura facial em pessoas com HIV, não sendo recomendada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica para tratamentos estéticos.
O PMMA é aplicado em uma pequena região através de injeções no tecido subcutâneo, em camadas mais profundas da pele, preenchendo o volume e corrigindo pequenas deformidades.
Por que o silicone industrial (PMMA) é perigoso?
No Brasil, o PMMA para preenchimento subcutâneo precisa ser registrado na Anvisa, pois é um produto de uso em saúde da classe IV (máximo risco). De acordo com o órgão, há registros de produtos para essa finalidade há mais de 10 anos no Brasil.
Entretanto, segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), quando usado em grandes quantidades, o PMMA não é seguro, tem resultados imprevisíveis a longo prazo e pode causar reações incuráveis, como inflamações, nódulos, necrose e até a morte.
Por que é importante utilizar silicone de grau médico em procedimentos estéticos e cirúrgicos?
“O silicone de grau médico é uma substância projetada especificamente para uso em procedimentos estéticos e cirúrgicos, é de segurança comprovada, é menos propenso a se deslocar para outras partes do corpo e é mais estável ao longo do tempo.
O silicone de grau médico é aprovado pela ANVISA e é utilizado em procedimentos de implante mamário e glúteos, por exemplo, em que o silicone é colocado em uma prótese de silicone e inserido cirurgicamente nos seios”, destaca o cirurgião plástico da Clínica Libria.
Quais os cuidados que devem ser tomados após um procedimento estético ou cirúrgico?
Após um procedimento estético ou cirúrgico, é importante seguir as orientações médicas e tomar os medicamentos prescritos rigorosamente. É fundamental manter a higiene adequada do local da cirurgia e evitar atividades físicas intensas ou exposição ao sol durante o período de recuperação.
É importante também atentar-se a qualquer sinal de infecção, como vermelhidão, inchaço, dor ou febre, e comunicar imediatamente ao médico caso ocorra algum desses sintomas.
“É necessário que as pessoas busquem informações confiáveis e profissionais qualificados antes de realizar qualquer procedimento estético. É fundamental que os pacientes estejam cientes dos riscos envolvidos em qualquer procedimento estético ou cirúrgico e sigam as orientações médicas rigorosamente durante todo o processo, desde a escolha do profissional até o período pós-operatório. A segurança e a saúde devem sempre ser a prioridade em qualquer procedimento médico.” Finaliza o cirurgião da Clínica Libria.

 

Quais cuidados tomar na escolha do profissional?

De acordo com a advogada especialista em direito médico e hospitalar Dra. Beatriz Guedes, o médico-cirurgião não pode realizar nenhum procedimento sem a autorização do paciente. Segundo ela, o paciente deve receber um termo de consentimento informado e esclarecido, que traz todas as informações sobre a cirurgia, complicações e recomendações no pré e pós-operatório. Ao assinar o termo, o paciente autoriza a operação, o que traz segurança para os dois lados.

É importante ressaltar que quem decide pelo procedimento é o paciente. O consentimento é um direito humano básico, e a obrigação do médico de obter o consentimento de seu paciente para um determinado tratamento proposto repousa no princípio ético de autonomia do paciente e no respeito às pessoas. Neste contexto, o consentimento trata da “autorização autônoma para uma intervenção médica”, autorização esta realizada pelo próprio paciente.

Da mesma forma, obter o consentimento do paciente não se refere a um ato isolado, mas a toda uma dinâmica da relação médico-paciente, que inclui troca honesta e franca de informações entre ambas as partes envolvidas, e que não inclui, necessariamente, a aceitação do tratamento proposto – mas também a possibilidade de recusa do mesmo.” ressalta a advogada.

Além de proibidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), não tem como o profissional prometer o mesmo resultado obtido com outro paciente. É importante lembrar que a cirurgia começa na consulta e não termina com a operação. O acompanhamento pré e pós-operatório é fundamental para garantir o sucesso do procedimento e a saúde do paciente. No pós-operatório, é necessário seguir todas as recomendações e retornar ao médico para avaliações periódicas.

Lembre-se sempre de que a sua saúde e bem-estar estão em jogo, e que o cuidado e a responsabilidade devem ser compartilhados entre médico e paciente. Não hesite em fazer todas as perguntas necessárias e, se sentir que algo está errado, busque uma segunda opinião. Sua saúde e sua vida valem muito!”, diz a especialista em direito médico e hospitalar.

E destaca que é essencial tomar alguns cuidados para garantir que a cirurgia ou procedimento estético seja realizado com segurança e eficácia

Beatriz Guedes explica quais os cuidados que devem ser tomados antes de realizar um procedimento estético ou cirúrgico. Segundo ela, a conversa entre paciente e médico é fundamental. Durante a consulta, o médico deve tirar todas as dúvidas do paciente, falar sobre expectativas, entender como funciona o procedimento e explicar com detalhes todos os riscos e complicações envolvidos na operação.

“É fundamental buscar informações confiáveis e profissionais qualificados. É importante escolher um médico que seja especializado em cirurgia plástica e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), que é a única entidade reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) para certificar cirurgiões plásticos no Brasil.
É importante escolher um cirurgião plástico de confiança, que seja membro da SBCP, o que traz mais segurança. Vale também procurar referências, conversar com outras pessoas que já fizeram a cirurgia com o profissional. E um alerta: não confie em fotos de redes sociais de “antes e depois'”, recomenda.
Além disso, é importante que o procedimento seja realizado em locais apropriados, seguindo as normas de segurança e higiene.  É fundamental que os pacientes sejam informados sobre os riscos e as possíveis complicações envolvidas no procedimento, bem como sobre as opções de tratamento disponíveis em caso de complicações”, enfatiza a Dra. Beatriz Guedes.

Em entrevista à revista Quem, o médico Thiago Marra repudiou a acusação. “Isso é uma mentira absurda, isso é bizarro. Ele (PMMA) pode, sim, ser utilizado, mas eu não utilizei, não tenho porquê. Isso é fake news. O laudo do exame dela é inconclusivo”, alega o profissional. “Sou totalmente inocente. Não tenho nenhum processo de erro médico em mais de sete anos. Não tenho nenhuma condenação por erro médico

Segundo o profissional, a conduta no pós-operatório seguiu o previsto no termo de consentimento livre esclarecido. O documento padrão assinado por Amanda prevê que “podem acontecer diversas intercorrências no pós-operatório, inclusive graves, como infecção, necrose tecidual, perda de vitalidade do tecido”. Ele disse ainda ser formado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.  “Tenho seis anos de medicina, três mil horas de pós-graduação em cirurgia geral, 8.800 horas de pós-graduação em cirurgia plástica no serviço da SBCP”.

Com Assessorias
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