Dor de cabeça, náuseas, vômitos, visão turva, problemas de equilíbrio, alterações na personalidade ou no comportamento, convulsões e sonolência. Estes são os principais sintomas do tumor cerebral, um tipo de câncer raro, responsável por 4% de todos os tipos de câncer. Os sintomas podem ocorrer gradualmente, agravando-se ao longo do tempo, ou surgir de repente.

A dor de cabeça é o sintoma mais comum dos tumores cerebrais, pois está relacionada ao efeito de massa, infiltração do parênquima e destruição do tecido. Geralmente, ela ocorre em 35% dos pacientes. Além disso, a hipertensão intracraniana pode ser causada pelo crescimento do tumor, edema no cérebro ou bloqueio do fluxo do líquido cefalorraquidiano (LCR).

Com o poder de impactar seriamente a qualidade de vida do portador desse tipo de câncer, os sintomas que podem levar à suspeita da presença de um tumor cerebral são bastante amplos e dependem da localização e da extensão da doença. Em geral, mudanças de comportamento e eventos intensos e persistentes de convulsão e cefaleia são os principais sinais.

O desconhecimento sobre como identificar os sinais de alerta dos tumores cerebrais e a gravidade da doença são fatores preocupantes. A alta taxa de mortalidade e a falta de informações sobre a doença levaram à campanha Maio Cinza, uma iniciativa voltada para a conscientização dos tumores cerebrais, com foco na obtenção do diagnóstico precoce.

O câncer primário do Sistema Nervoso Central (SNC) ocorre pelo crescimento de células anormais nos tecidos do cérebro e da medula espinhal. Considerado raro, ele representa de 1,4% a 1,8% de todos os tumores malignos no mundo e é responsável por uma taxa desproporcional de morbidade e mortalidade.

Os tumores cerebrais primários, isto é, aqueles que se originam no cérebro, raramente se espalham para outras partes do corpo, mas mesmo aqueles considerados benignos e de crescimento indolente (lento) podem pressionar e destruir o tecido cerebral normal, causando danos neurológicos irreversíveis ou mesmo fatais.

No entanto, é importante entender a diferença entre os tumores que se iniciam no cérebro (tumores cerebrais primários) e os tumores que se iniciam em outros órgãos e se disseminaram para o cérebro (secundários ou metastáticos). Em adultos, os tumores cerebrais metastáticos são mais frequentes do que os tumores cerebrais primários.

Alerta para convulsões, cefaleia e mudanças de comportamento

De acordo com Eduardo Weltman, professor doutor de Radioterapia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador médico do Serviço de Radioterapia do Hospital Israelita Albert Einsten, os sintomas causados por esses tumores não são específicos, dificultando a confirmação das suspeitas.

Mas quando aparecem alterações neurológicas sensitivas ou motoras, mudanças de comportamento, convulsões ou cefaleia intensa e persistente, deve-se pensar na hipótese do câncer cerebral em meio às muitas outras possibilidades”, explica o ex-presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT).

Os sinais e sintomas dos tumores cerebrais variam de acordo com a sua localização e extensão das lesões e e da velocidade de crescimento das lesões, porém os mais comuns são a dor de cabeça intensa e persistente que pode não responder aos analgésicos comuns.

As convulsões em pacientes que nunca as tiveram, a falta de coordenação motora, bem como a perda de força ou sensibilidade nos diversos segmentos do corpo são comuns em pessoas com essas patologias, além dos vômitos, perda de apetite e apatia.

Conheça os principais sintomas

São três grandes grupos de sintomas a serem observados:

  • Dor de cabeça com alarmes: não é qualquer dor de cabeça comum que levanta a suspeita de tumores do SNC, apenas quando ela apresenta algum sinal de alarme. Esses alarmes costumam ser o surgimento de uma dor de cabeça nova (para quem nunca sentiu esse tipo de dor), mudança do padrão de dor de cabeça (para quem já apresentava dor antes), piora da intensidade (quando ela fica mais forte com o passar do tempo), aumento da frequência (quando a dor aparece mais vezes), ou quando a dor é fixa (toda vez ela aparece no mesmo lugar);
  •  Crises convulsivas: principalmente quando o paciente apresenta a crise convulsiva pela primeira vez. As convulsões estão presentes em aproximadamente 20% dos pacientes com tumores cerebrais, podendo anteceder o diagnóstico clínico em meses a anos em pacientes com tumores de crescimento lento. “Entre todos os pacientes com tumores cerebrais, 70% com tumores parenquimatosos primários e 40% com tumores cerebrais metastáticos desenvolvem convulsões em algum momento durante o curso clínico”, afirma  Brandão.
  • Perda de funções neurológicas: são chamados de déficits focais – quando há perda de força ou do tato nos membros, perda de visão ou de audição, alterações da fala ou da capacidade intelectual (compreensão, raciocínio, escrita, cálculo, reconhecimento de pessoas), mudanças de comportamento (apatia, agitação ou agressividade) em relação ao padrão normal da pessoa.

Tipos de tumores cerebrais

Existem muitos tipos de tumores originados do cérebro de células diferentes. Os tumores primários do SNC compreendem uma ampla gama de entidades patológicas, cada uma com uma história natural distinta. Para simplificar, os tumores do SNC podem ser classificados como gliomas ou não-gliomas.

Weltman completa que, na infância, os tumores cerebrais mais incidentes são os gliomas de baixo grau, seguidos dos meduloblastomas. Já no adulto, a incidência de gliomas (das células da glia), de alto grau é maior, seguida dos meningiomas, originados das células da meninge.

A maioria tem causa desconhecida, mas alguns são causados por alterações genéticas ou exposição à radiação ionizante. Infecções podem estar relacionadas com linfomas cerebrais. Muitos tumores cerebrais são metástases de outros órgãos”, relata o especialista.

Atualmente, características morfológicas e genéticas são encontradas em cada tipo de tumor e auxiliam no diagnóstico e classificação adequada desses tipos de tumores. Os principais tipos de tumores primários do SNC são:

Meningiomas – são geralmente benignos e se originam na dura-máter, camada que cobre o cérebro e a medula espinhal. A taxa de incidência é de aproximadamente 2 casos por 100.000 indivíduos. São mais comuns em mulheres na sexta e sétimas décadas de vida, além de serem os tumores cerebrais primários mais comuns em adultos.

Muitos meningiomas são encontrados incidentalmente em exames de imagem e não requerem tratamento no momento do diagnóstico inicial. Para pacientes com meningioma assintomático, a observação pode ser uma opção de conduta. Se um efeito de massa é observado em pacientes com ou sem sintomas, o tratamento de escolha geralmente é ressecção cirúrgica completa. Radioterapia também pode ser usada como tratamento isolado ou complementar a cirurgia nesse tipo de tumor;

Adenomas Pituitários – os tumores hipofisários são tipicamente adenomas funcionais ou não funcionais. Anormalidades endócrinas podem ser encontradas na apresentação se os tumores estão produzindo peptídeos, como prolactina, hormônio do crescimento ou hormônio adrenocorticotrópico;

Gliomas – são tumores cerebrais primários originados de células-tronco neurogliais ou células progenitoras. Com base em sua aparência histológica foram tradicionalmente classificados como tumores astrocíticos, oligodendrogliais ou ependimais e classificados entre os graus I e IV da Organização Mundial de Saúde (OMS), que indicam diferentes graus de malignidade;

Meduloblastomas – tumores de crescimento rápido, considerados grau IV pela OMS. Podem ser tratados por cirurgia, radioterapia e quimioterapia. São mais comuns em crianças – seu pico de incidência ocorre entre os 2  e 7 anos de idade -, mas adultos jovens também podem apresentar.

Diagnóstico e prognóstico

A anamnese do paciente, seu histórico e o exame físico e neurológico com alterações são o ponto de partida para a suspeição de tumores do SNC. Diante da suspeita clínica, são realizados exames complementares em busca de neoplasias do SNC. Dentre os exames, o especialista pode solicitar: ressonância magnética , tomografia computadorizada, punção lombar e exames de sangue e urina.

Para o oncologista, embora exames de laboratório raramente façam parte do diagnóstico dos tumores cerebrais e da medula espinhal, podem ser realizados para verificar o funcionamento de outros órgãos, como fígado e rins, principalmente se a cirurgia e quimioterapia estiverem programadas.

O diagnóstico tardio, seja pela característica insidiosa de vários desses tumores, a localização deles em lugares com pouca repercussão neurológica, bem como as dificuldades do próprio sistema de saúde em diagnosticá-los precocemente, de acordo com o especialista, conduz a uma situação de incurabilidade desde a detecção deles.

Segundo o médico, o diagnóstico se estabelece incialmente pelo exame clínico geral e neurológico, seguidos de exames de imagem (tomografia computadorizada ou ressonância magnética cerebrais).

Uma vez detectado o tumor cerebral, o processo diagnóstico se segue, na maioria das vezes, por biópsia do tumor, o que frequentemente se transforma em uma cirurgia, que já faz parte do tratamento. O exame do líquido encefalorraquidiano, com citologia oncótica e bioquímica podem ser úteis, servindo para avaliar a extensão da doença”, explica.

O prognóstico de pacientes com tumores cerebrais benignos, em geral, é muito favorável. Já os pacientes com tumores cerebrais primários malignos ou metastáticos frequentemente morrem da doença.

Formação do câncer no cérebro

O membro da SBRT explica que os tumores cerebrais, como a grande maioria dos outros tumores, surgem em função da desregulação dos mecanismos que impedem uma célula de se dividir desordenadamente.

“Os mecanismos de ocorrência desse fenômeno são múltiplos e podem ser secundários tanto à mutação e perda de função de genes que atuem inibindo a divisão celular, quanto pela ativação de genes que a estimulem. Fatores epigenéticos – que modificam a função dos genes sem fazer parte deles – também são cada vez mais frequentemente descritos”, expõe o médico.

Ele reforça que a maioria dos tumores cerebrais não tem um fator causal bem definido, não sendo preveníveis com intervenção médica. “Na minoria deles é possível identificar uma tendência genética familiar, como neurofibromatose ou a exposição a um fator carcinogênico, como nos casos de exposição desnecessária à radiação ou uma imunodeficiência, que vão aumentar o risco do aparecimento do tumor”, esclarece.

Um ponto de alerta, na avaliação do especialista, é o aumento do risco de linfomas do sistema nervoso central em pacientes portadores de imunodeficiência secundária à infecção pelo vírus HIV.

Tratamento com cirurgia, imunoterapia e radioterapia

Sobre o tratamento, o oncologista da Oncoclínicas reforça ainda que irá depender do tipo de tumor, área afetada e estadiamento da doença. Contudo, normalmente o processo se inicia com o neurocirurgião, para remoção do tumor ou de fragmento de tecido para biópsia.

Os próximos passos e a evolução vão depender do tipo específico do tumor, que consta no laudo da patologia, envolvendo o oncologista clínico, com o planejamento da quimioterapia, e o radio-oncologista, no planejamento da radioterapia.

Existem também novos tratamentos disponibilizados em alguns casos, como terapia alvo, imunoterapia, anticorpos, além disso, avaliações iniciais mostram respostas interessantes com CAR-T cell em glioblastomas recidivados”, finaliza Flávio Brandão.

Fatores que limitam o tratamento

Dentre as outras preocupações relacionadas à complexidade de um câncer cerebral, as características de alguns tumores, que se infiltram e comprometem estruturas nobres do cérebro não ressecáveis cirurgicamente sem causar sequelas graves e incapacitantes, trazem limitações para o sucesso do tratamento.  Por conta disso, conforme o especialista da SBRT, a mortalidade é tão alta.

“Embora alguns desses tumores respondam bem à radioterapia e à quimioterapia, esta resposta frequentemente não leva à cura dos pacientes. E uma vez não curados, a progressão desses tumores, comprimindo e infiltrando estruturas nobres, pode acabar sendo fatal”, explana Weltman.

Quando há indicação de radioterapia

De acordo com a SBRT, a grande maioria dos tumores cerebrais primários têm a cirurgia como primeira opção de tratamento. Nesses casos, diz Weltman, a radioterapia é realizada no contexto do pós-operatório, com o principal intuito de reduzir o agravamento da lesão.

Vários estudos mostram o benefício da radioterapia neste cenário, aumentando o tempo e a qualidade de vida do paciente, assim como o aumento do tempo em que a pessoa fica livre de uma recidiva do tumor”, elucida.

Entretanto, existem as lesões inoperáveis, conforme explica o médico, ou porque o paciente não tem condições de ser submetido a uma cirurgia ou nos casos em que a lesão está localizada em uma área vital do cérebro, que não pode ser operada.

São os casos dos gliomas de tronco, por exemplo. Nessas situações, a radioterapia é utilizada como a primeira opção de tratamento, podendo ser combinada com a quimioterapia”, enfatiza.

Quanto aos casos de metástases cerebrais, o especialista destaca que estão disponíveis técnicas efetivas para o tratamento destas, cujos índices de controle das lesões tratadas chegam a 85% e 90%.

Com isso, eu diria que o principal desafio é diagnosticar precocemente, para que a gente consiga essas taxas de controle e os pacientes chegarem aos centros que tenham essas técnicas disponíveis, que seriam a radiocirurgia ou radioterapia estereotáxica fracionada”, conclui.

 

Com Assessorias

Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!
Shares:

Related Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *