Nascida na comunidade rural de Miguá -Terra, no município de Pentecoste, interior do Ceará, Mônica Mota foi vítima de abuso sexual na infância. Mas não se calou. Hoje, aos 22 anos, transformou sua dor em instrumento de luta para combater esse tipo de crime.

A jovem promoveu a primeira audiência pública sobre o abuso sexual infantil e a primeira corrida de rua em sua cidade para alertar sobre o tema, além de ministrar palestras para adolescentes, pais, professores e universitários. Agora, resolveu escrever um livro sobre esta temática, com o intuito de prevenir e combater o abuso sexual infantil.

“Tom, Elis e Chico” (Editora Brasil Tropical), lançado esta semana na Bienal Internacional do Livro do Ceará, narra a história de três macaquinhos irmãos que, após sofrerem abuso sexual, perdem toda a magia e a alegria da infância. A autora usa a publicação para alertar a respeito da temática aos pais, crianças e educadores.

Mônica faz parte de uma triste estatística: o Brasil está em 11º lugar no ranking de exploração sexual infantil, de acordo com o relatório Out of the Shadows, publicado no início do ano pela revista britânica The Economist.

O levantamento avalia o ambiente, em itens como a segurança; as leis de proteção às crianças; compromisso e capacidade dos governos; e o engajamento do setor privado, da sociedade civil e da mídia. Desta forma, a nota é composta por 34 indicadores e 132 subindicadores. Quanto maior a pontuação, maior a probabilidade de as crianças serem protegidas.

Faltam diálogo sobre sexo, direitos das crianças e gênero

Segundo o estudo, “o estigma e a falta de uma discussão aberta sobre o sexo, direitos das crianças e gênero” podem prejudicar a capacidade de um país de proteger suas crianças. Até porque, historicamente, os casos envolvendo menores são encobertos por omissões, tabus e pelo fato da maior parte dos abusos ser cometida por pessoas próximas às vítimas.

Para a médica e especialista em educação em sexualidade Lilian Macri, autora de outro livro sobre o tema já abordado aqui em Ler Faz Bem, as limitações brasileiras estão na falta de uma educação em sexualidade conduzida pelos pais e em parceria com a escola, de políticas públicas e de programas de prevenção para abusadores em potencial.

Ela destaca que a grande maioria dos abusadores sexuais infantis comete o crime contra crianças por acreditarem que elas estão à sua disposição.  A crença de que crianças e adolescentes são objetos. E sua objetificação às colocam em situação de risco dentro do local que deveria protegê-las: a família. E estas relações desiguais de gênero são mantidas pelo machismo.

Como os pais podem proteger seus filhos

Em meio a índices desoladores, a pergunta é ‘Como proteger as nossas crianças’? Lilian acredita que os pais/cuidadores podem proteger seus filhos de possíveis abusos por meio do diálogo, do amor e da orientação.

Estabeleça laços de confiança entre você e o seu filho/filha, conduza-o a uma educação sexual adequada a cada fase do seu desenvolvimento. Que ele saiba que o corpo é dele e que somente ele deve tocar em suas áreas íntimas. E que se alguém tocá-lo de forma diferente, ele deve contar a você”, recomenda a especialista.

O olhar atento dos pais/cuidadores a qualquer mudança de comportamento também é fundamental. Se você notar que seu filho está diferente, triste e isolado. Investigue, vá a fundo, converse com a criança. Não tenha medo e nem vergonha, peça ajuda e denuncie, disque 100! Veja outras dicas da especialista:

1- Estabeleça laços de confiança

Seu filho precisa saber que pode confiar em você, que pode ter contar tudo e que você está ali para ajudá-lo e protegê-lo de tudo e todos;

2- Mostre para o seu filho que o corpo é dele e estabeleça limites

Ensine seu filho que ele pode dizer não se alguém forçá-lo a tocar, abraçar ou beijar outra pessoa. Ao cumprimentar um desconhecido, o aperto de mão pode ser uma alternativa a beijos e abraços. Não force seu filho a beijar ou abraçar alguém;

3- Crie uma rede de proteção

Ajude seu filho a formar esse grupo, que deve reunir três ou quatro adultos em que ele confia para contar o que quiser caso se sinta preocupado ou inseguro.

4- Respeite a intimidade

Chame as partes íntimas de seu filho pelo nome correto e explique que ninguém, criança ou adulto, pode tocá-las, a não ser os responsáveis. Diga ainda que não é legal que ela toque no corpo de outra pessoa;

5- Forneça ao seu filho educação sobre sexualidade

Aceite o desafio conduza naturalmente uma educação sexual, sadia e segura para o seu filho, respeitando a idade e grau de compreensão da criança;

6- Ensine ao seu filho algumas medidas básicas de proteção

Exemplifique uma situação de risco com uma história e oriente-o uma forma de se proteger;

7- Fique atento aos sinais

Explique à criança que seu corpo é inteligente e, por isso, mostra quando está desconfortável. Dor no estômago, coração acelerado ou suor sem motivo podem indicar que algo não vai bem, e isso deve ser contado a um adulto de confiança;

8- Não estimule segredos

Explique que sua família não tem segredos. Que tudo pode ser contado para um adulto de seu confiança.

LEIA MAIS:

Consentimento é algo que se aprende já na infância
Abuso sexual infantil: o Estado do Rio diz ‘não’
10 maneiras de identificar sinais de abuso sexual em crianças
Como reconhecer quando uma criança é vítima de abuso sexual

 

SOBRE O LIVRO E A AUTORA

O livro assinado pela dupla foi lançado na Bienal do Ceará (Foto: Divulgação)

Mônica Mota é conhecida por ser a idealizadora da campanha “Todo Dia é 18 de maio” que tem como objetivo combater o abuso sexual infantil, além de já ter realizado ações em sua cidade que colocam em pauta o tema e mobilizam a sociedade.

A publicação visa sensibilizar, mobilizar e conscientizar sobre essa causa. Desde 2014, me dedico a desenvolver ações que possam ajudar a combater e prevenir o abuso sexual infantil”, explica a autora.

A história conta com as ilustrações da designer Lia Britto que usa em seus desenhos cores primárias e traços leves para atrair a atenção e compreensão das crianças. A publicação é destinada para crianças de 4 a 10 anos.

Da Redação, com Assessorias

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