Muitos afirmam que a solidão é o mal do século. De fato, a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a gravidade desse sentimento, tornando-o uma prioridade de saúde global para os próximos três anos. Pesquisa realizada pela Meta-Gallup em 142 países revelou que um quarto da população mundial se sentia sozinha em 2023, representando aproximadamente um bilhão de pessoas.
No entanto, suspeita-se que esses números possam ser ainda maiores. E o aspecto mais preocupante foi que as taxas mais altas de solidão foram relatadas principalmente entre adultos, com idades entre 19 e 29 anos. Uma pesquisa publicada pelo Journal of Personal and Social Relationships concluiu que indivíduos que acreditam que a amizade depende do acaso tendem a se sentir mais solitários.
A pesquisa PoderData, realizada pela Poder360 de 2 a 4 de abril de 2023, mostra que um em cada quatro brasileiros dizem ter, no máximo, um amigo próximo. Esse universo de 28% é composto por 14% que dizem não ter amigos e outros 14% que relatam ter apenas um. O número de brasileiros que não têm amigos aumentou em um ano e meio. Em setembro de 2021, no meio da pandemia, a taxa era de 9%.
Em contrapartida, aqueles que entendem que ter amigos requer esforço sentem-se menos solitários e, consequentemente, possuem um maior número. Contudo, uma das estratégias para minimizar esses impactos é fortalecendo as conexões com outras pessoas, e é aqui que a amizade desempenha um papel crucial.
No mês dedicado a essa importante conexão não só entre pessoas como também com animais de estimação, por conta do Dia do Amigo (20 de julho) e do Dia Internacional da Amizade (30 de julho), trazemos uma série especial sobre o tema. Confira o que dizem os especialistas!
Mas por que é tão difícil fazer amigos na fase adulta?
É essencial ter em mente que a amizade, acima de tudo, é uma via de mão dupla, exigindo dedicação de ambas as partes. Não se trata apenas de encontrar pessoas com interesses semelhantes, mas também de estar disposto a investir tempo e energia na construção desses relacionamentos.
Na vida adulta, as responsabilidades e compromissos, como trabalho, família e relações amorosas, aumentam e passam a ser prioridades. Isso deixa menos tempo e energia para investir em boas e novas amizades”, afirma Ana Paula Ribeiro Hirakawa, psicóloga do Cejam – Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim.
Normalmente, levamos cerca de 30 horas de interação para criar uma amizade casual. Para relações mais profundas, precisamos de mais, são necessárias 140 horas para se conquistar um bom amigo e 300 para criar um vínculo realmente significativo. “Não tem jeito, esse processo requer tempo e interesse de ambas as partes”, complementa Ana Paula.
Fatores como falta de tempo, preferência por comunicações via redes sociais e superficialidade nas conversas podem agravar esse cenário. Traumas passados e experiências negativas também podem influenciar negativamente na capacidade de estabelecer confiança e criar conexões.
Há inúmeros fatores que dificultam o fortalecimento das amizades na fase adulta. Diferentemente da infância, as amizades tendem a ser mais seletivas e baseadas em valores e interesses compartilhados, o que pode ser considerado um desafio adicional”, explica a psicóloga.
Mas, apesar dos obstáculos, a profissional garante que é possível manter amizades antigas e construir novos laços. “Para isso, é importante estar disposto a criar e buscar oportunidades para interações significativas, onde se possa compartilhar experiências e emoções profundas, de preferência presencialmente.”
No caso da busca de novas relações, participar de atividades que despertem o interesse pessoal e permitam encontrar pessoas com afinidades similares pode ser um excelente ponto de partida.
Algumas ações que podem facilitar esse processo incluem integrar-se a grupos ou clubes, oferecer-se como voluntário para causas que façam sentido, comparecer a eventos sociais e de trabalho, além de manter-se aberto e acessível. Ter uma escuta ativa e empática durante as conversas é fundamental.
O valor da amizade
A presença de amigos possui um impacto significativo e incontestável no dia a dia. Eles desempenham um papel crucial no bem-estar, além de promover a saúde física e mental. A troca de experiências, risos e até mesmo momentos de tristeza com eles torna a vida mais leve.
A falta de alguém para compartilhar momentos pode trazer sérios prejuízos à saúde. De acordo com a Brigham Young University, nos Estados Unidos, a situação pode ser tão prejudicial quanto o consumo diário de 15 cigarros.
“A amizade tem o poder de proporcionar suporte emocional, intensificar a sensação de pertencimento e reduzir o estresse. Elas oferecem um ambiente seguro para a expressão de sentimentos, validação e apoio, e auxiliam na regulação emocional e no fortalecimento da autoestima”, conclui a especialista.
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Mas, afinal, qual é o valor da amizade? E o que conta mais na construção desses laços? Para falar sobre a importância da amizade, trazemos as reflexões da consteladora e facilitadora em Desenvolvimento Humano Viviane Gago.
Amizade: Trocas Valiosas*
Por Viviane Gago*
Em uma recente entrevista ao programa Her Call Daddy, , a linda e talentosa atriz Jane Fonda foi questionada sobre qual é o benefício de ter um grupo forte de amigas. E ela respondeu sem titubear: “A nossa saúde”.
E complementou falando de um estudo de Havard que diz que não ter amigas é tão ruim para a saúde quanto fumar. As mulheres olham nos olhos, pedem ajuda, mostram vulnerabilidade. Para Fonda, essa deve ser uma das razões para as mulheres viverem, em média, 5 a 7 anos a mais que os homens. E os homens, quando conversam, continuam falando sobre mulheres, carros e esportes.
Tenho a benção de ter um grupo de amigas, que trocam sentimentos, emoções, fatos da vida, ideias etc. A origem desses vínculos primeiramente é a amizade, o bem querer, o respeito, a admiração, que somente depois ensejou também um relacionamento profissional.
Todas nós estamos em sintonia com interesses, assuntos similares relacionados ao Desenvolvimento Humano e Organizacional, surgindo daí também uma parceria de trabalho.
Nossas trocas são semanais e regadas a conhecimento de cursos e estudos que fazemos juntas. Trata-se de troca valiosa e que brinda a vida com muita informação e material que faz a diferença positiva.
O que seria melhor que trabalhar com amigas queridas com leveza e propósito de apoiar nossos semelhantes e as organizações, estas últimas onde todas nós vivemos por muitos anos?
Falando aqui em primeira pessoa, esses vínculos de amizade geram crescimento por meio da experiência vivida por cada uma e aprendizados ilimitados, além de ser um espaço de segurança para falar, ouvir, ser quem realmente se é, sem máscaras, filtros etc.. É algo sagrado, precioso e até raro; e que somente as relações verdadeiras e cheias de amor permitem.
Como somos adeptas do compartilhar, mencionarei aqui sobre algumas trocas preciosas que tivemos nas duas últimas semanas, por serem boas sementes e que podem germinar por aí, quem sabe, com um efeito positivo assim como foi e é para nós. Muitas destas trocas baseiam-se no livro “Uma vida bem vivida”, da médica centenária doutora Gladys McGarey, Ed. Rocco. São elas:
Nestes últimos tempos estamos refletindo muito sobre o ciclo da terceira idade, idosos, velhice etc, e que o fim (sentido de finitude mesmo) de um ser, que tem o privilégio de viver essa idade, dependerá de duas coisas importantes: o que aquele idoso plantou e o que, portanto, irá colher das pessoas no seu entorno; e principalmente das qualidades das relações construídas ao longo da vida.
A experiência e o que estamos aprendendo neste sentido nos mostra que prover o idoso com dinheiro, para quem o tem é fácil, porém, dar amor, cuidado, atenção e tempo é que é o grande desafio, é o amar apesar da “inutilidade” e do trabalho que dá;
Um movimento bem interessante que percebo é a união de gerações. Tem surgido mundo afora um tipo de moradia que se especializou em mesclar gerações, de acordo com uma reportagem publicada na Veja em 28 de maio de 2023. É uma espécie de alternativa às casas de idosos tradicionais, acolhendo os mais velhos, que tiram proveito da rede de apoio na vizinhança, e os mais novos, que podem deixar os filhos sob os cuidados de um amigo setentão, em um dia a dia saudavelmente compartilhado.
Segundo o apresentador e jornalista Pedro Bial, “amor é o que dá sentido a vida, capacidade de se doar, de se entregar, de se submeter, de se transformar, escutar; e a maior expressão de amor é dar atenção a alguém, é cuidar de alguém”. Assim, fazemos algumas reflexões:
- O maior temor não é a morte, propriamente dita, mas como serão os nossos últimos dias de vida, com quem estaremos e de que maneira estaremos especialmente pensando em nossa dignidade, bem viver e felicidade.
- Amor é o que há de mais importante na vida, amor em sentido amplo. O amor é cura. Importantíssima a reflexão sobre como recebo e dou amor.
- Estamos aqui por um motivo, importante entender qual a nossa real essência, a nossa missão.
- Vida é movimento. Esse movimento te leva em direção a sua essência? O que está te afastando de sua essência e de sua missão?
- Como você está construindo e nutrindo suas relações? Quais as conversas de qualidade que está tendo?
- Quanto vale a sua energia?
- Estamos abrindo espaço, tempo, para enxergar os milagres da vida?
- Você está cuidando do seu EU do futuro, aquele que você quer ter o prazer e o orgulho de encontrar logo mais adiante?
Por toda a minha experiência de vida e carreira, ouso dizer que é muito difícil alguém sem o devido apoio técnico e de acolhimento, pensar em todos estes aspectos tão relevantes da vida de qualquer um de nós, por si só.
Lembremos que o desenvolvimento na fase madura, adulta, ao contrário da fase infantil, adolescente, não ocorre de forma espontânea e depende de um esforço intencional, consciente por parte das pessoas e organizações. Trata-se do desenvolvimento vertical e não o horizontal ao qual estamos mais acostumados, depende de uma autoeducação.
Assim, recomendo firmemente que busquem contatos de especialistas para enxergar com melhores lentes e agir nesse universo amplo de ideias importantíssimas para ir rumo ao bem viver, de maneira a ter mais leveza, consciência das direções e escolhas tomadas.
Estamos à disposição para apoiar, estimular e facilitar um plano de ação que os levem a sair do automatismo que o dia a dia e os sistemas aprisionam as pessoas.
Como diz a professora Lúcia Helena Galvão, no EntrePalcos:“É extremamente necessário as pessoas darem uma parada, para mergulhar em si mesmas, questionarem-se quem eu sou de fato. A sociedade precisa disso, menos para fora e mais para dentro e para cima. A essência governando a vida!”
Meu muito obrigada a essas amigas queridas e tão amadas, este texto é em homenagem a vocês, que fazem a minha vida muito mais cheia de cores, bons aromas, sabedoria e aprendizados valiosos. Vocês fazem a diferença positiva em minha vida, fazendo inclusive eu refletir mais, ampliando perspectivas para melhores ações a serem implementadas.
*Viviane Gago é advogada e consteladora pelo Instituto de Psiquiatria da USP (IPQ/USP). Com parceria do Instituto Evoluir e ProSer, é facilitadora pela Viviane Gago Desenvolvimento Humano. Mais informações no site
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