A cada mês, o calendário médico nos traz uma, duas, ou até três cores, com o objetivo de conscientizar sobre importantes assuntos ligados à saúde. Em fevereiro, a tradição se inverte, pois uma única cor é usada para alertar sobre três doenças, todas com potencial de serem graves e incuráveis: lúpus, fibromialgia e mal de Alzheimer.

Neste ano, com a campanha “Se não houver cura, que no mínimo haja conforto”, incentiva o diagnóstico precoce com a intenção de melhorar a qualidade de vida dos pacientes, já que, quando identificadas e tratadas no início, podem ter os sintomas muito bem controlados.

Estamos no Fevereiro Roxo, mês destinado a conscientização e reforço das ações de prevenção do Alzheimerfibromialgia e lúpus. Apesar de se tratar de doenças crônicas e incuráveis, se identificadas e tratadas no início, a progressão dos sintomas pode ser retardada, proporcionando mais qualidade de vida aos portadores.

Alzheimer é um transtorno neurodegenerativo progressivo, que afeta as funções cerebrais, causando perdas de memória, da linguagem, da razão e da habilidade de cuidar de si próprio. Apesar de atingir, habitualmente, pessoas na faixa etária acima dos 60 anos, alguns casos acometem pessoas mais jovens.

“Entre os sinais de alerta estão a dificuldade de realizar tarefas simples do dia a dia, perguntas repetidas, irritabilidade e a perda de memória recente”, alerta Juan Carlos Boado, diretor técnico do Hospital Bom Pastor.

Pertencente à entidade filantrópica Pró-Saúde, uma das maiores no ramo da gestão hospitalar do país, o Bom Pastor atua como referência em obstetrícia, pediatria, ginecologia, clínica médica e cirúrgica para Guajará-Mirim, Nova Mamoré, mais de 50 aldeias indígenas da região Norte do país, no Estado de Rondônia, além da cidade de Guayaramerin, na Bolívia.

Não se conhece uma causa específica para a doença, “no entanto, a predisposição genética individual, hipertensão arterial, sedentarismo, consumo elevado de gordura saturada e de bebidas alcoólicas, são fatores frequentemente associados. Por isso, a adoção de bons hábitos é essencial para inibir seu desenvolvimento”, orienta o profissional.

Entre as opções de tratamento do Alzheimer estão: reabilitação cognitiva, terapia ocupacional e controle da pressão alta, colesterol e diabetes. Para uma avaliação e diagnóstico correto, é importante consultar um neurologista ou psiquiatra, para iniciar o tratamento adequado, evitando a evolução da doença.

Já a fibromialgia é caracterizada por causar dores em várias partes do corpo, principalmente nas articulações e nos tendões, que podem ser intensas e atrapalhar na realização de várias tarefas.

As causas são desconhecidas e a hipótese mais aceita é de que a parte do cérebro que processa a dor para de funcionar como antes, deixando de combatê-la. “Não há inflamações nem deformidades, e a doença não deixa sequelas físicas no organismo”, destaca o médico.

Para a fibromialgia ser diagnosticada, as dores precisam permanecer por no mínimo três meses. “A doença também pode desencadear outros sintomas como fadiga, alterações no sono, dor de cabeça e distúrbios de humor”, explica Juan. “Não há cura, mas alguns medicamentos, terapias e principalmente a realização de exercício físicos podem ajudar no controle”, complementa o especialista.

Doença autoimune

Entre as doenças citadas, o lúpus exige uma atenção especial para seus sintomas, que podem surgir de forma lenta e silenciosa, ou, em alguns casos, repentinamente, variando fases de atividade e de remissão.

Trata-se de uma doença autoimune, onde as próprias células do sistema imunológico atacam partes saudáveis do organismo, que se divide em duas categorias: sistêmico, que afeta várias partes do corpo, e discoide (ou cutâneo), afeta apenas a pele e o tratamento é essencial para evitar que evolua para o sistêmico.

Os sintomas mais comuns do lúpus são as manchas por toda pele, principalmente nas áreas que ficam mais expostas à luz solar, como rosto, colo e braços, e no couro cabeludo. Assim, se cria uma sensibilidade ao sol, que costuma ser acompanhada de dores nas articulações, mal-estar, perda de apetite e de peso, dificuldade para respirar, dor no peito, entre outros.

Quando o lúpus se espalha pelos órgãos, gera sintomas específicos, chamados de localizados. “No cérebro e sistema nervoso, pode provocar dores de cabeça, derrames cerebrais (AVC) e alterações de personalidade. Já nos rins, náusea, vômito, dor abdominal, edemas e coceira generalizada, além de falência no órgão, a principal causa de morte nos primeiros anos da doença”, explica Juan.

Ainda não se sabe qual a causa, mas estudos apontam que fatores genéticos, hormonais e ambientais participam de seu desenvolvimento. O lúpus não é contagioso e o tratamento é essencial para controlar a evolução e os sintomas.

O diagnóstico pode envolver profissionais de diferentes especialidades, como dermatologistas, reumatologistas, neurologistas, nefrologistas e pneumologistas. Além da proteção solar rigorosa, as diferentes formas de lúpus demandam também diferentes formas de tratamento, por isso, o acompanhamento médico é essencial.

“Todas essas doenças são crônicas e incuráveis, por isso, a conscientização é tão importante, já que a informação e o conhecimento são essenciais para auxiliar no diagnóstico precoce, que pode proporcionar mais conforto e qualidade de vida”, enfatiza o profissional.

Alzheimer

Doença que leva à perda progressiva de memória e de outras funções cerebrais, como a linguagem, e prejudica a independência do paciente. Segundo o Ministério da Saúde, estima-se que cerca de 1,2 milhão de pessoas vivem com alguma forma de demência, e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano. Em todo o mundo, o número chega a 50 milhões.

Felipe Franco da Graça, neurologista do Vera Cruz Hospital, explica que a doença é mais frequente em idosos. “Não acomete apenas esse público, mas é muito mais comum e a incidência aumenta com a idade. Cerca de 10% das pessoas com mais de 65 anos possuem o quadro, índice que aumenta para 25% em pacientes com mais de 85 anos.

Os principais sintomas são: esquecimentos de fatos recentes, perder-se em locais conhecidos, fala mais repetitiva, incapacidade de resolver problemas, dificuldade em controlar finanças e pagar contas, queimar alimentos com frequência durante a preparação, esquecer onde guardou objetos etc. Em fases mais avançadas, há perda progressiva da capacidade de autocuidado e pode haver agitação e quadros de confusão mais graves”, alerta.

Para o tratamento, a unidade possui uma ampla equipe de cuidado multidisciplinar disponível tanto ambulatorialmente quanto em regime hospitalar. “Envolve o cuidado conjunto com médicos (neurologistas, geriatras e psiquiatras), psicólogos, nutricionistas, fonoaudiólogos e fisioterapeutas. E o uso de medicamentos visa melhorar os principais sintomas”, ressalta.

fibromialgia

Dados da Sociedade Brasileira de Reumatologia e de estudos sobre dor apontam que a doença está presente em aproximadamente 3% dos brasileiros, com predomínio em mulheres entre 25 e 50 anos. “A causa ainda não está totalmente esclarecida, mas a principal hipótese é que pacientes acometidos apresentam uma alteração da percepção da sensação de dor.

Estudos clínicos baseados em ressonância magnética confirmam a alteração central neuronal nos processos nociceptivos (da percepção da dor) em pacientes com fibromialgia, e já são descritas alterações neuroquímicas que participam no processamento da dor”, esclarece a reumatologista Letícia Kolachinski Brandão, também do Vera Cruz Hospital.

A condição é caracterizada por uma dor musculoesquelética generalizada, com duração maior do que três meses. “Ela é tipicamente acompanhada por sintomas como fadiga e sono não reparador (um sono que não descansa) associados a distúrbios do humor, como ansiedade e depressão, e, frequentemente, os pacientes apresentam queixas de alterações da concentração e de memória”, detalha.

A meta no tratamento é aliviar os sintomas com melhora na qualidade de vida. “Colocar o corpo em movimento, respeitando limites, é a ferramenta mais natural e valiosa entre os cuidados. Ter orientação apropriada para a realização das atividades físicas é fundamental, e pacientes podem ser encaminhados para terapias como fisioterapia, hidroterapia ou até mesmo acupuntura”.

O lúpus

Por sua vez, o lúpus é uma doença crônica (de longo prazo), autoimune, que pode causar inflamação e dor em qualquer parte do corpo. “É importante lembrar que, de modo geral, quando falamos em lúpus, nos referimos a lúpus eritematoso sistêmico (pode afetar todo o corpo). Ainda existem: o lúpus cutâneo (acomete apenas a pele), o lúpus induzido por drogas (induzido pelo uso de alguns medicamentos) e o lúpus neonatal (condição rara que pode afetar os bebês de mães com certas condições reumáticas)”, esclarece Letícia.

Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, estima-se que cerca de 65 mil pessoas convivam com a doença no país, sendo a maioria mulheres, uma proporção de uma a cada 1,7 mil. No mundo, os números chegam a 5 milhões de pessoas, sendo 90% mulheres entre 20 e 45 anos.

“Os sintomas mais comuns são: fadiga, dor e inchaço nas articulações, dor de cabeça, dor no peito, manchas pelo corpo incluindo a chamada “lesão em asa de borboleta” na face, queda de cabelo, alteração da coloração das mãos e pés (fenômeno de Raynaud) e outros”, adiciona a especialista.

Ela esclarece que, até o momento, não há descrita uma causa isolada para a doença. “Sabe-se que, de modo geral, os pacientes apresentam uma genética que os predispõe ao desenvolvimento e, em algum momento, são expostos a um ou vários ‘gatilhos’ que despertam os sintomas. Os principais são oscilações hormonais, infecções, estresse emocional e até mesmo exposição ao sol”.

Sobre o tratamento, ela diz que “deve ser extremamente individualizado e pode variar de acordo com a parte do corpo acometida, com a idade, estilo de vida e até mesmo eventuais doenças preexistentes. Para auxiliar no controle, é de suma importância adotar um estilo de vida saudável com dieta, atividade física regular, uso de proteção solar regularmente e cuidados com o emocional”.

Com Assessorias

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