Altamente contagioso e perigoso, o sarampo está de volta ao Brasil e, em especial, no Estado do Rio de Janeiro. Após ser eliminado do Brasil em 2016 graças à eficiência do Programa Nacional de Imunizações (DPNI), que serve de modelo para o mundo, o vírus da doença voltou a circular devido à baixa cobertura vacinal, motivada principalmente pelo movimento negacionista e antivacina, que ganhou força no Brasil durante o governo de Jair Bolsonaro.
Entre fevereiro e março, três casos foram confirmados no Rio de Janeiro, sendo dois em São João de Meriti e outro em Itaboraí. Em 2025, até o momento, a capital não registrou nenhum caso da doença, mas com os registros recentes em cidades vizinhas, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio (SMS) decidiu iniciar, nesta segunda-feira (24), uma mobilização de combate ao sarampo.
Vacina contra o sarampo é aplicada de graça na rede pública de saúde (Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil)
O objetivo é levar a vacina a locais com grande circulação de público, facilitando o acesso do carioca à imunização. As ações de vacinação acontecem de segunda a sexta-feira, das 8 às 16h, no Terminal Gentileza e no Aeroporto Santos Dumont. Já na Central do Brasil, a imunização será realizada na terça e na quinta-feira, no mesmo horário.
De acordo com a SMS, a ação visa garantir o esquema vacinal contra o sarampo para adultos de 18 a 59 anos que não estejam imunizados, ou para os que fazem parte da faixa etária de até 29 anos que tenham recebido apenas uma dose, de modo a completar seu esquema vacinal com a segunda dose.

O imunizante está disponível para crianças e adultos em todas as 239 unidades de Atenção Primária do município (clínicas da família e centros municipais de saúde), além do Super Centro Carioca de Vacinação, em Botafogo, que funciona todos os dias, das 8h às 22h; e o Super Centro Carioca de Vacinação unidade Campo Grande, localizado no ParkShoppingCampoGrande, que também funciona todos os dias, de acordo com o horário de funcionamento do centro comercial.

Busca ativa por pessoas sem vacina contra sarampo em Meriti

Já neste sábado (22), em São João de Meriti,  Ministério da Saúde, Secretaria de Estado de Saúde e Prefeitura do município promoveram uma força-tarefa para a busca ativa por casos de sarampo e para um dia de campanha para vacinação de pessoas de 9 meses a 59 anos não vacinadas contra a doença no bairro de Venda Velha. 
Os profissionais de saúde aplicaram duas mil doses de vacina, rua por rua, no perímetro da residência dos casos. Como parte das ações, também foi mapeado o território onde residem os infectados para que profissionais de saúde realizassem a varredura para impedir a transmissão na vizinhança. Pelo menos 40 equipes de saúde da família fizeram uma varredura, percorrendo as casas nas imediações onde dois casos de sarampo foram confirmados na semana passada.

A Escola Municipal Valério Vilas Boas Filho, em Vilar dos Teles, distrito de São João de Meriti, serviu de base para as equipes e como ponto de partida da ação. A finalidade é ampliar a investigação em relação a pessoas que tiveram possível contato com os casos confirmados e imunizar quem não esteja protegido contra a doença.

A atendente de farmácia Bruna Passos levou os três filhos até a escola para checar se as crianças  estavam protegidas contra a doença. Apenas a caçula Peróla Vitória Rodrigues, de 2 anos, precisou ser vacinada.

Essa ação é muito importante porque o sarampo é uma doença grave. Sempre que tem alguma mobilização, faço questão de vir. Hoje vou trabalhar mais tranquila sabendo que meus filhos estão protegidos”, disse Bruna.

A prioridade da busca ativa é o público de 9 meses a 59 anos de idade que não estiver vacinado. A dose zero será aplicada, se houver necessidade, para crianças de 9 a 11 meses. Menores de 12 meses não vacinados poderão receber a primeira dose durante a ação. A administradora Cristiana Muniz de Souza, foi vacinada na porta de casa, e aprovou a medida.

Fiquei surpresa com a ação na porta de casa. Eu tenho 45 anos e não tomei nenhuma dose contra o sarampo, então acho vai ser efetivo porque muitas pessoas podem não ter sido vacinadas, assim como eu”, afirmou.

Cristiana Muniz de Souza, foi vacinada na porta de casa, e aprovou a medida (Foto: Maurício Bazilio / SES-RJ)

‘Sarampo já foi erradicado, mas ainda inspira cuidados’, diz diretor do PNI

O Brasil foi reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como país livre do sarampo em 2024, após ter perdido o título em 2019. O sarampo já foi erradicado no país, mas casos pontuais da doença podem ser registrados, mas não comprometem a certificação do país, segundo o Ministério da Saúde.

A pasta intensificou as ações de vigilância e reforçou a vacinação contra o sarampo após a confirmação de três casos recentes da doença no país. Além dos dois casos esporádicos foram notificados no estado do Rio, outro caso foi identificado no Distrito Federal.

O sarampo ainda circula em outras partes do mundo, podendo eventualmente ser introduzido no território nacional. A reposta rápida por parte do Ministério da Saúde e as secretarias estadual e municipal de saúde é fundamental para impedir a transmissão do vírus”, informou a pasta.

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Quatro técnicos permanecem em São João de Meriti (RJ) para dar prosseguimento às ações de prevenção e controle (Foto: João Vitor Moura/MS)
Quatro técnicos do Ministério da Saúde permanecem no município para dar prosseguimento às ações de prevenção e controle.    Com o apoio do estado, que enviará veículos e estrutura, será realizada a vacinação extramuros em São João de Meriti. O diretor do PNI, Eder Gatti, esteve à frente da comitiva do Ministério da Saúde que veio ao estado. Em sua visita, pontuou que ações conjuntas como esta têm mais força.

Organizamos as equipes locais de saúde para fazer ações de varredura na área onde os casos foram encontrados. Junto com a equipe local, foi feito o bloqueio vacinal na cidade – a imunização de pessoas que tiveram contato com os infectados.  Delimitamos o território e capacitamos os profissionais do município para a realização da busca ativa vacinal”, acrescenta o diretor.

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Eder Gatti, diretor do Departamento Nacional de Imunização do Ministério da Saúde, também participou da missão (Foto: João Vitor Moura/MS)

De acordo com dados do Ministério da Saúde, a cobertura vacinal tríplice viral, que protege contra o sarampo, foi de 73,8% para a primeira dose, em 2024, em São João de Meriti. Outras ações de imunização e vigilância estão em curso, como vacinação nas escolas e em outros bairros do município e busca de casos suspeitos nos serviços de saúde. 

A tríplice viral é uma vacina extremamente confiável. Ela é eficiente, já estamos familiarizados com ela há, no mínimo, 30 anos. Com o ciclo completo, garantimos a segurança do nosso país contra o sarampo, que já foi erradicado, mas inspira nossos cuidados”, explica Gatti.

São João de Meriti integra a Região de Saúde Metropolitana I, composta por outros 11 municípios: Belford Roxo, Duque de Caxias, Itaguaí, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Queimados, Rio de Janeiro e Seropédica, que também estão sendo monitorados com atenção pela pasta.

Capacitação de profissionais de saúde

A Secretaria de Estado de Saúde informou que, desde a confirmação dos casos em São João de Meriti tem tomado medidas junto ao Ministério da Saúde e ao município para evitar a transmissão do vírus. Na sexta-feira (21), as equipes Vigilância Epidemiológica e Atenção Primária à Saúde do estado promoveram uma ação para capacitar esses profissionais de saúde.

Além de sensibilizar os agentes para a detecção de possíveis casos de sarampo na cidade, a Secretaria também os orientou na adoção de novas tecnologias que informatizam a varredura e o registro das vacinas aplicadas.

Nosso objetivo é formar e promover a vacinação que faça uma barreira contra o sarampo, com foco especial em quem pode estar vulnerável nesta região. O estado tem amparado o município desde a notificação da suspeita há uma semana. E então, visitamos, escutamos e junto do Ministério da Saúde formamos uma parceria forte para controlar a situação”, comenta a secretária de Estado de Saúde, Claudia Mello.

Na semana passada, o Ministério da Saúde confirmou dois casos em duas crianças menores de um ano, de uma mesma família, em São João de Meriti. Os bebês foram hospitalizadas, receberam cuidados médicos e passam bem.  Após a confirmação, o município foi orientado a vacinar os profissionais de saúde onde as crianças foram atendidas e a fazer busca ativa por casos suspeitos.

O secretário municipal de Saúde de Meriti, Carlos Neto, destacou a importância da parceria com a SES-RJ e o Ministério da Saúde. “Enfrentar o sarampo é um desafio que temos de superar. Vamos trabalhar juntos para aumentar nossa cobertura vacinal e atender os critérios do Programa Nacional de Imunizações”, disse.

Em fevereiro, o Ministério da Saúde havia confirmado outro caso esporádico de sarampo no município de Itaboraí (RJ). As amostras foram analisadas pelo Laboratório Central de Saúde Pública Noel Nutels (Lacen-RJ) e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Distrito Federal registra primeiro caso de sarampo desde 2020

Mulher não foi hospitalizada e tem histórico de viagem internacional

A Secretaria de Saúde do Distrito Federal confirmou esta semana um caso de sarampo: uma mulher com idade entre 30 e 39 anos e histórico de viagens internacionais. Em nota, a pasta informou que a paciente não precisou ser hospitalizada e a doença evoluiu sem complicações. A paciente apresentou os primeiros sintomas em 27 de fevereiro e as manchas vermelhas na pele surgiram em 1º de março.

Na capital federal, o caso de sarampo foi importado, isto é, a fonte de infecção foi em outro país. A paciente retornou recentemente de uma viagem internacional, na qual visitou cinco países e realizou diversos voos antes de retornar à cidade, no período do Carnaval.
O Ministério da Saúde acompanha junto à Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES/DF). “A resposta dada à doença incluiu isolamento, bloqueio vacinal, investigação epidemiológica e monitoramento de contatos”,  diz a pasta, em nota.
A confirmação ocorreu após exames laboratoriais realizados no Laboratório Central do Distrito Federal (Lace-DF) e na Fundação Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro (Fiocruz-RJ). De acordo com a secretaria, no ano de 2020 foram registrados cinco casos de sarampo, todos importados, como o registrado esta semana. Já o último caso da doença com transmissão local foi identificado no Distrito Federal no ano de 1999.

Dados da secretaria indicam que, neste momento, a cobertura vacinal contra o sarampo no Distrito Federal, em crianças menores de 2 anos, é de 97,2% para a primeira dose e de 88,3% para a segunda dose. A meta, estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é alcançar 95% em abas as doses.

Quatro de 10 casos ocorrem em crianças

Em nota conjunta, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o  Fundo das Nações Unidas pela Infância (Unicef) alertaram recentemente que crianças menores de 5 anos respondem por 40% dos casos reportados na Europa e a Ásia Central.

Ao longo de 2024, um total de 127.350 casos de sarampo – o dobro do que havia sido contabilizado em 2023 e o maior número desde 1997.  Em mais da metade desses casos, foi necessário hospitalizar o paciente.  Além disso, 38 mortes pela doença foram reportadas com base em dados preliminares recebidos até 5 de março.

De acordo com a OMS, os casos de sarampo na Europa e na Ásia Central vinham caindo desde 2017. As infecções, entretanto, voltaram a subir de 2018 para 2019, quando foram identificados 89 mil e 106 mil casos, respectivamente.

Após um retrocesso na cobertura vacinal durante a pandemia de covid-19, os casos de sarampo voltaram a subir significativamente em 2023 e 2024. As taxas de vacinação em diversos países ainda não retornaram aos níveis pré-pandêmicos, aumentando o risco de surtos”, alertou a nota.

Ainda segundo o comunicado, Europa e Ásia Central respondem, atualmente, por um terço do total de casos de sarampo registrados no planeta. Apenas em 2023, 500 mil crianças que vivem na regiam não receberam a primeira dose contra a doença, que deveria ser aplicada por meio de serviços de imunização de rotina.

As entidades alertam que países que atualmente não registram surtos de sarampo devem se preparar, inclusive para identificar e sanar lacunas de imunização, “construindo e sustentando a confiança pública nas vacinas e mantendo sistemas de saúde fortes”.

Pessoas de 1 a 59 anos devem ser imunizadas

Diante do risco da volta do sarampo no Brasil, as autoridades públicas de saúde fazem um alerta para a a importância da vacinação. De acordo com o Ministério da Saúde, todas as pessoas de 12 meses a 59 anos de idade têm indicação para serem vacinadas contra o sarampo.

A orientação da pasta é para que a população mantenha o cartão de vacinação em dia, independentemente de planos de viagem. A vacina indicada para combate ao sarampo é a tríplice viral, que protege ainda contra a rubéola e a caxumba.

O esquema vacinal recomendado pelo Ministério da Saúde é composto por duas doses para pessoas com idade entre 12 meses e 29 anos; uma dose para pessoas de 30 a 59 anos; e duas doses para profissionais de saúde, independentemente da idade.

A dose é contraindicada para gestantes, para pessoas com comprometimento imunológico em razão de doenças ou medicamentos e para indivíduos com histórico de reações alérgicas graves a doses anteriores ou a componentes da vacina. Além disso, a gravidez deve ser evitada por 30 dias após a aplicação do imunizante.

Adolescentes e adultos não vacinados ou com esquema incompleto contra o sarampo devem iniciar ou completar o esquema vacinal de acordo com a situação encontrada, respeitando as indicações do Calendário Nacional de Vacinação”, orienta a pasta.

Na rotina dos serviços públicos de vacinação, há duas vacinas disponíveis para proteção contra o sarampo:

  • vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola)
  • tetraviral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela)

A vacina tríplice viral é contraindicada durante a gestação. As gestantes não vacinadas ou com esquema incompleto deverão receber a vacina no puerpério. A depender da situação epidemiológica de cada localidade, há a necessidade de estabelecer outras estratégias.

Assim, além das doses de rotina estabelecidas no Calendário Nacional de Vacinação, a vacinação para o sarampo pode ser indicada para crianças de seis meses a menores de um ano, em localidades com o surto da doença, a depender da avaliação e indicação conjunta das três esferas de gestão.

Sintomas e formas de prevenção

O sarampo é uma doença febril aguda, altamente transmissível, que pode acometer pessoas em qualquer faixa etária. Sua transmissão ocorre diretamente por contato direto pessoa a pessoa, por meio de gotículas de secreções expelidas ao falar, tossir ou espirrar. Além disso, o contágio também ocorre por dispersão de gotículas com partículas virais no ar, em ambientes fechados como, por exemplo, escolas, creches e clínicas.

O ministério alerta que o sarampo é uma doença infecciosa altamente contagiosa que já foi uma das principais causas de mortalidade infantil em todo o mundo.  Apesar dos avanços significativos no controle e na prevenção, por meio da vacinação, a doença ainda representa um desafio para a saúde pública, sobretudo em regiões com baixas taxas de imunização .

Caracterizado por sintomas que podem ser confundidos com os de outras doenças virais, o sarampo exige atenção e conhecimento para ser identificado e tratado adequadamente”, destacou a pasta.

Os principais sintomas do sarampo são manchas vermelhas na pele, conhecidas como exantema, e febre alta, acima de 38,5 graus Celsius (°C), ambas acompanhadas de um ou mais dos seguintes sintomas:

  • tosse seca;
  • irritação nos olhos (conjuntivite);
  • nariz escorrendo ou entupido; e
  • mal-estar intenso.

No período de três a cinco dias, é comum aparecerem manchas vermelhas no rosto e atrás das orelhas que, em seguida, se espalham pelo restante do corpo. Após o aparecimento das manchas, a persistência da febre é um sinal de alerta e pode indicar gravidade do quadro, principalmente em crianças menores de 5 anos.

A transmissão do vírus acontece de pessoa a pessoa, por via aérea, ao tossir, espirrar, falar ou respirar: “o sarampo é tão contagioso que uma pessoa infectada pode transmitir para 90% das pessoas próximas que não estejam imunes”.

Por que o sarampo preocupa tanto?

Ainda de acordo com a nota da OMS e Unicef, “o sarampo é um dos vírus mais contagiosos que afetam pessoas. Além do risco de hospitalização e morte causado por complicações como pneumonia, encefalite, diarreia e desidratação, a doença pode causar problemas de saúde debilitantes, como a cegueira. O sarampo também pode danificar o sistema imunológico ao ‘apagar’ de sua memória como combater infecções, deixando os sobreviventes vulneráveis a outras doenças. A vacinação é a melhor linha de defesa contra o vírus”, reforçaram as entidades.

O vírus do sarampo se espalha facilmente pelo ar, infectando muitas pessoas rapidamente. Em crianças menores de 5 anos, o sarampo pode causar complicações graves como pneumonia e encefalite”, observa o médico pediatra Antonio Carlos Turner. “Quem já teve sarampo está imune à doença. Mas é importante ressaltar que o vírus do sarampo é mais contagioso que o da Covid-19, e sobrevive no ar por até 24 horas”, destaca.

Um agravante é que a doença não tem um tratamento específico: Por isso, é importante conscientizar a população sobre a importância da prevenção. “A vacina tríplice viral é segura e eficaz. A vacinação deve ser feita aos 12 e 15 meses de idade. O Ministério da Saúde, indica, no entanto, a dose zero para crianças de 6 meses em casos de surtos. A meta é alcançar 95% de cobertura vacinal para proteger toda a comunidade”.

Segundo ele, prevenir essa doença é fundamental.  “Não deixe o sarampo ameaçar a saúde dos seus filhos. Procure a unidade de saúde mais próxima e vacine-os. A vacinação é um ato de amor e responsabilidade. Proteja seus filhos e ajude a evitar a propagação do sarampo”, apela o diretor técnico da rede de clínicas Total Kids.

 

Da Agência Brasil e assessorias

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