Por Celso Grecco*

O Brasil despencou no ranking mundial de solidariedade. De acordo com o World Giving Index, organizado pela CAF – Charities Aid Foundation, da Inglaterra e conhecido como o ranking mundial de solidariedade, nosso país saiu da posição 75 para a 122, na lista que avalia 146 países. A notícia circulou no último trimestre de 2018 e nada indica que os dados de 2019 serão melhores. O risco é, até mesmo, de alguma piora.

Uma queda tão grande deve ter explicações um pouco mais elaboradas do que simplesmente apontar crises políticas ou econômicas que o país possa estar passando. Um estudo sobre o estado de espírito do brasileiro talvez fosse mais adequado do que análises de mercado. Por que estamos deixando de ser solidários? Estamos nos tornando uma sociedade egoísta ou sem esperanças? Será que ambos?

Identifiquei 7 respostas hipotéticas para esse quadro desanimador para a nossa sociedade. Pode ser que você se enquadre em uma ou mais dessas hipóteses. Mas arrisquei, também, 8 argumentos para fazer você mudar de ideia.

  1. “Não tenho nenhum conhecimento que possa ser útil”

As organizações sociais dependem do dinheiro de doações para fazerem o seu trabalho. Esse dinheiro vem de convênios com o governo, de círculos de amigos apoiadores e de campanhas que fazem. Mas as organizações precisam também de um outro capital que não é o financeiro: elas precisam de capital intelectual. Aquilo que você faz bem e que para você é meio de vida ou simplesmente um hobby, pode ser de grande valia.

Os mais básicos conceitos de administração, de contabilidade, marketing, recursos humanos, muitas vezes são as maiores carências de muitas organizações. O seu networking ou a sua habilidade com artes, escrita, contação de histórias, pode ser transformador e causar um impacto para a vida dessas ONGs.

  1. “Não tenho tempo, nem dinheiro”

Você trabalha 8h por dia; 40 horas por semana, 160h por mês. Você poderia doar 1% do seu tempo? Coisa como 1h30m do seu mês inteiro, por uma causa? Uma única vez (que seja) no mês para visitar um projeto social? A gente passa muito mais tempo do que isso todos os dias navegando à toa em redes sociais. E 1% do seu salário? Se você ganhar R$ 3 mil, estou falando de R$ 30 reais. Visite o site de ONGs como os Médicos Sem Fronteiras, Turma do Bem ou Saúde Criança e veja o que R$ 30 reais mensais podem proporcionar a uma criança pobre, desnutrida e desamparada.

  1. “É tudo culpa da política e dos políticos”

Realmente o quadro político no Brasil é de deixar qualquer um indignado. Como podemos aceitar o jogo que segue enquanto milhões vivem em situação de pobreza e todos nós expostos à violência? Talvez tenhamos que esperar as próximas eleições, mas enquanto isso, que tal exercitar a sua dignidade? Comece varrendo a sua calçada. Todos os dias. Quando não for mais preciso varrer a calçada, ande pelo quarteirão do seu bairro.

Observe os canteiros, as pichações, limpe-os. Chame ajuda, você vai precisar. Quando não houver mais calçada para varrer nem quarteirões para cuidar, olhe para o seu bairro. Depois para sua cidade e talvez para o planeta. Enquanto isso, recolha o seu lixo. Transforme a sua indignação em dignidade e passe-a adiante. Acredite, ela é contagiante.

  1. “Acredito que, a saída, seja gerar riqueza para o país sair da pobreza”

E que tal gerar riqueza enquanto resolve problemas sociais, e não “ao invés de”? Hoje já é possível investir em Negócios Sociais, um conceito que explica empresas que foram criadas a partir de ONGs e nas quais todo o lucro obtido é reinvestido na missão para a qual se dedicam. O dinheiro é parecido com uma doação porque é colocado em uma causa social; a diferença, é que ele é devolvido pela instituição depois de um período de tempo e com juros.

Em outras palavras, o seu dinheiro faz o bem por gerar riquezas em um sistema de economia solidária que é voltado para oferecer serviços e produtos para as camadas mais pobres e miseráveis. Mas ele é devolvido para que você possa guardar ou reinvestir novamente na ONG.

  1. “Quem sou eu para fazer alguma coisa?”

Greta Thunberg é uma garota sueca que aos 16 anos, indignada com o descaso dos governos com o tema das mudanças climáticas, começou uma campanha nas redes sociais para chamar os estudantes da sua escola para um protesto. O resultado, foi um movimento que ganhou adesão mundial em um dia que ficou marcado por uma paralisação de escolas de centenas de países, culminando com a jovem Greta sendo indicada para o Prêmio Nobel da Paz.

Talvez você tenha lido algo a respeito dela, mas certamente nunca ouviu falar da Valderez Noronha, que aos 91 anos já costurou e doou mais de 50 mil roupinhas de bebê – ela faz isso desde que se casou, muitos anos atrás. Pequenos gestos, anônimos, são capazes de criar impactos e bens inimagináveis. Basta começar.

  1. “Preciso ganhar a vida, não dá mesmo tempo pra nada”

Bem, então escolha trabalhar em empresas com Propósito. Cada vez mais as empresas se conscientizam que não é possível ganhar dinheiro sem olhar o entorno, sem se preocupar com o lixo que produzem, com a poluição que geram e com a pobreza. Empresas que já concluíram que não será possível serem bem sucedidas em sociedades falidas.

E por essa razão, mobilizam seus funcionários, criam ambientes de trabalho estimulantes e decentes, além de se engajarem em causas. Muitas são conhecidas por receberem um Certificado de “Empresas B”, de Benefit (algo como “empresas do bem”). Preste atenção quando for procurar ou mudar de emprego.

  1. “Eu realmente não levo jeito para essas coisas”

Ok, nenhum dos argumentos anteriores o convenceu. Mas você, ainda assim, segue sendo uma pessoa normal que trabalha, come e dorme. Escolha consumir produtos e serviços produzidos por organizações comunitárias, produtores orgânicos, feitos com sistemas que permitem a reciclagem. O poder do seu dinheiro, representado pelo poder do seu consumo, são capazes de financiar uma indústria que cada vez mais tenta remar na contramão do capitalismo que puramente visa o lucro, para um capitalismo que visa também o bem. Escolha consumir com causa, simples assim.

“Viver como se não houvesse amanhã”

Meu oitavo argumento é ainda mais simples. Não podemos viver como se não houvesse amanhã, porque apesar de nós, haverá um amanhã. Se não estivermos mais aqui, esse amanhã será o dos nossos filhos, sobrinhos, netos. A maneira como atuamos hoje e, principalmente, as decisões que tomarmos agora, é que vão definir em que mundo eles viverão. A que graus de violência, miséria e vulnerabilidade social eles estarão expostos. Se não for por você, faça por eles.

* Celso Grecco é consultor e palestrante em desenvolvimento socioambiental e autor do livro “A Decisão De Que O Mundo Precisa – 7 caminhos para você sair da indiferença e fazer algo pelo futuro da nossa sociedade”. Atua há mais de 20 anos como consultor em temas sociais e ambientais, no Brasil e no mundo, já tendo recebido diversos prêmios e reconhecimentos internacionais. Dentre eles, o prêmio Vision Awards. Foi citado no livro The Power of Unreasonable People e na revista Der Spiegel como um dos “salvadores do mundo”, ao lado de Angelina Jolie, Bill Gates, Bill Clinton, Muhammad Yunus e Al Gore.

Sobre o livro

Escrito por Celso Grecco,livro A decisão de que o mundo precisa, lançado em julho pela Editora Gente,  já é um dos 20 mais vendidos no Brasil, segundo a Publish News, que avalia semanalmente o ranking das livrarias. Ele apresenta nesta obra uma visão sobre os problemas que afligem a nossa sociedade: pobreza, mudanças climáticas e a chamada ‘Epidemia da Solidão’.

Na obra, o autor utiliza linguagem coloquial e histórias inspiradoras de brasileiros que se transformaram iniciativas sociais em casos de sucesso internacional, atraindo investidores e colecionando prêmios, para mostrar a necessidade, cada dia mais urgente, de todos nos engarjarmos em uma causa social, para fazer do mundo um lugar melhor para todos.

O livro tem prefácio do ex-presidente da Febraban, Fabio C. Barbosa, do ABN Amro e Grupo Santander. Afinal, lucro social também pode gerar dividendos e ser medido em Bolsa de Valores. E esta é só mais uma lição do livro que trata da importância das organizações sociais e do desenvolvimento de uma consciência da coletividade que precisa ser criada desde as escolas.

Em linguagem simples e para leigos, a obra mostra como cidadãos comuns podem se engajar pela transformação de problemas mundiais. “Não construiremos uma sociedade mais justa nem teremos a segurança de um futuro mais promissor apenas evitando o errado. É necessário buscar ativamente o certo”, afirma o autor.

Sobre o autor

Celso Grecco é criador da primeira Bolsa de Valores Sociais (BVS) do mundo em 2003, para a então Bovespa no Brasil, adotada como estudo de caso e recomendada para as demais Bolsas de Valores do mundo pela ONU. O consultor e palestrante em desenvolvimento socioambiental é Fellow Ashoka, Senior Fellow Synergos e também coautor do livro Financing the Future: Innovative Funding Mechanisms at Work (Editora Terra Media, Berlim, 2007)

Atuou como consultor de branding para o Charity Bank, primeiro banco sem fins lucrativos do mundo, com sede na Inglaterra. Em 2015 esteve em Pequim, China, homenageado como um dos 5 finalistas do Prêmio Olga Alexeeva, outorgado pela Alliance Magazine da Inglaterra, que reconhece pessoas com contribuições relevantes ao setor social de países em desenvolvimento.

Em 2008, recebeu o prêmio Vision Awards em Berlim entregue pelo ganhador do Prêmio Nobel da Paz, o Professor Muhammad Yunus, e, em dezembro do mesmo ano, foi homenageado na ONU em Nova York.

Colaborou com o livro Financing the Future – Innovative Funding Mechanisms at Work publicado na Alemanha. Citado no livro Empreendedores sociais: o exemplo incomum das pessoas que estão transformando o mundo (Editora Campus, 2009) teve também o perfil retratado nas revistas Newsweek (Estados Unidos) e Der Spiegel (Alemanha).

SERVIÇO:

Livro: A decisão de que o mundo precisa – 7 caminhos para você sair da indiferença e fazer algo pelo futuro da nossa sociedade

Autor: Celso Grecco

Gênero: Negócios, Inovação Social

Páginas: 192

Preço de capa: R$ 34,90

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