“Quem tem fome, tem pressa”, já diria Herbert José de Souza, o Betinho, que fundou em 1993 a Ação da Cidadania contra a Miséria, a Fome e pela Vida. Ele também tinha pressa e conseguiu construir um importante legado social para o país enquanto lutava para vencer a Aids, doença adquirida numa transfusão de sangue. O sociólogo, que era hemofílico, morreu aos 61 anos, já bastante debilitado pela doença.

Passados 25 anos, a história da ONG que encurtou seu nome e mudou a forma como o brasileiro encara a solidariedade é contada em livro recém-lançado no Rio de Janeiro. Escrita pela publicitária Nádia Rebouças e pela jornalista Ana Redig, com ilustração de capa e projeto gráfico assinado pelo artista visual e designer Jair de Souza, a obra é uma atualização da publicação “Ação da Cidadania – 20 anos”, passando em revista os últimos cinco anos da ONG e os temas que a mobilizaram nesse período.

Entre eles, a retomada da campanha Natal sem Fome, em 2017, após 10 anos sem acontecer nacionalmente – por conta da iminente volta do Brasil ao ‘Mapa da Fome da ONU’ – uma ameaça que já se desenhava desde 2017, mas que ainda não é uma realidade e que esperamos que não seja.

De acordo com o Banco Mundial, e a informação que está reproduzida no livro, cerca de 28,6 milhões de brasileiros saíram da pobreza entre 2004 e 2014. No entanto, só em 2016, entre 2,5 milhões e 3,6 milhões de pessoas voltaram a viver abaixo do nível de pobreza. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), atualmente mais de sete milhões de brasileiros passam fome.

Entre 1993 e 2005 foram arrecadadas 30.351 toneladas de alimentos em todo o Brasil, beneficiando 3.035.127 famílias.  Entre 2006 e 2010 foram distribuídos 2.300.000 brinquedos e 500.000 livros em todo o país.

Nova campanha: a fome não é fake

Em 2017, uma campanha criada pela Agência Africa volta o foco da organização para sua razão de ser inicial: o combate à fome. Esta foi também a primeira campanha Natal sem Fome das redes sociais, que ganharam os perfis de diversos artistas como Caetano Veloso, Daniela Mercury, Mart’nália, entre outros.

Naquele ano, a meta estipulada foi de uma arrecadação de 500 toneladas, tendo chegado a 773 toneladas ao final, em dezembro de 2017. “Não dava mais para esperar. Acionamos nossa rede de solidariedade – comitês, parceiros, amigos – e as doações para os servidores começaram a chegar”, relembra Daniel Souza, filho de Betinho e presidente do Conselho da Ação.

Em função do sucesso da Campanha Natal sem Fome de 2017, a Ação da Cidadania ampliou a meta de 2018 para 2000 mil toneladas em todo o país. Neste ano, a campanha é assinada pela Agência Binder, em parceria com a FAO, e com o PMA – Programa Mundial de Alimentos, tem como mote “A fome não é fake”.

Uma doação pontual aos servidores públicos por conta de uma greve estadual, no Rio, também serviu como termômetro para que a Ação voltasse a promover o Natal sem Fome, em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

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CD ‘Brasil são outros 500’ é relançado

O livro é uma parte das peças que vão comemorar os 25 anos da Ação da Cidadania, compostas ainda por um documentário, dirigido por Victor Lopes, a ser lançado no primeiro semestre de 2019.

No dia 7 de dezembro, também foi relançado o CD originalmente batizado “Brasil são outros 500”, agora chamado de “Ação da Cidadania 25 anos (Biscoito Fino), com novas faixas e novo projeto gráfico.

Foram incluídas três novas faixas: as músicas “Peço a Deus”, de Mart’ nália, “Comida”, de Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sérgio Britto, e “Ideologia”, de Cazuza, interpretadas respectivamente por Mart’ nália e Vladimir Brichta, Gabriel Moura, Lúcio Mauro Filho e Rodrigo Suricato, e Frejat e Júlio Andrade.

Polêmica em torno da sede da Ação

Imponente armazém na Zona Portuária sedia desde o ano 2000 a ong Ação da Cidadania (Foto: Rosayne Macedo)

O lançamento acontece em meio à polêmica envolvendo a permanência da Ação no galpão Docas Pedro II, que está sendo pleiteado na Justiça para abrigar um centro de memória do Cais do Valongo, tombado em 2017 pela Unesco na Região Portuária do Rio.

No livro, Kiko Afonso – filho de Carlos Afonso, que junto com Betinho fundou o Ibase, e foi conduzido à ONG porDaniel Souza – fala sobre a recente ocupação do galpão Docas Pedro II: “A posse permanente do Armazém é determinante para construir qualquer projeto mais estruturante. Sem isso, não há segurança de que o projeto não vá ser interrompido por perda do espaço na justiça”, acredita.

A publicação ainda traz informações sobre a criação do Núcleo Audiovisual; o Fórum Nacional dos Comitês, em 2018, que trouxe mais unidade ao movimento, e também a proposta de um novo modelo de gestão, trazido por Kiko Afonso.

Fartamente ilustrado, o livro traz ainda depoimentos de todos os colaboradores do staff fixo da Ação da Cidadania de seu comitê central, no Rio de Janeiro, além de depoimentos de representantes dos comitês no Estado do Rio e de todos os comitês nacionais, totalizando mais de 20 em todas as regiões do país.

“Sempre que possível, a Ação Pernambuco Solidário apoiou, também, as mobilizações dos estados da Paraíba, Alagoas e Maranhão. E como a festa não pode parar, já começamos 2018 com bailes carnavalescos solidários que arrecadaram mais de 80 toneladas de alimentos em apenas 15 dias”, relata Anselmo Monteiro, do Comitê Pernambuco.

Como adquirir e ajudar o Natal Sem Fome 2018

O livro ‘Ação da Cidadania – 25 anos’ pode ser adquirido por meio do site www.natalsemfome.org.br, onde pode também podem ser feitas doações para o Natal sem Fome 2018. O custo do livro é R$ 85, fora as despesas de frete e envio. Como Ler faz Bem e, neste caso, ainda ajuda o próximo, que tal correr logo para garantir o seu exemplar?

Da Redação, com Assessoria da Ação da Cidadania

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