Quando a dor de cabeça pode ser causada por um problema na vista

Glaucoma é uma das principais causas de cegueira irreversível. O diagnóstico precoce é imprescindível para o controle da doença e a manutenção da visão

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Rogério Horta faz cirurgia inovadora para tratar glaucoma
Rogério Horta faz cirurgia inovadora para tratar glaucoma (Foto: Divulgação)

Muitas doenças oculares podem causar cefaléias, que são as “dores de cabeça”. As mais frequentes seriam as ametropias (miopias, hipermetropias e astigmatismo) não corrigidas com óculos ou lentes de contato e as inflamações oculares como a uveíte. Fortes dores de cabeça também podem ser um sinal do aumento da pressão ocular ou glaucoma, uma doença assintomática que, aos poucos, ceifa a visão do paciente, podendo levá-lo à cegueira total. É uma das maiores causas de cegueira irreversível no mundo, dividindo o “pódio” com a Diabetes e Degeneração Macular.

A Associação Mundial do Glaucoma contabiliza cerca de 65 milhões de pessoas com o problema e 4,5 milhões de casos de perda total da visão. O glaucoma é responsável por 12,3 milhões de casos de cegueira no mundo, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).  A cada ano são registrados 2,4 milhões de novos casos no mundo. Cerca de 60 milhões de pessoas tinham glaucoma em 2010, número que chegará a 80 milhões em 2020 e a 111,5 milhões eem 2040. Ainda segundo a OMS, quase 90% das pessoas cegas vivem em países do terceiro mundo. Só no Brasil, são cerca de 1 milhão de casos, segundo estimativa do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). 

Neste Dia Nacional do Combate ao Glaucoma (26 de maio), médicos alertam para a enfermidade ocular em que o nervo óptico se atrofia, e tem por comum um aumento da pressão do olho. “Essa patologia causa um dano progressivo na visão periférica, que é a visão lateral, e nos últimos estágios também acomete a visão central, que é a visão de detalhes, como leitura”, explica o oftalmologista Rogério Horta, diretor médico há 32 anos do Instituto Horta, clínica oftalmológica no Rio de Janeiro. 

Se a pessoa tem a cefaléia que não melhora com comprimido de analgésico, deve procurar um oftalmologista de verdade. Não serve um profissional que trabalha em casas de óptica porque não é médico e não tem o conhecimento e meios para o correto diagnóstico, nem recorrer a um profissional da farmácia pelo mesmo motivo.  Lembrem-se que a nossa visão vale ouro, e devemos ter um carinho especial com ela. Nós, oftalmologistas, estudamos e conhecemos todas as possibilidades, e temos equipamentos que nos ajudam no diagnóstico e tratamento para aliviar a queixa do paciente”, afirma o especialista.

Tipos diferentes e sintomas

O glaucoma é causado pela lesão do nervo óptico que faz a conexão entre o cérebro e os olhos. Quando há essa perda de comunicação entre esses dois órgãos, a pessoa perde a visão. A doença pode se manifestar de duas formas: crônica ou aguda. No glaucoma crônico, há a perda de visão periférica, devido a lesões nas fibras dos nervos originados na retina, causadas, principalmente, pela pressão interna do olho alta. Já quando agudo, a pressão do olho torna-se extremamente alta, podendo causar perda súbita e grave da visão.

glaucoma de ângulo aberto representa 90% dos casos, geralmente não tem sintomas, e acontece, principalmente, em decorrência do aumento da pressão intraocular. Já o de ângulo fechado, menos comum, vem acompanhado de dores fortes de cabeça e nos olhos, podendo causar perda de visão em questão de horas, após o aparecimento dos sintomas. Embora raramente apresente sintomas, nos casos agudos, o paciente pode sentir fortes dores de cabeça, enjoo, dor ocular e fotofobia.

Não há dúvidas também da importância dos níveis de pressão intraocular na instalação da doença. Sabe-se que o dano ao nervo, provocado por essa pressão, leva ao glaucomaHá outros tipos de glaucoma, como o congênito, que ocorre quando a pessoa já nasce com a doença, e os glaucomas secundários, que podem estar relacionados a alguma inflamação intraocular, uso de drogas, consequência de alguma cirurgia intraocular, e vários outros fatores”, detalha o médico.

Idosos e negros são mais propensos

glaucoma acomete, principalmente, pessoas acima de 60 anos, sendo que aos 70 a chance de ter o problema sobe para 10%. No entanto, não é somente a idade o único fator de risco. Também fazem parte do grupo de risco os portadores de diabetes; os míopes e hipermétropes e negros, principalmente com mais de 40 anos de idade. Além disso, o histórico familiar é outro fator de risco.

glaucoma de ângulo aberto, o tipo mais comum no Brasil, tem relação também com níveis socioeconômicos, sendo observado um maior número de acometidos entre a população de baixa renda. Os afrodescendentes também são mais propensos a ter a doença”, afirma o oftalmologista do Hospital CEMA, Carlos Roberto Domingos Pinto.

Prevenção é o melhor caminho

A melhor forma de combate à doença é a prevenção. Consultas anuais ao oftalmologista podem ajudar a descobrir a enfermidade, antes do agravamento do quadro. “Conscientizar a população em geral sobre a importância do diagnóstico precoce da doença é um dos principais objetivos do Dia Nacional de Combate ao Glaucoma”, afirma a diretora médica e responsável pelo setor de glaucoma do Centro da Saúde Ocular Kátia Mello, em Duque de Caxias – RJ, Fábia Helena Crespo.

Para a oftalmologista Kátia Mello, diretora do Centro da Saúde Ocular Kátia Mello, faltam informações e serviços básicos relacionados à saúde ocular para as pessoas mais carentes. Ela destaca que iniciativas que conscientizem a população são fundamentais para esclarecer as dúvidas e, com isso, ajudar no combate à doença.

O glaucoma é uma doença silenciosa, ou seja, o paciente não percebe nenhum sintoma, mas o problema leva à perda visual progressiva. É a principal causa de cegueira irreversível no mundo. A consulta com o oftalmologista é a única maneira de fazer o diagnóstico e tratamento precoce, que são fundamentais para preservação da visão”, orienta Fábia Helena.

Exame preventivo para quem tem histórico familiar

Por ser uma doença silenciosa, muitos pacientes chegam ao oftalmologista com a doença em estágio avançado. Boa parte dos doentes em estágio avançado teria chances de evitar a cegueira se tivesse sido diagnosticado a tempo e recebido o tratamento adequado. Até mesmo nos países desenvolvidos, 50% dos indivíduos afetados não receberam o diagnóstico nem estão em tratamento.

Metade deles, no entanto, fez exames oftalmológicos nos últimos dois anos. Essa demora no diagnóstico pode levar à incapacitação do paciente. Fora os custos do tratamento, os exames e cirurgias necessários. O diagnóstico do glaucoma é feito por meio de avaliação do nervo ótico e realização de campimetria, um exame que avalia a percepção visual central e periférica.

Para quem tem histórico de glaucoma na família, o exame preventivo é imprescindível. O diagnóstico é feito através de exames, que atualmente incluem: medição do campo visual; acuidade visual; resposta do reflexo da pupila; teste de tonometria para medir a pressão ocular; gonioscopia (uso de lentes especiais para verificar os canais de circulação do ângulo); imagens do nervo óptico; exame retinal; exame com lâmpada de fenda.

Um dos mais recentes exames complementares é a Tomografia de Coerência Óptica (OCT), também oferecido no Centro da Saúde Ocular Kátia Mello. Ele permite uma avaliação mais detalhada do nervo óptico e da camada de fibras nervosas da retina, estruturas que sofrem os danos do glaucoma, produzindo imagens com alta resolução e reprodutibilidade.

Livro detalha a doença

No livro Glaucoma – Informações essenciais para preservar sua visão (88 p., R$ 36,20), da MG Editores, o professor Remo Susanna Jr., um dos maiores especialistas mundiais em glaucoma, traz informações claras e precisas para portadores e seus familiares. Ele oferece definições importantes sobre o glaucoma, explica os mitos mais comuns relacionados à doença, aborda os principais tipos de tratamento e oferece recursos para melhorar a deficiência visual decorrente do problema.

O glaucoma é considerado o mais astuto ladrão da visão, que não respeita classe social, sexo e raça, sendo a principal causa de cegueira irreversível no mundo. Quando o paciente percebe que algo não vai bem com a sua visão, a extensão da lesão já é enorme e o glaucoma encontra-se em fase avançada”, explica o autor, destacando que 2% a 4% da população acima de 40 anos têm a doença.

O principal objetivo do livro, único no país sobre o tema, é oferecer ao leitor dados que lhe permitam entender e lidar melhor com o glaucoma. “Com esse conhecimento, o paciente poderá interagir com seu médico e estabelecer com ele uma parceria indispensável para o controle do glaucoma, evitando a progressão da doença”, afirma o professor Susanna.

Os sete pecados que levam à cegueira

Segundo o especialista, semelhante ao que ocorre em acidentes aéreos e em outros desastres não esperados, o glaucoma acontece por uma associação infeliz de erros. Ele classifica os erros como verdadeiros pecados praticados com frequência. De forma isolada ou conjunta, “os sete pecados” são responsáveis por quase todos os casos de perda de visão relacionados ao glaucoma.

Acredito que perder a visão por falta de informação quando esta está disponível ou por omissão é inadmissível. Isso, por si só, já compõe um terrível pecado, mas ele se torna mais relevante porque, se evitados os sete pecados, a cegueira provocada pela doença se torna bastante improvável”, alerta o especialista. No livro, dr. Susanna descreve cada um dos pecados, esclarecendo algumas inverdades que se tornaram mitos e estão associadas a informações que frequentemente prejudicam os pacientes e a população em geral.

Na obra, o especialista lembra que a visão é responsável por 90% da nossa comunicação com o mundo exterior, sendo extremamente importante na formação de nosso mundo interior. É por esse motivo que, nos Estados Unidos, o medo da cegueira é suplantado apenas pelo receio de um câncer incurável. No mundo todo, existem aproximadamente 11 milhões de pessoas cegas de ambos os olhos e 20 milhões cegas de um olho em decorrência do glaucoma.

Dados de 2012, do Bright Focus Foundation, revelam que nos Estados Unidos o custo direto com o glaucoma ou com a perda de produtividade em consequência do problema atinge o valor de US$ 2,6 bilhões todos os anos. “Além do grande prejuízo pessoal e emocional provocado pela perda da visão, seu dano social e econômico é enorme”, complementa o professor Susanna.

Tratamentos disponíveis

Existem vários tipos de tratamento, que vão de medicamentos em forma de colírios, cirurgias a laser, operações convencionais, além de novas cirurgias que utilizam a nanotecnologia.  Contudo, o diagnóstico e o cuidado da doença não são muito fáceis.

A cirurgia tem como objetivo diminuir a pressão intraocular, criando uma drenagem, um novo trajeto para o humor aquoso (fluido que regula a pressão intraocular). Vale colocar que, mesmo assim, existirão outros fatores relacionados à progressão da doença. O médico consegue alterar os níveis de pressão, mas não há cura completa”. Atualmente, já existem novos tipos de laser, que trazem resultados promissores”, destaca o médico.

Cirurgia minimamente invasiva é novidade

Quando os seus pacientes têm indicação de cirurgia, o oftalmologista Rogério Horta utiliza uma tecnologia inovadora, que está em prática no Brasil há apenas seis meses. Segundo ele, a Cirurgia Minimamente Invasiva (MIGS) é um procedimento avançado, que possibilita um tratamento rápido e muito eficiente, além de diminuir ou até em certos casos abolir a necessidade do uso de colírios antiglaucomatosos.

Para isso, usamos um dispositivo chamado “Istent®“ desenvolvido pela nanotecnologia, do laboratório Glaukos, que é implantado no local de drenagem do Humor Aquoso, ao final da cirurgia de catarata, levando a uma importante redução da pressão intraocular, além de proporcionar uma rápida recuperação. O Humor Aquoso é um líquido que tem a função de nutrir a córnea e o cristalino e regular a pressão interna do olho. O procedimento é minimamente invasivo, isto é, não causa danos oculares. Esta técnica é indicada para casos de glaucoma leve ou moderado, no final da operação de catarata, ou em olhos já operados.”, explica o médico.

O implante é realizado sob microscópio cirúrgico no final da cirurgia de catarata ou em olhos já anteriormente submetidos à essa cirurgia, através de uma incisão muito pequena de 2 mm de espessura. Utiliza-se uma lente especial para ver o local de implante do IStent®, que é inserido na “Malha Trabecular”, onde estão localizados os canais coletores do Humor Aquoso. Com o implante, grande parte do fluxo de drenagem do humor aquoso é restabelecido, e assim a pressão ocular diminui para índices desejados.

Colírio nem sempre resolve

Nos trabalhos científicos já publicados houve redução da pressão ocular em quase todos os pacientes, e em torno de 40% descontinuaram os colírios. “Tive exemplo de pessoas com pressão ocular alta de 30 MMHG mesmo com colírio, e que com a cirurgia catarata e o IStent®, esta pressão reduziu para 12 MMHG, o que é normal para o caso”, acrescenta o DR. Rogério Horta. Milímetros de mercúrio é a unidade de medida de pressão e a normalidade varia entre 10 e 18 MMHG, de indivíduo para indivíduo.

“Muitas vezes a catarata leva ao aumento da pressão ocular, e pode ser causadora do glaucoma. A cirurgia de catarata sozinha abaixa a pressão por um período, mas depois ela volta a subir. Com o IStent®, consegue-se um controle maior e mais duradouro porque se restabelece o fluxo de drenagem. Muitas vezes, o cristalino cataratoso fica entumecido e contribui com o fechamento do ângulo de drenagem causando aumento da pressão ocular. Após a sua remoção e implante da lente intraocular, que tem apenas 10% do volume do cristalino, a drenagem se restabelece.

Melhor caso cirúrgico de oftalmologia

No dia 13 de abril, Dr. Rogério Horta recebeu o prêmio de melhor caso cirúrgico de oftalmologia apresentado por vídeo no Congresso da Sociedade Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa, realizado em 2017 no Washington Convention Center, nos Estados Unidos. Na ocasião, ele apresentou o vídeo de Catarata e Glaucoma.

“O paciente de 71 anos possuía uma complicação de cirurgia de glaucoma da forma tradicional chamada trabeculectomia, sem implante do IStent®, que foi realizada um ano antes deste procedimento. Só tinha um olho com possibilidade de recuperar, catarata hipermadura, membrana inflamatória, pterígio gigante e descolamento da coróide. Antes da operação, a sua visão era de vultos e após a cirurgia passou a enxergar 20/50, sendo que a visão plena para sua idade seria 20/30, mas muito satisfatória considerando a complexidade do caso, e também porque tinha um glaucoma não tratado de forma eficiente”, conta o especialista.

Da Redação, com Assessorias

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