Também chamada de Espinha Bífida Aberta, a mielomeningocele atinge bebês ainda durante a gestação, numa incidência aproximada de 1 a cada 1000 nascidos vivos no Brasil. Esta é a causa de paralisia dos membros inferiores, atraso no desenvolvimento intelectual, alterações intestinais, urinárias e ortopédicas. A doença consiste em um defeito da coluna vertebral e da medula espinhal, que acontece nas primeiras semanas de gestação, durante a formação do feto, podendo ser em qualquer região da coluna.
Até o momento, não se sabe ao certo a causa exata da mielomeningocele, mas supõe-se que pode estar relacionada à soma de fatores genéticos e ambientais como etnia, histórico familiar, deficiência de ácido fólico. Todos os anos, em 25 de outubro, acontece o Dia Mundial de Conscientização sobre a Mielomeningocele. Uma ação cidadã da relevância, tendo em vista que a doença é uma ameaça real à saúde, à capacidade mental e produtiva e à vida de parte das crianças das próximas gerações.
A prevenção da mielomeningocele pode ser feita por meio de acompanhamento obstétrico desde o planejamento da gravidez. Mulheres que estão programando uma gestação devem entrar em contato com seus obstetras para orientações de medidas preventivas, como a suplementação de ácido fólico.
Prevenir a espinha bífida é uma medida relativamente simples e muito importante. O uso do ácido fólico, pelo menos um mês antes de a paciente engravidar e dois ou três meses durante a gestação, reduz em 95% a incidência dos defeitos de fechamento do tubo neural do bebê. A prevenção é, com certeza, o melhor caminho”, explica Fábio Peralta, coordenador do programa de cirurgia fetal do Hospital do Coração (HCor).
Tratamento mudou nos últimos anos: conheça a cirurgia interuterina
Até há alguns anos, a correção da espinha bífida só era feita com um procedimento cirúrgico após o nascimento. Cerca de 80% dos bebês operados necessitavam da colocação de drenos no cérebro e grande parte deles precisava de cirurgias repetidas, o que resultava em progressiva redução da capacidade intelectual e altas taxas de óbito: 15% até o quinto ano de vida.
Em 2011, um estudo elaborado nos EUA, denominado de MOMs trial – Management of Myelomeningocele study, demonstrou que os bebês com espinha bífida poderiam ser tratados ainda no útero por cirurgia aberta. Isso com significativo aumento na chance de andar, melhora no desenvolvimento intelectual e menor necessidade de colocação de drenos cerebrais após o nascimento.
Desde então, o tratamento intrauterino por cirurgia aberta no útero tem sido o tratamento de escolha para fetos selecionados com espinha bífida. Porém, nem todos os bebês podem ser operados durante a gestação. Existem indicações específicas. Por exemplo, a idade gestacional deve ser entre 19 e 26 semanas. Após esse período, o procedimento só poderá ser realizado fora do útero.
Quanto mais cedo corrigimos a mielomeningocele, menores são as chances de essa criança ter que realizar tratamento para a hidrocefalia, ou seja, colocar o dreno no cérebro, pois isso atrapalha muito o desenvolvimento cognitivo dessa criança”, explica Fábio Peralta, que também atua como médico responsável pela Medicina Fetal da Maternidade São Luiz Star/Rede D’Or, do Cetrus e do Centro Gestar de Medicina e Cirurgia Fetal.
Nova técnica desenvolvida no Brasil reduz risco materno e parto prematuro
O grupo de cirurgia fetal coordenado pelo Dr Peralta é considerado uma referência na utilização de técnica semelhante à descrita pelo MOMS trial, mas aprimorada de forma a diminuir os riscos maternos e o parto prematuro. Estudos publicados pelo especialista considerado uma nova luz por médicos de todos os continentes
Se não tratada, pode levar à paralisia dos membros inferiores, em diferentes graus de restrição no desenvolvimento intelectual, disfunções intestinais, gênito-urinárias e ortopédicas”, explica o cirurgião fetal do Hcor.
A técnica tradicional consiste em uma cirurgia aberta com uma incisão no útero de 6 a 8 cm de extensão. A técnica da Gestar modificada e publicada internacionalmente, denominada correção da mielomeningocele fetal por mini-histerotomia, reduz a extensão da incisão uterina para 2,5 cm, o que consequentemente diminui os riscos maternos da cirurgia, mantendo os benefícios para o feto.
Os procedimentos intraútero demonstram benefícios em casos de mielomeningocele, já que, com eles, é possível corrigir a má-formação da coluna e garantir mais chances de o paciente andar sem auxílio e apresentar melhor desenvolvimento intelectual“, detalha o especialista.
Outras doenças que podem ser tratadas com cirurgia fetal
Em casos de estenose valvar aórtica crítica, que é um exemplo de cardiopatia, nós introduzimos uma agulha no ventre materno, a fim de atingir a válvula do coração do bebê que está entupida, restabelecendo o fluxo de sangue e permitindo uma condição de nascimento mais saudável”, detalha Peralta.
[…] Uso do ácido fólico na gravidez pode prevenir a mielomeningocele […]
[…] Ácido fólico na gravidez pode prevenir a mielomeningocele […]