Quase metade dos pacientes com câncer colorretal desconhecia a doença antes do diagnóstico. Além disso, 72% deles nunca haviam realizado o exame de sangue oculto nas fezes, importante na investigação da doença. Quatro entre 10 pacientes acima dos 50 anos nunca haviam realizado a colonoscopia, principal exame para o diagnóstico precoce, e 82% não haviam feito o exame anteriormente. Os dados são de uma pesquisa do Oncoguia no mês de conscientização sobre o câncer colorretal, o Setembro Verde. 

O fator mais importante para evitar a doença é o rastreamento, conforme explica Rachel Riechelmann, oncologista do A C Camargo Center. “O método inicial é a pesquisa de sangue oculto nas fezes, que pode evidenciar a presença de um tumor. Mas o exame principal para o diagnóstico é a colonoscopia, porque, além de visualizar, fazer a biópsia e diagnosticar o câncer, se o paciente tiver pólipos, na própria colonoscopia já é possível retirá-los. Ou seja, esse exame faz o diagnóstico e trata.”

Segundo Rachel, o rastreamento hoje é preconizado para pessoas a partir dos 45 anos de idade, de acordo com sociedades internacionais, para quem não tiver histórico familiar para a doença. Quem tiver histórico, o ideal é começar o rastreamento 10 anos antes da idade com a qual o familiar foi diagnosticado. Por exemplo, um pai que descobriu a doença aos 54 anos, os filhos devem iniciar o rastreamento aos 44.

Em relação à primeira opção de tratamento empregada, a pesquisa do Instituto Oncoguia mostrou que a cirurgia foi aplicada na grande maioria dos casos (68,8%), seguida por tratamento com combinação de técnicas (16,7%), quimioterapia e radioterapia (4,2%) e outros (2,1%). Na pesquisa, apenas 27% dos respondentes afirmaram ter realizado testes de marcadores tumorais, que identificam possíveis mutações.
“Um aspecto que ajuda na definição do melhor tratamento para cada paciente, é a informação sobre os marcadores tumorais. É um exame a mais que ajuda no acompanhamento e na resposta ao tratamento de pacientes com câncer colorretal“, explica 

Maioria dos pacientes só descobriu doença no check up anual

A maioria dos pacientes apontou que não teve qualquer tipo de sinal e sintoma que levasse à procura do médico. Para eles, a descoberta do câncer aconteceu no check up anual e apontaram que já tinham histórico da doença na família. Em alguns casos, os pacientes com câncer colorretal foram em busca de um profissional de saúde por causa de sinais e sintomas.
Antes do diagnóstico do câncer, a maioria relatou mudanças no ritmo intestinal, como diarréia, sensação de intestino não totalmente esvaziado e constipação. Também foram notados sintomas como perda de peso sem motivo específico, dor tipo cólica e inchaço abdominal, náuseas e vômitos, cansaço e fadiga constante.
Thiago Jorge, oncologista do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, afirma que na fase inicial, os sintomas não são aparentes. Depois de algum tempo pode haver alteração no ritmo intestinal e aparecimento de sangue nas fezes, inchaço abdominal, cansaço, fadiga e perda de peso sem motivo específico.
“Precisamos de mais conscientização e de estratégias efetivas de prevenção para o câncer colorretal, segundo tipo mais comum no Brasil. Precisamos de um programa nacional de rastreamento do câncer colorretal que comece, no mínimo, oferecendo o exame de sangue oculto nas fezes. Estamos diante do segundo tipo de tumor mais incidente em homens e mulheres e nada fazemos a respeito”, diz Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia.

59% dos pacientes não praticavam atividade física

Esse tipo de tumor fortemente associado aos hábitos de vida como alimentação e prática regular de atividades físicas. Dentre os participantes da pesquisa, 54% disseram que não se atentavam a questões de alimentação saudável antes do diagnóstico e 59% não praticavam nenhuma atividade física. Apenas 11% acreditam que tinham uma dieta rica em consumo de frutas e vegetais e 41% praticavam alguma atividade de uma a três vezes na semana.

A pesquisa foi realizada entre setembro e dezembro de 2019, por meio de questionário on-line enviado para pacientes com câncer colorretal e seus familiares ou cuidadores. Contou com 310 respondentes, sendo 34,2% pacientes; 37,1% familiares e 28,7% outros. Dentre os respondentes, 53,2% eram usuários de planos de saúde, 35,2% usuários do SUS e 5,2% usuários da saúde privada.

“O câncer colorretal é uma doença mais frequente em pessoas com mais de 50 anos. No entanto, temos notado que maus hábitos de saúde como obesidade, falta de exercício físico, alimentação ultraprocessada, entre outros, estão alterando a faixa etária de incidência do tumor , fazendo com que pessoas mais jovens desenvolvam a doença. Um exemplo que marcou muita gente foi o caso recente do ator Chadwick Boseman“, afirma Luciana Holtz.

O tumor mais frequente entre adultos jovens

O câncer colorretal abrange tumores que começam no intestino grosso (cólon) e no reto (parte final do intestino grosso). De acordo com Thiago Jorge, a doença é silenciosa e, por isso, qualquer sintoma ou comportamento diferente do intestino não deve ser ignorado e precisa ser investigado por um especialista. O diagnóstico está cada vez mais frequente entre adultos jovens.
“Nesta população, os tumores também se apresentam de forma mais agressiva, se comparados aos característicos do paciente que descobre a doença entre a sexta e sétima década de vida. Eles podem ter uma biologia mais agressiva, além de serem descobertos em estágios mais avançados, pelos sintomas serem negligenciados nesta população”.
O especialista lembra que quando tumores colorretais são identificados precocemente, 90% deles são curáveis, mas quando a doença é detectada em fases avançadas as chances de cura caem para 50 a 70% e, quando já se desenvolveram metástases (quando o câncer atinge outros órgãos) varia entre 20% a 25%, mas ainda é um índice bom se comparado aos outros tipos de câncer“, diz o oncologista.
“Sangramento perceptível nas fezes, mudança no funcionamento do intestino (diarreia frequente ou prisão de ventre), dores abdominais, anemia recorrente e perda de peso muitas vezes são confundidas com doenças benignas do trato gastrointestinal, como as hemorroidas. Isso pode retardar o diagnóstico de pólipos intestinais, aumentando as chances da identificação de tumores colorretais. Portanto, é fundamental não ignorar os sintomas”, afirma Dr. Thiago Jorge.

Quando o exame de colonoscopia deve ser feito?

Os exames de sangue oculto nas fezes e de colonoscopia são recomendados para homens e mulheres assintomáticos que não tenham histórico familiar de câncer colorretal. Caso o resultado da colonoscopia não encontre pólipos, o exame pode ser repetido a cada três anos. Se houver a presença das verrugas, a periodicidade do procedimento é definida pelo médico.
De acordo com as orientações mais atualizadas deve ser realizado em indivíduos a partir dos 45 anos, quando antes a indicação era acima dos 50 anos. Neste exame o médico observa todo o cólon, o reto e parte final do intestino delgado com um tubo fino inserido pelo ânus (sob sedação), flexível, com uma pequena câmera de vídeo na extremidade.

“A recomendação é que a primeira colonoscopia seja realizada aos 45 a 50 anos. Mas, se houver histórico positivo na família, ou outros fatores de risco, o rastreamento deve ser iniciado antes, de acordo com recomendação do especialista”, ressalta Dra Aline.

Tratamento com cirurgia minimamente invasiva

Segundo o Dr Thiago Jorge, quando o diagnóstico é feito em fase inicial, o procedimento cirúrgico para a retirada do segmento intestinal acometido pelo tumor e dos linfonodos correspondentes é suficiente para conter a progressão da doença. Em casos mais avançados, o tratamento pode incluir quimioterapia e radioterapia.

“A cirurgia geralmente é o tratamento inicial, retirando a parte do intestino afetada e os gânglios linfáticos (pequenas estruturas que fazem parte do sistema de defesa do corpo) dentro do abdômen. Outras etapas do tratamento incluem a quimioterapia, associada ou não à radioterapia”, pontua.
Além disso, outras terapias alvo moleculares estão aprovadas em outros países e, algumas no Brasil, com sua utilização baseada em testes mutacionais no tumor. “Também existe a imunoterapia, medicamentos que estimulam o sistema imunológico a reconhecer e destruir células cancerígenas, mas que são opções em casos mais restritos de câncer colorretal”, completa Thiago Jorge.
Com Assessorias
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