O intestino é o órgão é responsável pela absorção de nutrientes, eliminação de resíduos e por manter o equilíbrio de bactérias benéficas para o organismo. Com milhões de terminações nervosas, é também considerado o segundo cérebro. Estudos recentes apontaram a influência que o intestino exerce no funcionamento do corpo como um todo, desde funções vitais simples, até chegar nas emoções podendo ser responsável, inclusive, por transtornos mentais.
Segundo dados da Organização Mundial de Gastroenterologia, cerca de 20% da população global sofre algum problema intestinal e 90% das pessoas não procuram orientação médica precocemente. Essa falta de cuidado pode trazer prejuízos, levando a problemas como diarreia, constipação, refluxo e até doenças mais graves, como câncer de cólon.
“Por isso, qualquer alteração deve ser avaliada e investigada o quanto antes. Muitas pessoas acreditam que é normal ficar dias sem evacuar e acabam procurando ajuda apenas quando estão com o intestino solto demais, a famosa diarreia, mas ambos os casos são preocupantes e precisam de acompanhamento”, afirma Lucas Nacif, cirurgião gastrointestinal e membro do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD).
Existem inúmeras doenças do intestino como a doença celíaca, a síndrome do intestino irritável, as infecções em geral; além da diverticulite aguda, colite isquêmica e até câncer de intestino, que também são doenças inflamatórias intestinais que merecem atenção. Há ainda outras doenças perianais como fístula anal, hemorroida e fissuras.
Por isso, é preciso ficar atento a qualquer sinal que o intestino possa não estar funcionando bem e buscar ajuda médica para realizar exames como endoscopia e colonoscopia, já que além das doenças mais comuns já citadas, ainda e
Entre os principais sintomas que podem indicar males intestinais, estão a sensação de estufamento e desconforto abdominal, o acúmulo de gases (flatulência), as cólicas intestinais, diarreia ou constipação, falta de apetite, perda abrupta de peso, enjoos, sangue nas fezes ou grande mudanças nos hábitos de evacuação precisam ser investigados.
Diante da importância do diagnóstico precoce, o mês de maio passou a ser destinado para conscientização das doenças inflamatórias intestinais (
“Em geral, e como o próprio nome revela, são condições que inflamam e afetam todo o trato gastrointestinal ou apenas partes específicas, como o cólon e o reto, mas que merecem atenção e cuidado especial, uma vez que existe uma conexão entre estas doenças e aumento no risco de câncer colorretal”, alerta.
Atenção à frequência da evacuação e formato das fezes
Ou seja, a frequência com que a pessoa vai ao banheiro assim como o formato das fezes é um primeiro e importante indício para procurar um profissional. “Com a detecção precoce e o controle adequado das doenças inflamatórias intestinais é possível diagnosticar alguma doença, realizar o tratamento correto e principalmente, reduzir o risco de câncer colorretal”, alerta Nacif.
Entre as principais doenças inflamatórias intestinais, os sintomas mais comuns são: dor abdominal, diarreia, estufamento abdominal, distensão e cólicas. O tratamento envolve mudanças na dieta, manejo do estresse, medicamentos para alívio dos sintomas e em casos mais avançados, cirurgia para remoção das partes afetadas.
Esse grupo de doenças inflamatórias, de caráter imunomediado, é uma condição complexa que pode afetar todo o trato gastrointestinal, da boca ao ânus. “Estes processos inflamatórios ao longo do trato digestivo são marcados pela resposta exagerada do organismo, composta por diversas etapas e que merecem atenção do começo ao fim”, conclui.
A doença de Crohn e a retocolite ulcerativa são as principais representantes das Doenças Inflamatórias Intestinais (
“A doença de Crohn pode afetar qualquer parte do trato gastrointestinal, desde a boca até o ânus e é caracterizada por inflamação crônica que pode se estender através de todas as camadas da parede intestinal. Os sintomas incluem dor abdominal, diarreia, perda de peso, fadiga, febre e sangramento retal, entre outros”, explica o médico cirurgião do aparelho digestivo Rodrigo Barbosa, da capital paulista
Ele fala também sobre a retocolite ulcerativa: “Geralmente afeta apenas o cólon e o reto e é caracterizada por inflamação e úlceras na mucosa do cólon e do reto e os sintomas comuns são a diarreia com sangue, dor abdominal, urgência para evacuar, perda de peso e fadiga”, diz.
Uso de antibióticos pode causar infecção intestinal recorrente
Colite causada pela bactéria Clostridioides difficile provoca dor abdominal, diarreia e, em casos graves, pode ser necessária cirurgia
O uso de antibióticos está relacionado ao surgimento de colite por Clostridioides difficile (C. difficile), uma infecção intestinal que provoca diarreia, dor abdominal e, em casos graves, pode causar perfuração da parede intestinal e necessidade de cirurgia para retirada do segmento acometido.
O diagnóstico nem sempre é precoce. A diarreia, principal sintoma que acomete estes pacientes, também é manifestação de inúmeras outras doenças e o acesso a exames diagnósticos mais acurados ainda é restrito no nosso meio.
A origem do problema está relacionada ao desequilíbrio da microbiota (flora) intestinal, com redução do número e da diversidade de bactérias benéficas ao organismo, o que gera a proliferação da C. difficile.
“Esse desequilíbrio, na maioria das vezes, está associado ao uso de antibióticos, mas doenças crônicas, tratamentos imunossupressores e quimioterapia também se associam a infecção, sobretudo em pacientes hospitalizados”, alerta Eduardo Garcia Vilela, gastroenterologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Os sintomas podem surgir entre 72 horas e dois meses após o uso dos antibióticos e, em cerca de 20% dos casos, a despeito da resposta terapêutica, há recorrência da infecção em até 8 semanas.
“Por isso, é importante o indivíduo estar atento e buscar ajuda médica quando há recrudescência da diarreia, assim o tratamento apropriado pode ser realizado precocemente,” recomenda o Dr. Vilela.
Para auxiliar o médico no diagnóstico, o especialista recomenda estar atento ao contexto clínico do paciente, sobretudo ao uso recente de antibióticos.
Para que o tratamento seja efetivo, existem medicamentos direcionados contra C. difficile, mas a confirmação do diagnóstico por meio de exames de fezes específicos se faz necessária. Contudo, dependendo do caso, o médico também pode utilizar exame endoscópico para avaliar a mucosa do intestino grosso.
A colite por C. difficile pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais frequente a partir dos 65 anos e em pessoas com o sistema imunológico desregulado, seja porque é portador de doenças crônicas de caráter autoimune, tais como as doenças inflamatórias intestinais (DIIs), seja por meio de doenças oncológicas ou mesmo pelo uso de medicamentos necessários para o tratamento destas doenças.
Vale ressaltar que o uso indevido de antibióticos pode aumentar ainda mais a incidência da infecção pelo C. difficile, sendo este um dos motivos pelos quais esta classe medicamentosa é vendida em farmácias somente com retenção da receita.
Com Assessorias