Nos últimos 10 anos, o Brasil vem registrando um aumento no número de casos de sífilis,  uma infecção sexualmente transmissível (IST) grave, mas que pode ser prevenida. De 2012 a 2022 foram notificados 1.273.027 casos de sífilis adquirida, 537.401 casos de sífilis em gestantes e 238.387 casos de sífilis congênita, de acordo com dados do Boletim Epidemiológico Sífilis 2023, do Ministério da Saúde.

No terceiro sábado de outubro é lembrado o Dia Nacional de Combate à Sífilis, celebrado este ano em 19 de outubro. A data busca conscientizar sobre essa infecção sexualmente transmissível (IST), que tem registrado aumento global.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), nas Américas, os casos de sífilis entre adultos de 15 a 49 anos cresceram 30% entre 2020 e 2022, totalizando mais de 8 milhões de casos, com a região sendo responsável por 42% dos registros globais. Entre 2017 e 2022, o número de casos de sífilis congênita aumentou 400%, segundo autoridades de saúde dos EUA.

A sífilis é uma infecção causada pela bactéria Treponema pallidum e transmitida principalmente por contato sexual desprotegido. Só em Minas Gerais, de janeiro a julho foram registrados 32.351 casos de sífilis em gestantes e 11.818 casos de sífilis congênita, que ocorre quando a infecção é transmitida da mãe para o bebê,. Ainda de acordo com o Governo de Minas Gerais, de 2020 a 2023 o número de casos da doença transmitida para o bebê aumentou, em média, 8% ao ano.

Médicos da  Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), uma entidade filiada à Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), alertam que a conscientização é uma das principais armas contra a sífilis. Quando não tratada, a doença pode causar a morte de 40% dos bebês afetados. Por isso, é importante lembrar a população da prevenção e enfatizar a necessidade do diagnóstico precoce. 

A prevenção da sífilis passa pela educação sexual, uso de preservativos e diagnóstico precoce no pré-natal. Com a detecção oportuna e tratamento adequado, podemos evitar complicações graves para mãe e bebê“, afirma a médica Suzana Pires do Rio, presidente do Comitê Gravidez de Alto Risco e Medicina Fetal da Sogimig.

De acordo com os especialistas, a chave para frear esse aumento é o diagnóstico precoce. Por isso, a importância dos exames clínicos para o controle da doença.

É muito importante o diagnóstico precoce da sífilis. Em primeiro lugar, porque é uma doença que, infelizmente, está se tornando cada vez mais comum. A quantidade de casos é absurdamente grande, e é um fenômeno mundial”, afirma Celso Granato, infectologista e patologista clínico da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML).

Os perigos da sífilis congênita para mãe e bebê

A sífilis congênita ocorre quando a infecção é transmitida da mãe para o bebê durante a gestação ou no parto (transmissão vertical) e pode resultar em sérias complicações. “Por isso, o diagnóstico e tratamento precoces durante a gravidez são essenciais para prevenir essas complicações”, afirma Camila Lopes Ahrens, infectologista do Hospital Angelina Caron.

Se não tratada, a sífilis pode evoluir para estágios mais graves e trazer consequências tanto para a mãe quanto para o bebê. Para as gestantes, a infecção pode causar complicações como aneurismas, problemas neurológicos e lesões em órgãos vitais.

Para o bebê, a transmissão pode resultar em aborto espontâneo, natimorto, parto prematuro, nascimento de bebê com baixo peso e sífilis congênita, que pode provocar malformações ósseas, surdez, cegueira e problemas neurológicos.

Casos da doença podem ser assintomáticos

A sífilis é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) que pode apresentar diferentes manifestações clínicas e é dividida em quatro principais estágios:

  • sífilis primária é quando há o surgimento de uma úlcera indolor (cancro) no local de infecção;
  • sífilis secundária ocorre semanas após a infecção inicial e com sintomas como manchas pelo corpo, febre e dor de cabeça;
  • sífilis latente é  quando não há sintomas visíveis, mas a bactéria permanece no corpo e pode ser detectada por exames de sangue e a
  • sífilis terciária, que, se não tratada, pode ocorrer anos após a infecção inicial, causando complicações graves como lesões em órgãos como cérebro, coração e ossos.

A doença também pode ser assintomática.  Um dos grandes desafios no controle da sífilis, especialmente entre as mulheres, é que os sintomas iniciais são pouco perceptíveis.

Na mulher, a lesão primária da sífilis, que é uma ulcerazinha indolor, muitas vezes fica em áreas internas, como no fundo de saco, local que fica atrás do colo do útero, o que dificulta a percepção. Quando a mulher percebe, geralmente a doença já evoluiu para a fase secundária”, explica Celso Granato.

Entenda os principais sintomas em cada fase

Manchas vermelhas na pele podem ser sintomas de sífilis (Foto: istock)

Apesar de a sífilis ser uma IST e o seu contágio ocorrer, principalmente, por meio do contato sexual sem proteção com uma pessoa infectada, a contaminação também pode ser feita por meio do contato direto com feridas sifiliticas e na transmissão vertical, que ocorre durante a gravidez e é passada da mãe para o feto.Já os sintomas variam de acordo com o estágio que a infecção está, explica a infectologista.

A fase primária conta com o aparecimento de úlceras indolores no local da infecção; na secundária os sintomas são as manchas pelo corpo, febre, dor de cabeça, cansaço e aumento de linfonodos; a latente é assintomática e a terciária, o estágio mais grave, as lesões podem ser nos órgãos, pode causar neurossífilis (condição neurológica causada pela infecção) e problemas cardíacos”, destaca a Dra. Camila.

Apesar da grande maioria dos casos serem sintomáticos e demonstrarem feridas ou lesões, os casos assintomáticos existem e necessitam de diagnóstico. Segundo a especialista, o aumento do número de casos pode ser atribuído a alguns fatores, como uma maior oferta de testes com a à ampliação do acesso a serviços de saúde, mas também por conta de falhas no uso de preservativos e da redução da prevenção e de campanhas de conscientização.

Pré-natal é fundamental para diagnóstico precoce

A médica Suzana Pires reforça a importância de que todas as gestantes realizem o pré-natal completo, incluindo os testes para sífilis, e que os profissionais de saúde estejam atentos para garantir que o tratamento seja feito da forma correta, tanto para a mãe quanto para o parceiro.

Segundo o médico Júlio Couto, membro do Comitê Gravidez de Alto Risco e Medicina Fetal da Sogimig, e especialista em infecções congênitas, “a sífilis congênita é uma condição grave, mas completamente evitável com o diagnóstico e tratamento adequados durante o pré-natal”. Ele ressalta que o pré-natal é a principal ferramenta para identificar e tratar a infecção precocemente, garantindo a saúde da mãe e do bebê.

O pré-natal tem papel fundamental na prevenção da sífilis congênita. Durante o acompanhamento da gestação, são realizados exames de triagem como o VDRL, que detectam a presença da bactéria.

Tratamento é feito com antibióticos

Em casos positivos, o tratamento é feito com o uso de antibióticos, administrados via oral ou intravenosa e com dose a depender do estágio da infecção. Se a infecção for identificada, o tratamento com penicilina benzatina deve ser iniciado imediatamente, sendo o único tratamento eficaz para a sífilis em gestantes. Além disso, é fundamental que o parceiro da gestante também seja tratado para evitar a reinfecção, um dos grandes desafios no controle da sífilis materna e congênita.

Na sífilis primária, secundária ou latente precoce, é administrada uma única dose de penicilina benzatina, mas nos casos de sífilis latente tardia terciária ou são necessárias três doses em semanas consecutivas. É importante que parceiros sexuais também sejam tratados para evitar reinfecção”, explica a Dra. Camila.

Em casos mais graves, como em estágios avançados ou condições de neurossífilis, o tratamento é feito por via intravenosa de penicilina cristalina, geralmente por 14 dias. Em outros casos, pode ainda ser usada a ceftriaxona como alternativa.

Testes moleculares são novos aliados

Além dos exames de sangue convencionais, testes moleculares são novos aliados no diagnóstico da sífilis (Foto: iStock)

Existem dois tipos principais de exames: os testes de triagem e os testes confirmatórios. “Se a pessoa tiver a ulcerazinha, o exame direto na lesão pode detectar o Treponema pallidum, a bactéria causadora da sífilis. Já após cerca de três semanas, o exame de sangue é crucial para a detecção de anticorpos”, detalha Celso Granato.

O especialista destaca ainda a necessidade de se fazer exames de rastreamento mesmo na ausência de sintomas. “Como a sífilis, especialmente nas mulheres, pode passar despercebida, é essencial aproveitar todas as oportunidades para realizar um teste de rastreamento. A detecção precoce permite tratar a infecção antes que ela progrida para formas mais graves, como a sífilis terciária”, ressalta.

Entre os avanços no diagnóstico da sífilis, estão os testes moleculares, que oferecem maior sensibilidade, principalmente quando o tratamento já foi iniciado. Se a pessoa já começou o tratamento, a quantidade de bactéria pode diminuir, o que dificulta a detecção com exames tradicionais. “Nesse caso, o teste molecular pode ser uma ferramenta valiosa”, afirma o especialista da SBPC/ML.

Embora os exames para sífilis sejam amplamente disponíveis, o maior obstáculo ainda é a falta de conscientização. “Não existe muita dificuldade no acesso aos testes. O importante é lembrar que a sífilis pode ser uma possibilidade e fazer a testagem para evitar sua progressão para formas mais graves”, conclui Celso Granato.

Teste detecta se a pessoa já entrou em contato com a infecção

O diagnóstico da sífilis é feito por meio de exames, geralmente solicitados após sintomas e averiguação clínica. Os testes mais comuns são o teste treponêmico (FTA-ABS) e o não-treponêmico (VDRL ou RPR).

O VDRL é o único teste de floculação que pode ser utilizado para a pesquisa de anticorpos no líquor, uma amostra fundamental para a identificação da sífilis congênita ou da neurossífilis. Neste caso, o resultado positivo pode significar que a pessoa já entrou em contato com a infecção.

Para o teste VDRL ser realizado, diversos itens de laboratório são necessários, entre eles agitadores do tipo Kline, placas de Klinemicropipetasponteiras, entre outros. Além dos materiais utilizados na coleta, como torniquetes, agulhas, escalpes, seringas, tubos de coleta, curativos e caixa para descarte.

O diagnóstico precoce auxilia na efetividade do tratamento e diminui os riscos ocasionados por estágios da doença. A qualidade dos materiais utilizados afeta diretamente a execução e avaliação dos resultados”, ressalta Vitória Repula, assessora científica da FirstLab.

Os testes, como o VDRL, devem ser solicitados para pessoas com vida sexual ativa, em caso de sintomas suspeitos, e em todas as gestantes durante o pré-natal, no primeiro e terceiro trimestres. O diagnóstico precoce da infecção evita que os sintomas aumentem ou apareçam, além de prevenir que quadros mais graves surjam.

Com Assessorias

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