Elas não querem apenas superar a sua dor. Elas também querem recuperar sua autoestima, se olhar no espelho e gostar do que vêem. Mesmo se alguém acha que perder cabelos ou sobrancelhas é mais importante que perder a vida. Este mês, quatro dessas mulheres serão destaque de uma mostra fotográfica que resgata a sensualidade de vítimas de câncer de mama. Elas, com certeza, lavam a alma.
De 15 a 21 de outubro, a Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, e de 18 a 31 de outubro, a Estação Carioca do MetrôRio, recebem um ensaio sensual intimista de quatro mulheres que tiveram câncer de mama e, que hoje, personificam a força e a sensualidade feminina. As fotos foram tiradas pela premiada fotógrafa Nana Moraes com pacientes de diferentes idades e momentos do tratamento.
A exposição #50TonsDeRosa faz parte da campanha Outubro Rosa, de conscientização sobre a doença, numa iniciativa da FQM, em parceria com a Fundação Laço Rosa. O objetivo é trazer à tona os assuntos sexualidade e autoestima entre pacientes com câncer de mama.
Você é maior que a sua mama, ou que a ausência da sua mama”, afirma uma das ‘modelos’ escolhidas para o ensaio sensual, a socióloga Leoni Simm, de 63 anos, que desde 2001 vem lutando contra a doença.
Para a presidente da Fundação Laço Rosa, Marcelle Medeiros, falar sobre sexo ainda é uma questão delicada para pacientes com câncer. Segundo ela, o tema é um enorme tabu para essas pacientes, que, na maioria das vezes, são submetidas a processos de mastectomia e perdem os cabelos.
Esses fatores causam grande impacto na autoestima e, durante e depois do tratamento, muitas não conseguem voltar aos seus relacionamentos íntimos. O que pouca gente sabe, é que essas pacientes podem sim ter uma vida sexual normal”, afirma.
O objetivo da campanha é ajudar mulheres portadoras de câncer de mama a redescobrirem sua sensualidade e voltarem a ter uma vida sexual ativa e saudável. “Vamos chamar a atenção para a causa, fomentar as redes sociais com o assunto e falar sobre sexo em consultas com ginecologistas”, afirma a gerente de Grupo de Produto da FQM, Cinara Oliveira.
Vida sexual é prejudicada, diz especialista
Vários aspectos da vida das mulheres podem ser impactados pelo tratamento, seja no trabalho, na rotina em casa ou nos seus relacionamentos e vida sexual. Este último é mais um tabu que precisa ser quebrado quando o assunto é o câncer de mama. Segundo Gilberto Amorim, oncologista da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), durante o tratamento, a vida sexual da paciente é prejudicada por fatores físicos e psicológicos: “A autoestima pode ser comprometida pela mastectomia sem reconstrução da mama e pelos efeitos da quimioterapia, como a queda dos cabelos. Além disso, é normal que a mulher se sinta mais cansada e tenha menos desejo”.
O especialista comenta que os efeitos físicos dependem do tipo de tratamento realizado. No caso de terapias hormonais, os sintomas são parecidos com os da menopausa: “secura vaginal, ondas de calor, queda da libido, inchaço. Em alguns casos, ocorre uma atrofia vaginal que faz com que a mulher sinta muita dor na relação sexual e, por construir uma memória ruim daquele momento, não sente mais vontade de tentar”, explica.
São problemas contornáveis com apoio de médicos e psicólogos. Segundo o Dr. Gilberto, para lidar com os efeitos colaterais do tratamento de câncer de mama, as pacientes podem usar, em casos selecionados, cremes à base de derivados de estrogênio, que trabalham a elasticidade do músculo, ou com laser íntimo. Para a secura vaginal, o lubrificante à base d’água é uma ótima solução.
Os fatores emocionais são tão significativos quantos os físicos. “A sexualidade está muito na cabeça”, defende o oncologista. “É preciso conversar com o companheiro ou com a companheira, com o médico, caprichar mais nas preliminares. São problemas de solução simples quando há abertura para o diálogo”, completa.
Ele ainda lembra que, quando diagnosticado precocemente, o câncer de mama tem 95% de chance de cura. Por isso, é muito importante que toda mulher realize mensalmente o autoexame e, uma vez por ano, a mamografia. É o tipo de câncer mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil, depois do de pele não melanoma, respondendo por cerca de 28% dos casos novos a cada ano. “Como cada câncer é uma doença diferente, o autoconhecimento e um diálogo aberto com familiares e médicos é fundamental para a jornada da paciente”, destaca.
CONHEÇA A HISTÓRIA DESSAS GUERREIRAS
Nome: FERNANDA MUNIZ DO NASCIMENTO SOARES
Idade: 34 anos
Profissão: Enfermeira, consultora de produtos eróticos e pós-graduação em curso de Terapia Sexual na Saúde e Educação. Tem uma página no Instagram e Facebook onde conto sobre minha trajetória, ‘Pelo Olhar da Careca’
Breve histórico
No final de novembro 2016, tomando banho, encontrei um nódulo no meu seio direito. Fiquei muito preocupada pois sabia que aquele nódulo nunca tinha existido no meu seio. Então, na mesma semana fui ao meu ginecologista, onde ele fez o auto exame e solicitou a ultra-sonografia e a mamografia, mesmo não tendo idade e histórico na família. Com a chegada do resultado, foi confirmada a minha desconfiança, mas precisava ter a certeza se era maligno ou benigno. Meu ginecologista solicitou a biópsia e a mesma confirmou o câncer de mama hormonal.
Comecei a batalha da minha sobrevivência. Eu precisava viver, pois a minha vida era minha filha. Fiz 6 ciclos de quimioterapia a cada 21 dias, duas brancas e uma vermelha. Na segunda sessão de quimioterapia descobri a metástase no osso do acetábulo e na coluna havia 3 focos. Fiz rádio para os ossos e fiz mastectomia total com esvaziamento da axila. E fiz ooforectomia (retirada dos ovários). Hoje faço uso da medicação chamada Anastrozol para não produção dos meus hormônios.
Como se sentiu participando do ensaio?
Esse dia simboliza pra mim todos os sentimentos bons que um ser humano pode demonstrar por outro. O estúdio de fotografia estava repleto de carinho, felicidade, superação, atitude, caridade e muitos outros bons sentimentos, reunidos em um único propósito: fazer o amor.
Me senti realizada em poder saber que, através dessas fotografias, poderei ajudar várias mulheres que estejam e já passaram por essa luta. Mostrar que podemos sim nos sentir lindas e amadas, e ter a nossa sensualidade de volta, basta se amar e acreditar que tudo vai passar.
Qual a importância da campanha para você e outras pacientes?
A campanha foi uma realização pessoal, pois a queda de libido e a falta de lubrificação durante e após o tratamento da quimioterapia e radioterapia me fez buscar a minha pós-graduação em Tecnologia Sexual na Saúde e Educação. Senti a falta de informações do profissional da saúde, principalmente dos médicos, para com o paciente em relação à sexualidade. Eu precisava me ajudar e ajudar outras mulheres com os mesmos sintomas. Tendo conhecimento, eu poderia propagar as informações do meu aprendizado. E a campanha falando sobre a sexualidade e a nossa voz gritando por informações.
Uma frase ou um recado para quem está enfrentando o câncer
Galera de atitude, não gaste seu tempo procurando o porquê que você está com câncer, e sim qual a lição de vida que vai tirar da sua vivência durante o câncer.
Nome : LEONI SIMM
Idade: 63
Profissão: Socióloga
Breve histórico
Sobrevivente de câncer de mama metastático, diagnosticada em 2001 com câncer de mama triplo negativo e metástase nos dois pulmões em 2003
Como se sentiu participando do ensaio?
Muito à vontade durante o ensaio. A competência da Nana, do Gege e da Marcelle me deixaram muito à vontade. Parecia um dia de amenidade, não me senti invadida em nenhum momento. Foi tudo muito leve e muito alegre, me senti feliz. Porque a cada momento nós riamos, ela achava um jeito de eu não me sentir invadida.
Qual a importância da campanha para você e outras pacientes?
É importante porque desmistifica um pouco este tema da sexualidade, da mulher não ser bonita quando ela não tem os seios completos. Isso vai ajudar outras mulheres a dizer: “Eu sou bonita, eu posso ser feliz no amor, eu posso ter uma relação sadia com meu companheiro, eu posso achar formas de me sentir bonita e manter a minha autoestima elevada”.
Acho que isso vai ser importante porque afeta o sistema imunológico na medida em que você se sente uma mulher completa. Ou que você está fazendo o tratamento ou que você já fez isso faz com que eu me sinta com mais vida. Eu sinto a energia da vida, eu sei por mim, porque quando eu me sinto mulher parece que eu vou vencer tudo, parece que o câncer é apenas um pano de fundo.
Uma frase ou um recado para quem está enfrentando o câncer
Procure ser maior que a sua mama. Você é maior que a sua mama, ou que a ausência da sua mama. Quando você perceber isso você consegue se sentir plena novamente.
Nome: LINDA ROJAS
Idade: 31
Profissão: Secretária executiva, fundadora do ‘Linda janela’
Breve histórico
Descobri o câncer de mama em 2012, com quase 25 anos. Fazendo autoexame localizei um nódulo. Depois de alguns exames, descobri um câncer de mama. Não tinha histórico familiar. Passei pelos protocolos de quimioterapia e radioterapia. A quimioterapia é o melhor e o pior momento do tratamento. Pior porque ali você se vê doente e melhor porque é o que te cura.
Depois de 5 anos sendo assistida e exames de rotina, ainda assim fazia autoexame e descobri uma alteração, fiz novos exames e descobri que se tratava de um novo tumor na mama. Foi então que optei pela dupla mastectomia e fiz um protocolo diferente da quimioterapia. Não repeti a radioterapia porque se tratava de um mesmo local e não era recomendado.
Como se sentiu participando do ensaio?
Participar do ensaio foi lindo, foi exaltando a beleza da mulher, apesar de peitos, de corpo, de padrões, estávamos sendo fotografadas e essas fotografias estavam captando a essência da beleza da mulher, que está muito além de tudo isso.
Qual a importância da campanha para você e outras pacientes?
Foi incrível, topei logo de cara porque eu sabia da importância desta campanha para mim e outras mulheres. Eu sempre falo que o fato de a gente se amar, se gostar e se conhecer, isso tudo gera saúde pra gente também. A gente tendo autoestima, fotografando assim, com as nossas cicatrizes, com seio sem seio, como eu falei, com cabelo curto, com ele mais crescido, contando histórias de tudo que a gente passou, compartilhando assim na sua mais bela forma, vai ajudar muitas mulheres, sendo pacientes ou não.
Uma frase ou um recado para quem está enfrentando o câncer
O que tomamos como lema de vida depois desse grande aprendizado é que, independentemente da paisagem, é possível a gente olhar pela janela e captar sua beleza, seja ela qual for. Independentemente do que a gente estiver passando, vamos extrair tudo de bom que a gente puder e focar sempre no final. Porque no final, depois de todos estes obstáculos, a gente conclui uma meta e conseguimos a vitória.
Nome: PATRÍCIA Dias
IDADE: 42
PROFISSÃO: AUTÔNOMA
Breve histórico
Há alguns anos, estava convivendo com alguns sintomas anormais no corpo, começou a ter alterações na pele e em dezembro foi ao médico, que pediu exames, mas só descobriu o que tinha em março deste ano. Retirou toda a mama. Está fazendo 6 meses de quimioterapia.
COMO SE SENTIU PARTICIPANDO DO ENSAIO?
Uma princesa. Foi o máximo. Maravilhoso mesmo!
QUAL A IMPORTÂNCIA DA CAMPANHA PARA VOCÊ E OUTRAS PACIENTES?
A importância é poder tocar outras pessoas.
Uma frase ou um recado para quem está enfrentando câncer
É temporário. Tudo passa.
Serviço:
Exposição de Fotos da Campanha #50TonsDeRosa
Estação Carioca do MetrôRio (Largo da Carioca – Avenida Rio Branco 156 – Centro)
Data: 18 a 31 de outubro de 2018
Horário: segunda a sexta, das 5h às 0h; sábados, domingos e feriados, das 7h às 23h
Casa de Cultura Laura Alvim (Av. Vieira Souto 176 – Ipanema)
Data: 15 a 21 de outubro, das 13h às 22h
Com Assessoria da Fundação Laço Rosa