A campanha organizada pela Organização Paramericana da Saúde (Opas) traz neste ano o tema “Sua decisão faz a diferença”. Além de elevar as coberturas vacinais, a iniciativa pretende contribuir com as metas de eliminação de doenças, que buscam eliminar mais de 30 enfermidades até 2030.
Entre elas, estão 11 preveníveis com vacinação, como sarampo, febre amarela e hepatite b, além da meningite bacteriana e do câncer de colo de útero – este último, pode ser evitado com a vacina contra o vírus HPV.
Uma doença que pode ser prevenida por vacinas, mas tem causado grande preocupação este ano é a febre amarela. Até o momento, 189 casos foram confirmados em todo o continente, três vezes mais do que os registros de todo o ano passado. O Brasil se destaca, com 102 casos e 41 mortes.
Atenção aos casos de sarampo
Neste momento, no entanto, há atenção especial para a imunização contra o sarampo, diante dos surtos registrados nos Estados Unidos, Canadá e México, com mais de 2,6 mil casos confirmados e três mortes. O número é mais de dez vezes superior aos 215 casos registrados no mesmo período de 2024.
No ano passado, o Brasil voltou a receber o certificado de país livre do sarampo, e, por enquanto, os casos confirmados neste ano não comprometem o título, já que não há transmissão sustentada da doença em território nacional.
Para evitar que isso aconteça, o Ministério da Saúde convoca todas as pessoas que não receberam a vacina na infância, ou que não têm certeza se receberam, para tomar a tríplice viral, que protege contra o sarampo, a caxumba e a rubéola.
Sarampo mata crianças desnutridas ou com baixa imunidade
A chefe de Saúde e Nutrição do Fundo das Nações Unidas para a Infância-Unicef no Brasil, Luciana Phebo, lembra que o Brasil exerce uma grande influência regional e, historicamente, é um bom exemplo de sucesso na política de vacinação. Por isso, evitar que o sarampo volte a circular em território nacional tem uma importância ainda maior.
O sarampo é um vírus que se dissemina muito rápido, e ele mata, especialmente, crianças desnutridas ou que têm uma imunidade afetada. O controle do sarampo também é um marcador importante de que o programa nacional de vacinação está funcionando bem, não só com relação ao próprio sarampo, mas para as demais vacinas”, afirma Luciana Phebo.
Ela lembrou que o Brasil já eliminou o sarampo e perdeu esse certificado alguns anos atrás. “Agora, esperamos que isso não aconteça, não só pelo pela importância interna, mas também pela importância que o Brasil tem no mundo”, complementa.
‘Doenças não têm fronteiras’, diz pesquisador
Ainda que o aumento das coberturas vacinais seja um desafio global, especialistas defendem que é preciso focar nas realidades particulares de cada comunidade, inclusive para combater a desinformação. O assessor científico sênior da Fundação Oswaldo Cruz, Akira Homma, destaca a importância de ações coordenadas entre os países.
Os agentes infecciosos não têm fronteiras, então é preciso vacinar todo mundo para gente ficar realmente protegido. Principalmente quando a cobertura vacinal está caindo em outros países, nós precisamos manter as coberturas altas, porque, assim, mesmo que uma pessoa doente de outro país chegue aqui, a doença não vai e disseminar, se tornar um surto ou uma epidemia”, afirma.
Para Lurdinha Maia, que também é pesquisadora da Fiocruz, Ao invés de falar sobre a eficácia da vacina, por exemplo, a gente tem que fazer essa tradução para a população.
Isso é a popularização da ciência, popularização do conhecimento. Como fazer isso nas diversas realidades que a gente tem no país? A gente tem que consultar quem tá la na base, as pessoas que trabalham e as pessoas que vivem nesses territórios”, destaca
Os dois especialistas coordenaram, de 2021 a 2023, o Projeto pela Reconquista das Altas Coberturas Vacinais, que ajudou os dois estados com os piores índices de vacinação contra a poliomielite, Amapá e Paraíba, a alcançarem as metas, após intervenções baseadas nas realidades dos municípios.
“Um dos grandes problemas que a gente detectou nesse projeto é a questão do acesso aos centros de vacinação. Aqui no Rio de Janeiro, tem esse centro especial [Super Centro Carioca de Vacinação], que funciona até 22h e também sábados, domingos, feriados. Isso facilita a população a completar a vacinação. A vacina tem que ser levada aos pontos de aglomeração, metrô, aeroportos, shopping center… Essas iniciativas têm que ser reproduzidas em outros municípios”.
Semana Mundial da Imunização
“Imunização para Todos é Humanamente Possível” é o tema da Semana Mundial de Imunização, realizada entre os dias 24 e 30 de abril todos os anos, que visa destacar não apenas o que a vacinação faz para melhorar vidas hoje, mas também o que pode conquistar nas próximas décadas, promovendo o uso de vacinas na proteção contra doenças em pessoas de todas as idades.
A campanha visa aumentar a conscientização e a proteção da população contra doenças evitáveis por vacinas. A data foi criada pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), em 2002, com a denominação deSemana de Vacinação nas Américas. Em 2012, a campanha foi estendida pela OMS para todo o planeta, tornando-se Semana Mundial de Imunização.
Segundo a OMS, as campanhas globais de vacinação da segunda metade do século XX são uma das maiores conquistas da humanidade. Em apenas cinco décadas, o cenário se transformou de um mundo onde a morte de uma criança era algo temido por muitos pais, para um mundo onde cada criança vacinada tem a chance de sobreviver e prosperar.
No entanto, ainda segundo a OMS, nos últimos anos, o progresso na imunização diminuiu. Embora mais de 4 milhões de crianças tenham sido vacinadas globalmente em 2022, em comparação com 2021, ainda havia 20 milhões de crianças que não receberam uma ou mais vacinas.
Como resultado, o mundo está testemunhando surtos repentinos de difteria e sarampo, doenças que, até agora, estavam praticamente sob controle. Embora a cobertura vacinal global seja boa – com 4 em cada 5 crianças totalmente cobertas – ainda há muito a fazer. Por isso, é fundamental o compromisso de todos, reforçando o benefício e o poder da vacinação e lembrando que as vacinas salvam vidas.
Da Agência Brasil