Aos 75 anos, o apresentador Fausto Silva, o Faustão, teve que passar por um novo transplante de fígado e um retransplante renal nesta semana, em São Paulo. Ele enfrenta desde maio um grave quadro de sepse, também conhecido como infecção generalizada. A condição consiste numa resposta inflamatória sistêmica a infecções, continua sendo uma das principais causas de mortalidade hospitalar no Brasil – 240 mil mortes por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Segundo o último boletim médico do Hospital Israelita Albert Eintein, Faustão precisou ser hospitalizado em 21 de maio em razão de uma infecção bacteriana aguda com sepse. O apresentador necessitou de uma atenção especial de controle infeccioso e reabilitação clínica e nutricional, para estabilização do quadro de saúde. Com a infecção controlada, ele foi submetido a um transplante de fígado, na última quarta-feira (6). O procedimento ainda foi combinado a um retransplante renal, planejado há um ano, e realizado nesta sexta-feira (8).
Os procedimentos ocorreram após o Einstein ser acionado pela Central de Transplantes do Estado de São Paulo e confirmar a compatibilidade dos órgãos doados por doador único. O último boletim médico não informa se há previsão de alta médica para o artista. Ele está sendo assistido pelos médicos Alvaro Pacheco e Silva Filho, nefrologista; Marcelo Bruno de Rezende, cirurgião da equipe de transplante hepático; Fernando Bacal, cardiologista; além de Eliezer Silva, diretor executivo de sistemas de saúde.
O apresentador foi extubado neste sábado (9). Extubação é a etapa final da liberação de um paciente do ventilador. No contexto médico, refere-se à remoção do tubo endotraqueal (TET), que é um tubo inserido na traqueia para auxiliar na respiração, geralmente em pacientes que estão usando ventilação mecânica. Neste domingo (10), Dia dos Pais, o apresentador recebeu a visita dos seus três filhos, Lara, João e Rodrigo. Apenas Luciana Cardoso, gripada, ainda não pode estar com o marido…
Faustão já havia passado por dois transplantes – de coração e de rim -, em agosto de 2023 e fevereiro de 2024, respectivamente, devido a complicações causadas pela insuficiência cardíaca e uma doença renal crônica que se agravou com o tempo. Após 53 dias de internação, nos quais ele precisou lidar com a rejeição do corpo ao órgão transplantado e passar por sessões de hemodiálise, Faustão recebeu alta.
De lá pra cá, ele seguia fazendo hemodiálise, e tinha voltado a ser internado no Albert Einsten, em dezembro do ano passado, também por conta de uma infecção No início de 2025, Faustão já havia sido internado para tratar outra infecção, da qual se recuperou rapidamente e recebeu alta poucos dias depois. A nova internação, ocorrida no dia 21 de maio, foi mantida em sigilo pela família e pelo hospital até a última quarta-feira (6).
Entenda os perigos da sepse
A notícia sobre o estado de saúde do apresentador traz questionamentos sobre a nova condição clínica que coloca em risco a vida de Faustão. A infecção de Fausto Silva foi caracterizada pelos médicos como “sepse” , quando há um conjunto de manifestações graves no paciente que podem levar a disfunção dos órgãos — potencialmente fatal.
Um dado que chama a atenção é relativo ao número de óbitos por sepse, que atinge 40,6% dos pacientes na rede pública no Brasil. Já na rede particular o índice é de 19,2%. Isso acontece nem sempre pela falta de medicamentos ou equipamentos, mas sim pela demora no atendimento.
O tempo é muito importante. Temos uma hora para mudar a história de cada vida”, explica a médica emergencista, intensivista e cardiologista Ludhmila Hajjar, professora de Emergências Clínicas da FMUSP e especialista no assunto.
Falta de diagnóstico precoce
A principal causa da alta taxa de letalidade (de 55%) por sepse no Brasil é a falta de diagnóstico precoce, aponta pesquisa divulgada em 2024 pela Território Saber, que ouviu 307 médicos sobre o tema. Metade deles afirma ter conhecimento “intermediário” sobre o manejo da infecção generalizada.
Aproximadamente 50% dos respondentes usam os critérios de SOFA (“Sequential Organ Failure Assessment”), ou, em tradução livre, “Avaliação sequencial de falhas de órgãos“, recurso clínico utilizado para avaliar e monitorar disfunções orgânicas em pacientes com sepse.
Dos profissionais que participaram da pesquisa, cerca de 65% afirmaram que iniciam terapia com antibióticos em menos de uma hora – o principal entrave para uma resposta mais rápida é a disponibilidade de recursos no hospital. Outra dificuldade, apontou aproximadamente 1/3 da base respondente, é o treinamento recebido pelas equipes médicas tido como insuficiente; além do tempo excessivo para confirmação do diagnóstico.
Sete em cada dez respondentes afirmam avaliar e gerenciar caso a caso sobre possíveis comorbidades em pacientes com sepse. Já em relação a uso de protocolos específicos, quatro em dez respondentes afirmaram seguir procedimentos específicos. Mas a maioria, cerca de 80% destes profissionais afirma ser um desafio o cuidado de pacientes com sepse e comorbidades.
Leandro Taniguchi, médico supervisor da UTI Clínica do Hospital das Clínicas, em São Paulo, e orientador do programa de pós-graduação da Faculdade de Medicina da USP, lembra que não é preciso alta tecnologia para cuidar de pacientes com sepse, mas sim agir rápido.
“A primeira hora é chamada de ‘Hora de Ouro’, pois o sucesso do tratamento depende dos cuidados dispensados ao paciente assim que surgem os sinais de sepse”, explicou. O tratamento, segundo os especialistas, deve ser sempre iniciado com o uso de antibióticos e, posteriormente, personalizados de acordo com a evolução de cada pacientes.
Leia mais
Sudeste tem a maior taxa de mortalidade por sepse no Brasil
Sepse: como combater a infecção generalizada dentro dos hospitais
Sepse mata mais que câncer, mas é desconhecida por 80% da população
‘Ele é muito forte e inspira todo mundo’, diz filho de Faustão
A reincidência de problemas infecciosos levanta preocupações sobre a imunidade e a resistência física de Fausto Silva, especialmente após os procedimentos complexos pelos quais passou. Ainda assim, segundo fontes próximas, o apresentador mantém uma postura otimista e determinada diante dos desafios médicos.
João Silva, filho de Faustão, decidiu cancelar um evento que estava programado para acontecer na noite de quinta-feira (7), na capital paulista, reunindo diversas celebridades da televisão e da música brasileira. Neste sábado (9), ele compartilhou um vídeo em suas redes sociais para agradecer pelo apoio e atualizar o quadro de saúde do comunicador após a internação.
João menciona que o comunicador “é muito forte e inspira todo mundo”. “A gente vê que realmente a palavra neste momento é resiliência”, acrescenta.
Graças a Deus, realmente está dando cada vez mais oportunidade de meu pai se recuperar. Ele está indo muito bem na recuperação e, realmente, um agradecimento a vocês, porque isso faz toda a diferença. Muito obrigado em nome da minha família, da minha mãe Luciana, dos meus irmãos Lara e Rodrigo e de todos os amigos. Muito obrigado”.
Na internet, admiradores do apresentador seguem enviando mensagens de apoio e torcendo por sua recuperação. A trajetória recente de saúde do comunicador é marcada por superações e resiliência, e muitos acreditam que ele voltará a se recuperar com a mesma força que demonstrou em momentos anteriores.
Com informações do Uol, CNN, Globo, Uol e Assessorias (atualizado em 10/8/25)
