De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente 80% das pessoas com epilepsia vivem em países de média e baixa renda. Infelizmente, nesses países, o acesso limitado a serviços de saúde e aos fármacos anticrises deixa uma grande proporção de pessoas sem tratamento, vulneráveis a acidentes, preconceito, estigma e mortalidade prematura.

A Liga Brasileira de Epilepsia alerta que a epilepsia é uma condição altamente tratável, e aproximadamente 70% das pessoas com epilepsia poderiam viver livre de crises se tivessem diagnóstico correto e acesso aos tratamentos anticrises adequados.

Segundo a neurologista infantil Letícia Pereira de Brito Sampaio, presidente da Liga, o tratamento medicamentoso é a abordagem inicial mais comum para o controle da epilepsia. Ele consiste no uso de medicamentos anticonvulsivantes, que ajudam a reduzir ou eliminar as crises ao estabilizar a atividade elétrica cerebral.
A escolha do medicamento depende do tipo de epilepsia e das características do paciente, e o ajuste das doses é feito com acompanhamento médico regular para minimizar efeitos colaterais e garantir eficácia. A maioria dos medicamentos anticrise é distribuída pelo SUS”.

Dieta cetogênica, canabidiol e cirurgia ressectiva

Determinar o tipo de epilepsia permite uma abordagem de tratamento mais eficaz. Embora as crises sejam controláveis em 70% dos pacientes com o uso de medicamentos antiepilépticos, pacientes com epilepsia refratária podem se beneficiar de outras abordagens terapêuticas. Como a dieta cetogênica, uma estratégia nutricional baseada em uma alimentação rica em gorduras, com baixa ingestão de carboidratos e quantidade moderada de proteínas.
Ela induz um estado metabólico de cetose, que pode ajudar a reduzir a frequência e a intensidade das crises, especialmente em casos de epilepsia resistente a medicamentos. Essa abordagem requer supervisão de profissionais especializados para garantir a adesão e evitar deficiências nutricionais”, esclarece a médica.

canabidiol (CBD), um composto extraído da planta Cannabis sativa, tem se mostrado promissor no tratamento de alguns tipos específicos de epilepsia, como a síndrome de Dravet e a síndrome de Lennox-Gastaut e Esclerose Tuberosa.

Ele é utilizado como terapia adjuvante, ajudando a diminuir a frequência e a gravidade das crises em pacientes com epilepsia resistente. Seu uso deve ser orientado por um médico, considerando potenciais interações medicamentosas e regulamentações locais”, explica a médica neurologista.

Já a cirurgia ressectiva é indicada em casos de epilepsia focal, onde uma área específica do cérebro é identificada como origem das crises e pode ser removida com segurança. “Esse procedimento é altamente eficaz em muitos casos, podendo até eliminar completamente as crises”, ressalta Letícia. A avaliação para a cirurgia é rigorosa, incluindo exames de imagem e monitoramento prolongado para garantir que a intervenção seja segura e benéfica.

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Estimulação elétrica pode ajudar pessoas com epilepsia refratária

Embora muitas pessoas consigam controlar a doença com medicação, há casos em que os tratamentos convencionais não são eficazes. Nesse sentido, a Estimulação Cerebral Profunda (ou DBS – Deep Brain Stimulation, na sigla em inglês), ganha força.

O procedimento que está transformando a vida de pacientes com epilepsia refratária. Esse tratamento minimamente invasivo tem sido estudado há anos e foi detalhadamente abordado na revista Epilepsia, uma das principais publicações na área. Recentemente, a terapia passou por uma revisão sistemática, que identificou um aumento na eficácia ao longo dos anos.

O procedimento envolve a implantação de eletrodos em áreas específicas do cérebro, como o núcleo talâmico ou o hipocampo, que são conectados a um neuroestimulador para modular a atividade neural. Esse aparelho recebe estímulos constantes, com o objetivo bloquear ou interromper os impulsos anormais de atividade elétrica no cérebro.

A DBS tem sido eficaz em reduzir a frequência e intensidade das crises, com efeitos adversos mínimos, provocando melhora na qualidade de vida para pacientes que enfrentam limitações severas”, explica o Marcelo Valadares, neurocirurgião funcional e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia na Unicamp.

Sandra observou que seu filho, com apenas dois meses de vida, estava com as mãos e os pés rígidos. Após investigar as causas, por meio de exames, foi descoberto que João Fernando tinha epilepsia. A partir daí, uma série de tratamentos medicamentosos e idas e vindas a hospitais passaram a ser rotina na vida dessa família.

Como consequência, Sandra, que dava aula para outras crianças, observou que seu filho tinha alguns atrasos de aprendizagem, mas nunca desistiu do tratamento. Mesmo após 20 anos, os procedimentos não tinham resultados efetivos, até descobrirem uma alternativa aos medicamentos. Era a Terapia de Estimulação Elétrica do Nervo Vago (VNS), um tipo de marca-passo cerebral para pacientes com epilepsia resistente a medicamentos e sem indicação para cirurgia ressectiva.

Tivemos algumas preocupações normais com a cirurgia, mas resolvemos ir em frente e foi tudo muito tranquilo. Primeiro o aparelho ficou desligado, então estávamos bastante ansiosos. Quando o aparelho foi ligado, logo no começo, já percebemos uma melhora, principalmente na parte cognitiva, onde anteriormente tínhamos observado um atraso. As crises melhoraram também, de forma gradual. E então ele ficou mais independente”, afirma Sandra.

“Hoje ele até faz a comida dele, anda pelo bairro e vai ao mercado, coisas que ele não fazia antes. E numa dessas, ele até conseguiu o primeiro trabalho. A qualidade de vida dele agora é outra”, completa a mãe.

SUS ainda não oferece a Terapia VNS

A Terapia VNS representa um avanço significativo no tratamento da epilepsia resistente a medicamentos. Ela consiste em um pequeno dispositivo, similar a um marca-passo, que emite impulsos elétricos para o nervo vago esquerdo localizado no pescoço. Esse nervo conduz os sinais ao cérebro, auxiliando no controle das crises epilépticas ao estabilizar a atividade elétrica cerebral.

O procedimento é minimamente invasivo, realizado por meio de pequenas incisões para implantar o gerador sob a pele e conectar os eletrodos ao nervo vago. Além da estimulação programada, os pacientes contam com um ímã que pode ser utilizado no início de uma crise, ajudando a reduzir sua intensidade ou até interrompê-la. O dispositivo também possui a tecnologia AutoStim, que detecta automaticamente sinais fisiológicos associados a uma crise iminente e ativa a estimulação de forma preventiva.

Embora o Ministério da Saúde tenha aprovado a incorporação da terapia VNS ao SUS em 2018, o tratamento ainda não está disponível na rede pública. Segundo a presidente da Associação Brasileira de Epilepsia (ABE), Maria Alice Mello Susemihl, ainda há dificuldade pelos pacientes em acessar o tratamento, que precisam recorrer à Justiça para obter a terapia.

A entidade tem dialogado com o Ministério da Saúde há anos e chegou a enviar uma carta à Secretaria de Atenção Especializada à Saúde (SAES), ressaltando que a falta de implementação desrespeita tanto os profissionais envolvidos no processo quanto o direito à saúde da população, mas ainda não houve novidades no caso.

Agenda Positiva

Caminhada pela Epilepsia reúne população na Avenida Paulista

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 50 milhões de pessoas no mundo são diagnosticadas com epilepsia e, no Brasil, estima-se que entre 2 a 3 milhões de pessoas possuam a doença. Trata-se de um distúrbio neurológico caracterizado por crises epilépticas recorrentes que ocorrem devido a descargas elétricas anormais no cérebro.

No dia 26 de março é comemorado o Dia Mundial de Conscientização da Epilepsia, cujo objetivo é conseguir aumentar a conscientização sobre a doença. Milhares de pessoas ao redor do mundo usam roxo – movimento conhecido como ‘Purple Day’ (Dia do Roxo) – para promover ações que tragam esclarecimento e mais informações sobre a epilepsia durante o Março Roxo.

Para reforçar a importância do tema e incentivar a disseminação de informações sobre a condição, no dia 30 de março, às 10h, na Avenida Paulista, em frente ao Parque Mário Covas, acontecerá a Caminhada pela Epilepsia, um evento realizado pela Associação Brasileira de Pacientes com epilepsia (ABE) e apoiado pela LivaNova, que reunirá pacientes, familiares, profissionais da saúde e apoiadores da causa. A participação é gratuita e aberta ao público.

O Purple Day trata-se de um movimento global que busca expandir o entendimento sobre a doença, ao mesmo tempo em que combate estigmas e preconceitos, promovendo a inclusão e o acesso ao melhor cuidado possível. O objetivo sensibilizar a população sobre os desafios enfrentados por quem vive com epilepsia.

Nosso compromisso é fomentar o diálogo sobre os tratamentos inovadores disponíveis, promovendo uma ampla conscientização nacional e demonstrando que é possível proporcionar aos pacientes uma vida com mais qualidade”, afirma Marcio Yoshikawa, General Manager Latam da LivaNova.

Com Assessorias

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